Após 100 dias vacinação contra covid, imunização entre idosos ainda é insuficiente no Brasil

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Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Da Redação

Desde 12 de março, os pesquisadores Guilherme Loureiro Werneck, Ligia Bahia, Jéssica Pronestino de Lima Moreira e Mário Scheffer publicam semanalmente um boletim sobre o andamento da vacinação contra a covid-19 no Brasil.

Os três primeiros são do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ. O quarto do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.

No boletim dessa última semana de abril(na íntegra, ao final), eles destacam: após 100 dias de vacinação, a cobertura vacinal entre idosos é insuficiente e ainda há discordâncias nos critérios para a convocação de pessoas com comorbidades.

Em 26 de abril, com aproximadamente 38,4 milhões de doses aplicadas no país, eles constaram:

— 50% da população de 60 a 69 anos haviam recebido a primeira dose da vacina e apenas 7% a segunda;

— na faixa etária de 70 a 79 anos, 89% receberam uma dose e 52% completaram a segunda dose;

— entre aqueles com 80 anos e mais, 91% foram vacinados com a primeira dose e 48% com a segunda dose.

Ou seja, mais de 50% das pessoas com mais de 80 anos ainda não estão completamente imunizadas, pois não receberam a segunda dose.

Em relação à primeira dose:

— Na faixa etária acima de 80 anos, as coberturas vacinais ainda estão abaixo de 90% no Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

— Na população de 70 a 79 anos de idade, as coberuras estão abaixo de 80% no Rio de Janeiro e Ceará.

A tabela abaixo mostra a cobertura vacinal por estados de idosos por faixas etárias, primeira e segunda doses.

Em termos de regiões, na população acima de 80 anos, mais de 90% já receberam a primeira doseno Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Já coberturas com as duas doses ainda são baixas em todas as regiões; estão entre 45-59%.

GRUPOS PRIORITÁRIOS DE VACINAÇÃO CONTRA COVID

A definição dos grupos prioritários para vacinação foi baseada nos seguintes critérios: riscos de adoecimento grave e óbito pela covid-19, maior vulnerabilidade social; e profissões imprescindíveis ao funcionamento do sistema de saúde e de demais serviços essenciais.

Em cima disso, o Plano Nacional de Imunização estabeleceu como os primeiros grupos prioritários para vacinação as seguintes pessoas:

— Mais de 60 anos institucionalizadas

— Trabalhadores da saúde

— Indígenas vivendo em aldeias

— Acima de 80 anos

— De 75 a 79 anos

— De 70 a 74 anos

— De 60 a 69 anos

— Povos e comunidades tradicionais, ribeirinhas e quilombolas

De acordo com o boletim:

— Com exceção das pessoas com mais de 60 anos institucionalizadas e das com mais de 80 anos, a cobertura vacinal dos demais grupos com primeira dose é ainda aquém da meta a ser alcançada, acima de 90%.

— Entre os indígenas que vivem aldeias — representam 60% da população indígena total –, apenas 72% receberam a primeira dose.

— Entre povos e comunidades tradicionais,  apenas  24% receberam a primeira dose

— Entre os trabalhadores da saúde, 88% tiveram acesso à primeira dose da vacina;  mais de 50% ainda receberam as duas doses.

— Entre os idosos com mais de 80 anos, embora a cobertura vacinal com uma dose tenha alcançado 92%, mais da metade ainda não recebeu a segunda dose.

 PESSOAS ENTRE 18 E 59 ANOS COM COMORBIDADES

No Brasil, o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 definiu as pessoas com comorbidades como um dos grupos prioritários.

Acontece que há falhas na definição e dimensionamento da população com comorbidades.

Segundo os pesquisadores, há três desafios para assegurar o acesso do grupo prioritário a essa população.

Primeiro: definir os grupos com maior risco para covid-19,  o que é uma tarefa complexa.

No Brasil, são consideradas de maior risco quem tem:

Diabetes

Pneumopatias crônicas graves

Hipertensão arterial

Hipertensão pulmonar

Síndromes coronarianas

Miocardiopatias e Pericardiopatias

Arritmias cardíacas

Cardiopatias congênita no adulto

Portadores de próteses valvares

Doença cerebrovascular

Doença renal crônica estágio 3 ou mais

Imunossuprimidos (transplantados de órgão sólido ou de medula óssea)

Pessoas vivendo com HIV

Pacientes oncológicos (tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos 6 meses)

Anemia falciforme

Obesidade mórbida

Síndrome de Down

Cirrose hepática

O segundo desafio é a comprovação individual do pertencimento a uma das condições definidas como prioritárias.

O terceiro obstáculo é a precária estimativa de pessoas com uma ou mais das pré-condições definidas, necessária para organizar a convocação e monitorar o comparecimento.

Até março de 2021, o Ministério da Saúde estimava que a população brasileira com comorbidades compreendia cerca de 17,7 milhões de pessoas.

A mais recente definição, de 26 de abril de 2021, ampliou para cerca de 28 milhões de pessoas o grupo com comorbidades, optando pela expansão para outras condições de saúde como gestantes, puérperas e pessoas com deficiência.

O QUE É COBERTURAL VACINAL

A cobertura vacinal é a porcentagem estimada de pessoas que receberam as doses recomendadas das vacinas, em cada grupo definido como prioritário e na população em geral.

A definição de populações-alvo elegíveis para receber as vacinas contra a Covid-19 e a meta de cobertura vacinal são essenciais em um programa ou plano de imunização.

