UFSCar defende Marcos Garcia e liberdade de pesquisa

Tempo de leitura: 2 min

por Conceição Lemes

A região de Sorocaba, interior paulista, tem a maior concentração de leitos psiquiátricos SUS do Brasil. Somam 2.792, distribuídos em sete manicômios de grande porte: Vera Cruz, Mental, Teixeira Lima, Jardim das Acácias, Santa Cruz, Clínica Salto e Vale das Hortências. Com exceção do Jardim das Acácias, todos são privados.

Pesquisa realizada em 2010 nesses sete hospitais  por Marcos Roberto Vieira Garcia, doutor em Psicologia Social e professor do campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), abriu uma verdadeira caixa de Pandora, que revelou a precariedade e desumanidade desses serviços:

* De janeiro de 2004 a julho de 2011, os sete manicômios tiveram 825 mortes de pacientes SUS. Dá um óbito a cada três dias nos últimos oito anos.

* Apresentaram mortalidade 100% a 119% maior do que a registrada em outros 19 manicômios do estado de São Paulo. Dos sete investigados, o Jardim das Acácias foi onde ocorreram menos óbitos; seus índices, porém, são um pouco piores do que a média do estado.

* Os pacientes falecidos tinham 53 anos, em média; no restante do estado de São Paulo, 62.

* Houve aumento significativo de mortes nos meses frios, fato que não se repetiu nos manicômios do restante do estado.

* A concentração de óbitos por doenças infecto-contagiosas (em especial, as respiratórias) e por motivos não esclarecidos é significativamente maior que nos outros grandes manicômios do estado de São Paulo no mesmo período.

A “resposta”  de seis manicômios privados denunciados foi abertura de processo contra  contra Marcos Garcia e  o psicólogo Lúcio Costa, do Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba (Flamas).

Porém, devido à reconhecida seriedade e competência do pesquisador,  o estudo  recebeu, de cara, apoio de duas importantes sociedades científicas: Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso).

Além disso, várias instituições e órgãos independentes fizeram fiscalizações in loco nos hospitais denunciados, confirmando muitos dos problemas levantados por Marcos Garcia. O relatório completo pode ser lido no site http://liberdadedepesquisa.blogspot.com

Agora, foi a vez do Conselho Universtário da UFSCar se manifestar. Em reunião presidida pelo reitor Targino de Araújo Filho,  a instância máxima de deliberação da Universidade aprovou por unanimidade uma moção de apoio ao professor Marcos Garcia e em defesa da liberdade de pesquisa acadêmica e de sua divulgação.  Na íntegra, abaixo.

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Comentários

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Roberval

E o (des)governo paulista vai fazer o que agora? Esperar que novas mortes aconteçam?
Cadê a polícia civil paulista – é seu papel investigar.
Parabéns ao Prof. Marcos Garcia e ao Conselho Universitário da UFSCar.
Sorte do professor pertencer a uma instituição coerente. Se fosse na USP teria Rodasdo!

Sérgio Ruiz

Trágico e triste.

Substantivo Plural » Blog Archive » Matança de outros inocentes (Caronte e a nau dos loucos)

[…] http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/ufscar-sai-em-defesa-de-marcos-garcia-e-da-liberdade-de-pesq… […]

José Mario Balan

Ainda bem que o Professor Marcos Garcia não era pesquisador da USP!!!

    Polengo

    E uma pena que o reitor da USP não seja paciente de um manicômio.

renato

Era mais fácil, saber que tínhamos uma Alemanha de Hitler, pelo menos os loucos estavam lá, hoje temos os Nazi em todos os lugares, escondidos.
Matando homossexuais, doentes em hospitais, doentes mentais em casas psiquiátricas,fazendo testes com remédios para laboratórios, usando os seres humanos descartados pela sociedade.
Deve haver sim pesquisa deste Doutor Marcos.
E prisão para bandidos, e eles não podem dizer que estão esquizofrênicos pois nunca se submeteram a tratamentos nestes hospitais.

LIBERDADE

primeiro vou prende-la
amarra-la com música
amordaça-la com poesia
segura-la com pintura

depois vou joga-la em um quarto
fechar a porta por fora e sair
virar as costas

vou então andar pelas ruas
ver pessoas, conversar com estranhos
falar com conhecidos
vou na casa de minha mãe
ver meus irmãos, brincar com amigos
ver o dia amanhecer e anoitecer

vou jogar grãos aos pombos
vou correr do cachorro pequeno
vou sorrir, vou dar risadas…
gargalhadas…

vou aos hospitais, as prisões
as instituições
vou as religiões
vou ler todos os livros
vou ao hospício

proibido a entrada de
quem aprisionou a liberdade

vou me retirar, vou voltar
tirar a placa que esta na entrada
e com giz vermelho
vou escrever em letras colossais
permitida minha entrada

pois tirei do quarto
a pintura, a música, a poesia
deixei preso
medo, a tristeza, a covardia.

trago em minha mão
amor e alegria
e se não me deixarem entrar
vou perguntar
para a liberdade
o que ela é.

se responder
que é utopia
terei que fazer
poesia sobre covardia
pintar o medo
cantar a tristeza
matar minha certeza

autor : renato, num dia qualquer destes que já se foram.

    Marli Fernandes

    Renato, uma linguagem poética,uma dobra para fora, a exterioridade da loucura e o fim do aprisionamento dracônionico das instituições representantes do assujeitamento do humano. Uma palavra, un gesto, uma poesia recupera a idéia do experimentador de si mesmo, um quase eu, uma vida com novas forças. Renato, adorei,suas palavras. Abraços Marli Fernandes.

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