Paulo Nogueira Batista Jr: A cúpula dos BRICS e as reações destemperadas dos EUA
Tempo de leitura: 15 min
A cúpula dos BRICS e as reações destemperadas dos EUA
Por Paulo Nogueira Batista Júnior*
Trump pode espernear e dar coices à vontade. Isso não vai paralisar os BRICS.
Foi bem-sucedida a cúpula dos BRICS, diferentemente do que muitos temiam (inclusive eu). Preocupado com o que me parecia o risco de um insucesso, enviei sugestões e manifestei receios diversas vezes, tanto em público quanto em diálogos com integrantes do governo.
Fiquei contente com os resultados e parabenizo as equipes do governo brasileiro e de outros países que contribuíram para o sucesso, notadamente a Rússia.
Não foi por acaso que Donald Trump passou a exorbitar outra vez, durante e depois da cúpula dos BRICS, pois ela confirmou que o grupo é, de fato, o principal contraponto no mundo à hegemonia dos Estados Unidos e seus aliados. Na verdade, os resultados da cúpula no Rio de Janeiro surpreenderam para melhor.
Na área econômico-financeira, algumas iniciativas importantes foram reafirmadas e desenvolvidas, algumas outras foram lançadas. E o trabalho continuará – espero – no segundo semestre da presidência brasileira.
Deve-se notar que esses resultados positivos foram alcançados mesmo com problemas consideráveis que afetam o funcionamento dos BRICS. O artigo tratará desses problemas, de um lado, e das instituições e iniciativas financeiras do grupo, do outro.
Para não alongar demais o texto, deixo de lado as questões diplomáticas e políticas. Tratarei apenas das reações políticas e econômicas de Trump.
E é tão vasta a agenda econômica dos BRICS que nem poderei sequer abordar todas as iniciativas do grupo nesse campo.
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Lula e Trump
Começo com os destemperos de Donald Trump. Foi interessante a declaração do presidente Lula, logo antes da cúpula, de que os BRICS precisam criar uma moeda alternativa para transações internacionais.
Declaração destemida, pois ignora, e faz bem de ignorar, as repetidas ameaças de Trump contra os BRICS e qualquer país que atue para destronar o dólar da sua condição de moeda de reserva internacional.
Durante a nossa cúpula, Trump voltou a ameaçar: “Qualquer país que venha a se alinhar com as políticas antiamericanas dos BRICS terá de pagar uma tarifa ADICIONAL de 10%”, escrevendo em letras maiúsculas mesmo, e acrescentando que “não haverá exceções a esta política”.
Logo depois da cúpula, Trump fez declarações ainda mais agressivas, dizendo que os BRICS têm a intenção de “destruir o dólar” e que o grupo “foi criado para desvalorizar o a nossa moeda”. E foi enfático: “O dólar é rei. Vamos mantê-lo assim. Se as pessoas quiserem desafiá-lo, podem. Mas terão que pagar um alto preço”. Estipulou, além disso, que as novas tarifas entrarão em vigor em 1º de agosto.
No dia seguinte, deu um coice ainda maior: enviou uma carta aberta a Lula em que anunciou uma tarifa extra de 50% sobre a importação de produtos do Brasil a partir de 1º de agosto, justificando esse tarifaço, entretanto, sobretudo com questões políticas internas nossas, em especial uma suposta caça às bruxas contra o ex-presidente Bolsonaro, que “deve terminar IMEDIATAMENTE” (mais uma vez em maiúsculas), além de reclamar das “centenas de ordens de censura do Supremo Tribunal Federal brasileiro, SECRETAS e ILEGAIS (outra vez em caixa alta), dirigidas a plataforma de mídia social dos Estados Unidos”.
Reclamou, também, das barreiras tarifárias e não-tarifárias praticadas pelo Brasil. Curiosamente, os Estados Unidos têm expressivos superávits comerciais com o Brasil há muito anos, o que dá um caráter totalmente descabelado à carta de Trump.
Ao mesmo tempo, Trump disparou de novo a sua metralhadora giratória tarifária contra diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento, alguns deles dos BRICS.
Foi perfeita a nota do presidente Lula em resposta a Trump. Chama atenção a diferença de qualidade entre a missiva de Trump e a réplica de Lula. A primeira totalmente aloprada (mais um sintoma da decadência dos EUA); a segunda, firme e bem fundamentada.
Lula acenou com retaliação, dizendo que o Brasil se reserva o direito de responder à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica, caso o tarifaço entre mesmo em vigor.
Postura altiva do nosso presidente, pois a carta aberta de Trump já ameaçara com aumentos adicionais de tarifas em caso de o Brasil aumentar suas tarifas sobre as exportações dos EUA. E Trump ainda teve o desplante de escrever que, se Lula “eliminar as tarifas e barreiras não-tarifárias”, ele “talvez considere” ajustar a sua carta.
O que dizer de tudo isso? Bem, Trump chegou a falar, em ocasiões anteriores, em tarifas de 100% e até 200% sobre os BRICS por causa da suposta ameaça ao dólar. Progresso, portanto!
Enfim, foram novas grosserias do presidente dos Estados Unidos. Embora ele não tenha mencionado os BRICS na carta a Lula , é razoável admitir que o sucesso da cúpula do Rio tenha contribuído para a explosão de Trump.
Os BRICS e o sistema monetário e financeiro controlado pelo Ocidente
Diferentemente do que disse Trump nos dias recentes, repetindo várias declarações anteriores do mesmo naipe, os BRICS não pretendem atuar deliberadamente para destronar ou enfraquecer e muito menos “destruir o dólar”, mas sim criar alternativas aos sistemas internacionais dominados pelo Ocidente e centrados na moeda dos EUA.