A meta deve estipular o percentual mínimo aceitável de pessoas vacinadas em cada grupo prioritário, considerando o número de doses da vacina e os intervalos preconizados entre elas.

Devem ser definidos claramente a abrangência geográfica e o período de tempo para atingir a meta de cobertura definida.

PORQUE DIVULGAR A COBERTURA VACINAL

A vacinação contra covid-19 tem como finalidade não só promover a proteção individual de cada pessoa vacinada, mas também a proteção coletiva populacional.

Para avaliar o andamento e o êxito da vacinação, iniciada no Brasil em janeiro de 2021, deve-se observar fundamentalmente a cobertura vacinal e não apenas o número de doses administradas em relação à população total.

A divulgação sistemática das coberturas vacinais fornece uma visão realista sobre a implementação da vacinação.

Dados sobre cobertura vacinal com uma e duas doses, em cada grupo da população prioritária, são essenciais para a avaliação do impacto e para a correção dos rumos do plano nacional de vacinação.

É preciso monitorar a cobertura vacinal para identificar se as populações com maior risco de infecção, adoecimento e morte já estão protegidas, visando reforçar a vacinação em territórios e grupos populacionais ainda com cobertura mais baixa.

PORQUE COBERTURA ACIMA DE 90% EM CADA GRUPO 

As vacinas contra covid-19 disponíveis no Brasil até abril de 2021 têm eficácias que variam de 50 a 70% para prevenção de formas clínicas e graves da doença.

Ou seja, são vacinas que protegem mais os indivíduos contra doença grave e morte.

Considerando o alto potencial de transmissão do SARS-CoV-2, para que vacinas com esse perfil de eficácia tenham impacto populacional, as metas almejadas de cobertura vacinal dos grupos priorizados devem ser altas, preferencialmente acima de 90%.

Somente assim será possível proteger parcela substancial de indivíduos e gerar algum impacto na redução da transmissão na população.

PORQUE O PERCENTUAL DE COBERTURA COM 2 DOSES

A cobertura com duas doses em cada população prioritária é um parâmetro fundamental, pois o esquema completo indicado é aquele que fornece a melhor proteção, de acordo com os dados disponíveis no momento.

Ainda que existam evidências de que uma única dose das duas vacinas disponíveis no país já poderia oferecer certo grau de proteção, a eficácia estimada que subsidiou a aprovação emergencial desses imunizantes refere-se a duas doses.

Portanto, os dados do total de doses distribuídas e do total de primeiras doses administradas, embora relevantes para acompanhar o ritmo da vacinação, não são os melhores parâmetros de cobertura vacinal.

PORQUE PREOCUPA A BAIXA COBERTURA NOS GRUPOS PRIORITÁRIOS

Devido à insufiência de vacinas, os critérios de priorização adotados pela maioria dos países focam na diminuição da mortalidade ou das formas graves de covid-19 e na redução da tensão sobre o sistema de saúde.

No Brasil, o Ministério da Saúde incluiu mais de 77 milhões de pessoas nos grupos populacionais prioritários a serem vacinados.

Segundo o boletim, esse número vem aumentando constantemente, inclusive por pressões políticas e corporativas.

Trata-se de um paradoxo, já que há mais grupos prioritários elegíveis e menos vacinas.

Não é à toa que os pesquisadores terminam o boletim com este alerta:

É uma ilusão supor que o Brasil avança nas coberturas vacinais somente porque um novo grupo foi convocado, sem que as populações prioritárias anteriores tenham sido efetivamente imunizadas.

Cobertura Vacinal 30 de abril by Conceição Lemes on Scribd


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Comentários

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Zé Maria

A Pfáizer Pifou

Já era a tal eficácia de 95% da vacina Pifáizer, propalada
pela Rede Globo e a Mídia FasciPaulista, no braZil, depois
que o Queidroga mandou os Prefeitos e os Governadores
quadruplicar o intervalo entre a Primeira e a Segunda Dose
recomendado pela própria Indústria Farmacêutica dos EUA.
E propagaram que veio 1 milhão de doses da Pifáizer pro braZil,
mas o Ministério da Doença distribuiu só 500 mil ou a metade
para os Estados e Municípios. As outras 500 mil doses da vacina possivelmente estão guardadas em algum depósito da Anvisa.

Zé Maria

Ministério da Saúde orientou estados e municípios
a aplicarem a segunda dose da vacina Pfizer, dos EUA,
com 12 semanas [84 dias] de intervalo.

Esse, entretanto, não é o espaçamento recomendado pela fabricante.
Segunda dose é essencial para garantir eficácia, alertam especialistas.

Em janeiro, a empresa [Pfizer] afirmou que só pode garantir
a eficácia da vacina se ela for dada com 21 dias [3 semanas]
de espaçamento entre as doses, conforme foi testada.

O intervalo sugerido pela fabricante é o mesmo defendido pela
Organização Mundial da Saúde (OMS).
A OMS admite uma ampliação para, no máximo, até 42 dias
(6 semanas).
Em uma sessão de “perguntas e respostas” em sua página
on-line, atualizada no dia 20 de abril, a OMS recomenda
que as doses sejam dadas com um intervalo de 21 a 28 dias.

A bula da indústria farmacêutica, disponibilizada
no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), orienta um intervalo maior ou igual a
21 dias (de preferência 3 semanas) entre a primeira
e a segunda dose.

O documento alerta que a pessoa vacinada “pode não estar protegida até pelo menos 7 dias após a segunda dose da vacina”.

[Reportagem: Lara Pinheiro e Mariana Garcia | G1 ]

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