por Antônio David, especial para o Viomundo
Gostemos ou não do ex-presidente Lula, gostemos ou não de seu governo, gostemos ou não do PT, só há uma tomada posição honesta e correta em face da ação midiática promovida contra Lula: defendê-lo.
Defender Lula não é defender suas ideias políticas nem seu governo. Defender Lula nesse momento e nesse caso é defendê-lo de denúncias sem provas.
Qualquer um, seja de que partido for, merece ser defendido quando for alvo de perseguição política, sobretudo quando a perseguição vem disfarçada de crimes tipificados no código penal.
O que está acontecendo é que órgãos do poder judiciário estão sendo mobilizados para, de maneira arbitrária, casuística, seletiva, à margem da lei e contra a lei, criminalizar e incriminar com fins político-eleitorais.
Em última instância, para aniquilar adversários políticos.Dito isso, é no mínimo curiosa a tomada de posição de Luciana Genro, principal figura pública do PSOL, em face da condução coercitiva de Lula ocorrida no último dia 4 de março.
Enquanto até mesmo Sérgio Moro foi obrigado a declarar que a “condução coercitiva não significa culpa de Lula”, haja vista as críticas que recebeu de inúmeros juristas, Luciana parece estar convencida da culpa do ex-presidente.
Em sua conta no facebook, a candidata à presidência da República em 2014 afirmou: “as revelações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal são graves e contundentes”.
O detalhe é que, dentre as “revelações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal” contra Lula, não há nenhuma prova que o incrimine.É sintomático, aliás, que em sua declaração Luciana não tenha feito uma só menção a nenhum crime que Lula tenha supostamente cometido.
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O fato de a principal liderança do Partido dos Trabalhadores ter recebido recursos financeiros de empreiteiras é um erro político e, como tal, deve ser alvo de uma crítica política. É possível criticar politicamente Lula e defendê-lo das acusações que vem sofrendo.
Essa é, aliás, a linha que muitos vêm seguindo, inclusive no PSOL.Lamentavelmente, a principal figura pública do PSOL ignora a diferença entre um erro político e um crime tipificado no código penal.
Ignora também a diferença entre dirigir uma crítica política a Lula e aplaudir promotores públicos usando seu cargo para incriminá-lo sem provas.
Em sua declaração, Luciana faz criticas políticas a Lula, mas o faz para corroborar uma ação que visa incriminá-lo.Não ficou nisso.
Para coroar, Luciana afirma que “a delação de Delcídio, não confirmada mas também não desmentida por [Lula], se for de fato real, e ainda somada às investigações da PF e MPF, indicam o que suspeitávamos”.
Essa frase soa como uma confissão.
Luciana e outros – não sabemos exatamente quem – “suspeitavam” de algo. E esse algo de que “suspeitavam” foi confirmado pela delação de Delcídio – que a própria Luciana reconhece não saber se foi real! – e pelas investigações da PF e do MPF.
Antes de mais nada, surpreende o fato de haver tamanha convergência entre, de um lado, as suspeitas de Luciana e seus correligionários e, de outro, as ditas investigações e delação.Será que a conduta da PF e do MPF no caso em questão é de fato republicana, ou seja, neutra, impessoal e imparcial, ou será que delegados e promotores estão agindo partidariamente, acusando sem provas com fins político-eleitorais?
E será que a delação de Delcídio, se de fato existiu, é verdadeira, ou será que ele falou o que supostamente falou para tirar o foco de si – dando para a mídia e para a direita o que ela quer – e com isso salvar a própria pele?
Surpreende que Luciana não tenha feito essas perguntas.Por que não fez? Não fez porque não convinha fazer. E não convinha fazer porque a já mencionada delação e as ilações de membros do MPF vieram à calhar para Luciana e o grupo do qual ela é porta-voz.
Em uma palavra, não importa que Lula esteja sendo acusado sem provas por uma ação à margem da lei. O que importa, para Luciana, é que o show midiático contra Lula pôde ser aproveitado politicamente por ela e por seus correligionários.
O raciocínio de Luciana é simples: pouco importa se Lula está sendo acusado sem provas; sendo ele seu principal adversário político, vale é surfar nessa onda.Como todos sabemos, a ex-deputada pelo PSOL não é a única que raciocina e age de maneira oportunista.
Tanto mais oportunista quando o que está em jogo é a incriminação sem provas de uma pessoa.
Luciana poderia tranquilamente ter criticado politicamente Lula e, ao mesmo tempo, tê-lo defendido da perseguição que vem sofrendo. A vida é feita de escolhas.
Acusar sem provas, colocar a polícia no encalço, ameaçar de prisão, em suma, perseguir, incriminar e submeter o adversário a linchamento público a fim de aniquilá-lo, não é exatamente esse o método do stalinismo?
Para a trotisquista Luciana, certos stalinismos são convenientes. É como diz o ditado popular: stalinismo nos olhos dos outros é refresco.
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