Check up: Conversa é a parte mais importante da consulta

Tempo de leitura: 5 min

por Conceição Lemes

Check ups com maior número de exames laboratoriais e inovações tecnológicas são a preferência nacional. Quanto mais testes realizados, mais valorizados. Porém, ao contrário do que muitos imaginam, exames de laboratório não previnem doenças.

A advertência é do médico Mílton de Arruda Martins, professor titular de Clínica Médica da Faculdade da USP, no livro Saúde – A hora é agora. Ele é um dos autores.

“Prevenção e promoção de saúde só se conseguem com estilo de vida saudável: exercícios regulares, não fumar, sexo seguro, cinto de segurança, entre outros cuidados”, afirma o professor Martins. “Consequentemente, as orientações dos profissionais de saúde envolvidos no atendimento fazem a diferença. Sem elas, o check-up não serve para nada.”

O MÉDICO DEVE PERGUNTAR MUITO E OUVIR MAIS AINDA

A prática do check-up de saúde começou na década de 1960 e tomou fôlego nos anos 1970. O termo foi emprestado da revisão de material da engenharia mecânica e incorporado à medicina como avaliação periódica de saúde.

A finalidade é avaliar a sua saúde no momento em que é realizado. Mais precisamente, rastrear determinadas doenças, visando ao diagnóstico precoce em pessoas assintomáticas, ou seja, que não sentem nada e estão muito bem, obrigada.

Ele não precisa ser em serviço especializado ou no ambulatório da empresa; pode ser com o seu próprio clínico geral. É recomendável a homens e mulheres. Para um adulto sem doença e com menos de 50 anos, basta pelo menos uma avaliação de saúde a cada dois anos; acima de 50, uma por ano.

“A conversa, para saber sua história pessoal e familiar de doenças, queixas atuais e antigas, é a parte mais importante da consulta”, ressalta Martins. “Associada ao exame físico, fornece os principais dados para o médico ir atrás das doenças de cada pessoa.”

Por isso, a conversa deve ser demorada: o médico deve perguntar muito e ouvir mais ainda. Eis algumas das perguntas obrigatórias e os respectivos motivos:

* Qual é a sua atividade profissional? É para, se necessário, indagar sobre possíveis problemas de saúde que decorrem do seu tipo de trabalho.

* Onde nasceu, viveu e mora? Determinadas doenças são preocupação apenas em certas regiões do Brasil. A resposta, portanto, pode fornecer pistas para o médico investigar problemas específicos.

* Tem alguma doença? Que medicamentos toma? Por exemplo, hipertensão, diabetes e colesterol elevado aumentam o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame cerebral. Alguns remédios também podem colocar a sua saúde em risco, devido aos efeitos colaterais.

* Tem sentido ou observado algo diferente no corpo nos últimos tempos? Essas questões visam a identificar sintomas iniciais de eventual distúrbio.

* Tem antecedentes familiares de câncer, doença cardíaca ou diabetes? Quando existem casos na família, principalmente pais e irmãos, cuidados especiais são indispensáveis, inclusive avaliações de saúde e testes laboratoriais mais precoces.

* Está em dia com as vacinas? Adultos devem tomar algumas, e muitos não sabem disso.

* Tem praticado atividade física? Qual, quantos minutos diariamente, quantas vezes por semana? É para, dependendo do caso, indicar uma atividade física mais adequada.

* Fuma cigarro (industrializado, de palha, indiano ou de Bali), cigarrilha, charuto ou cachimbo? Quantos por dia? Há quanto tempo? Já pensou em largar? Qualquer que seja a sua idade, sempre é tempo para parar, e o médico pode orientá-lo sobre as melhores estratégias ou encaminhá-lo a serviços especializados.

* Consome bebida alcoólica todo dia? Quanto bebe por semana? Muitas vezes a pessoa passa da conta, sem ter consciência do abuso, e o consumo excessivo põe em risco a sua saúde e até a sua própria vida.

* Usa maconha, cocaína, crack ou ecstasy? Além de esclarecer sobre os riscos à saúde dessas drogas, o médico tem condições de indicar onde buscar ajuda para a pessoa dar um basta.

* Usa preservativo nas relações sexuais? A camisinha é um método eficaz para a prevenção da aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.

* Como é o seu sono? Qualidade e quantidade são essenciais para uma vida saudável. Existem problemas que a orientação adequada resolve.

