Ex-presidente do Conass alerta: O SUS vai existir ou não após a eleição é o que está em jogo; vídeo

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Por Conceição Lemes

Estamos há menos de 24 horas do início da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde 2022.

Ela acontece nesta sexta-feira, 05/08, em São Paulo.  É uma etapa preparatória para a 17ª Conferência Nacional de Saúde de 2023.

No sábado, 30/07, ocorreu em São Luís a etapa estadual Maranhão da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde.

Participaram: Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMP), conselhos municipais e estadual de saúde, Fórum Permanente de Usuários, o Programa de Pós-Graduação de Saúde Coletiva da UFMA e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), entre outras entidades.

A conferência representou mais do que um evento, segundo reiterados depoimentos de participantes.

“Ganhou já a feição própria de um movimento a favor do SUS no estado, reunindo novos e antigos militantes”, relata o médico infectologista Bernardo Wittlin, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.

A mesa “SUS: Por que defendê-lo?” foi composta por:

William Vieira, superintendente da atenção primária, representando o atual secretário de Saúde Tiago José Mendes Fernandes.

Ruth Helena de Souza Britto, professora do programa de pós-graduação de saúde coletiva da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Carlos Lula, ex-secretário da Saúde do Maranhão e ex-presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde).

Tive acesso à fala de Carlos Lula.

Foi muito boa, como podem verificar no vídeo, no topo. 

Por isso, achei importante transcrever a maior parte dela. Os negritos são meus.  

É fundamental a gente fazer este debate neste momento. A gente cometeu um erro anos atrás quando acreditou que, após o que aconteceu na década de 70, na década de 80 e na construção de modelo que a gente tinha em 1988, aquilo era dado. A gente acreditou que aquilo era suficiente. A gente nunca imaginou que alguém se colocasse adiante para querer descontruir o maior sistema de proteção social da história do Brasil.

A história da saúde no Brasil é o tempo todo a história da exclusão. A história de deixar de lado. A história de dizer: Bem, quem tem dinheiro, pode cuidar da sua saúde, quem não tem vai de qualquer jeito.

Historicamente a primeira constituição que trata a saúde como um direito é a Constituição de 1988.

A construção da saúde enquanto direito é recentíssima na história do Brasil. Muitas vezes a gente não estava acostumado a isso. Tanto é que o Judiciário não sabe lidar direito com isso, as demandas judiciais ainda patinam em como conceder esse direito, as próprias secretarias municipais e estaduais ao longo da história ainda engatinham para tentar conceber de um sistema que excluía quase todo mundo para dizer “agora, todos têm direito a tudo”.  Que é o Sistema Único de Saúde. Que é a previsão da universalidade.

É fundamental retomar o movimento sanitarista e dizer que o SUS é necessário e indispensável.

Eu tive a honra de ser secretário da Saúde deste estado ao longo de quase seis anos. Tive que me deparar com os piores ministros da Saúde da história do país. Não eram só negacionistas, eles têm os ouvidos tapados para escutar qualquer tipo de crítica, qualquer tipo de de ponderação. Não estão abertos para nenhum tipo de diálogo.

Lá, em 2019, quando teve início este desastre que é o governo Bolsonaro — desastre do ponto de vista social, do ponto de vista econômico, sanitário — eu tinha muito receio de que ali a gente tivesse a derrocada do SUS.

O debate no Ministério da Saúde era o cartão: ”Isso aqui [o SUS] não presta. Vamos substituir por um sistema privado.  As pessoas recebem um cartão e elas compram serviço num hospital privado”. 

Essa maluquice era um debate que a gente tinha no congresso nacional em janeiro de 2019. A ponto de o ministro Mandetta pedir apoio da gente, os poucos governadores de oposição: ”me ajudem, o pessoal quer acabar com o SUS’

Apesar de todas as restrições que tínhamos à condução do ministro Mandetta, ele era um defensor do SUS mas não tinha coragem de fazer isso em público, ele fazia isso em privado. O projeto era de extinção desse modelo criado lá em 1988.

A gente tem dois projetos antagônicos de Brasil que a gente vai se debater daqui a 64 dias.

Longe de achar que o presidente lula fez um governo perfeito, porque não fez, é cheio de defeitos.

Mas é completamente antagônico neste momento.

O momento não é discutir de discutir o modelo do SUS, é de discutir se o SUS vai existir ou não.

Não é o momento de discutir o modelo de democracia. É de discutir se a democracia vai existir ou não.

A gente tem que se colocar contra todo projeto que é genocida, que é autoritário, que é antidemocrático, que não quer ver o SUS forte e suficiente. Porque o SUS é justamente o contrário.

Por que defender o SUS?

Porque o SUS só existe por causa da democracia.

O SUS só existe por causa da inclusão.

O SUS é um modelo inclusivo de saúde pública, universal, público, gratuito que a gente quer dar com qualidade.

O SUS é o maior programa de direitos humanos da história deste país.

É o que incluiu mais gente, que salvou mais vidas.

Isto a gente tem que dizer com todas as letras, todos os dias: SUS é inclusão, SUS é vida, SUS é democracia

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