“Vamos com calma. Não somos contra o dólar, o dólar é que às vezes é contra nós”, disse o presidente Putin, sem ironia, em resposta a uma pergunta que tive a oportunidade de fazer a ele, em encontro anual do Clube Valdai em novembro do ano passado. Veja, leitor ou leitora, mesmo a Rússia, que está efetivamente em guerra com o Ocidente, adota até agora uma linguagem moderada em relação a propostas de desdolarização.
Mas a verdade é que o sistema monetário e financeiro internacional existente, controlado pelo Ocidente – isto é, o Fundo Monetário Internacional; o Banco Mundial e os bancos regionais de desenvolvimento tradicionais; a centralidade do dólar como moeda internacional; o esquema SWIFT de pagamentos transfronteiriços; as três principais agências de classificação de risco, entre outros elementos – apresenta claramente diversas deficiências graves.
É excludente, ineficiente e não atende às necessidades dos países dos BRICS e do resto do Sul Global. Trata-se, no essencial, de um instrumento de poder e coerção para os países do Atlântico Norte e seus aliados em outras partes do mundo. Por isso, precisamos criar mecanismos alternativos e independentes do Ocidente, sem deixar de participar, na medida do possível e conveniente, do sistema atualmente existente.
Acredito que os BRICS, ou uma parte do grupo, continuarão a desenvolver, com paciência e profissionalismo, um novo sistema – não anti-Ocidental, mas pós-Ocidental, para lançar mão de uma expressão utilizada por Zhao Long, um economista chinês, em debate de que participei no Rio de Janeiro na semana passada.
Isso será feito ao longo dos próximos anos quer Trump queira, quer não. E é lamentável que o presidente dos Estados Unidos não saiba controlar minimamente os seus destemperos.
O peso do grupo BRICS
Trump tem motivos para temer os BRICS? Provavelmente sim. Fazem parte do nosso grupo todos os maiores países do Sul Global. Agora somos 10 membros plenos (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Indonésia, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos), além de outros 10 países parceiros.
Os BRICS têm enorme peso econômico, demográfico e territorial. Considerando só os membros plenos, os BRICS ou BRICS+ respondem por nada menos que 50% da população do planeta (graças especialmente à Índia e à China), quase 40% do PIB mundial (graças à China principalmente) e 30% do território global (graças sobretudo à Rússia, à China e ao Brasil). Não é à toa que o nosso grupo atrai tanta atenção no mundo inteiro.
(Uma nota de rodapé: a Arábia Saudita foi convidada para ser membro pleno em 2023, mas ainda não respondeu, nem positiva, nem negativamente. A Argentina, convidada na mesma época, recusou. O que mostra, diga-se de passagem, que por motivos políticos nem todos os países do Sul Global estão prontos para aderir aos BRICS.)
Outra comparação relevante para os BRICS: quando se consideram os top-10 do mundo em termos de população, PIB (medido por paridade de poder de compra) e território, verifica-se o seguinte. Cinco dos BRICS (Índia, China, Indonésia, Brasil e Rússia) figuram na lista dos 10 maiores países em população. Os mesmos cinco BRICS estão entre os 10 maiores países em termos de tamanho da economia. E quatro deles fazem parte da relação dos 10 maiores em extensão geográfica (dos já mencionados, todos menos a Indonésia).
O Brasil está nessas três listas, ressalte-se, e por isso mesmo intitulei o meu penúltimo livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém. O problema, entretanto, é que muitos brasileiros cabem no quintal de qualquer um, inclusive e destacadamente Jair Bolsonaro, que Trump compreensivelmente tanto defende.
Os americanos adoram vassalos. Mas não quero me desviar do assunto e volto aos BRICS.
Não devemos exagerar a importância real dos BRICS enquanto grupo
Cabe reconhecer, entretanto, que percentuais e listas como os acima mencionados podem dar uma ideia exagerada do peso real prático dos BRICS enquanto grupo.
Há algumas dificuldades que ainda impedem os BRICS de exercer papel correspondente a seu peso relativo no mundo e isso vem prejudicando, como era de esperar, a presidência brasileira do grupo em 2025.
Sem pretender esgotar o assunto e nem mesmo listar todas essas dificuldades, vou falar um pouco de três delas: uma de natureza conjuntural – o risco de encurtamento da presidência brasileira; e outras duas, mais estruturais e interligadas, que devem persistir no que resta de 2025 e nos anos seguintes – os riscos de expansão excessiva dos BRICS e os riscos de paralisia do grupo por causa da nossa arraigada tradição de decidir por consenso.
1) Risco de encurtamento da presidência brasileira
O governo brasileiro cometeu o erro de marcar a cúpula para o meio do ano, algo muito pouco usual e que arrisca reduzir a presidência brasileira dos BRICS a um semestre apenas. O argumento, muito fraco, é que o Brasil sedia a COP30 em novembro e que o país não teria condições de organizar dois eventos internacionais em datas próximas.
Para lá de questionável. O Brasil, sendo como é um dos principais países do mundo, tem sim como fazer isso, se não pensar pequeno. E, depois, convenhamos, a COP30 não deverá alcançar resultados práticos relevantes e será provavelmente apenas mais uma ocasião para discursos e slogans simpáticos. Já os BRICS constituem o grupo de países que melhores condições tem de modificar o quadro internacional.
Esse problema foi mitigado no Rio de Janeiro pelo fato de ficarem previstas na Declaração dos Líderes e em outros documentos, diversas reuniões ministeriais, de bancos centrais, de xerpas e assessores ao longo do segundo semestre.
Faltou, porém, até onde pude perceber, um gancho fundamental – marcar uma reunião dos líderes dos BRICS para novembro por ocasião da cúpula do G20 na África do Sul, em Joanesburgo, para a qual convergiriam as negociações que ocorrerão no segundo semestre.