* Como é sua alimentação? Alimentação mais saudável ajuda a prevenir infarto do miocárdio, AVC, diabetes e vários tipos de câncer, entre outras doenças.

* Como anda seu humor? Tem se sentido para baixo, sem prazer, interesse ou disposição para as tarefas do dia a dia? O objetivo é descobrir quem tem depressão. O problema é frequente e piora muito a qualidade de vida, mas tem tratamento.

* Experimenta situações de risco de acidente ou violência no trabalho ou em casa? A identificação delas permite estabelecer estratégias de prevenção.

* Quantas vezes por dia escova os dentes? A higiene bucal adequada é essencial em todas as fases da vida.

* No lazer ou no trabalho, fica muito no sol? A exposição excessiva à luz solar aumenta o risco de câncer de pele, especialmente em quem tem pele clara. Uso de protetor solar é uma das maneiras de reduzir a ameaça.

* Está enxergando bem? E a sua audição, como anda? Para detectar problemas de visão e/ou audição.

– Ah, é pergunta demais! Demora muito, não tenho tempo a perder…

Acredite: não é invasão de privacidade nem tempo perdido ou exagero. A avaliação periódica de saúde só acontece uma vez a cada um ou dois anos, dependendo da sua idade. Logo, a conversa aprofundada é vital.

Fornece as principais pistas para rastrear sintomas e sinais que possam indicar doença em fase inicial e mereçam investigação. “Portanto, não minta nem omita”, aconselha Martins. “Pistas erradas muitas vezes atrasam diagnósticos, tratamentos e até impedem prevenções adequadas.”

A etapa seguinte ao check up é o exame físico. É importante sempre verificar: peso, altura e circunferência abdominal (devido à obesidade, que aumenta o risco de diabetes, infarto do coração, AVC e alguns tipos de câncer, entre outras doenças), pressão arterial e visão.

EXAMES INDISPENSÁVEIS A TODOS OS ADULTOS

A combinação da conversa com o exame físico é que determina o passo seguinte: os testes laboratoriais. Eles são importantes para pesquisar distúrbios que possam estar presentes, mas ainda não dão sintomas ou sinais.

O Centro de Promoção da Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo,  o CPS do HC-SP, recomenda de rotina para adultos apenas os seguintes exames:

1) Colesterol total e frações – É fator de risco importante para doenças nas coronárias (artérias que irrigam o coração) e AVC.

2) Glicemia – Verifica se a pessoa tem diabetes, que é o aumento do “açúcar” no sangue.

3) Densitometria óssea – Para saber se a mulher tem osteoporose.

4) Mamografia – Destina-se ao diagnóstico precoce do câncer de mama.

5) Papanicolau – Visa a diagnosticar câncer do colo do útero bem no início.

6) Pesquisa de sangue oculto nas fezes – Objetiva a detecção precoce de câncer no intestino grosso ou colorretal (cólon e reto).

“Esses testes são obrigatórios na avaliação periódica de saúde, mesmo que você esteja muito bem”, frisa o professor Martins.

Mas se pela avaliação clínica houver suspeita de algum problema, o médico pode solicitar mais exames. É igualmente necessário a pessoas em situações que implicam maior perigo à saúde.

— Ah, mas há médicos que não gostam de dar muitas explicações…A gente pergunta, eles não dão bola… Eles não gostam de ouvir…Se respondem, a gente não entende…

Verdade. Verdade. Verdade. Verdade. Mas não se intimide. Você tem direito a esclarecimentos não só sobre as questões levantadas acima, mas também sobre os exames que ele solicitar.  Por exemplo: Qual o objetivo do teste? Tem risco? Qual?  Informe-se antes de fazer os exames. Pese os prós e os contras e tome a decisão.

“Juntando o que foi detectado na conversa, no exame físico e nos testes, o médico deve orientar sobre o que é necessário para diminuir ou evitar riscos futuros à sua saúde”, arremata  o professor Martins. “As orientações do médico e dos demais profissionais de saúde envolvidos no check up são mais importantes do que os exames de laboratório solicitados.”

Nota do Viomundo: Esta repórter é um dos três autores do livro Saúde — A hora é agora. O professor Mílton de Arruda Martins e o médico Mario Ferreira Jr, coordenador do CPS-HC-SP, são os outros.


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Comentários

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luiz

como devo proceder para pedir exames preventivos (check up), é necessário passar por consultas medicas antes? e numa clinica ou laboratorio particular eu pago antes ou so depois da consulta que me passam o orçamento e quando fizer os exames ai é que pagow como funciona ?

