por Gerson Carneiro, especial para o Viomundo
No dia 2 de dezembro de 2014 publiquei o seguinte desabafo em minha página no facebook:
“Nos últimos dias tenho observado que não há uma vez sequer que saio de casa e não constato ao menos uma situação de gente querendo levar vantagem em alguma coisa. No trânsito, em filas, no estacionamento… Não há uma única vez que saio de casa e não me deparo com um flagrante desse tipo.
Uma das minhas observações ocorreu no domingo passado em uma padaria. Vi uma mulher se posicionar em uma fila, e colocar duas filhas, cada uma em fila diversa. Por que não escolhe uma só fila e assume a consequência? Não. Não pode perder a chance de praticar a “esperteza”.
Cobra-se honestidade de políticos mas no dia a dia pratica-se o comportamento de levar vantagem e de não se preocupar com a coletividade. Como pode querer exigir retidão de políticos se em pequenas coisas pratica-se a metodologia que é criticada?
Não vou dizer que não comento meus pecados. Que jamais os cometi. Tenho me policiado. E não é tarefa fácil ser correto envolto a “espertos”. Gente que trapaceia na tua cara sem o menor constrangimento. Transmite a sensação de que ser correto é passar-se por bobo. Além do que se não permanecer vigilante quanto aos próprios atos acaba-se, por osmose, por praticar o comportamento condenável. O trânsito de veículos automotores no cotidiano é o exemplo aonde mais fácil se constata o que estou dizendo.
E essa falta de cuidado ocorre em tudo. Desde coisas simples como não se preocupar em estacionar o carro de forma que caiba mais um. O sujeito somente porque foi o primeiro a chegar coloca o carro de forma que apenas ele consige estacionar. Isso é só um simples exemplo. Mas descamba para as mais diversas situações até a descarada priorização de categorias profissionais, de quem se sente especial, preterindo a sociedade de uma forma geral.”
Três dias após me deparei com outra situação ratificando meu desabafo:
“Assaltantes de Banco, na semana passada, dominaram o centro de uma cidade do interior de São Paulo, fazendo reféns transeuntes e clientes, que durante a ação permaneceram quietinhos. Na fuga, os assaltantes deixaram cair um saco de dinheiro cujas notas ficaram espalhadas no chão em plena rua. Todos os reféns e transeuntes estavam aterrorizados. Deixaram passar cerca de dois minutos da fuga dos ladrões certificando que de fato haviam ido embora e de repente, avançaram sobre o dinheiro espalhado pelo chão como piranhas em uma carcaça de boi.
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Percebem que é uma questão de oportunidade?
Aquela mesma gente que avançou sobre o dinheiro, participando do roubo ao Banco, e que reclama de políticos, se tiver chance fará igual ao que hoje condenam. Como de fato fizeram.”
Eis que de presente de Natal me cai no colo o comercial da Cacau Show (vídeo no topo).
Observem a subliminar mensagem do comercial que para mim nada tem de subliminar.
Muito mais que apenas possibilitar o ensejo do debate sobre o uso da criança em um comportamento inadequado, é a confirmação de que a cultura da esperteza, da malandragem, da pilantragem, faz parte do consciente coletivo.
Quem em uma primeira olhadela, sem se atear à gravidade do fato, não achou engraçadinho o pilantrinha trapacear sob a cumplicidade e supervisão de um adulto?
Esse comercial exibe toda a hipocrisia do falso brado de combate à corrupção e causa constrangimento porque esfrega em nossas caras que a cultura da trapaça é treinada e incentivada por adultos às crianças, desde a infância. Destarte, inútil queixar-se posteriormente do comportamento dos adultos, já que assim foram formados.
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