WikiLeaks: Os esforços dos EUA para minar a influência de Chávez

Tempo de leitura: 3 min

por Stanley Burburinho

No dia 9 de dezembro de 2010, em artigo escrito  por Maria Luisa Rivera, traduzido por Natalia Viana, do WikiLeaks (a íntegra está após minhas observações), o embaixador americano no Chile, Craig Kelly, escreveu uma lista secreta de estratégias para minar o poder político do presidente venezuelano Hugo Chavez no continente:

“Conheça o inimigo: nós temos que entender melhor como Chavez pensa e o que ele pretende; —Engajamento direto: temos que reforçar nossa presença na região e nos aproximar fortemente, em especial com as “não-elites”

—Aumentar as relações militares: Nós devemos continuar a fortalecer os laços com esses líderes militares na região que compartilham as nossas preocupações sobre Chavez”

“Para ele, os militares latinoamericanos ainda são vistos como aliados, por causa da sua admiração ao poderio militar dos EUA.”

“Os militares do cone sul continuam sendo instituições-chave nos seus respectivos países, e aliados importantes para os EUA. Esses militares geralmente são organizados e tecnicamente competentes. O seu desejo de manter a interoperabilidade e o acesso à tecnologia e treinamento americanos são algo que podemos usar em nosso favor”, diz o documento.

Curiosamente, na continuação, os  americanos têm o mesmo discurso dos partidos políticos da oposição. Confiram:

“…e pressionar os vizinhos a se voltarem contra ele, por exemplo, excluindo a Venezuela de acordos de livre comércio.”

“Também sugere que os EUA ameacem reduzir o comércio como os países sulamericanos se a Venezuela conseguir ingressar no Mercosul.”

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WikiLeaks – Os esforços dos EUA para minar a influência de Chavez

9 December 2010, 15.00 GMT

por Maria Luisa Rivera

Traduzido por Natalia Viana, do WikiLeaks

No dia 15 de junho de 2007, o embaixador americano no Chile, Craig Kelly, escreveu uma lista secreta de estratégias para minar o poder político do presidente venezuelano Hugo Chavez no continente.

“Conheça o inimigo: nós temos que entender melhor como Chavez pensa e o que ele pretende; —Engajamento direto: temos que reforçar nossa presença na região e nos aproximar fortemente, em especial com as “não-elites”; —Mudar o cenário político: Devemos oferecer uma mensagem de esperança e apoiá-la com projetos financiados adequadamente; —Aumentar as relações militares: Nós devemos continuar a fortalecer os laços com esses líderes militares na região que compartilham as nossas preocupações sobre Chavez”, resumiu.

Kelly propõe ainda reforçar as operações de inteligência na America Latina para entender melhor os objetivos de Chavez a longo prazo, e pressionar os vizinhos a se voltarem contra ele, por exemplo, excluindo a Venezuela de acordos de livre comércio.

Kelly, que acabou de se aposentar como o número dois para temas do hemisfério ocidental no Departamento do Estado, reconheceu no seu telegrama que “Chavez conseguiu muitos avanços, em especial para as populações locais, ao fornecer programas para os desprivilegiados”.

Mas também disse que o venezuelano tem uma visão “distorcida” e que “a boca de Chavez frequentemente se abre antes que o seu cérebro esteja funcionando”. Kelly recommenda a Washington simplesmente dizer “ a verdade” sobre Chavez e “a sua visão estreita, suas promessas vazias, suas relações internacionais perigosas, começando pelo Irã”.

Mesmo assim, o documento alerta que Chavez tem que ser levado a sério. “Seria um erro considerar Chavez apenas um palhaço ou um caudilho. Ele tem uma visão, mesmo que deturpada, e está tomando medidas calculadas para conseguir”.

Para ele, países pobres como o Uruguai não conseguem resistir às ofertas de ajuda do Venezuelano. A Argentina, depois da crise, também teria sido vítima dos “petrobolívares” de Chavez.

Passo a passo

Para reduzir a sua influência nos temas regionais, Kelly propõe que o Brasil e o Chile sejam estudados como “países que têm governos esquerdistas mas são democráticos e responsáveis na política fiscal”. Também sugere que os EUA ameacem reduzir o comércio como os países sulamericanos se a Venezuela conseguir ingressar no Mercosul.

