por Luiz Carlos Azenha, publicado originalmente em 2005 e editado em 24 de junho de 2007
Encontrei Fernandinho Beira-Mar diante de um avião, na Colômbia, logo depois que ele foi preso.
Topou dar entrevista, mas negou ser traficante de drogas: “Soy ganadero.”
Quase respondi a ele: “E eu sou o Papa.” Mas podia fazer mal à minha saúde.
Ao desembarcar em Bogotá, vindo do interior, Beira-Mar foi recebido na porta do avião pela nossa equipe de reportagem e pelo então secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Josias Quintal.
Vestia um colete à prova de balas. Autoridades brasileiras acusavam Beira-Mar de ser o maior traficante de cocaína do país
Viajamos para a Colômbia a bordo de um jatinho do governo do Rio.
Depois de uma escala em Bogotá, seguimos para um aeroporto do interior, em busca de Beira-Mar. Os policiais cariocas estavam ansiosos e confusos.
Pousamos num aeroporto no meio da floresta, para reabastecer, depois de sobrevoar a selva sem rumo. Houve um desencontro com autoridades colombianas.
Fernandinho só seria levado para Bogotá no dia seguinte. “Soy ganadero, soy ganadero”, foi o que respondeu quando perguntei se, de fato, ele comandava o tráfico refugiado no interior da Colômbia.
Pelo que disse na entrevista, tinha se tornado pecuarista na região produtora de cocaína.

Foto arquivo pessoal
A foto acima foi tirada no aeroporto em que pousamos para reabastecer, perdido no interior da Colômbia.
Apareço com Josias Quintal, um assessor dele e um colega jornalista.
Estávamos em pleno território de traficantes e guerrilheiros.
Posamos para a foto diante de um cargueiro Ilyushin, de fabricação russa, pertencente à companhia estatal Aeroflot.
O que o avião estava fazendo ali?
Na época, Bogotá estava sob toque de recolher informal. Recebemos recomendação para não deixar o hotel depois das seis da tarde.
Os guerrilheiros andavam tomando estrangeiros como reféns. E a bandidagem detonava caixas eletrônicos durante a madrugada, para tomar dinheiro dos bancos.
A capital colombiana é uma cidade agradável.
Passeando por ela, é possível perceber as contradições que alimentaram Gabriel Garcia Márquez.
Um lugar bonito, feio, elegante, miserável, em que índios e descendentes de espanhóis frequentam mundos distintos.
Beira-Mar foi apresentado oficialmente à imprensa no dia seguinte à nossa chegada, com a mão direita engessada. Teria se ferido durante a fuga.
O governo local queria mesmo era prender Negro Acácio, integrante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC, que tinham se associado aos traficantes.
As FARC, na época, controlavam boa parte do território colombiano, eram acusadas de dar passagem livre para a cocaína em troca de um pedágio.
Beira-Mar foi tratado na Colômbia como um traficante de segunda classe.
Depois de anunciar a prisão como outra vitória do Exército e da polícia, os colombianos dispensaram Fernandinho como se fosse um pé-de-chinelo.
Ele foi rapidamente deportado para o Brasil.
Com ajuda em dinheiro, treinamento e helicópteros, os Estados Unidos faziam pressão para que o governo local concentrasse o fogo nas FARC, como forma de enfraquecer os traficantes.
Negro Acácio, sim, era um peixe graúdo.
Na entrevista que fiz com Fernandinho, na porta do avião, ele falou com a suavidade de um malandro do morro, como se estivesse surpreso com a prisão: “Não devo nada.”
Depois de fugir do Brasil, onde estava jurado de morte, o traficante foi para a Bolívia.
Ele se associou ao maior cartel local. Numa disputa por poder, mandou matar os dois irmãos que comandavam a gangue. Com medo de vingança, fugiu de novo, desta vez para a Colômbia.
Teria se ligado à guerrilha num negócio lucrativo: mandava cocaína para a Europa, passando por território brasileiro, e recebia de volta o armamento, usado para “pagar pedágio”.
Desde que voltou ao Brasil, Fernandinho já foi transferido várias vezes de cadeia.
O sonho dele era cumprir pena no Rio de Janeiro. Agentes penitenciários e policiais teriam enriquecido às custas do traficante?