Ronco alto? Todas as noites? Cuidado, pode ser apneia | Viomundo – O que você não vê na mídia

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Parceria PUC-RJ, Viramundo e Rocinha dá samba, ops!, saúde | Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] É muito comum as pessoas irem ao médico como se fossem a uma oficina mecânica. Entregam o “carro” para avaliação e depois o “pegam”, na crença de que, magicamente, montes de exames (o brasileiro é fã deles, veja aqui) e remédios por si solucionarã…s. […]

Bernardo Felsenfeld

MEDICINA NA CADENCIA
ENTENDA AQUI: http://bernardoalerta.blogspot.com/2009/11/medicihttp://bernardoalerta.blogspot.com/2010/07/cronic

Carla

Dona Conceição, muito bem lembrada esta questão do médico conversar com o paciente. Hoje em dia os médicos deixaram de ser pacientes e a pessoa se tornou cliente. Falava-se antigamente que o médico deveria conversar 10 minutos com a doença e 30 minutos com o doente. Tem um médico americano (Dr. John Sarno), fisiologista que prega e faz exatamente isto. Inclusive porque ele em sua experiência clínica, percebeu que a maior part das doenças que as pessoas desejam tratar, são de fundo emocional. Ele usa a expressão "síndrome mente-corpo". Muito interessante. Tem uma entrevista de 21 minutos com ele no link que segue.
Sucesso e saúde http://desenvolvendoaconsciencia.zip.net/arch2010

Carla

Aproveitando que o site do seu Azenha é sério, bem como vocês e além de tudo não são patrocinados por empresas de celular, que tal questionar? Até a FSP está questionando:

Pesquisa liga proximidade de antena a maior risco de câncer http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd07112010

Aparelho é só uma das fontes de ondas nocivas, lembra médico http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd07112010

Vamos esperar os cadáveres para agir contra o celular?
PESQUISADORA AMERICANA QUE ENCABEÇA MOVIMENTO PARA CONTROLAR O USO DOS CELULARES AFIRMA QUE RADIAÇÃO EMITIDA PELOS APARELHOS É UMA "BOMBA-RELÓGIO" http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd07112010

Isabel Moreira

Fico muito feliz em ler esta matéria. No entanto, devo dizer que sempre desejei encontrar médicos que me fizessem essas perguntas. Tenho plano de saúde (inclusive com acesso a consultas no Hospital das Clínicas, entre outros), mas NUNCA encontrei esse tipo de médico descrito na matéria. Sempre tento falar o máximo que posso sobre mim, mas às vezes até fico meio constrangida pensando que posso falar alguma coisa "boba". Os médicos atendem muito rápido, perguntam no máximo por doenças e remédios. Alguns perguntam por doenças na família. E só! Seria uma enorme evolução se as coisas funcionassem de fato como a matéria coloca.

joão bravo

Conceição é sempre um prazer ler suas matérias.Por não ter conversado abertamente com médicos é que tardei a descobrir uma doença latente.Hoje sei que conversar abertamente com seu médico é muito importante,tão importante quanto os exames.

    Conceição Lemes

    Salve, Bravo. Bem-vindo. Abs

Renê e Rafaela

Conceiçao querida, é com enorme prazer q te achamos , aqui no Azenha.
Estamos novamente nos deliciando com seus textos.
Saudades e sempre com vontade de te encontrar.
Beijos enormes e carinhos.
Rafaela e Renê (Telê)

CC.Brega.mim

Conceição, queria dizer que não gosto da vinheta à la hans donner, tipo modernex…
ela associa a tecnologia à ciência
e a ciência então, com dinheiros estatais desenvolve produtos para a elite consumir na área de saúde.
um deles é a fabricação de bebês em laboratório
que mulheres da elite contratam sem nem um minuto de reflexão
a sociedade acha que não é assunto interessante e não discute,
deixa para a intimidade da vida privada…
e a ciência já está desenvolvendo produtos médicos
a partir de embriões humanos criados e destruídos em laboratórios
embriões que passam a ser propriedade de empresas privadas que visam lucros…
e essa discussão ética sobre a questão das células tronco EMBRIONÁRIAS
foi ignorada pela mesma imprensa que agora alardeia o aborto como crime.

