Ucrânia: O que viram os satélites dos EUA sobre o avião derrubado

Tempo de leitura: 5 min

voo

20 de julho de 2014

O que os satélites espiões da Ucrânia viram?

Robert Parry, no ConsortiumNews.com

No calor da última histeria de guerra da mídia norte-americana – que correu para culpar o presidente russo Vladimir Putin pela queda do avião de passageiros da Malaysia Airlines – existe a mesma ausência de ceticismo que fez barulheira no Iraque, na Síria e em outros lugares – perguntas essenciais não são feitas ou respondidas.

A pergunta que não quer calar a respeito da catástrofe sobre a Ucrânia é: o que as imagens dos satélites espiões norte-americanos mostram?

É difícil acreditar que, com toda a atenção que o serviço de espionagem norte-americano tem prestado ao leste da Ucrânia nos últimos seis meses, o transporte de vários sistemas Buk de mísseis antiaéreos da Rússia para a Ucrânia e depois de volta à Rússia não aparecem em lugar algum.

Sim, existem limites para o que os satélites espiões norte-americanos podem ver. Mas os mísseis Buk têm cerca de 16 pés de comprimento e em geral são montados no topo de tanques ou caminhões.

O voo 17 da Malaysia Airlines também caiu durante a tarde, e não à noite, o que significa que a bateria de mísseis não estava escondida pela escuridão.

Então por que essa pergunta sobre as fotos do espião norte-americano dos céus – e o que elas revelam – não está sendo feita insistentemente pela mídia norte-americana?

Como o Washington Post pode publicar uma matéria de primeira página, como a que foi publicada no domingo com o título definitivo: “Oficial americano: russos deram o sistema”, sem exigir das autoridades detalhes a respeito do que revelam as imagens de satélite?

Ao contrário, Micchael Birnbaum e Karen DeYoung do Post escreveram de Kiev:

“Os Estados Unidos confirmaram que a Rússia forneceu lançadores de mísseis sofisticados aos separatistas da Ucrânia do leste e foram feitas tentativas de transportá-los de volta através da fronteira com a Rússia depois que o avião da Malaysia foi derrubado, disse uma autoridade norte-americana no sábado. ‘Nós acreditamos que eles estavam tentando levar de volta para a Rússia pelo menos três sistemas Buk (lançadores de mísseis)’, disse. O serviço de espionagem norte-americano estava ‘começando a ter indícios … há pouco mais de uma semana, de que lançadores russos foram lavados para a Ucrânia, disse a fonte … cuja identidade não foi revelada pelo Post para que ele  discutisse assuntos de espionagem”.

Mas veja como são vagas as afirmações: “Nós acreditamos”, “começando a ter indícios”. E nós devemos acreditar – e, ainda mais relevante, os jornalistas do Washington Post de fato acreditam – que o governo norte-americano com seus serviços de espionagem de primeira não conseguem encontrar três caminhões lentos, cada um carregando enormes mísseis de longo alcance?

O que uma fonte me contou, fonte que já me passou informações precisas em assuntos semelhantes no passado, é que as agências de espionagem norte-americanas têm imagens de satélite detalhadas das baterias de mísseis que provavelmente lançaram o míssil fatal, mas a bateria parece estar sob o controle de tropas do governo ucraniano, vestindo o que parecem ser uniformes ucranianos.

A fonte disse que os analistas da CIA ainda não eliminaram a possibilidade de que as tropas fossem na verdade rebeldes do leste da Ucrânia vestindo uniformes semelhantes, mas a avaliação inicial era de que as tropas eram compostas por soldados ucranianos.

Também foi sugerido que os soldados envolvidos eram possivelmente bêbados indisciplinados, já que as imagens mostram o que pareciam ser garrafas de cerveja espalhados no local, disse a fonte.

Mas, ao invés de pressionar para ter mais detalhes, a grande mídia norte-americana simplesmente passou adiante a propaganda vinda do governo ucraniano e do Departamento de Estado, inclusive ecoando o fato de que o Sistema Buk é “feito na Rússia”, um fato insignificante que é muito repetido.

No entando, usar o argumento do “feito na Rússia” sugere que a Rússia pode ter envolvimento na derrubada do avião, o que é no mínimo enganador e claramente planejado para influenciar os mal informados norte-americanos.

