Urariano Mota: Eduardo Campos fez leão sem norte voltar a rugir

Tempo de leitura: 4 min

Eduardo Campos queimou a largada para a corrida presidencial de 2018 e não se viabilizou como uma segunda via para 2014

Eduardo Campos fez leão sem norte voltar a rugir

por Urariano Mota | Do Recife, Valor 

Para o ex-governador de Pernambuco, o recifense Eduardo Henrique Accioly Campos, em primeiro lugar nos choca o inesperado da sua morte. Diria mesmo, atento aos limites do gênero do palco, como uma lembrança do que da vida se reflete no teatro, nele nos comove primeiro a tragédia. É a partir desse ponto que esperamos alcançar uma iluminação para estas linhas.

Neto de Miguel Arraes, presidente do PSB, ele era um predestinado – se assim entendemos a tendência dos laços da história e familiares da sua vida. E para esse futuro ele seguia, se tudo fosse apenas fruto da predestinação. Mas os próprios laços anteriores traziam em si uma ordem, como o socialismo do avô, que Eduardo Campos traduzia para feições mais modernas, atualizadas, como pensava. Mais, entre o objetivo e o passado havia um presente, que também é histórico, que Eduardo almejava contornar com uma habilidade rara.

Na tragédia, o herói se move contra o destino, que o personagem não aceita, e daí vem a sua grandeza. Isso, que alcança o sublime no teatro grego, também possui uma versão na história. Mais de uma pessoa já observou que Eduardo Campos morre no mesmo dia 13 de agosto do avô, Miguel Arraes. Mas as semelhanças talvez terminem aí. A começar do próprio momento da sua morte. Com ele não acontecem os obituários prévios, como houve na morte do avô Arraes, depois de uma longa agonia. Em 13 de agosto de 2005, foi aberrante o descompasso na imprensa brasileira entre a grandeza do homem que partia e os necrológios publicados.

Em 2005, Miguel Arraes de Alencar encerrava sua vida depois de quase dois meses internado em um hospital. Na altura de lúcidos e incansáveis 88 anos de idade, tempo, importância, fatos e história não haviam sido pequenos. Os obituários que passavam diante dos olhos, porém, eram todos redigidos e arquivados como se ele passasse por nós como uma sombra do golpe de 1964, como um sobrevivente que resistisse a nos lembrar aquela infâmia, com uma insistência cujo desagrado era inevitável. E nem precisariam compor uma hagiografia, um perfil de santo, o mais convencional e falso perfil que se faz de alguém que morre.

Com Eduardo Campos, que não teve tempo de tornar pleno o ser da sua vida, os artigos hoje se fazem à quente, e com o sangue da hora. E poderemos ser mais justos, creio. A morte sempre absorve o exagero do instante final contra o que de fato houve no transcorrer de uma vida, por um lado. Por outro, ela nos dá uma dimensão, pela cadeira vazia, do que antes não sabíamos, ainda que houvesse a pessoa diante dos olhos. E neste caso, avulta o político jovem, democrata, inteligente, que se vai na explosão de uma aeronave.

Nele havia uma capacidade de fazer amigos, de fazer críticas políticas que não atingiam o nível pessoal, ou o desrespeito ao adversário. Nisso, ele era um seguro herdeiro do avô Miguel Arraes. Mas era um equilíbrio difícil, já se vê, na medida em que abraçava contrários, ex-adversários, como Jarbas Vasconcelos, e se voltava para um canto distante de quem antes havia abraçado. E devemos pular até a próxima frase. Já se vê também que difícil é o equilíbrio de quem escreve: revelar o verdadeiro que percebemos, ao mesmo tempo que relevamos pontos nevrálgicos, neste momento preciso do desaparecimento trágico, em mais de um sentido, de um grande brasileiro. Então lembremos um governador que marcou época em Pernambuco.

Do seu perfil eleitoral anotamos que entre 2007 e 2011, Pernambuco registrou um crescimento de 14,8% no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb. O número é mais de duas vezes superior à média nacional de 6,2%. Pernambuco tem hoje a maior rede de Escolas de Referência do Brasil, com, 260 unidades. De acordo com pesquisa do Inep, somente em 2012 mais de 85 mil alunos foram matriculados – o que corresponde a 10 vezes mais que a média nacional de 8.509. Em 2013, foram 163 mil alunos matriculados. A Educação Profissional foi ampliada e atualmente 26 Escolas Técnicas estão em funcionamento no estado. O Programa Ganhe o Mundo levou 2.270 alunos para intercâmbios em países como Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Chile, Argentina e Espanha.