O telegrama mostra como a diplomacia americana propõe desestabilizar o poder de Chavez internamente. Kelly recomenda usar “a diplomacia pública” para vencer o que seria uma “batalha de idéias e visões”. Além disso, diz ele, vale explorar o medo de lideres anti-chavistas e formadores de opinião que “apreciam a importância da relação com os EUA”

Visitas do alto escalão americano, como a de Bush em março de 2007, também podem ajudar o país a se aproximar das populações dos países hostis aos EUA.  “Mostrar nossa bandeira e explicar diretamente para as populações nossa visão de democracia e progresso pode mudar a visão sobre os EUA”.

Usando os militares

Outro dado interessante é que Kelly recomenda aumentar o financiamento para programas de parceria militar como o Military Education and Training (IMET) e Commander Activities (TCA).

Para ele, os militares latinoamericanos ainda são vistos como aliados, por causa da sua admiração ao poderio militar dos EUA.

“Os militares do cone sul continuam sendo instituições-chave nos seus respectivos países, e aliados importantes para os EUA. Esses militares geralmente são organizados e tecnicamente competentes. O seu desejo de manter a interoperabilidade e o acesso à tecnologia e treinamento americanos são algo que podemos usar em nosso favor”, diz o documento.

Ele também recomenda o corte de financiamento de outros programas, o que estaria sendo usaodo como uma retaliação à recusa dos países de assinar o Artigo 98, um contrato que impede cidadãos americanos de serem extraditado à Corte Penal Internacional se estiverem nesses países.



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Comentários

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walfredo

Interessante que os EUA ainda acham que o continente ainda precisa de seus financiamentos. Até a Bolívia já mandou os agentes estadunidenses para casa, dispensando sua "ajuda" financeira.

Os Estados Unidos precisam acordar! Se continuar acreditando que o restante da américa é sua colônia, vai quebrar a cara na luta com a China!

Juntos (toda a américa) teríamos o maior território, a maior população, o maior poder militar e do domínio de todas as ciências. Mas só estaremos juntos se houver igualdade e respeito por todos.

O que os Estados Unidos precisam fazer para que seu povo possa voltar a ter paz e progresso:

– Reconhecer e pedir desculpas pelas intervenções militares e golpes de estado praticados com seu auxílio no passado.
– liberar o visto para todos os americanos.
– Facilitar o intercâmbio de pessoas e capital, parando a construção de muros e obstáculos nas fronteiras e retirar qualquer medida para conter a migração.
– Fazer acordos de troca de cidadania, que permitam que cidadãos e empresas de toda a américa sejam reconhecidos como nacionais, com todos os direitos a esses inerentes, em qualquer dos países da região.
– Negociar uma moeda supra-nacional para toda a América.
– Reconhecer com seus parceiros, o Inglês, o espanhol e o Português como línguas oficiais do continente americano, obrigando as empresas a fornecerem todos os produtos com informações nesses idiomas.
– Negociar com os parceiros um Direito Trabalhista mínimo para toda a região.
– Negociar com os parceiros um Direito Tributário mínimo para toda a região.
– Acabar com as guerras do Iraque e do Afeganistão e buscar a paz com todas as nações. Não é necessário fazer guerras para buscar ou garantir petróleo ou energia de fora da região, visto que temos Brasil, Venezuela e EUA para o ouro negro, bem como, muitas terras disponíveis para biocombustíveis.
– Financiar com os parceiros a construção de uma rede de ferrovias, hidrovias e rodovias para integrar toda a américa.
– Integrar e transferir tecnologia militar para seus parceiros visando formar a maior força de defesa do mundo.
– Criar programas que visem reduzir as disparidades de renda e oportunidades na região.
– Impor, conjuntamente com as demais nações, um plano de paz para Israel e Palestina, estabelecendo o Estado palestino nas áreas ocupadas na guerra de seis dias, contudo impondo ainda, a ambas as partes o respeito aos cidadãos da contraparte, o direito de moradia, trabalho e investimento de todos os
cidadãos, sejam palestinos ou israelences em qualquer parte do território de ambas as nações, com punições severas para o crime de racismo e para ações terroristas.
– Expandir todos esses programas para a Europa, unindo toda a cultura ocidental.