Como o Post e outros meios de comunicação certamente sabem, o exército ucraniano também opera sistemas militares feitos na Rússia, inclusive as baterias antiaéreas Buk; assim, a origem da fabricação não tem valor algum de prova.

Apoiando o regime ucraniano

A maior parte das denúncias contra a Rússia vem de afirmações feitas pelo regime ucraniano, que nasceu de um golpe de estado inconstitucional contra o presidente eleito Viktor Yanukovych no dia 22 de fevereiro.

A derrubada dele veio depois de meses de protestos massivos, mas o golpe mesmo foi liderado por milícias neonazistas que ocuparam prédios do governo e forçaram autoridades do governo Yanukovych a fugir.

Em reconhecimento ao papel chave desempenhado pelos neonazistas, que são ideologicamente descendentes das milícias ucranianas que colaboraram com os nazistas da SS na Segunda Guerra Mundial, o novo regime deu a esses nacionalistas da direita radical o controle de diversos ministérios, inclusive do departamento de segurança nacional, que está sob o comando do antigo ativista neonazista Andriy Parubiy.

Foi esse mesmo Parubiy que os jornalistas do Post procuraram para obter informação que condenasse os rebeldes ucranianos do leste e os russos com relação à catástrofe da Malaysian Airlines.

Parubiy acusou os rebeldes da vizinhança da área do acidente de destruírem provas e de tentarem esconder algo, outro tema que ecoou na grande mídia norte-americana.

Sem se preocupar em informar os leitores a respeito do passado neonazista de Parubiy, o Post o citou como uma testemunha confiável, declarando: “Será difícil conduzir uma investigação completa já que alguns objetos foram retirados, mas faremos o possível”.

Em contraste com as declarações de Parubiy, o regime de Kiev na realidade tem um histórico terrível em matéria de falar a verdade ou de levar a cabo investigações sérias a respeito de crimes contra os direitos humanos.

Ainda estão sem resposta as perguntas a respeito da identidade dos atiradores de elite que atiraram contra policiais e manifestantes na Maidan, no dia 20 de fevereiro, o que deflagrou uma escalada de violência que levou à derrubada de Yanukoviych.

Além disso, o regime de Kiev não esclareceu os fatos a respeito da morte de vários russos étnicos incendiados no prédio da Associação de Comércio de Odessa no dia 2 de maio.

O regime de Kiev também enganou o New York Times (e aparentemente o Departamento de Estado) quando disseminou fotos que supostamente mostravam militares russos dentro da Rússia e mais tarde dentro da Ucrânia.

Depois que o Departamento de Estado endossou a “prova”, o Times deu destaque à reportagem no dia 21 de abril, mas na verdade uma das fotos-chave, supostamente tirada na Rússia, foi na verdade tirada na Ucrânia, destruindo a premissa da reportagem.

Mas aqui estamos novamente, nos apoiando na grande mídia norte-americana, para verificar denúncias feitas pelo regime de Kiev sobre algo tão delicado quanto a Rússia fornecer mísseis antiaéreos sofisticados – capazes de derrubar aviões voando em alturas elevadas, capazes de derrubar vôos comerciais – a rebeldes mal treinados da Ucrânia do leste.

Essa é uma acusação tão séria que poderia levar o mundo à segunda Guerra Fria e, possivelmente – se houver outros erros como este – a um confronto nuclear.

Esses momentos pedem um profissionalismo jornalístico extremo, especialmente ceticismo com relação à propaganda de partes envolvidas.

Ainda assim, o que os norte-americanos viram publicado nos principais meios de imprensa, liderados pelo Washington Post e pelo New York Times, foram artigos dos mais inflamados baseados em grande parte em aurtoridades ucranianas não confiáveis e no Departamento de Estado, o principal instigador da crise na Ucrânia.

No passado recente, esse tipo de jornalismo desleixado levou a massacres no Iraque – e contribuiu para a quase deflagração de guerras na Síria e no Irã – mas agora os riscos são bem maiores.

Não importa o quão divertido seja acumular desprezo por uma variedade de “vilões designados”, como Saddam Hussein, Bashar al-Assad, Ali Khamenei e agora Vladimir Putin. Esse desleixo está levando o mundo a um momento muito perigoso, possivelmente o último.

