Como Fernando Rodrigues combate a diversidade jornalística e ao mesmo tempo puxa o saco do patrão
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Do gerente comercial do DCM ao Fernando Rodrigues: uma carta aberta
Postado em 03 jul 2015
por Emir Ruivo
do Diário do Centro do Mundo, a partir da divulgação pelo Fernando Rodrigues dos dados da publicidade oficial (ao lado)
Sou gerente comercial do DCM e escrevo a você acerca da matéria em que nós somos citados. Gostaria de esclarecer algumas questões, bem como questionar outras.
Primeiro, gostaria de dizer que os números de audiência da Nielsen/Ibope estão errados. Simples: a contagem é feita com painelistas (pessoas que têm um painel da Nielsen), uma forma semelhante com que a Comscore e o Ibope (TV) trabalham. Isso é tratado erradamente há décadas pelo mercado como medição. Isso é projeção. Projeta-se um número, que é uma base de cálculo mais ou menos honesta.
A diferença do Ibope da TV e da internet é que na internet, os painelistas não são necessariamente divididos por faixa etária, renda, instrução, localização como mandam as boas práticas da pesquisa.
É só querer ser painelista. Tente lá. É fácil. Também várias dessas ferramentas também não contam internet móvel, e isso significa metade da nossa audiência hoje.
Medição é o que nós fazemos aqui, em que cada visitante é contado. Os números de WordPress Stats e Google Analytics são quase idênticos, o que nos deixa bastante tranquilos em relação à veracidade desta medição. Este mês, deu 3,5 milhões de visitantes únicos. Veja bem: sem sites acoplados, sem “belas da torcida”, sem conteúdo erótico.
O DCM é um site de esquerda, e ninguém esconde isso. É um site que apoiou Dilma Rousseff no segundo turno, é verdade, mas tanto quanto apoio Luciana Genro no primeiro. É um site ligado a uma visão, não a um partido. Isso, com todas as críticas que possa pertinentemente vir a receber.
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Me chateia é você escrever sobre nós sem sequer nos procurar. Meu telefone, ao contrário do seu, está no mídia kit, que pode facilmente ser baixado no site. Eu poderia ter dado tanta informação (se é que era isso que interessava).
Por exemplo, está errado dizer que nós simplesmente recebemos menos publicidade oficial e essa é a razão de estarmos abaixo da média. Não é verdade. Nós também praticamos um CPM muito competitivo. Se o UOL abrir seus números, eu abro os meus, mas já aposto um carregamento de sorvete que o nosso CPM final é mais baixo que o do UOL.
Quanto aos critérios técnicos, algumas empresas estatais seguem, eu poderia dizer que tenho certeza. Outras não, também digo com muita segurança. Todas dizem que seguem, e nada me deixa mais triste do que quando olham nos meus olhos e dizem que o DCM não entrou numa campanha por critérios técnicos quando eu sei e todos ali sabem que é mentira.
Mas garanto duas coisas. A primeira e mais importante é que, se fossem seguidos exclusivamente critérios técnicos, o DCM teria recebido muito mais publicidade. Se alguma manobra houve com o DCM, foi negativa – e não duvido que o UOL tenha ficado com alguma parte do quinhão que seria do DCM.
A outra é que os critérios técnicos do Governo Federal, com todos os seus problemas, são melhores, muito melhores que a de qualquer outro governo. Já tentou vender mídia a critério técnico para o governo do Estado de São Paulo? Nossa audiência em São Paulo é grande para caramba. Sabe quanto eu consegui vender pra SP? Zero.
Eu sei que seu texto mantém um tom sóbrio e neutro, mas você conhece as implicações que ele pode ter.
Eu poderia fazer coro a você em um monte de coisas. Os 6 bilhões da TV Globo, isso é uma grande coisa; os 3 milhões de um site pequeno de mais para valer isso é muito menor, mas também estranho, e eu estou com você nesta. Ao mesmo tempo, poderia criticar seu trabalho no caso HSBC, sonegando uma informação importantíssima sobre os Frias. Sabe-se lá quantas outras que não passaram pelo bizarro duopólio Folha-Globo neste caso.
Por falar em bizarro duopólio, é isso que faz ser necessário investir em sites alternativos. Para ter contraponto.
A necessidade de comprar publicidade em sites alternativos se intensifica quando você nota que, por se tratarem de sites de esquerda, e portanto serem, de modo geral, anti-status-quo vigente, isso assusta o empresariado, que limita muito os investimentos nesses sites (ao contrário do que fazem nos meios que defendem os interesses desse empresariado, UOL incluso).
Os sites de direita são protegidos pela iniciativa privada. “Não gostei do que vocês escreveram sobre a Veja”. Eu já ouvi isso tentando vender publicidade a um banco. Depois abro a Veja e vejo uma página dupla desse banco.
Se você está preocupado com custo por pessoa atingida, aliás, sugiro fazer as contas com a Veja. O nosso CPM relativo e absoluto, em comparação à Veja, é mais baixo. O tal banco prefere anunciar na Veja, que defende seus interesses, a anunciar no DCM, que defende os interesses de seus funcionários.
É direito deles, claro. Eles que anunciem onde quiserem. Não o governo. O governo tem a obrigação moral de fomentar a divergência. Faz isso pouco e faz isso mal, é bom que se diga. Mas não é anunciando no UOL que vai ter sucesso com isso, e a sua iniciativa de intimidar esse investimento é uma lástima para a sociedade.
Cordialmente,
Emir Ruivo
PS do Viomundo: Fernando Rodrigues é aquele que sonegou aos leitores, enquanto pode, a informação — de que dispunha de forma exclusiva — de que o patrão dele tinha conta no HSBC da Suiça. Agora, a título de exercer o papel de bedel do dinheiro público, puxa o saco do mesmo patrão, que não quer saber de dividir o bolo publicitário. Queremos vê-lo defendendo o fim de toda a publicidade oficial, em todas as esferas do governo, inclusive das assinaturas que o governo tucano de São Paulo compra da Folha. Coragem, Fernando!
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