Aids: As aparências enganam, o HIV é democrático

Tempo de leitura: 4 min

por Conceição Lemes

Você diria que o uso de camisinha, ou preservativo, é dispensável quando:

* Parceiro (a) é de boa família?

* Parceiro (a) teve poucas (os) namoradas (os)?

* Garoto (a) é de boa família, bem-educado (a)?

*  Garoto (a) tem alto nível social, cultural e econômico?

*  Garoto (a) é “supergato(a)” sofisticado(a)?

*  É amigo (a) da turma, colega de trabalho?

*  Se tem parceiro (a)  fixo (a)?

Pois nessas circunstâncias – atenção! –, o homem, ao não usar camisinha, a mulher, ao não pedi-la, se arriscam a pegar doenças sexualmente transmissíveis (DST), inclusive o HIV, o vírus da aids. É como se fizessem o “teste” de aids e demais DST pelo olho. Isso não existe!

Paradoxalmente, quase todo brasileiro sabe que a camisinha é a melhor maneira de evitar a infecção pelo HIV.

Diferentes pesquisas nas diferentes faixas etárias comprovam isso.  Uma delas, a Pesquisa de Comportamento, Atitudes e Práticas da População Brasileira 2008. Ela revelou que 97% dos jovens de 15 a 24 anos de idade sabem que o preservativo é a melhor maneira de evitar a infecção pelo HIV, mas o uso cai à medida que a parceria sexual se torna estável. O percentual de uso do preservativo na primeira relação sexual é de 61% e chega a 30,7% em todas as relações com parceiros fixos.

Outra pesquisa, divulgada nessa quarta-feira pelo Departamento DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (MS), aponta tendência de crescimento do HIV entre os jovens, embora eles tenham elevado conhecimento sobre prevenção da aids e outras DST.

O estudo foi feito com 35.432 jovens de 17 a 20 anos de idade alistados no serviço militar. A prevalência do HIV nessa população passou de 0,09% para 0,12% em cinco anos. O estudo também revela que quanto menor a escolaridade maior o percentual de infectados pelo HIV.

“Os jovens não se veem em risco”, alerta o infectologista Dirceu Greco, diretor do departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do MS. “É preciso que percebam que a prevenção é uma decisão pessoal e não estarão seguros se não se conscientizarem da necessidade do preservativo em todas as relações sexuais.”

DESCUBRA POR QUE O “TESTE” VISUAL É FURADO

Em tempos de aids, transar com camisinha não significa chamar o outro de infiel, promíscuo, nem de se apresentar como tal. Ao contrário. É pessoa antenada com os tempos modernos. É sinal de ética, responsabilidade, solidariedade, delicadeza, respeito, prova de amor. Quem ama cuida e se cuida.

E por que fazer o “teste” de DST e aids pelo olho não existe?!

Na verdade, ele é feito aos montes. Só que é furadíssimo.

O livro Saúde — A hora é agora, capítulo Relacionamento,  explica por quê. Atentem :

1) As aparências enganam. Bastaria ficar na sala de espera da Casa da Aids para atestar isso: garotas lindas, que poderiam ser modelos, e donas de casa exemplares; professores(as), engenheiros(as), advogados(as) e executivos(as), que diariamente cruzamos em bares, festas, cinema, reunião familiar, encontro de negócios; vovôs e vovós – eles têm vida sexual, sim! –, que volta e meia vemos contando histórias para os netos.

Ou seja, o “teste” visual é completamente furado. Portadores do HIV podem ficar dez anos, em média, sem sintomas, muitas vezes desconhecendo a própria contaminação e passando o vírus para os seus parceiros sexuais.

2) O HIV, como os germes causadores das demais DST, é absolutamente democrático. Ele não tem preconceitos de classe socioeconômica, raça, religião, idade, sexo, nível cultural, educacional ou padrão estético.

3) O HIV também não se importa se a pessoa gosta ou não da outra. O que o vírus da aids quer é continuar vivo. Para isso, passa de um parceiro a outro, e em poucos segundos. Basta um estar infectado e transar sem camisinha. O amor não protege ninguém desse risco.

