Dr. Rosinha: Que meus ‘garranchos’ ajudem a desarmar a arapuca em que estamos presos!

Arapuca

por Dr. Rosinha*

Por algumas poucas razões propus que esta coluna deve se chamar Arapuca.

Em 2003 inaugurei uma coluna, com este mesmo nome, no jornal a A Gazeta do Iguaçu (A Gazetinha), de Foz do Iguaçu (PR).

Uma das razões foi para homenagear Rogério Romano Bonato, que foi quem me convidou para escrever no jornal. Rogério tinha acabado de publicar o Ara’puka.

“Quando ganhei o Ara’puka do Rogério Bonato, a primeira imagem que veio na minha mente foi à infância.

Vivi minha infância no sítio e ali eram muitas as arapucas – em todos os sentidos – montadas, principalmente pelos meus primos”, com o objetivo de caçar passarinhos.

A frase, entre as aspas, acima é do primeiro, de uma série de artigos, que publiquei na Gazetinha.

Agora 2020, recebo o convite, via Conceição Lemes, para ter, e claro escrever, uma coluna no Viomundo.

Junto com o convite veio a proposta que sugerisse um nome para a coluna.

Pensei e não encontrei outro nome que não fosse o de Arapuca e, para usá-lo, consultei o velho amigo Rogério Bonato, que prontamente autorizou.

O dicionário Houaiss da língua portuguesa, entre outros significados, nos informa que arapuca é também armação para surpreender, emboscar, cilada, armadilha.

Entendo que tanto o convite da Conceição, agora, como foi no passado recente o do Rogério, é uma arapuca (rsrsr).

Ao aceitar o convite, caio numa arapuca e, consequentemente, me torno prisioneiro de uma obrigação: escrever pelo menos um texto toda semana.

Pensando bem, acho que também é uma arapuca para a Conceição (rsrsrs), que terá o trabalho de ler, revisar –isto não fazia parte do convite –e inserir neste espaço.

Outra razão que me levou, como da primeira vez, a usar o nome de Arapuca é por uma questão óbvia: a maior arapuca é nossa própria vida.

Prisioneiro dela, e dentro dela, é que vamos viver. Todos os dias para viver e sobreviver nós temos, como a maioria do povo, que armar e desarmar arapucas.

É assim desde que nascemos e vai até a arapuca fatal, a arapuca da morte.

Esta ninguém conseguirá desarmá-la, mesmo os que prometem a vida eterna, o inferno ou o paraíso.

No momento, estamos presos a uma grande arapuca, que tem como representante oficial, apesar de todas as limitações intelectuais, um ex-capitão expulso do Exército.

Cabe-nos, em conjunto, desarmar esta arapuca e, se possível  (pode parecer violência, mas não é), prender dentro de muitas arapucas todos os nazistas e fascistas, nem que voltem a serem prisioneiros das arapucas que levam, ou até recentemente levavam, dentro de si.

Tempos atrás li, no prefácio de um livro, que o difícil não é começar a escrever um livro, mas sim terminá-lo.

Isto pode ser verdadeiro para muitos escritores, porém no meu caso, que nunca escrevi nenhum livro, me é difícil começar a escrever todo e qualquer texto.

Mas, já que entrei na arapuca, é dentro dela que libertarei meus “garranchos”, ou seja, meus mal traçados pensamentos.  Espero que eles contribuam para desarmar a arapuca que estamos presos.

A palavra ara’puka era dita pelos índios tupis quando indicavam a região oeste do estado do Paraná.

Ela significa as ciladas e os labirintos da impenetrável floresta, entre os quais principalmente o encontro dos grandes rios (Paraná, Iguaçu e Paraguai) e a turbulência de suas águas.

*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.