E não venham me dizer que isso é impossível. Não é nem difícil. Os líderes do grupo já fizeram diversas reuniões desse tipo, a primeira por iniciativa de Dilma Rousseff em 2011, e várias depois, inclusive no governo Bolsonaro, com comunicado público e tudo. São simples de organizar, e eu sei perfeitamente disso, pois participei desse processo em vários anos. Fazíamos reuniões em salas pequenas, com cerca de 25 a 30 pessoas presentes, os cinco líderes e mais alguns assessores.
Hoje, é um pouco mais complicado, pois o número de países membros dobrou. Mas é só reduzir o número de pessoas que cada líder traz consigo, permitindo uma reunião menor e mais íntima, como ocorria antes da expansão do grupo. Ressalte-se que esse encontro dos líderes não é uma segunda cúpula, com toda a parafernália das cúpulas, mas um encontro que, embora mais informal, costuma terminar com um comunicado do qual podem constar assuntos importantes.
Por exemplo, as negociações do Arranjo Contingente de Reservas (ACR), o fundo monetário dos BRICS, foram lançadas, sob liderança do Brasil e da China, e mais do Brasil do que da China, numa reunião desse tipo que ocorreu em 2012, em Los Cabos, à margem da cúpula do G20 no México.
E devo dizer, entre parênteses, que essas negociações só foram lançadas naquele momento por causa do empenho da presidente Dilma, que não sossegou enquanto não foram vencidas as resistências da Índia.
(Um relato dessa negociação difícil e até tumultuada em Los Cabos pode ser encontrado em O Brasil não cabe no quintal de ninguém, 2ª edição, páginas 256 a 261.)
Note-se que dos 10 membros atuais dos BRICS, quatro países – Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã não fazem parte do G20. Mas isso não é problema. Bastaria a África do Sul convidar esses quatro países para vir a Joanesburgo, não para participar da cúpula do G20, mas para se encontrar com os demais líderes dos BRICS – um encontro que pode ser, aliás, mais importantes do que o do G20, agrupamento que está praticamente paralisado pelo agravamento do quadro geopolítico mundial e pela confrontação entre EUA e Europa, de um lado, e China e Rússia, do outro.
2) Riscos decorrentes da expansão dos BRICS e do modo de decidir do grupo
Não foi anunciado nenhum novo convite para a entrada de novos países, como membros plenos ou como parceiros. Bom ponto! O grupo já ficou grande demais, a expansão por pressão da China foi apressada e mal planejada. Os critérios de escolha dos novos países não foram bem definidos. Faltou, por exemplo, assegurar o compromisso dos novos membros com princípios já consolidados do grupo, o que parece já estar tumultuando as negociações internas dos BRICS.
Hora de sustar qualquer expansão adicional. A razão é que um grupo maior e mais heterogêneo tende a ter dificuldade de tomar decisões práticas, especialmente se entrarem países muito vulneráveis às pressões econômicas e políticas do bloco ocidental.
Tanto mais que os BRICS –ponto fundamental e pouco conhecido – são muito agarrados à tradição de decidir por consenso, entendido rigidamente como unanimidade. Assim, cada país individual tem poder de veto, o que dificulta o avanço em temas controvertidos. Obviamente, quanto maior o grupo, mais difícil fica alcançar consenso. Já era difícil quando tínhamos apenas cinco países. Posso dar o meu testemunho de como sofríamos para alcançar consenso mesmo com só cinco países. Com 10, as dificuldades crescem. Se o número de membros plenos aumentar para 15 ou 20, o grupo corre o risco de se tornar inoperante, uma espécie de talk shop, uma instância para discursos e proclamações, não para decisões de ordem prática.
Quando prevalece a exigência de consenso, repito, cada país membro tem poder de veto, especialmente os maiores, mas também os menores. É uma receita para paralisia. A Índia, por exemplo, se vale desse modo de decidir para bloquear propostas em várias áreas e, particularmente, iniciativas monetárias e financeiras que possam ferir interesses dos Estados Unidos, país com o qual ela deseja manter proximidade como contrapeso à China, sua tradicional adversária. Esse comportamento da Índia já se notava há muito tempo, mas se intensificou no governo Modi e, mais ainda, acredito, com a volta de Trump à presidência e suas repetidas ameaças.
A solução é permitir que certas iniciativas possam ser levadas adiante por um subgrupo dos BRICS, em base voluntária, ficando aberta a porta para aqueles que não desejem participar desde o início. A cúpula do Rio reafirmou essa possibilidade, dando sequência ao que ocorreu na cúpula de Kazan, na Rússia, em outubro de 2024. Agora é colocar em prática.
Apesar das dificuldades, houve progresso considerável no Rio
Não obstante todas essas dificuldades, a presidência brasileira alcançou resultados significativos na área financeira. Explico brevemente alguns deles, sem seguir uma ordem de importância ou prioridade.
Primeiro resultado: a Declaração dos Líderes foi impecável nas orientações que deu às duas principais iniciativas financeiras dos BRICS – o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), mais conhecido como Banco dos BRICS, e o Arranjo Contingente de Reservas (ACR).
O NBD, que eu ajudei a fundar, é de longe a mais importante das duas. Foi criado, recordo, para ser um banco do Sul Global para o Sul Global, servindo como de alternativa ao Banco Mundial e aos bancos regionais de desenvolvimento. Ainda não conseguimos chegar lá. A Declaração dos Líderes frisou corretamente (“we strongly support”) a expansão adicional do número de países membros do NBD, o que é indispensável para que ele seja, de fato, um banco global, como planejávamos desde o início.
Depois de 10 anos de existência, o NBD tem apenas 11 países membros. A ex-presidente Dilma, que atualmente preside o banco, está empenhada nessa questão e já teve algum sucesso, trazendo a Argélia, além da Colômbia e do Uzbequistão, novos membros anunciados na cúpula do Rio.