4) O HIV é transmitido de homem para mulher, de mulher para homem, de homem para homem e de mulher para mulher. Atualmente a proporção de novas infecções em mulheres e homens é quase igual. “A aids hoje tem a cara da população do Brasil”, compara Castilho. Portanto, quem ainda acha que aids é doença de homossexuais, prostitutas e usuários de drogas corre o risco de ser “atropelado” pelo HIV a qualquer instante.

5) Embora vivamos numa sociedade que prega a monogamia, a vida é diferente. Bom seria que as pessoas fossem eternamente apaixonadas e felizes com um(a) único(a) parceiro(a). Mas isso é irreal. Assim como é impossível o Ministério da Saúde decretar: está proibido “pular a cerca”! Quem vai seguir a recomendação? Você pode falar por você. E pelo(a) parceiro(a)? Quem tem certeza de que o(a) seu (sua) nunca vai traí-la(o)?

6) Quando você faz amor, o(a) parceiro(a), mesmo que seja fixo(a), não é a sua única “companhia”. Transam junto os ex e as ex de ambos. Ou seja, o passado e o presente. E, aí, como ter certeza de que nenhuma dessas pessoas viveu situações que possam ter facilitado a transmissão do HIV, como drogas injetáveis, transfusão de sangue e sexo com portador do vírus?

“Na verdade, não existe mais grupo de risco”, garante a assistente social Susan Marisclaid Gasparini, do grupo de prevenção da Casa da Aids do HC-SP. “Atualmente, todos nós que temos vida sexual ativa somos vulneráveis ao HIV e às outras DST se não usarmos preservativo. Inclusive quem só ‘fica’.”

Tem mais. Não dá para tapar o sol com a peneira. A experiência de psicólogos, psiquiatras e terapeutas sexuais mostra que parte dos casais, incluindo as mulheres, tem relações extras. Assim, supondo que você ou seu (sua) parceiro(a) dê uma escapada com uma (um) colega de trabalho – que, por sua vez, tenha outro(a) parceiro(a). No mínimo, já são quatro transando.

“Logo, o ideal é usar camisinha em todas as relações sexuais – oficiais e extraoficiais”, assegura a médica Eliana Battaggia Guttierrez, diretora da Casa da Aids do Hospital das Clínicas de São Paulo e infectologista da Divisão de Moléstias Infecciosas da mesma instituição. “É mais eficaz e seguro para todos. De quebra, ajuda a reduzir a epidemia.”


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Comentários

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Sexo com camisinha continuará essencial, mesmo que se descubra cura da aids – Portal Geledés

[…] Pesquisa feita pelo Ministério da Saúde em 2008 revela que 61% dos jovens utilizam preservativo na…. Só que  qualquer pesquisa feita com jovens mostra que 99% sabem como “pega” e “não pega” o HIV e que a camisinha é importante. […]

Sexo com camisinha continuará essencial, mesmo que se descubra cura da aids – Portal GeledésPortal Geledés | Geledés Instituto da Mulher Negra – Combate ao racismo, preconceito, discriminação e violência contra a mulher. Em defesa dos direito

[…] Pesquisa feita pelo Ministério da Saúde em 2008 revela que 61% dos jovens utilizam preservativo na…. Só que  qualquer pesquisa feita com jovens mostra que 99% sabem como “pega” e “não pega” o HIV e que a camisinha é importante. […]

Joao Rodrigues

Esquece este Anderson, Conceicao. A maioria dos cientistas que , de modo infeliz, contestaram o HIV como a causa da AIDS ja se retrataram. E isto ja é assunto morto desde o final da decada de 80. Ele nao se atualiza cientificamente. O google é o pai dos burros e vai ajuda-lo a encontrar as referencias Ja que voce é especialista em saude, gostaria que voce tentasse ajudar os infelizes portadores de enxaquecas cronicas. A ANVISAn, nao sei se por incompetencia, ou se por falta de propina, nao renovou o registro do ORMIGREIN( um santo medicamento). ANVISA alega que este medicamento nao tem indicacao terapeutica. Pelo menos foi esta informacao que obtive pelo google. Agora sao milhoes de infelizes, inclusive eu, que ficamos sem poder aliviar deste sintoma terrivel. Um medicamento similar mais proximo do Ormigrein tambem desapareceu das farmacias porque o laboratorio nao consegue suprir todos. AJUDA A GENTE. Belo horizonte- MG

    Andre

    Tente Toragesic para as crises e Amato para manutenção (25 mg diáriamente) tem efeitos colaterais, principalmente nas primeiras semanas de uso, mas funciona.

