Privatização do porto de Santos, que financiou carreira de Temer, volta para assombrá-lo: toda a turma na prisão

Tempo de leitura: 3 min
Foto Marcos Corrêa/PR

Foto Marcos Corrêa/PR

Da Redação

Nunca houve ideologia na privatização do porto de Santos: foi mesmo um negócio. Um grande negócio.

Para contá-lo é preciso voltar ao início da carreira de Michel Temer.

Era 1983 quando ele foi indicado procurador-geral de São Paulo pelo então governador Franco Montoro. Foi o começo de sua carreira pública, da qual herdou a aposentadoria bruta que hoje está em $ 45.055, 00

Em seguida, Temer foi secretário de Segurança Pública, quando selou sua amizade com o hoje coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, o “Limão”, que foi ajudante de ordens de Temer quando ainda era major.

Temer voltou a ocupar os dois cargos no governo seguinte, o de Luis Antonio Fleury Filho, mas não conseguiu a indicação do partido para concorrer a governador — o que era sua pretensão, embora tivesse fracassado espetacularmente nas urnas.

Temer só foi eleito deputado federal na terceira tentativa, em 1994 (nas duas primeiras, ficou como suplente).

Foi no segundo turno das eleições daquele ano que Temer deu o pulo do gato: apoiou o tucano Mário Covas a governador.

Em 1995, promoveu um aliado à direção da Codesp, a poderosa Companhia Docas do Estado de São Paulo.

O escolhido foi Marcelo de Azeredo, que Temer já havia indicado para outros cargos: diretor da Eletropaulo (1987/1988), diretor da Sabesp (1988/1991), coordenador de administração da Secretaria de Saúde (1991/1993) e diretor da Caixa estadual (1993/1994).

Os esquemas na Codesp foram primeiro denunciados por uma ex-namorada de Marcelo, Érika Santos, num processo de “reconhecimento e dissolução de união estável”.

Érika teve acesso a documentos que estavam no computador de Marcelo.

No processo, além de narrar os luxos de sua relação com Marcelo, Érika denunciou que o ex-companheiro colocava os bens em nome de familiares, dando como exemplos um Porsche Carrera e uma Mercedes.

Eram, segundo Érika, resultado das propinas que Marcelo arrecadava na Codesp, que segundo o processo “foi e está sendo paulatinamente privatizada”.

De acordo com a ação, Marcelo “efetuou uma série de licitações para terceirização de alguns serviços, ou concessão de outros, ou concessão de uso de terminais para embarque/desembarque”.

“Essas caixinhas ou propinas eram negociadas com os vencedores das licitações ou com os concessionários, e repartida entre o requerido [Marcelo], seu padrinho político o Deputado Federal Michel Temer, hoje presidente da Câmara dos Deputados e um tal de Lima”.

Lima é o “Limão”.

Os dois principais negócios citados por Érika foram a concessão dos terminais 34/35 para a empresa Libra e vantagens à empresa Rodrimar, que doou ao menos R$ 200 mil (valores da época) a uma campanha de Temer.

Como o Viomundo denunciou, em junho de 2016, pelas denúncias de Érika Temer teria recebido R$ 2,7 milhões em propinas no porto durante a gestão de Marcelo (valores não atualizados).

Só depois disso a carreira política de Temer, a nível federal, realmente deslanchou.

Ele foi eleito presidente da Câmara em 1997, em troca do apoio do PMDB à reeleição de Fernando Henrique Cardoso. A essa altura, era presidente nacional do PMDB.

Em 1999, já no segundo mandato do tucano Mário Covas no Palácio dos Bandeirantes, Temer emplacou o ex-deputado estadual Wagner Rossi como presidente da Codesp.

As acusações feitas hoje ao grupo político de Temer, portanto, remetem a este período longínquo, em que a privatização serviu ao financiamento das campanhas de Temer e aliados.

Todos aqueles presos na Operação Skala, na manhã desta quinta-feira, 29, são do grupo: o coronel Lima, suspeito de ser laranja de Temer; o ex-deputado estadual José Yunes, outro suspeito de esconder patrimônio de seu amigo de longa data; o ex-presidente da Codesp, Wagner Rossi; o homem que foi chefe-de-gabinete dele na Codesp, Milton Elias Ortolan; o presidente da Rodrimar, Celso Grecco e uma das donas do Grupo Libra, Celina Torrealba.

Como escrevemos sobre Temer, em junho de 2016, todos os caminhos levam ao porto de Santos… e ao Rio Grande do Sul.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Anesio

Gilmar tá certo. A Fel-lha é o pensamento do Golpe. Gilmar não serve mais por que vai votar favoravelmente a Lula?

Antonio

E GILMAR NEM FALOU EM VASELINA

Gilmar manda editor da Fel-lha enfiar pergunta na bunda
Quem pagou passagem para Lisboa?

publicado 29/03/2018 no Conversa Afiada

Da Fel-lha:

Gilmar Mendes afirma que pergunta de repórter da Folha é molecagem

O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), chamou de molecagem pergunta da Folha sobre os custos com passagem aérea de viagem sua a Lisboa.

O jornal questionou o ministro se voltaria para o julgamento do habeas corpus de Lula em 4 de abril e se o voo para Portugal tinha sido pago pelo STF.

A presença dele tornou-se incerta em razão de um seminário que será organizado em Lisboa pelo instituto do qual ele é sócio, o IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público).

“Devolva essa pergunta a seu editor, manda ele enfiar isso na bunda. Isso é molecagem, esse tipo de pergunta é desrespeito, é desrespeito”, disse o ministro por telefone, de Lisboa, ao repórter.

O ministro negou que o STF tenha pago pelos bilhetes e não informou quem os custeou.

“Vocês vivem de patrocínio, se vocês quiserem, montem a Folha, façam um dia a Folha rodar sem patrocínio, eu estive lá esses dias, patrocínio Souza Cruz escondido. Quem pagou meu hotel, quem pagou minha passagem foi a Souza Cruz”, disse.

Ele se referiu ao 2º Encontro Folha de Jornalismo realizado em fevereiro, em São Paulo, em que foi um dos convidados. O evento teve patrocínio da Souza Cruz, como constava do material de divulgação e de amplo painel atrás dos convidados.

Deixe seu comentário

Leia também