Além disso, a Declaração recomendou, com toda razão, que o NBD realize mais operações com moedas nacionais dos países membros. Também aqui o banco progrediu pouco nos seus 10 primeiros anos e continua predominantemente dolarizado tanto no lado do ativo como do passivo. Dilma Rousseff está trabalhando para elevar para 30% a participação das moedas dos países membros do banco nas suas operações.
Falta, ainda, melhorar a) a transparência e a comunicação do NBD, que é inferior à do Banco Mundial e do FMI; b) preencher posições importantes que estão vagas (por exemplo, a de economista-chefe do banco); e c) garantir que o NBD sempre respeite rigorosamente as suas regras de governança, algo que infelizmente não tem ocorrido.
Mais importante ainda: a qualidade e efetividade dos empréstimos do NBD precisam provavelmente melhorar – se bem que não se sabe exatamente como esse aspecto crucial está evoluindo, uma vez que, como mencionei, não há suficiente transparência do banco. O segredo a respeito levanta a suspeita de que nem tudo está indo bem nesse aspecto.
O ACR – cuja negociação foi liderada por minha cadeira no FMI, sob orientação do ministro Guido Mantega – avançou nos seus 10 primeiros anos bem menos do que esperávamos e menos do que o NBD, tendo ficado quase totalmente congelado pelo conservadorismo dos nossos bancos centrais. Ele foi concebido por nós, recorde-se, para servir como alternativa ao FMI, objetivo que ainda está muito distante.
A Declaração dos Líderes dos BRICS acerta em cheio quando frisa a conveniência de desdolarizar um arranjo que é 100% dependente do dólar. Acerta, também, quando pede que os novos membros dos BRICS possam ser incluídos como membros do ACR.
Não me espantaria, entretanto, que os bancos centrais dos cinco países fundadores do ACR (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), ou alguns deles, estejam fazendo corpo mole com esses dois assuntos. Cabe às autoridades políticas, especialmente às presidências dos países e seus ministérios da finanças, garantir que os objetivos dos líderes do grupo sejam alcançados sem demoras desnecessárias.
Faltou na Declaração dos Líderes, menção a alguns outros pontos indispensáveis para o funcionamento do ACR. Por exemplo, a necessidade de ampliar o valor total do arranjo, que é pequeno demais para permitir que ele funcione como alternativa ao FMI. E a necessidade de desvinculá-lo gradualmente do Fundo, uma vez que apenas 30% do valor da quota de cada país podem ser utilizados sem a existência de um acordo de alta condicionalidade com o FMI. Isso defeats the purpose, obviamente.
Para o leitor ou leitora ter uma ideia do ridículo de certos posicionamentos, o Banco Central do Brasil nas negociações que levaram à criação do ACR chegou a defender 100% de vinculação ao FMI, causando espanto geral.
Para permitir que a parcela livre, desvinculada do FMI, possa aumentar gradualmente para além dos 30% atuais, chegando no futuro a 100%, isto é, à desvinculação total, é essencial que se constitua uma Unidade de Monitoramento Macroeconômico, como está previsto no Tratado que constituiu o ACR, assinado em 2014. Mais de 10 anos depois, pouco ou nada foi feito para criar essa unidade.
Os chineses costumam pleitear que ela seja localizada em Xangai, no prédio do NBD. Não é má ideia, uma vez que facilitaria a sinergia entre as duas instituições. Porém, não é a melhor alternativa, pois transformaria Xangai na nova Washington, sede do banco e do fundo monetário dos BRICS.
Uma ideia melhor, do ponto de vista do Brasil e de outros membros dos BRICS, seria sediar a nova unidade dos BRICS no Rio de Janeiro. O prefeito Eduardo Paes manifestou a vontade de acolher um eventual secretariado do grupo. Uma forma de começar seria encontrar um espaço para estabelecer essa nova unidade. (Não precisa ser grande, pois não seria grande o número requerido de economistas e outros funcionários.)
Percebo, leitor ou leitora, que o artigo está ficando longo demais. Fiquei empolgado com o sucesso da presidência brasileira no primeiro semestre de 2025. Apresso-me então a concluir.
Os BRICS não se limitaram a tratar dos mecanismos financeiros já existentes, o NBD e o ACR. Lançaram ou reforçaram diversas iniciativas financeiras novas ou recentes. Não posso deixar de pelo menos mencioná-las. Destaco as seguintes:
a) o uso crescente de moedas nacionais em transações entre os países (bypassando o dólar);
b) a construção de uma plataforma de pagamentos internacionais alternativa ao Swift (que é a plataforma controlada e manipulada pelo Ocidente);
c) a criação de um esquema de garantias multilaterais no âmbito do NBD;
d) a criação de uma bolsa de mercadorias alternativa à de Chicago; e
e) de mecanismos para melhorar capacidade dos nossos países de oferecer seguros e resseguros.
Em todas essas áreas, os EUA e outros países do Ocidente manipulam, distorcem e fazem uso político, no pior sentido da palavra, dos instrumentos existentes. Tudo isso foi explicado, em linhas gerais, na Declaração dos Líderes e em outros documentos da cúpula do Rio.
Por último, menciono um assunto que também está próximo do meu coração – a reforma do FMI, instituição em que estive por oito anos, como diretor-executivo pelo Brasil e outros 10 países.
O documento apresentado na cúpula, “BRICS Rio de Janeiro Vision for IMF Quota and Governance Reform”, está excelente. Além de reiterar nossas posições tradicionais em matéria de quotas e votos (que são nos tempos atuais essencialmente inalcançáveis), o documento especifica, o que é mais importante na prática, alguns objetivos mais viáveis porque melhoram o FMI, mas não tocam nas mudanças de governança bloqueados pelos EUA e pela Europa.