Guilherme & Tunico

Avalio que pode haver muito mais em jogo com mecanismos do tipo Wikileaks do que apenas desnudar a diplomacia estadunidense. Escrevi um texto questionando se não pode estar em processo uma mudança da própria forma de se exercer o poder. O texto chama-se: "Wikileaks: O Reverso do Panóptico de Foucault?"
E está novo no Blog Cumachama: http://cumachama.wordpress.com/2010/12/15/wikilea

Espero que gostem,
Abraços

    Paulo

    Será que essa idéia não é mais um detergente para duvidarmos do Wikileaks ???

DUDU

O Al Capone foi pego no imposto de renda.
Os eua estão sendo pegos pela sua deslealdade, arrogância, covardia, seus vergonhosos crimes cometidos sob risada, sua falta de caráter, sua insinceridade, er por aí vai!
Sabemos que o dolar não passa de papel pintado. Não tem lastro que o garanta.
Vai chegar o momento que o mundo vai perder o medo e trocar o dolar por uma cesta de moedas.
Aí a calça cai! Eles não terão como pagar e darão o maior calote da história da humanidade!

Clodoaldo Jurado

Creio que com a exposição destas mensagens, o Wikileaks abateu 32 caças F-18 Hornet sem lançar nenhum míssil. Vejo Rafales decolando…

Twiter: @clodoaldojurado

Jairo_Beraldo

Esse país só tem coisas boas a oferecer e nada de ruim para mostrar.

Edemilson

Nunca é demais lembrar que os estadunidenses ainda posam de "democráticos". E o que é pior: grande parte das pessoas ainda acredita nessa baboseira de democraci norte-americana.

Bonifa

Chavez é da América do Sul. Se Chavez for um problema, será um problema da América do Sul. Não é admissível o dedo da espionagem americana para construir imagens de inimigos no continente, imagens condizentes com seus interesses e pretensões. Não se pode admitir que americanos ponham Chavez como pretexto para recompor seu domínio militar na região. Quem colaborar com esta idéia estará contra os interesses de integração e paz na região e deverá ser considerado um traidor. Se Chavez for um problema, ninguém mais do que nós saberemos lidar com este problema.

Carlos

Essas coisas são graves, aliás muito graves.

V

Que é isso? Meu Deus…. o IMET é outro nome para o SOA ou WHINSEC? http://www.soaw.org/

francisco.latorre

usando os militares.

usa e abusa.

..

BTib

Os militares na america latina são um exército de ocupação norte americano no continente. Prontos para dar o golpe a qualquer movimento mais um pouquinho para a esquerda. E o governo Lula cooperou com essa força de ocupação completamente, vejam o que a OEA disse do Brasil

Heitor Rodrigues

A América do Sul dos sonhos de Craig Kelly é cada vez mais… dos sonhos. O comentário sobre Chavez, além do preconceito e da falta de educação, revela profunda ignorância e descaso com a AL, particularmente com os hispânicos. Mas a chantagem continua presente, como método preferencial de dissuasão.

Bernardeth Arcanjo

Tudo isto nós já sabíamos, só que as coisas estão ficando escancaradas. Mas, vocês podem ter uma certeza , não há mal que dure para sempre. O fim deste pessoal está próximo.

Pedro

Achei interessante a visão de que os militares são aliados. Quando os fantasmas do Golpe vão sumir?

claudio

Opa!!!!!! A Dilma tem que tomar providencias drásticas, q uem for traíra deve ser expulso do exército.

    Jairo_Beraldo

    Vixe….o chefão está na Defesa! Ela o manteve lá! Por que será?

Urbano

Então, em outras palavras, os militares latinoamericanos são em geral quintas-colunas… bem, que eu desconfiava, desconfiava há muito, porém não tinha essa certeza toda, não, mas com a batida de martelo do craig kelly, sei não…

    dukrai

    por isto o nérson bobin, representante por excelência do quinta colunismo verde-amarelo deve ser o ministro da defesa (dos interesses "americanos") no governo Dilma.

Polengo

Só faltou falar que precisa invadir a Bolívia, e que precisa dar um jeito de tomar o petróleo da américa do sul.

    Jairo_Beraldo

    Estava escrito nas entrelinhas… passou despercebido por voce?

    Polengo

    É que as entrelinhas, após o wikileaks, estão virando as linhas…

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