De prêmios recebidos, deveríamos lembrar… não, basta. Nada disso é relevante nesta hora. Dele poderia ser dito o mesmo que em relação a Miguel Arraes, por exemplo. Assim como o avô, ao lado de quem será enterrado, ele gerou também desgostos, inimizades e queixas no interior da própria esquerda brasileira. Mas não é justo lembrar isso agora.

Fiquemos então com o Eduardo Campos antes da tragédia. Fiquemos com o governador de Pernambuco que deu um tempo novo a um Estado que atravessava uma decadência sem fim, a rugir como um leão desdentado. Que em vez de Leão do Norte vinha sendo um leão sem norte. Fiquemos com o Eduardo Campos que poderia ter sido o que Miguel Arraes não foi: o presidente da República em um país mais justo e fraterno. Estamos todos com essa dimensão final. Adeus, Eduardo Campos. Foi bom ser pernambucano no seu tempo de governador. Ali, bem perto do Teatro de Santa Isabel, que não esperava encenar a tragédia desse último 13 de agosto.

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Comentários

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Paulo

Eduardo realmente tinha muitas qualidades. Estava muito acima da média. Contudo, sem o arranjo lulista ele jamais chegaria onde chegou. Ademais, nos últimos tempos sua obstinação em ser presidente o levou a se afastar de quem mais o ajudou e se aproximar de adversários históricos do arraesismo. Por último, quando pressionado revelou caráter centralizador e autoritário, como no caso de Marília Arraes.

Mariza

Eduardo campos pode ter feito tudo isso por Pernambuco, porém, ele teve outro pernambucano para alavancar o desenvolvimento pernambucano, nosso amado LULA. Na educação os professores foram eficientes, mas não foram recompensado, um dos salários mais baixo da federação. Ele não foi isso tudo sem o LULA. Sinto muito pela perda humana, é triste perder uma pessoa tragicamente, principalmente a família. Até me admirei do irmão dele, naquele momento fazer política, aliás fiquei chocada. Não é porque ele morreu que vou achá-lo o máximo e não enxergar que só rugiu devido a outro pernambucano.

Helenita

Marina e a viúva de Dudu Campos é o caso de um cego guiando o outro! Tudo na medida certa e sob encomenda dos EEUU, pois eles já têm prontinhos os nomes dos seus efetivos gerentes, do tipo Arminio Fraga, Pedro Malan, José Cerra, David Zilberstein e muitos outros entreguistas que irão entregar o pré-sal e todas as outras riquezas, promover o desemprego, a interrupção de todas as obras de infraestrutura, desativar a indústria naval, as escolas técnicas, os campos de pesquisas, cortar as bolsas de estudos.
Tudo isso sob os olhares deslumbrados dessa mulherzinha vaidosa e ressentida, que não sabe o que é governar…

Urbano

Em se tirando a portentosa participação do Eterno Presidente Lula do governo do eduardo moita, só sobraria o indigno salário dos professores e a aba do chapéu de palha a amparar mais os guarás do que os trabalhadores da entressafra da cana.

Djijo

TODOS os estados estão na penúria. Como Eduardo fez o que dizem que fez? Não tinha um padrinho forte, Lula do PT botando lá dinheiro de TODOS os brasileiros? O Eduardo não foi apenas o repassador das idéias de Brasília?