Adilson

Muito obrigado pelas informações , Conceição.

abraços,

Adilson

Marcelo de Matos

(continuação) Quando ia saindo ele acrescentou – Suspenda também o óleo. Fiquei na dúvida se era óleo mesmo ou azeite. Na dúvida, continuo consumindo os dois. O urologista, depois que me extraiu um rim, pediu que eu fosse a um nefrologista para que ele me prescrevesse uma dieta. Ele apenas disse: ter um rim só é a mesma coisa que ter dois. A dieta é a mesma. Achei ótimo. Agora procuro marcar minhas consultas em datas que um amigo, que tem problemas semelhantes aos meus, marcas as suas. Após as consultas vamos tomar cerveja. E la nave va.

Marcelo de Matos

Cara Conceição. Não há dúvida de que vivemos em mundos diferentes. Eu pagava o convênio Sul América e estava muito caro, embora as consultas fossem tipo SUS: vapt-vupt. Resolvi mudar para a Unimed Paulistana: preço um pouco mais baixo e atendimento similar. Meus médicos prediletos (urologista, gastro e cardiologista) são de pouca conversa. A única coisa que o gastro e o urologista costumam perguntar é como vai minha filha, que eles conheceram. No mais, só pedem exames. O cardiologista não pergunta nada. Manda deitar, faz o eletro e atualiza a data da receita. Quem faz mais perguntas são os médicos que fazem os exames, mas, acho que essas perguntas são só para o paciente descontrair. Durante o ultrassom o médico pergunta – sua próstata está muito grande? Respondo – na verdade, nem sei. Ele sorri. Acredito que em consultas particulares o esquema seja diferente, mas, sempre tive convênio. Fui a um endocrinologista e ele foi ultra-rápido na consulta. (continua)

    Conceição Lemes

    Marcelo, mas tem de mudar. Se o médico não pergunta, como vai fazer diagnóstico adequado? A conversa é fundamental para encaminhar e até redirecionar o diagnóstico. abs

    CC.Brega.mim

    os planos de saúde nem sempre oferecem mais do que a rede pública.
    acho que a difamação da rede pública alimenta o sistema privado de saúde.
    minha realidade aqui no butantã em são paulo é de excelente atendimento do sus
    em postos de saúde do bairro e uma maternidade modelo no hospital universitário da usp.
    é possível fazer, e estender para outras regiões.
    cuidado com essa ideia "tipo sus"
    o sus pergunta ao paciente porque precisa economizar em exames não extorquir
    e seus médicos sabem examinar diretamente os pacientes.

patrick

A ausência de diálogo não é exclusividade do SUS. Tenho plano de saúde, pelo qual pago caro, e tive o desprazer de ser atendida por duas vezes em um grande hospital da minha cidade, na urgência, que sequer olhou pra minha cara. Literalmente. Eu entrei, ele estava de cabeça baixa, eu disse o que sentia e pronto. Da primeira vez, relatei estar temendo ter a mesma infecção que tinha atingido toda a minha família – minha mãe, meu filho e meu irmão. Ele me ignorou, passou um remédio qualquer e me deu alta. Assim que cheguei em casa, desabei e voltei ao hospital. Por sorte, o plantonista tinha mudado e o médico que me atendeu era da "velha guarda" e me examinou dos pés à cabeça, aplicando um tratamento eficaz, informando tudo que eu deveria fazer e que cuidados deveria ter. Na segunda vez, pensei que ia ser atendida por uma médica, e fui atendida pelo mesmo jovem doutor, que, mais uma vez, não levantou os olhos de seu computador. Não deu outroa. Depois que ele me deu alta, vomitei na calçada…

ruypenalva

Azenha, o nome disso, dessa conversa, chama-se anamnese, e com ela é possivel se orientar a que exames pedir. Outras orientações derivadas da anamnese são: riscos familiares, hábitos, grupo de risco, alergias etc.

Jairo_Beraldo

Na Enfermagem, chamamos esta etapa de ANAMNESE. Uma completa coleta de dados para um completo historico do paciente, para um diagnóstico mais preciso.

Fábio Venâncio

Para a grande maioria dos usuários do SUS essa conversa é quase nula.Os profisionais da saúde mau dão atenção ao paciente.Com excessão nos hospitais de referência nacional nos grandes centros.
Exames então demoram vários meses ,isso se o paciente não vier a óbito antes.

Aracy_

Para conversar com privacidade, lembre-se de que você tem pleno direito de entrar sem acompanhante na sala do médico. Isso é importante especialmente para os adolescentes que iniciam a vida sexual, pessoas que usam drogas ou têm dúvidas sobre sexualidade.

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