Conselhos de Enfermagem rechaçam fala grosseira e ignorância de Bolsonaro: Exigimos respeito!

Tempo de leitura: 4 min

por Conceição Lemes

Em 5 de agosto, a jornalista Leda Nagle postou em seu canal no You Tube uma longa entrevista que fez com o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ).

Ao se referir ao Programa Médicos Pelo Brasil (imitação do Programa Mais Médicos com agenciamento empresarial, segundo o professor Alcides Miranda), Bolsonaro  diz que os reprovados no Revalida deveriam “arranjar outra profissão, ou então ficar como enfermeiros, ganhando menos” (veja vídeo acima enviado por Marcelo Nassif).

Revalida é o exame que médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior têm que fazer aqui para revalidação dos seus diplomas.

Desrespeito absoluto com  mais de 2 milhões de profissionais de enfermagem, que diariamente ajudam a promover saúde e a salvar vidas.

Pelo visto as internações dos últimos meses não lhe ensinaram nada, nada.

A categoria reagiu. Abaixo a carta aberta do Conselho Federal de Enfermagem  (Cofen) e dos Conselhos Regionais de Enfermagem (Coren) e nota de esclarecimento do Coren-SP.

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Exmo. Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.

Ao tempo em que lhe dirigimos os nossos mais respeitosos cumprimentos, gostaríamos que o senhor se dirigisse aos enfermeiros brasileiros com a dignidade e o respeito que merecemos. Cuidamos diuturnamente da saúde do povo brasileiro.

Ouvir do Presidente da República, em vídeo recente no qual se manifestou sobre o Programa Médicos Pelo Brasil, que um médico com baixo desempenho no exame Revalida “pode trabalhar como enfermeiro ganhando menos”, demonstra o desconhecimento pela profissão, seu tamanho e sua importância para a saúde da população brasileira.

Além de nos comparar a uma subcategoria, ignorando as exigências legais para o exercício profissional da Enfermagem no Brasil, a fala demonstra a desvalorização de uma profissão reconhecida em todo o mundo como essencial para melhorar a cobertura e o acesso à saúde. Vinda do mais alto mandatário da nação, é inaceitável.

As carreiras médicas e da enfermagem são profissões distintas, em saberes e regulamentação legal, trabalhando juntos como equipe de saúde e ambas precisam ser valorizadas.

Como dirigente maior da nação, Vossa Excelência deveria propor políticas públicas para melhorar a autoestima, a saúde mental, a jornada de trabalho, os salários e a formação dos profissionais de Enfermagem brasileiros.

Como disse o Ministro da Saúde Henrique Mandetta recentemente, “a Enfermagem é a espinha dorsal do SUS”.

Nos mantemos firmes na luta pela valorização profissional da enfermagem, na garantia do exercício legal da profissão e na garantia do direito à saúde da população brasileira.

Dos governantes, exigimos respeito.

Conselho Federal de Enfermagem – Cofen

Conselhos Regionais de Enfermagem – Coren

NOTA DE ESCLARECIMENTOS AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, JAIR BOLSONARO

O Coren-SP vem a público expor ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, o verdadeiro valor e as competências da atuação profissional da enfermagem. Em vídeo no qual aborda o Programa Médicos pelo Brasil, o presidente afirma que os médicos não aprovados em programação de revalidação deveriam “arranjar outra profissão, ou então ficar como enfermeiros, ganhando menos”.

A fala demonstra uma visão ultrapassada e deturpada da atuação da enfermagem.

Mais de dois milhões de profissionais brasileiros sofrem com a falta de valorização e de reconhecimento, tendo bandeiras como piso salarial, jornada de 30 horas semanais e local adequado para descanso ignoradas há anos pelos poderes legislativo e executivo.

Além disso, visões preconceituosas e desprovidas de qualquer conhecimento sobre a prática ainda têm a enfermagem como auxiliar dos médicos.

Os primórdios da enfermagem remontam ao século XIX, com as atuações históricas da inglesa Florence Nightingale e da jamaicana Mary Seacole na Guerra da Crimeia e da brasileira Anna Neri na Guerra do Paraguai.

A profissão foi regulamentada no Brasil pela Lei 7.498/1986 e pelo decreto 94.406/1987, que estabelece tacitamente em seu Art. 1º:

“O exercício da atividade de enfermagem, observadas as disposições da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, e respeitados os graus de habilitação, é privativo de Enfermeiro, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e Parteiro e só será permitido ao profissional inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva Região”.

O Coren-SP rechaça a fala do presidente, que inferioriza a enfermagem perante a medicina, lembrando que os profissionais de enfermagem representam a maior força de trabalho da saúde do Brasil, estando presentes em todas as fases da vida dos indivíduos, desde atuação em pré-natal até os cuidados paliativos.

A enfermagem é democrática, ampla e diversa, formada por profissionais com os mais diversos níveis de formação, desde o ensino fundamental até protagonizando pesquisas e estudos que favorecem a produção acadêmica brasileira.