Suspeito que se Beira-Mar abrir a boca vai comprometer muita gente. Mas aí corre o risco de morrer na cadeia.
A imagem mais marcante da viagem foi a do cargueiro russo, avaliado em alguns milhões de dólares, estacionado numa pista no meio da floresta.
Faria parte da ponte aérea do pó, ligando a Colômbia ao mercado europeu.
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33 comentários
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O dia em que o Datafolha derrotou Jânio Quadros - Viomundo
28 de setembro de 2018 às 14h25[…] Beira Mar, ao ser preso na Colômbia: “Sou pecuarista” […]
Paulo Brasileiro
23 de agosto de 2015 às 18h59Se falasse que era do psdb, não ia preso.
hamiltonlucio
12 de agosto de 2015 às 22h47Fernandinho falou jornal eu perto de neto presidente eu sou fichinha
Julio Silveira
29 de junho de 2015 às 23h07Pensando bem, e conhecendo como funcionam as coisas por aqui, podemos dizer que a tirada do Beira Mar foi bem burra. Teria muito mais chance de se dar bem, se dissesse que era o piloto do helicóptero de um inocente politico mineiro, e que pensou estar carregando talco para a fazenda do patrão. Rsrsrsrsrs
José Carlos de Assis
06 de julho de 2017 às 20h29Gostei desta… rsrsrs
Organograma da meritocracia à moda tucana | Ficha Corrida
21 de abril de 2015 às 18h55[…] Depois que o Gerdau foi pego na Operação Zelotes, toda vez que ouço falar em reengenharia, programa de qualidade, meritocracia, choque de gestão eu penso no Fernandinho Beira-Mar. Se fosse tucano, estaria solto até hoje. Fernandinho, o Beira-Mar, jamais voou em helipóptero com 450 kg de cocaína. Se dizia pecuarista… […]
Demetrius
11 de fevereiro de 2015 às 23h16Beira Mar ao ser preso: sou arquiteto
Irineu
27 de junho de 2013 às 12h50Azenha e leitores,
É simples.
O beira-mar é traficante, mas é apenas um bode espiatorio que esconde um monte de gente poderosa que nao pode aparecer.
A reportagem deveria ser mais profunda, porem os veiculos de comunicação tem “medo” de mexer nessa turma ocultada, pois deve ser perigoso.
Gilmar
30 de março de 2015 às 22h02Através do site http://www.blogdomg.com tomei ciência que
os traficantes que se matam no cotidiano dos morros
do RJ, milagrosamente se unem pra comprar drogas e
armas porque conseguem melhores preços.
Papo furado, se assim o for, está claro que personagens
com Fernandinho Beiramar e o falecido Ue, não são
os donos do negócio e sim meros arrendatários.
Essa falsa união pra comprar em lote, esconde
os verdadeiros donos do negócio, que são parceiros
dos midia, que jamais os revelarão.
+1 conspiração.
Vicente Freire
20 de março de 2013 às 07h44“Estávamos em pleno território de traficantes e guerrilheiros. Posamos para a foto diante de um cargueiro Ilyushin, de fabricação russa, pertencente à companhia estatal Aeroflot. O que o avião estava fazendo ali?”
Posso especular: o avião cargueiro trouxe turistas russos AK-47 e levou cocaleros em pó para a Rússia.
Quetal (sem trocadilho)?
angelo
04 de fevereiro de 2013 às 11h03Segundo advogado da Marcha da Maconha, Beira-Mar é um “gerentinho”. Chefes de tráfico nunca foram presos.
Fato: banqueiros flagrados associados ao trafico não são presos, pagam multa.
josé-arimathéa
01 de janeiro de 2013 às 13h03De vez em guando, entra por aki uns palpiteiros q so pelo q falam e o estilo de comentar as coisas a gente nota q sao leitores alienados da oia estadao foi e outras cositas mas alem da rede bobo sai fora
cleide ribeiro
02 de outubro de 2014 às 08h08Perfeita a observação. Levando-se em considerações ligações perigosas do passado e presente de determinados cidadãos.Óia e Grobo em ação.
Cláudio
10 de maio de 2012 às 13h00Aeroflot ? Esses ianques não mudam mesmo, sempre, como a mírdia brasileña (coincidência?), ‘plantando’ coisas, achando que os outros são tão idiotas quanto ele$$, débeis mentais que não saem de si.