Leia também:

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Comentários

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Renato

Mais uma vez foi impedido o meu direito de opinar, apresentando idéias contrárias desse site.

Mas ainda acredito que há de bom na esquerda, principalmente, democracia. Por isso eu vou repetir o que disse.

Como pode a Esquerda defender o Senhor Putin? O Putin é aquele senhor que desde de 2000 não sai do governo, ora é chefe de estado (Primeiro-Ministro) ora é o chefe de governo(Presidente). A Rússia é aquele país conhecido por reprimir direitos, principalmente os dos Homossexuais. Que somente tem uma religião, a cristã ortodoxa, e persegue os outros religiosos.

Eu não sei o que é pior a 4ª Frota Americana ou amizades com a máfia Russa? Acredito que é mil vezes melhor a 4ª Frota, do que amizades com o Russo.

    Elias

    Com todo respeito, Renato, manifesto minha discordância sobre suas opiniões e suas escolhas.

    El Bartho

    Com todo o respeito Sr. Renato, mas uma vez coxinha sempre coxinha.

Francisco

Eu, se fosse a Rússia, invadia logo essa porcaria toda. Quem não gostou que dê seu jeito.

Ou Iraque, Líbia e Afeganistão foi diferente?

PS. Depois de todos os “incidentes” que manipularam opinião pública desde a Guerra Espano-americana, a mídia acidental bem que poderia usar um segundo neurônio para pensar…

Wildner Arcanjo

Quero ver quando a Rússia fechar a válvula do gasoduto. Com o inverno chegando… quanto tempo duram as sanções? Já começaram os embargos Russos com relação aos gêneros alimentícios (em média 23% de exportação dos países da UE para a Rússia). Frutas, verduras, Carne e Commodities a Rússia sempre pode comprar de outros parceiros, como Brasil, China, ìndia… (e se já não o fazem com maior preferência em relação aos países que são dominados pela ideologia da OTAN). Além do mais quem depende mais de quem na Europa? A Rússia da UE ou a UE da Rússia? Os EUA, esses deixem de foram, estão iguais aos cães que ladram mas não mordem mais. Ficaram velhos, perderam os dentes.

Elias

O que o Jornal Nacional apresenta como verdade, é mentira. E o JN mostrou as imagens dos satélites espiões estadunidenses como verdade. Portanto…

Mardones Ferreira

Essa press-tituta não passa por uma análise mínima daquilo que divulga como informação jornalística.

Fingem que não lembram das mentiras do Collin Powell e as armas do Saddam e etc.

Pholiveer

hmmm… os EUA usando a Ucrânia para prosseguir com o cercamento aos russos com o uso da OTAN, bases militares na Polônia no leste, no sul Turquia, Iraque, Afeganistão, no oeste com Japão e Coréia do Sul, fracassou com a Geórgia ocupada pela Rússia desde 2008…
Dilma que não abra os olhos também porque na América do Sul os únicos países onde não há bases militares da OTAN são o Brasil e a Venezuela…

    Pholiveer

    ERRATA: Na América do Sul destaca-se a Colômbia com 106 militares em 6 bases, o Peru com 45 militares e 1 base, e o Equador com 38 militares e 1 base – a mais importante da região, localizada próximo à cidade portuária de Manta. Não há bases militares: Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Guiana Francesa, Bolívia, Paraguai, Uruguai…
    Existe uma base militar Britânica nas Ilhas Malvinas também…

Helio

Manipulação da Verdade e mídias brasileiras que se pautam pela mídia Americana ( o que você lê na VEJA, RBS é verdade ?)

Renato

Como vocês são anti-estadunidenses? e Agora vocês não criticam o fato do Putin sempre ter um cargo no executivo, as vezes como Primeiro-ministro outras como Presidente. E isso acontece desde 2000.

Ou seja quem são os ditadores os EUA ou Puttin?

    Luís Carlos

    Quem influencia e manipula nossas vidas diariamente é os EUA, não distante e desconhecida Rússia.

    Renato

    Tem Certeza que a Rússia é tão boazinha assim?

    El Bartho

    EUA levando democracia ao Iraque http://www.youtube.com/watch?v=W0I6S8mva-s

    MARIA GORETTI13BH

    EUA-DITADORES DISFARÇADOS-ALEM DE TERROR+ISMOS;GENOCIDAS E MASSACRENTOS=SANGUINÁRIOS-SANGUESSUGAS.MENTIROSOS,TEM MAIS….

