José do Vale: Vontade política dos governos é o ponto-chave para controle da pandemia

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Os delegados do 13º Congresso Nacional do Povo, no Grande Salão do Povo, em Pequim, em maio de 2020

A PANDEMIA DO SARS-COV 2 – A VONTADE POLÍTICA DOS GOVERNOS É A CHAVE DO CONTROLE.

Por José do Vale Pinheiro Feitosa*

É frequente ouvir entrevistas de grandes cientistas, atribuindo comportamentos ao coronavírus como se ele tivesse vontade.

Fazem isso usando o determinismo da teoria evolucionista de Darwin e a linguagem de comunicação social.

Assim, terminam por atribuir vontade a uma simples partícula de material genético que nem vida é.

A vontade, o desejo, a livre escolha para adotar ou não determinada prática é humana.

Vírus, bactérias e protozoários não têm vontade.

Por isso, a história é tão importante para determinar a emergência, disseminação e manutenção de doenças infecciosas e parasitárias.

Os fatores mais determinantes delas são as condições sociais, econômicas, culturais e políticas de um povo.

A oportunidade de implantação e disseminação do coronavírus, apesar das determinações sociais, econômicas e culturais, é essencialmente política, ou seja, depende da vontade política.

Peguemos a situação dos 14 países com 100 milhões ou mais de habitantes. São populações densas e que melhor expressam os riscos deste tipo de epidemia e da ação política dos seus governos. 

Esses países mais populosos representam 64,5% da população mundial.

Neles, até agora, se verificaram 52,8% de todos os casos e 52,5% de todas as mortes pelo novo coronavírus no planeta.

A vontade política de tais países em relação ao controle da disseminação do vírus fica clara pela observação dos dados.

Desses 14 países, apenas três –, Estados Unidos , Brasil e Índia, que representam 25% da população mundial — tiveram 44,5% de todos os casos e 37,3% de todas as mortes.

Ou seja, os outros 11 países mais populosos do mundo, incluindo a China, agregaram apenas 8,3% de casos ao montante mundial. 

A característica política dos três países mais atingidos é seguirem o modelo americano, especialmente um padrão que ficou claro no ano de 2020, que chamaríamos de “trumpismo”, baseado na proteção excessiva dos negócios em detrimento da segurança das populações, operando com uma comunicação social que sabotou as medidas de controle da epidemia, classificada como “negacionismo”.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, radicalizou politicamente a omissão do Estado, sabotou a compra de vacinas, fez ampla comunicação de fake news, criou fetiches de mercadorias, como a cloroquina e a ivermectina, adotando toda a linha do “negacionismo trumpista.”

O Brasil tem a maior taxa de mortalidade por covid-19 do mundo: 2.664 óbitos por milhão de habitantes, seguido por EUA (1.921/milhão), México (1.913/milhão) e Rússia (1.184/milhão).

Em diversos artigos que já li a respeito, os neoliberais defendem que o modelo político não diferenciou o controle da epidemia.

Discordo. Eles estão errados. Os países com linha poítica neoliberal e governos mais à direita falharam redondamente no controle da epidemia.

Se olharmos o Reino Unido e os países com maior impacto do neoliberalismo na Europa, temos uma imagem bastante clara de que esta opção econômica, que é essencialmente política, falhou no controle da epidemia e demonstra fragilidade quanto ao futuro.

Em contrapartida, os países de orientação mais socialista e de esquerda tiveram claramente um peso político que redundou no controle da epidemia, especialmente a China (casos 67/milhão e mortes 3/milhão) e o Vietnã (casos 90/milhão e mortes 66/milhão).

Claro que Coreia do Sul, Japão e Austrália — países com orientação de direita e no campo do liberalismo — tiveram desempenho bastante razoável, mas, aí, é preciso salientar que não caíram no erro do modelo “trumpista”.

E, por último, existem países tão expostos às políticas neoliberais que, mesmo tendo governos com alguma vontade política, se tornaram vítimas da epidemia por acúmulo histórico dos últimos governos como o Chile, a Argentina, Peru, Colômbia e México.    

*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.


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