Anderson Porto

Conceição Lemes, você pode enviar um ou mais links para fotos do vírus e artigos científicos EVIDENCIANDO que a SIDA é causada por este vírus?

    Conceição Lemes

    Fala sério, Anderson.

    Anderson Porto

    Estou falando sério. Existem muitos debates nas comunidades científicas que defendem a tese de que este vírus não é a causa e sim parte do problema.

    marinildac

    nao existe nao senhor. só na junk science. e vc pode fazer companhia à Dra. Beterraba, felizmente EX-ministra da Saúde da África do Sul,

Flavio Wittlin

Na abertura da Conferência Internacional de AIDS em Vancouver em 1996, o xamã Leonard George, da tribo dos Tslail Waututh, disse: "Um corpo está saudável quando o espírito está a seu lado. Se o corpo faz coisas que o espírito não gosta, o espírito escapole. Para que o espírito retorne, é necessário que o corpo faça a coisa certa".
Como se vê, a sabedoria a respeito da saúde precede, e em muito, a ciência do Ocidente com Descartes e Newton. Aplicá-la é o grande desafio!

carlos ramos

BOA-TARDE
APESAR QUE O RISCO DA AIDS ESTÁ NA FORMA SEXUAL,TRANSFUSÃO E SERIGA .
GOSTARIA DE SABER SE PARA PEGAR A AIDS É DE FORMA SANGUE POR SANGUE OU POR LIGUIDO SEXUAL (QUE SERIA NO TERMO POPULAR O LIGUIDO DA EXITAÇÃO ANTES DO ORGASMO PRE ELIMINARES)
E QUAL Á PARTE MAIS PERIGOSA DE SE PEGAR Á AIDS É NO SEXO ANAL OU NO VAGINAL RESPONDENDO ESTÁ PERGUNTA ESTAREI GRATO BOM DOMINGO.

Transou sem camisinha? Compartilhou agulha? Faça o teste de aids | Diálogos Políticos

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Dirceu Greco: “Mesmo que surja a cura da aids, teremos de continuar nos cuidando” | Viomundo – O que você não vê na mídia

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[…] por Conceição Lemes, do VioMundo […]

MRSampaio

ola .. pode nos ajudar divulgando a petição publica a favor de processos de produção mais dignos? Por favor,então,assine e divulgue a petição publica http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?…

    Conceição Lemes

    mrsampaio, já postei. abs

Gerson Carneiro

Tomei a precaução de mandar plastificar o meu.

Gerson Carneiro

Algo que para mim significa uma insegurança grande sobre essa questão é quanto ao sexo oral. No caso, feito pelo homem na mulher. Imagino eu que a mucosa bucal é facil de ser machucada, principalmente por quem usa aparelho odontológico, e imagino que um simples arranhão imperceptível até, seja um portão enorme de entrada para o HIV. É isso Conceição, ou estou enganado?

    Conceição Lemes

    Gerson, o risco de transmissão existe, sim, se a parceira for soropositiva para HIV. Tenho hoje uma entrevista com o dr. Dirceu Greco, diretor do Departamento de DST/Aids do Ministério da Sáude. Vou perguntar isso. Abração

    Conceição Lemes

    Gerson, respondendo à sua dúvida.

    O sexo oral sempre foi tido como uma atividade de menor risco, mas nunca foi considerado sem risco algum. Vale lembrar que outras doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, herpes e gonorréia, podem ser facilmente passadas por meio desta prática.

    A chance de transmissão do HIV por sexo oral é maior quando o soropositivo (ou o parceiro dele) tem DSTs não tratadas. Também é mais perigoso se tiver cortes abertos, úlceras ou machucados na boca, garganta infeccionada, amidalite ou alguma doença na gengiva.