Isidoro Guedes

Belo necrológio de Eduardo Campos esse feito por nosso conterrâneo, o escritor pernambucano Urariano Mota. Eduardo foi tudo isso mesmo. Inteligente, brilhante, com um belo futuro pela frente, e com a Presidência da República como possibilidade (talvez não agora ainda).
Como o avô (o grande nacionalista Miguel Arraes) Eduardo também costurou alianças polêmicas e heterodoxas com setores da direita, gerando incompreensões, desgostos, inimizades e queixas no seio da esquerda (onde inequivocamente sempre militaram), como lembrou Urariano.
Eu próprio me incluo entre os que sentiram desconfortáveis com a sua recente proximidade com setores neo-conservadores que trabalharam para destruir o arraesismo e arrasar toda a esquerda pernambucana (como é o caso do ainda senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, um trânsfuga que migrou para o centro-direita em nome de um projeto pessoal de governar Pernambuco, perdendo toda a credibilidade e respeito que tinha em largos setores de centro-esquerda de nosso estado).
Eduardo parecia querer repetir esse modelito jarbista, só que voltado para o plano federal. E não podíamos nos sentir confortáveis com isso. Pois isso nos incomodava menos do que seu legítimo projeto de se lançar à Presidência da República como “dissidência” do petismo.
Nos deixavam desconfortáveis também certos modelitos gerenciais desse propalado “choque de gestão”. Modelitos de visão gerencial privada que entram à fórceps na administração pública, que não é e nem pode ser tal e qual uma empresa privada, cuja lógica é o lucro e não o bem estar social ou a justiça social.
Não obstante nunca deixamos de reconhecer o talento, visão e competência de nosso jovem ex-governador para administrar o nosso estado. E que em parceria com outro pernambucano ilustre, radicado em São Paulo (o ex-presidente Lula da Silva), retirou nosso estado da indigência e do ostracismo no qual se encontrava, para fazer de Pernambuco um novo protagonista político e econômico de relativa importância no cenário nacional.
Do mesmo modo como nunca deixamos de ter respeito e admiração por Eduardo, mesmo divergindo politicamente dos passos tomados por ele nos últimos anos.
Por fim temos muito a lamentar seu desaparecimento, pelos anos de convivência fraterna e de lutas políticas que travamos juntos, nas mesmas trincheiras. Entendemos que a perda foi irreparável para nosso estado e também foi uma grande perda para a Nação, que deixa de contar com o brilho, carisma e inteligência dessa jovem liderança em ascensão.

Marat

Não sei se o PIG ficou mais triste com a queda do avião em si, ou se ficaram arrasados em saber que o tal jato era de fabricação estadunidense… Bem, sempre resta a eles, lambedores eméritos de saco do Tio Sam, dizerem que a manutenção era feita por brasileiros!

Urbano

Na condição de possível candidata à presidência, a marinada já relinchou a sua primeira atitude como tal, ao propor a viúva como sua vice-presidente. Sei não… mas essa oposição de boston, pelo estoque de asneiras ditas desde tempos imemoriais, não passa de um estábulo de dimensões latifundiárias; sem contar as terras griladas mais recentemente.

    Urbano

    Essencialmente a partir de 2012, atingiu em definitivo a mérdia. Os primeiros passos foram dados quando a carreira do ancestral atingia o epílogo. Houve até quem aproveitasse a oportunidade para transformar xarope descongestionante em detergente…

Messias Franca de Macedo

[MAIS] Um acinte à nação brasileira: DEPUTADO E LÍDER DO PSB ACUSA/DIFAMA A FORÇA AÉREA BRASILEIRA (FAB)!

(- Matuto!…
– De novo, você, Tirésias, para me atazanar a paciência!…
– vão jogar os destroços do avião no colo do…
– “cê tá” falando do “papo reto” entre o Beto [Albuquerque] &$ o Josias [“da ‘Folha’”]?…
– Matuto, o comando da FAB já ingressou com uma queixa-crime contra “o socialista” leviano?
– Tirésias, “tá” mais fácil ‘o Zé da Justiça’ ser arrolado como coautor do atentado!…
– Matuto, só falta, agora, aquele deputado bochechudo do PSDB requerer ao STF o retorno imediato à Papuda…
– E se “a gaveta” for a do Gilmar?!…
– Bom, aí, os destroços do avião já estarão no colo do…
– Tirésias, e por que o Genoino não deixou para sair da cadeia na terça-feira… Da próxima semana?!…
– Matuto, você esqueceu de que “as casualidades não existem”?!…
– Tirésias, você e o Paulo Henrique Amorim [do blog ‘Conversa Afiada’] dariam dois bons sabotadores! “Né verdade?!”…)
– Que falta faz o [Leonel] Brizola!…
– Tirésias, e se a ABIN resolvesse ser uma, digamos, ABIN brizolista?!
– Matuto, esqueça! Creio que seria de bom alvitre, tomarmos ‘um cafezinho’, “lá com o Miguel do Rosário, aquele blogueiro sujo que detonou a SONEGAÇÃO da ‘Vênus Platinada’”!
– “só se for agora!”)

República de ‘Nois’ Bananas
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Urbano

Fico impressionado com a magia da morte…

Fernando

hehehe o legal é que quando ele era vivo o que escreviam dele aqui era só absurdo.

Marivaldo

Acrescentando nessa relação também o programa “Pacto Pela Vida!”

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