Frei José Basto
06 de janeiro de 2011 às 08h58… a razão da maioria dos votos das urnas tem como fundamento o interesse pessoal…e, é por isso que existe "prostituição" eleitoral…
Frei José Basto
06 de janeiro de 2011 às 09h53Se o beira-mar pudesse se candidatar, certamente receberia milhões de votos…
Julio
29 de dezembro de 2010 às 20h04Sei que é apenas um detalhe, mas o avião russo é um Antonov AN-12 e não um Ilyushin. O que será que ele estaria fazendo lá??
beffa
20 de outubro de 2010 às 18h22Nos acertos que fez com o pedágio levou os bois!
Observador
15 de agosto de 2010 às 00h27Soy ganadero, dirá Lulla brevemente. (2)
Lulla, Dillma e todos os outros aloprados do Partido dos Traidores…
Jose Magalhaes
16 de outubro de 2010 às 15h36Os Pecuaristas (Granaderos) apóiam Serra; Paulo Prteto é do Serra (será também um granadero)?
vera oliveira
15 de julho de 2010 às 18h51e eu sou a branca de neve..
Jairo_Beraldo
08 de junho de 2010 às 19h48Aqui em GO, no municipio de Paraúna, foram confiscadas duas fazendas do Fernandinho…Pena que o outro Fernandinho, o Cardoso, não terá que usar este par de algemas que a PF colocou no BeiraMar
Maldonado
19 de maio de 2010 às 20h31Eu libertaria Beira-Mar numa troca para dar lugar a gilmar mendes, muito mais frio e perigoso, só não fala com suavidade, é um estúpido nato. Beira-Mar, apezar de tudo, merece ter o nome tratado com letras maiúsculas…
cuty
02 de maio de 2010 às 13h11Soy ganadero, dirá Lulla brevemente.
Mary
14 de abril de 2010 às 00h12Será que o Fernandinho é pior que esses políticos safados que se elegem e só fazem falcatruas em nome do povo? Isso é discriminação, só porque a criatura não anda de colarinho branco,qual a diferença dele dos políticos?
geraldo
10 de abril de 2010 às 00h15a unica diferença entre fernandinho beir mar …. e arruda e toda catrefa de brasilia é que ele não usa gravata
Tio Almir
01 de abril de 2010 às 00h53Que nada. O Beira-mar é um dos membros mais atuantes do CNA da kátia a breu!
Pitagoras
28 de março de 2010 às 01h38De ganadero o Congresso está cheio…a diferença é que fernadinho tá preso!
Jairo_Beraldo
08 de junho de 2010 às 19h46Só o congresso, Pitágoras? Deixou o judiciario de fora porque?
PeTralha
02 de dezembro de 2012 às 19h06Porque no judiciário os granaderos não são nem maioria, já no congresso são a totalidade.
Zila Mello
19 de março de 2010 às 23h59De confisco em confisco Fernandinho Beira-Mar vai deixando de ser pecuarista.
Notícia da Bol reproduzida no site do Incra:
Duas fazendas pertencentes ao grupo de Fernandinho Beira-Mar foram obtidas em setembro de 2009 pelo Incra e serão destinadas à reforma agrária. São as Fazenda Descanso Ponte de Pedra (727 hectares) e Fartura II e III (148 hectares), ambas localizadas em Paraúna/Góias.
A transferência das áreas ao Incra foi possível após a assinatura inédita de um termo de compromisso com a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas). Pela legislação, bens e imóveis do narcotráfico devem ser leiloados e os recursos depositados no Fundo Nacional Antidrogas. Como o Incra não poderia comprar fazendas que já são da União, foi feito o termo de compromisso com a Senad. Decisões judiciais apontaram que, na década de 1990, as duas fazendas eram utilizadas por integrantes do grupo do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, como postos de distribuição de drogas.
Marcelo Teixeira
16 de março de 2010 às 23h27Se formos pesquisar direitinho é capaz de acharmos ficha de filiação de Beira-Mar na UDR do Ronaldo Caiado e da Katia Abreu.
Janes Rodriguez
15 de março de 2010 às 23h15Daniel Dantas também virou! Eles têm tudo a ver. Com uma diferença: de classe. Um tem origem na favela. O outro temm origem nos salões da "aristocracia" baiana, filho do 'socialite'. Qual está preso e qual está solto?