    Portanto, respondendo diretamente à sua dúvida, existe, sim, o risco de transmissão doHIV no sexo oral, se a parceira estiver infectada . O que se aconselha é o uso de uma barreira que impeça o contato direto boca/vagina. Esta barreira pode ser uma camisinha cortada – formando um retângulo – ou filme de PVC, usado na cozinha (rolopac, magipac, etc…).

    Existem, ainda, outros meios de diminuir os riscos presentes no sexo oral:
    • Evitar fazer sexo oral se tiver algum machucado, lesão ou inflamação na boca (inclusive gengivite).
    • Evitar fazer sexo oral se tiver algum sangramento na boca ou se acabou de escovar os dentes e houve sangramento.
    • Quem faz sexo oral em um homem deve evitar ejaculação na boca, e quem faz em uma mulher, deve evitar fazê-lo durante o período menstrual.

    É isso mesmo que vc queria saber? Abração

    Gerson Carneiro

    Exato. Era isso mesmo.

    É mais para divulgação da informação já que esse é um ato comumente praticado, e de pouca proteção, fala-se muito no uso da camisinha e pouco sobre os riscos nessa forma de sexo.

    Percebo que literalmente o melhor a fazer é fechar a boca :)

Urbano

Nos tempos em voga, deve-se usar até na prática do onanismo (rsrsrsrs).

Alex

Participo de um programa chamado Saúde e Prevenção na Escola, do MEC e MS, que aborda sexualidades, gravidez na adolescência e prevenção DST/HIV/AIDS e o tópico tratado por você, Conceição, é justíssimo. Tanto é verdade que cresce a contaminação entre as mulheres (percentual quase igual ao masculino, entre os heterossexuais, entre os jovens e entre os que tem relação estável). Preocupante é o fato de que hoje a AIDS tenha se tornado uma espécie de doença crônica dada a evolução dos medicamentos, estimulando a desatenção com a profilaxia.

valdeci.souza

É melhor não fazer sexo.

FrancoAtirador

.
Além de ser causada pela ignorância, esta negligência ao uso de preservativos deve-se à cultura judaico-cristã que presume que os parceiros são fiéis um ao outro e que o sexo se dá apenas para a procriação.
.

Gustavo Pamplona

Conceição: Não sei se os números das "alternativas" de fato correspondem aos números das "explicações" abaixo… bom deixa eu dizer o seguinte

– A alternativa 1 coressponde a explicação 1.
– As alternativa 2 e 3 estão invertidas, a altenativa 2 corresponde a explicação 3 e a alternativa 3 corresponde a explicação 2.
– A alternativa 4 está correta com a explicação 4.
– A alternativa 5 está faltando, mas também acho que partes da da explicação 4 correspondem a alternativa 5.
– A alternativa 6 está "mesclada" com partes da explicação 5 e 6.
– A alternativa 7 corresponde a explicação 6.

Agora se eu pudesse escolher, eu escolheria a alternativa inexistente e numerada 8 que seria algo assim

8) Nenhuma das anteriores

Falou!

    Conceição Lemes

    Nâo necessariamente, Gustavo. Na verdade, quando numerei, não visei à correspondêndia. Portanto, pelas tuas observações, pode dar confusão. Vou tirar os números das perguntas. Obrigada. abs

    Gustavo Pamplona

    De nada. ;-) Mas deixa eu te contar uma coisinha que sempre observo na mída:

    Porque será que somente quando o "Dia Mundial da Aids" chega eles voltam a falar de AIDS? Se bem que na época do Carnaval eles chegam a falar também. Mas somente o lance dos preservativos.

    Mas eu sei porquê: Isto é porque a AIDS não mata mais aquele tanto como matava no passado. Com exceção é claro, na África.

    Victor

    AIDS não mata, só cria as condições necessárias para que outras doenças o façam.

    Além disso, como afirma o próprio texto, o vírus é "absolutamente democrático. Ele não tem preconceitos de classe socioeconômica, raça, religião, idade, sexo, nível cultural, educacional ou padrão estético."

    O único ponto que diferencia uma região da outra é quando se fala no acesso que a população recebe aos tratamentos para HIV: e nesse quesito nosso país não se encontra muito na frente da África não.

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