Paulo Copacabana: 2015, o ano que realmente não deveria ter começado

Tempo de leitura: 3 min

eclipse

por Paulo Copacabana, especial para o Viomundo

Já me cobram por que tanto silêncio após as eleições. Às vezes, o silêncio pode ser muito eloquente, ainda mais diante deste tsunami conservador que cobre o país, em especial na pauliceia desvairadamente reacionária.

O silêncio foi minha única autodefesa a um quadro que já conhecemos o desfecho: ganhar pela esquerda e governar pela direita sempre cobra um alto preço. A fatura virá mais cedo ou mais tarde para os partidos de esquerda.

Na economia, capitulamos definitivamente ao ajuste fiscal neoliberal, que alguns supunham enterrado com o tucanato. Os cortes nas renúncias fiscais exageradamente concedidas aos empresários em 2014 vieram acompanhados de cortes gerais no orçamento, especialmente nos investimentos, políticas sociais e políticas para os trabalhadores.

Ao lado disso, os juros, que já eram altos, ficaram estratosféricos. Os resultados estão aí: recessão, inflação e desemprego. A crise, que até 2014 vinha sendo fabricada pela mídia, torna-se real. O rentismo, esporte predileto da elite nacional, agradece com passeatas cívicas pelo golpe, militar ou não.

Uma reforma tributária para valer, que torne o sistema mais justo, não sai da gaveta. O combate à sonegação, outro esporte nacional, permanece manietado pela legislação e pelo judiciário.

Na política, o cenário não é mais animador. Aliados conservadores pululam no governo e tornam-se os principais articuladores. O sistema político comandado pelo dinheiro finalmente colocou de forma inequívoca o seu “ovo da serpente”: bancadas da bala e religiosas se multiplicam em todos os legislativos do país.

Com esta representação, formada majoritariamente por homens, brancos e ricos, multiplicam-se os projetos que retiram direitos sociais e trabalhistas (terceirização, redução da maioridade penal, etc.), enquanto outros fortalecem privilégios (“bengala”, distritão).

Para completar, como diria Chico Buarque, “eu vi um Brasil na TV” que não representa os avanços desta última década. Convocados pela Vênus Platinada, pessoas de bem e bem vestidas de seleção canarinho (aquela dos 7×1) pedem o golpe e outras barbaridades em “passeatas fashion” e panelaços gourmet.

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Finalmente, a cartolagem do futebol, a grande mídia e as arquibancadas da classe média alienada se encontraram nas esquinas do Brasil. Como diria Parreira antes do desastre da Copa, “a CBF é o Brasil que dá certo”. Para alguns poucos, completaria. Milhões ainda seguem acreditando nele e em grande parte do que diz a Vênus.

A aliança jurídico-midiática também segue firme e forte. Depois da novela do “mensalão”, agora temos o “petrolão”. O objetivo é claro: atingir o principal partido governista, a Petrobras e as principais construtoras do país de uma vez só. Difícil saber o que está atingindo mais fortemente a economia do país, a política econômica do segundo governo Dilma ou as etapas infindáveis da operação Lava Jato.

Enquanto isso, outros escândalos envolvendo corrupção de autoridades, superfaturamento de contratos, evasão de divisas e sonegação de impostos – de equivalente ou maior proporção – seguem quase ignorados pela grande imprensa.

Na lista: o trensalão paulista; o esquema entre empresas e conselheiros do CARF/ Receita Federal, revelado pela operação Zelotes; e as contas milionárias não declaradas no exterior — Swissleaks /HSBC. Nesses casos, não vale o instituto da “delação premiada”, vedete da operação Lava Jato.

Sem dúvida, essa conjuntura política e econômica coloca os avanços sociais dos últimos 12 anos em risco. Mas principalmente aumenta as dificuldades para reformarmos instituições que se tornaram grandes barreiras ao aprofundamento da democracia e da justiça social no país: o sistema tributário regressivo, o sistema político elitista, o sistema de comunicações oligopolista, as estruturas fundiárias e urbanas concentradoras de riqueza.

Para essa agenda, que realmente interessa ao povo brasileiro, 2015 não deveria ter começado.

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