É também a enfermagem que possibilita, desde a atenção básica, a porta de entrada do acesso da população ao Sistema Único de Saúde (SUS), referência mundial de saúde pública, e que vem sofrendo dia a dia, com subfinanciamento e degradação, graves ameaças à sua existência.

A profissão sofre também com estereótipos retrógrados e machistas que sexualizam a figura feminina ou que atacam diretamente a identidade sexual dos profissionais, além de um senso comum generalista e restritivo sobre todas as categorias que formam a profissão (enfermeiros, obstetrizes, técnicos e auxiliares de enfermagem).

Ao se deparar com uma fala tão grosseira e desrespeitosa do mais alto representante do poder executivo do Brasil, mais de meio milhão de profissionais de enfermagem brasileiros são mais uma vez agredidos e menosprezados em suas características, autonomia e atuação.

Também causa profunda indignação, junto à inferiorização da categoria, o presidente da República tratar a desvalorização como algo natural, ao citar os baixos salários da categoria, quando na verdade deveria combatê-la, na busca por mais justiça social.

O Coren-SP acredita que essa seja a expectativa não apenas da enfermagem, mas de todo povo brasileiro.

O Coren-SP, representando um quarto da força da enfermagem brasileira, clama por mais respeito e consideração às históricas lutas da enfermagem, como salários justos e uma jornada de trabalho de 30 horas semanais, seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O conselho se põe à disposição da Presidência da República para dialogar sobre toda contribuição da enfermagem à saúde dos brasileiros e sobre a importância da valorização e reconhecimento da profissão.

PS do Blog da Saúde: as manifestações da Associação Brasileira de Enfermagem e do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia não constavam no texto original desta matéria. Elas foram acrescentadas posteriormente.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé do rolo

O Bozo não é apenas ignorante é também idiota.

Mael

Não quis ofender, só colocou mal as palavras. Agora, qual o problema da enfermagem ser auxiliar de médico? O médico receita o remédio e o enfermeiro aplica… é uma hierarquia não? O comissário de voo é auxiliar do piloto não? sentir-se menor pelo posto que ocupa é mimimi que só piora a relação dentro do trabalho

    Alessadra Amaral

    Infelizmente, o Exc. Sr. Presidente sempre usa colocações indevidas . Quanto a qual o problema de o enfermeiro ser auxiliar do médico é porque ele não é. As duas profissões são diferentes, porém com o mesmo objetivo : promoção e manutenção da saúde. Cada um desempenhando suas funções, em equipe, não em hierarquia.

    Teixeira

    Não seja ignorante o senhor também. Não há nível de hierarquia entre médicos e a enfermagem. Os técnicos de enfermagem são subordinados ao enfermeiro e este é igual ao médico na equipe de saúde. Médicos prescrevem medicamentos, Enfermeiros prescrevem cuidados. É um auxílio mútuo. Nosso Presidente infelizmente faz parte de milhares de brasileiros que sequer sabe diferenciar os profissionais de enfermagem, ainda que estes profissionais sejam o “motor” da saúde no Brasil e no mundo.

    SILAS

    Como chefe de Estado deve colocar melhor sua palavras vc não acha?

    Eliana

    Male… Enfermeiros não são auxiliares de médicos, somos profissionais que atuam juntos dentro da equipe de saúde … cada um têm a sua importância… vc tem que se informar melhor… o mundo evoluiu… hoje todos os enfermeiros são tão especialistas quanto os médicos, porém há uma diferença na formação profissional entre técnico de enfermagem e Enfermeiro que é graduado em nível superior e com as mesmas especialidades de médicos… existem Enfermeiros Pediatras, Cardiológicos , Obstetras e etc… mas com a sua ignorância no sentido de ignorar que em 2020 existe uma categoria chamada de Enfermeiros extremamente capacitada que lideram a equipe de Enfermagem que já deve ter cuidado de vc ou de sua familia…mas vc desconhece né….então abra sua mente e acorde para a vida …. somos nós equipe de Enfermagem quem movimenta um hospital em qualquer parte do mundo…. pare de escrever asneiras…. e entenda de uma vez por todas NÃO SOMOS AUXILIARES DE MÉDICOS E NUNCA SEREMOS….DEU PARA ENTENDER ? Ou precisa desenhar… antes de escrever besteira vá se informar…

Suelen

O cara ali n sabe ouvir uma crítica ao Bolsonaro sem falar do Lula. O Lula tá preso babaca, e n ta falando merda por aí. Agora o presidente, desrespeita a público uma profissão tão linda como a nossa, e ainda tem idiota pra defender. Mas é o cúmulo mesmo.

Daniel Pedroso Enfermeiro

O COFEN VAI SOLICITAR UMA RETRAÇÃO ? NÃO ENTENDI?

abelardo

A mente de Jair Messias está petrificada, feito cocô, na idade da pedra.

    Fransérgio Delgado

    Cara, isso é muito sério, e acontece mesmo. Imagina que, por incrível que pareça, tem gente com a mente tão petrificada, mas tão petrificada, que acredita na inocência do Lula até hoje…

Deixe seu comentário

Leia também