Estudantes de Medicina da USP “recepcionam” Queiroga: “Bolsonaro genocida! Mais vacina e menos cloroquina!”; vídeo e fotos

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Por Conceição Lemes

Nessa quarta-feira (24/03), os médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo receberam no e-mail a mensagem da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) informando sobre a visita do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à instituição nesta quinta.

Queiroga é o quarto ministro da Saúde de Bolsonaro.

O convite partiu da direção da direção da FMUSP.

Estudantes decidiram, então, fazer um protesto com distanciamento, todos de máscara e vestidos de preto contra a administração governamental da pandemia.

O Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC) preparou um manifesto para ser lido na presença de Queiroga.

No texto (na íntegra, ao final),  a entidade representativa de alunos defende a “adoção de medidas radicais de lockdown nas regiões mais acometidas” pela covid-19.

“Só as novas gerações para reduzirem um pouco a vergonha institucional dessa visita neste momento”, comentou professor.

Abaixo, reunidos junto ao busto de Dr Arnaldo Vieira de Carvalho,para fazer os cartazes usados na manifestação.

O busto fica bem na frente do prédio central da Faculdade de Medicina, na Avenida Doutor Arnaldo.

Manifesto dos alunos da Faculdade de Medicina da USP

“Ao excelentíssimo Senhor Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes, Ministro da Saúde:

O Centro Acadêmico Oswaldo Cruz vem por meio deste manifestar as preocupações do corpo discente da nossa instituição, a renomada Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em compreender qual será a postura adotada pela sua administração diante da maior crise sanitária dos últimos anos.

O Governo Federal apresentou até o presente momento prioridades equivocadas e por vezes perversas, resultando em absoluta ineficácia de gestão da crise, com consequências catastróficas para a população.

Estas consequências tornam-se incontestáveis diante dos números crescentes de mortes diárias e da incalculável perda de 300 mil vidas, marco atingido no dia de ontem (24/03/21).

No momento mais crítico da pandemia, presenciamos a quarta indicação ao Ministério da Saúde que, desde o início, mostrou-se incapaz de articular políticas eficazes de contenção do vírus.

Nesse contexto, questionamos a afirmação de que cabe ao Ministério apenas executar as políticas do Governo Bolsonaro.

O que poderia significar uma saída para o povo brasileiro, na verdade, reveste-se de continuidade da política implementada até agora, com isenção de qualquer responsabilidade por parte da liderança do Ministério da Saúde.

Os alunos da Faculdade de Medicina da USP unem suas vozes aos titulares desta Casa quando estes afirmaram que as nossas mais potentes armas no combate à Covid-19 são as ações coletivas de prevenção e uma medicina que se alicerce nos conhecimentos científicos, no compromisso com a ética e na empatia aos doentes.

A descredibilização das medidas sociais com forte evidência científica de benefício, a falta de transparência, o completo desrespeito às medidas de isolamento e a ausência de articulação política nos diferentes níveis de gestão concorrem para a manutenção de um quadro que resulta em perdas irreparáveis à sociedade brasileira.

Reconhecendo sua biografia e as contribuições que fez para a prática médica no Brasil, manifestamos o interesse dos nossos alunos em saber o planejamento estratégico para alterar a forma como o governo federal trabalhou até aqui, uma vez que os resultados obtidos pelas gestões anteriores foram repetidamente falhos.

Ainda em uníssono aos professores desta faculdade, ressaltamos a necessidade de adoção de medidas radicais de lockdown nas regiões mais acometidas, de desenvolvimento de políticas emergenciais intersetoriais para assegurar a adequada adesão das pessoas às políticas de isolamento físico, aceleração significativa do programa de vacinação e medidas de combate às notícias falsas, desinformação e más práticas de prevenção e tratamento”.

RETRATAÇÃO

Os alunos da Faculdade de Medicina da USP vêm a público se retratar quanto ao uso da frase “não consigo respirar” na divulgação do ato realizado hoje (25/03) durante a visita do Ministro da Saúde Carlos Queiroga à FMUSP.

A frase ganhou destaque com o movimento “Black Lives Matter” em maio e junho do ano passado e foi descontextualizada por nós de maneira imprópria. George Floyd, homem preto estadunidense, disse “Não consigo respirar” enquanto era vítima de uma ação policial racista, violenta, que levou à sua morte por asfixia, apesar de estar desarmado e não oferecer resistência.

A frase foi ecoada em manifestações contra a violência policial nos Estados Unidos e repercutiu também no Brasil, dois países cujas estruturas de poder são permeadas de racismo, acarretando violências estruturais e sistemáticas contra a população negra.

Sabemos que a mesma frase foi veiculada nas mídias brasileiras recentemente, fazendo alusão à falta de oxigênio em hospitais e à morte de ainda mais vítimas de COVID por conta disso.

Por mais que haja relação da frase em si com a dificuldade respiratória dos infectados pela COVID, não concordamos com tal uso fora do contexto original, marcadamente das pautas raciais.

Reconhecemos agora o erro cometido ao nos apropriarmos indevidamente de um símbolo de mobilizações do movimento negro e nos retratamos aqui por não termos avaliado mais cuidadosamente a nossa divulgação. Nos comprometemos a não cometer mais este erro nas futuras manifestações.”


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Comentários

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Marcelo Colombo

Não existe nada pior em um ser humano do que a desumanidade.

Zé Maria

“Mais Vacina” e “Mais Médicos” … Cubanos!

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