Por Marco Aurélio Mello

por Marco Aurélio Mello
Qual foi a última vez que você se viu abraçado a alguém dividindo silêncios, sem pressa, deixando o tempo passar?
Momentos assim são cada vez mais raros e enchem a gente de culpa.
Afinal, é um desperdício, não é mesmo?
Onde já se viu cultuar o ócio e a preguiça?
Estamos tão condicionados a cumprir tarefas, objetivos e metas que nos esquecemos de apenas deixar estar.
Deixar estar está na dimensão do ser, não na do ter.
E nossa ansiedade moderna é pelo que virá, não pelo que é.
Meu filho sempre pergunta: pai, o que vamos fazer depois?
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Às vezes me impaciento.
Dia desses, num camping, respondi: veja só filho, que curioso, nós nem começamos a fazer o passeio e você já quer saber o que virá depois.
As crianças sofrem demais o impacto desta necessidade adulta de antecipar o que está para além dos olhos.
O triste disso é que o agora perdeu o significado para nós.
Culpa nossa, da escola, da sociedade?
Sim, culpa de todos.
Estamos sem tempo de dividir o tempo, jogá-lo fora, deixá-lo passar, sem pressa, sem cobrança e sem custo.
Hoje, as pessoas podem estar fazendo uma refeição juntas ou mesmo vendo TV, mas elas quase sempre não estão lá de fato, porque não trocam mais entre si.
Estão submersas nos seus interesses particulares, quase sempre presas a seus smartphones.
O passado e a experiência do outro já não importam mais.
O presente é virtual, instantâneo, efêmero.
E o futuro?
Bem, o futuro é a certeza da morte e a permanente incerteza de que aquilo que desejamos não possuímos e, por não possuirmos, não dividimos entre nós.
Enquanto não limitarmos nossa ambição e não nos convencermos de que menos é mais, não haverá presente (tempo) para nenhum de nós.
Porque a felicidade requer um tempo que não está fora, está dentro de nós.
Parece tudo tão óbvio e tão não inalcançável, não é?
Marco Aurélio Mello
Jornalista, radialista e escritor.




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