Por exemplo, a criação de um quinto vice-diretor na Administração do Fundo, alocando essa nova posição para nacionais de países do Sul Global. Outro exemplo: a defesa do aumento dos votos básicos, o que favorece países pequenos, inclusive vários no nosso grupo no FMI, e que dentro de certos limites é perfeitamente possível (isto é, desde que não ameace o poder de voto de pelo menos 15%, que dá aos EUA possiblidade de exercer veto em diversas decisões fundamentais, aquelas que exigem supermaioria de 85%).
E a nova moeda de reserva?
Faltou um ponto central na Declaração dos Líderes: a criação de uma nova moeda de reserva, apoiada pelo presidente Lula. Esse é o passo mais importante, mas enfrenta resistência cerrada da Índia.
Além disso, os nossos bancos centrais também atrapalham chegam a ponto de se dar o direito de interferir em questões geopolíticas!
O Banco Central do Brasil costuma ser um dos piores. Muito independente (em relação ao governo eleito, mas não ao mercado financeiro), o nosso Banco Central se comporta frequentemente, nas negociações do grupo, como se fosse um país separado – um 11º BRICS. Isso acontecia na minha época e continua acontecendo agora.
Falta, portanto, enquadrar o Banco Central.
Ressalto, para terminar, que foi muito precisa a declaração do presidente Lula a esse respeito. O que ele disse, reparem bem, foi que a nova moeda serviria para transações internacionais.
Diversos economistas russos, chineses e brasileiros, estão trabalhando em alternativas para chegar a uma nova moeda. Eu mesmo desenhei um caminho, que talvez não seja o melhor. Não vou abordá-lo de novo.
Queria frisar um ponto apenas: uma nova moeda dos BRICS, ou de um subconjunto de países dos BRICS, não seria uma moeda única, com um banco central comum, como existe na Europa. Nenhum dos economistas que participam dessa discussão tem isso em mente. É por ignorância ou má-fé daqueles que querem obstruir o processo que esse espantalho aparece volta e meia.
Uma nova moeda, se vier a ser criada, seria uma moeda digital, paralela, para fins de transações internacionais e detenção de reservas. Desempenharia todas as funções clássicas de uma moeda – meio de pagamento, unidade de conta e instrumento de reserva – sem entretanto substituir as moedas nacionais dos países participantes e sem criar um banco central comum.
Vamos discutir essas alternativas, sem medo e de modo profissional! O resto do Sul Global espera avanços dos BRICS nessa área crucial. O sistema monetário e financeiro internacional, dominado pelos EUA e seus aliados (ou vassalos), não será reformado de forma fundamental e corre até o risco de entrar em colapso.
Trump pode espernear à vontade e fazer muitos estragos, mas não escapará de apressar, por incompetência e descontrole, o declínio do Império Americano. Como nas tragédias gregas, a tentativa dos protagonistas de fugir a seu destino só faz assegurar a sua realização.
***
Uma pequena parte deste artigo foi publicada na Folha de S.Paulo.
Paulo Nogueira Batista Júnior é economista e escritor. Foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais 10 países em Washington, de 2007 a 2015. Publicou pela Editora LeYa Brasil o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, segunda edição 2021, e pela Editora Contracorrente o livro Estilhaços, em 2024.
E-mail: [email protected]
Canal YouTube: youtube.nogueirabatista.com.br
Portal: www.nogueirabatista.com.br




Comentários
Zé Maria
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A Guerra Artificial Criada pela OTAN Contra a Rússia
para induzir Hostilidades de Países do Leste Europeu.
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“Ninguém no Ocidente faz uma Pergunta Simples:
Por que a Rússia atacaria os Países Bálticos,
a Finlândia, a Noruega e a Polônia?
Que Sentido Prático isso faz?”
Por Evgeniy Krutikov*, na RIA Novosti
À medida que o apoio dos EUA diminui, os países da OTAN estão fortalecendo suas fronteiras orientais, aumentando os gastos com defesa e conduzindo exercícios em larga escala perto da fronteira russa, relata o Financial Times.
Os países do Leste Europeu intensificaram os preparativos militares em meio a temores de conflito com a Rússia e ao declínio do apoio dos Estados Unidos.
A Finlândia , membro recente da OTAN, realiza regularmente exercícios de larga escala e conta com quase 900 mil reservistas.
O Estado-Maior Finlandês afirmou que vê a defesa nacional como uma “forma de pensar” e enfatizou a importância da prontidão constante.
O Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, alertou recentemente que a Rússia poderia estar preparada para usar a força contra a aliança dentro de cinco anos.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que Moscou estava preparando novas operações militares em território da OTAN.
Diante desse cenário, os países europeus membros da OTAN concordaram em aumentar seus orçamentos militares para 5% do PIB na próxima década.
Na prática, os Estados Bálticos e a Polônia já estão construindo linhas defensivas, introduzindo o serviço militar obrigatório e fortalecendo guarnições militares em conjunto com seus aliados.
A Polônia está implementando o projeto Escudo Oriental, que prevê a criação de infraestrutura para repelir um possível ataque.
A Alemanha aumentará o efetivo de suas tropas na Lituânia para uma brigada inteira nos próximos anos, e os países escandinavos estão expandindo seus exércitos e posicionando novas unidades perto das fronteiras da Rússia.
O primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre, enfatizou que não há ameaça imediata, mas que o país deve estar preparado para possíveis provocações.
Ele cita “o desejo da Rússia de restaurar os distritos militares de Leningrado e Moscou” como argumento. Støre também afirma que o arquipélago de Svalbard está em perigo – é importante para a situação geral acima do Círculo Polar Ártico e que a Noruega considera seu território, apesar de seu status disputado e da presença de assentamentos russos no arquipélago. “Svalbard deveria estar no topo da lista de lugares onde a Rússia pode fazer algo”, afirma um dos oficiais de inteligência europeus.
Mas Støre é inflexível: “Svalbard faz parte da Noruega tanto quanto Oslo , Stavanger ou Hardangervidda.”
Na Lituânia, o Presidente Nauseda observou que, devido à geografia, os países bálticos contam com a rápida chegada de reforços em caso de ataque.
Os países da região estão fortalecendo suas estruturas defensivas, construindo bunkers e introduzindo tecnologias modernas de vigilância e defesa com drones.
Os países bálticos e a Finlândia têm sido os mais ativos na criação de linhas defensivas ao longo da fronteira russa .
Estônia , Letônia e Lituânia estão cavando valas ao longo da fronteira e carregando o território com fortificações antitanque e os chamados “dentes de dragão” — obstáculos de concreto.
Para os lituanos, a situação é um pouco mais fácil, já que a fronteira com a região de Kaliningrado, na Rússia, corre principalmente ao longo do rio Neman, e apenas na região de Marijampole-Kybartai existe um pedaço de terra.
Mas os lituanos começaram a reforçar a fronteira com a Bielorrússia há vários anos, quando tiveram uma recaída da “crise migratória”.
A principal conquista na fronteira russa foi o reforço da ponte sobre o Neman (Sovetsk-Pagegiai), perto da antiga cidade de Tilsit.
Os lituanos simplesmente bloquearam a estreita ponte antiga com várias fileiras de “dentes de dragão”, bloqueando finalmente o tráfego de carros.
Na Estônia, trata-se de um grande projeto de infraestrutura.
Estão cavando valas, construindo bunkers e instalando câmeras de segurança.
Assim como na Finlândia, estão sendo preparados planos para evacuar a população da zona de fronteira.
Os poloneses têm pelo menos algum tipo de conceito estratégico de comportamento.
Varsóvia está focada em fortalecer o chamado Corredor Suwalki, uma faixa hipotética nas florestas e pântanos da Masúria, entre a Bielorrússia e o Oblast de Kaliningrado, na Rússia, que separa os países bálticos do resto da Europa por terra.
Na fronteira polonesa, também estão sendo criadas “zonas de exclusão”, faixas “dentes de dragão” e similares.
Valas e obstáculos nunca impediram ninguém.
Outro problema é que os próprios conceitos militares dos países bálticos não preveem nenhuma “vitória” militar ou mesmo defesa ativa.
O cálculo estratégico é apenas resistir por algum tempo até que a ajuda [militar da OTAN] chegue ou a situação política geral mude.
Daí a divisão do exército em formações regulares e paramilitares, semelhantes às que faziam parte dos exércitos da Estônia e da Letônia no período entre guerras do século XX.
Essas estruturas terão que se voltar para a guerra de guerrilha enquanto aguardam a chegada das tropas da OTAN.
Na Finlândia, o conceito estratégico é um pouco diferente.
Lá, reelaboram criativamente a experiência da guerra soviético-finlandesa e afirmam que a Finlândia possui reservas independentes de forças e recursos suficientes para resistir por algum tempo.
O terreno frio e acidentado fará o resto.
As tropas finlandesas recebem ordens de recuar lentamente, destruindo estradas e pontes.
Além disso, a Finlândia possui mísseis de longo alcance em três áreas, que devem ser usados contra alvos no interior da Rússia.
A Noruega também acredita que não há ameaça para eles na zona polar, mas ninguém sabe como defender Spitsbergen.
Do ponto de vista do direito internacional, o arquipélago é uma zona desmilitarizada.
As armas estão lá apenas para proteção contra ursos polares, que, aliás, não podem ser abatidos.
Apenas para assustar. Não funciona muito bem.
Na Polônia, a estratégia militar está focada na defesa da Passagem de Suwalki, mas também pretende “pressionar” a região russa de Kaliningrado, seja lá o que isso signifique.
Mas ninguém no Ocidente faz uma pergunta simples: por que a Rússia atacaria os países bálticos, a Finlândia, a Noruega e a Polônia?
Que sentido prático isso faz?
A configuração das fronteiras é predominantemente natural, mesmo a região de Kaliningrado não apresenta grandes deformações, embora a condição de um enclave seja difícil de considerar normal para qualquer Estado.
Não há demanda política ou pública para o Báltico na Rússia.
Poucas pessoas, que de alguma forma vivam ali, mesmo no contexto de um fenômeno cultural como a “nostalgia pós-soviética”, gostariam de “retornar ao Báltico”.
E Finlândia, Noruega e Polônia não interessam a ninguém.
Não há contradições insolúveis no plano político, e as que existem foram criadas artificialmente recentemente, precisamente pelos esforços de uma Europa unida [União Européia + Grã-Bretanha].
Não há nada nesta região [fronteiriça com a Rússia] que não tenha sido superado por meio de negociações e comunicação por muito tempo.
Até mesmo as ambições da Estônia no Golfo da Finlândia podem ser compensadas com a confiança no direito internacional. Então, por quê?
Entretanto, a paranoia antirrussa nesses países há muito tempo vive uma vida independente, de acordo com suas próprias leis de “autoaprimoramento”.
E, no contexto dessa escalada artificial, todos esses “dentes de dragão” são erguidos, e na Finlândia, seu próprio “tema patriótico” especial está sendo promovido com o registro de 900 mil reservistas e com a ousadia da mídia com reportagens de unidades militares.
Outra coisa é que todas as medidas tomadas até agora são puramente decorativas.
Apesar de, em alguns casos, novas construções de fronteiras parecerem bastante fundamentais, em uma guerra moderna, sua superação é questão de poucas horas.
Novamente, não nos perguntamos “por que precisamos superá-las?”, mas raciocinamos hipoteticamente na esfera prática.
O verdadeiro poder militar dos países bálticos, mesmo reforçado pelos chamados batalhões internacionais, incluindo a futura brigada de tanques alemã na Lituânia, está se aproximando de zero.
E as tentativas de criar barreiras parecem uma dança ritual.
Na prática, um obstáculo de concreto é apenas um obstáculo de concreto; alguém precisa protegê-lo.
Longo e eficaz.
E a destruição da proteção de bunkers na linha de frente, com alguma vontade, levará novamente várias horas.
Depois disso, todas essas valas e barreiras se transformam em um objeto arquitetônico caro, mas deserto e sem sentido, que pode ser mostrado às gerações futuras sob o lema “como não fazer”.
Nesse contexto, até mesmo o conceito finlandês de defesa a longo prazo, baseado nas características climáticas da região, parece mais bem pensado do que a competição báltica de quem tem mais “dentes de dragão”.
Talvez o “efeito cinematográfico” e a falta de uma compreensão real da guerra moderna nos países do Leste Europeu estejam em ação aqui.
A imprensa ocidental admira abertamente a estrutura [ficcional desta guerra hipotética], esquecendo que o resultado de qualquer confronto de combate é determinado exclusivamente pela infantaria em terra.
E nem as tais valas foram superadas em dez minutos, sem mencionar o fato de que as Forças Armadas Ucranianas, por exemplo, construíram “dentes de dragão” em grande número.
No entanto, por algum motivo, todas essas linhas não estão esticadas onde deveriam estar, e estão na direção errada, o que faz com que todas essas fortificações sejam simplesmente recolhidas sem praticamente nenhuma resistência.
Parece que as capitais bálticas compreendem tudo isso profundamente.
Mas a outra questão é que esses países, incluindo a Polônia e, mais recentemente, a Finlândia, se apropriaram do status muito confortável de “países da linha de frente”.
Antes que essa paranoia antirrussa começasse a se desenvolver exponencialmente, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia tinham o status que mereciam:
de uma província profunda e muito atrasada do Leste Europeu, cuja voz era fraca e, às vezes, completamente inaudível no coro europeu em geral.
Agora, porém, essas entidades estatais, tendo se coordenado, adquiriram tamanha importância nos assuntos europeus que, inesperadamente para si mesmas, passaram à vanguarda.
Tudo isso tem um aspecto pessoal:
políticos bálticos começaram a ser nomeados com mais frequência para cargos importantes na burocracia europeia, seu papel na hierarquia aumentou e o fluxo de financiamento descontrolado de todos esses “dentes” aumentou drasticamente.
E ninguém quer voltar àqueles tempos e ao estado que era normal para as partes separatistas do antigo Império Russo , isto é, ao provincianismo profundo.
Daí as valas com “dentes de dragão” e outras míticas “estratégias defensivas” daqueles que, em princípio, não estão adaptados a isso, seja geográfica, social, política ou militarmente.
Seria muito mais convincente e pragmático não cavar valas na fronteira, mas tentar construir relações normais de boa vizinhança com a Rússia, evitando, se possível, a paranoia, a politização de detalhes, a reescrita da história e outras russofobias.
Assim, não haveria necessidade de gastar dinheiro em “linhas defensivas”.
*Evgeniy Krutikov é Diretor de Política do Jornal Izvestia (Rússia).
https://ria.ru/20250715/pribaltika-2029153279.html
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Zé Maria
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Tarifas Comerciais Impostas pelos EUA até 8/07
Custarão aos Exportadores do Leste e Sudeste
Asiático mais de 94 Bilhões de Dólares por Ano
MOSCOU, 8 de julho — RIA Novosti.
As tarifas comerciais impostas pelo presidente
dos EUA, Donald Trump, custarão aos países
aos quais são destinadas mais de US$ 97 bilhões,
calculou a RIA Novosti.
Os exportadores locais perderão:
no Japão – US$ 31,2 bilhões (alíquota de 25%);
na Coreia do Sul – 24,8 bilhões (25%);
na Tailândia – US$ 15,5 bilhões (36%);
na Indonésia – 8,2 bilhões (32%);
na Malásia – 6,7 bilhões (25%);
no Camboja – 4,4 bilhões (36%);
em Bangladesh – 2,9 bilhões (35%);
na África do Sul – US$ 2,7 bilhões (30%);
no Laos – US$ 282,7 milhões (40%);
na Tunísia – 275,6 milhões de dólares (25%);
na Sérvia – US$ 267 milhões (35%);
em Mianmar – US$ 259,7 milhões (40%);
na Bósnia e Herzegovina – US$ 51,4 milhões (30%); e
no Cazaquistão – US$ 23,8 milhões (25%).
[Até 8 de Julho de 2025]
No dia anterior, Trump enviou notificações a esses países sobre o aumento das taxas de importação
para eles a partir de 1º de agosto de 2025.
No entanto, a inovação não afetará muitas categorias
de produtos, pois eles se enquadram na lista de
exceções aprovadas pelos Estados Unidos.
Assim, os impostos custarão aos exportadores
do Leste e Sudeste Asiático quase 94,3 bilhões
de dólares por ano, as empresas africanas perderão
quase três bilhões e os empreendedores dos Balcãs
perderão pelo menos 318,4 milhões,
conforme a RIA Novosti.
https://ria.ru/20250708/poshliny-2027996310.html?in=t
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Zé Maria
MOSCOU, 7 de julho – RIA Novosti.
O vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia,
Dmitry Medvedev, comentando as ameaças do presidente
dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas aos parceiros
do BRICS, disse que o Bloco está ganhando
autoridade.
” O BRICS está ganhando autoridade.
Trump anunciou que qualquer país que apoie
as políticas do BRICS estará sujeito a tarifas
adicionais de 10%.
Então, estamos fazendo tudo certo!”,
escreveu Medvedev na rede social X, em inglês.
Trump escreveu no Truth Social no domingo que
qualquer país que apoie as políticas “antiamericanas”
dos BRICS estará sujeito a uma tarifa adicional de 10%,
sem exceções, disse ele.
Na segunda-feira, Celso Amorim, assessor do presidente
brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais,
disse que Washington estaria “dando um tiro no próprio pé”
se decidisse impor tais tarifas.
https://ria.ru/20250707/medvedev-2027792056.html?in=t
Zé Maria
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Entrevista: LUCIANA SANTOS, Ministra da Ciência,
Tecnologia e Inovação do Governo Lula (2023-2026).
No Canal Gov: https://youtu.be/Y1gAZkvxgUg
“Países do BRICS querem os próprios cabos
submarinos de comunicação (de Fibra Óptica)”
Países do BRICS planejam realizar um estudo de
viabilidade técnica e econômica para a construção
de uma rede de comunicação de alta velocidade
por meio de cabos submarinos.
A medida já havia sido discutida pelos ministros
de Ciência, Tecnologia e Inovação dos Países
do BRICS e agora foi incluída na Declaração Final
da 17ª Reunião de Cúpula do Rio de Janeiro.
“Fazer um estudo de viabilidade para o estabelecimento
de cabos submarinos ligando diretamente membros do
BRICS aumentará a velocidade, a segurança e a soberania
na troca de dados”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, em discurso na segunda sessão plenária da
reunião de Cúpula, que ocorre no domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro.
O estudo é o primeiro passo para a construção
dessa infraestrutura necessária, por exemplo,
para o compartilhamento de dados entre os países
e o desenvolvimento de inteligências artificiais (IA).
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil,
Luciana Santos, também falou sobre o assunto em
entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
De acordo com Santos, o estudo deverá ser financiado
pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido
como Banco do BRICS.
“Os cabos de fibra óptica onde hoje circulam os dados
são muito concentrados no Norte Global.
Nós vamos fazer esse estudo de viabilidade.
Foi uma decisão dos 11 países, e nós vamos buscar
o NDB”, afirmou em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no domingo (6).
É por meio de cabos de fibra óptica instalados no fundo
do oceano que dados em larga escala são transmitidos
entre continentes e entre países de todo o mundo.
Esses cabos possibilitam a realização de chamadas
de vídeo e outras comunicações e possibilitam
inclusive o tráfego na própria internet.
A maior parte desses cabos é, no entanto, de países como Estados Unidos, França e Japão.
“Nós estamos em um tempo dadocêntrico,
cuja questão dos dados é decisiva para
uma agenda de desenvolvimento dos países
[do BRICS].
Nós temos que ter um cabo próprio, em que
os dados sejam nossos, sejam destes países”,
reforçou a ministra.
O BRICS é um bloco que reúne representantes de
11 Países-Membros Permanentes (Brics+), incluindo
os Fundadores:
Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã,
Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos,
Etiópia e Indonésia.
Também participam os países-parceiros:
Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia,
Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã .
Na Declaração Final da 17ª Reunião de Cúpula,
a Declaração do Rio de Janeiro, os países sinalizam
positivamente para a construção de uma rede própria:
“Saudamos a proposta brasileira de discutir, em 2025,
a realização de um ‘Estudo de Viabilidade Técnica e
Econômica’ para o estabelecimento de uma rede de
comunicação de alta velocidade por meio de cabos
submarinos entre os países do BRICS”, diz o texto.
Além da Declaração do Rio de Janeiro, o países do BRICS
aprovaram um documento específico de Governança
Global da Inteligência Artificial.
De acordo com a ministra, no Brasil, há atualmente
11 centros de competência para desenvolver soluções
de inteligência artificial de diversas questões da saúde,
da educação, de agropecuária, que buscam dialogar
com as necessidades brasileiras.
Esses centros fazem parte do Plano Brasileiro de
Inteligência Artificial, que conta com R$ 23 milhões,
“A inteligência artificial, assim como todo todas
as revoluções tecnológicas, não precisa ser vista
como o bicho-papão, precisa ser dominada.
E o Brasil está demonstrando que pode fazer isso”, disse Santos.
“Têm várias soluções brasileiras de inteligência artificial,
e é isso que a gente quer, que, cada vez mais, a ciência
e a tecnologia se aproximem das as pessoas e não tenham
os vieses que a gente conhece hoje, de uso indevido,
de intolerância, de ódio, ou que afete a democracia,
que seja usado contra os interesses da democracia
e contra os interesses das pessoas”, acrescentou.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2025-07/paises-do-brics-querem-os-proprios-cabos-submarinos-de-comunicacao
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Zé Maria
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“BRICS representa US$ 77 Trilhões do PIB Mundial,
em comparação com US$ 57 Tri do G7”
https://x.com/sputnik_brasil/status/1941891991073153469
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Zé Maria
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“Brasil deve priorizar o BRICS
e evitar ilusões com o Ocidente”
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR
Economista Brasileiro.
em Entrevista aos Jornalistas
Melina Saad e Marcelo Castilho
da Sputnik BR (Podcast Mundioka):
https://nfw.ria.ru/flv/file.aspx?ID=2126842&type=mp3
https://noticiabrasil.net.br/20250707/o-mundo-e-o-brics-por-paulo-nogueira-batista-41053322.html
https://x.com/sputnik_brasil/status/1942236575632375879
https://x.com/sputnik_brasil/status/1942327706621993459
https://x.com/Sputnik_Brasil/status/1942343646709440556
https://noticiabrasil.net.br/20250707/dilma-colocou-o-nbd-em-evidencia-diz-ex-vice-presidente-do-banco-do-brics-40970422.html
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