    Conceição Lemes

    Maria Goretti, letras minúsculas nos comentários, por favor. abs

FrancoAtirador

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Carta Maior
Hora a Hora

“Israel mata mais 110 e deixa palestinos na escuridão
ao explodir a única central hidrelétrica de Gaza”

“Dilma sobre os bombardeios de Israel: -É um massacre!”

“Cúpula do Mercosul pede cessar fogo imediato em Gaza”

“Chile e Peru acompanham o Brasil e retiram os embaixadores em Israel”
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Marat

Chega a ser tocante o sentimento fraterno dos Estados Unidos e de seus poodles europeus para com os coitadinhos golpistas da Ucrânia… Quase tão tocante quanto suas sanções contra o governo terrorista e genocida de Israel!

Marat

Sanções daqui, acusações de lá… estão cutucando a onça. Uma hora ela contra-ataca!

Caracol

Essa é fácil.
Com Nixon, os políticos e as corporações americanas descobriram que dá pra mentir ao povo americano e ao mundo inteiro e saltar fora com cara de paisagem. Ganha aposentadoria, pensão, homenagens, etc, etc, etc.
Aí veio o Bush pai e mentiu no caso das armas para os Contras da Nicarágua via Iran, e não aconteceu nada.
Veio o Clinton e mentiu no caso Mônica Lewinski, a tal história do charuto (pô, eu não meti nela. Eu só meti um charuto) e ficou por isso mesmo.
Ora, quando o Bush filho tomou conta do pedaço, ele sacou que podia mentir à vontade, não teve escrúpulos, pois a essa altura percebeu que americano médio não tem escrúpulos porra nenhuma, e veio com aquela de armas biológicas e de destruição em massa do Sadham Hussein. Deu-se ao luxo de usar para isso o caráter sem jaça do Collin Powel, que – enganado pela CIA e pela Condolezza e pelo Bush e por aquele sinistro vice presidente que – graças a Deus – já esqueci o nome, mentiu na ONU, mentiu para os americanos e para o mundo, pediu demissão quando deu de cara com a realidade e com o fato de que tinha sido vilmente usado e que hoje (taí, Viomundo, essa é uma matéria boa) deve estar curtindo uma depressão profunda porque de militar honrado se tornou um sujo como outro americano médio qualquer.
Depois vem Líbia, Síria, etc, etc, etc e agora a Rússia.
Enfim: americano tem credibilidade? Digam-me, vira-latas sarnentos: americano tem credibilidade? Ora vão catar suas pulgas na PQP.

Maria Apafrecida Jube

Veja é o esgoto da mídia golpista, ainda bem que esse lixo esta as portas da morte, só dá esse tipo de notícia para vender algumas revistinhas. Logo, logo, se DEUS quiser não veremos mais esse excremento sujando as salas de espera dos consultórios.

Marcelo

Não se ode nem considerar como jornalismo o que temos visto aqui no Brasil e no mundo afora. é puro marketing político para não falar em estelionato, pois vendem gato por lebre.

Liz Almeida

É explícito que a birra dos EUA e União Européia com a Rússia é meramente política. Principalmente agora, com os BRICS (que tem a Rússia como país mais rico e importante), ameaçando FMI e Banco Mundial; em outras palavras, ameaçando o domínio dos EUA no mundo.

Os EUA e UE estão pouco se importando com a guerra no leste da Ucrânia, e a derrubada desse avião caiu como uma luva para os objetivos políticos contra a Rússia.

Até quando o mundo aguentará tanta estupidez e hipocrisia, justo dos países que se dizem os mais ricos e civilizados?

José X.

Pior que no Brasil tem um monte de gente imbecil que reza pela cartilha da mídia americana.

Qualquer dúvida que alguém levanta sobre as obviamente tendenciosas afirmações americanas é a pessoa já é tratada como comunista, soviético, petralha, etc. Pessoal parece que vive nos anos 60.

Em última instância as afirmações americanas até podem ser verdadeiras, mas simplesmente não é possível afirmar tal coisa hoje, tal a histeria com que são feitas, e sem o mínimo aceitável de provas concretas.

Caso parecido (talvez idêntico) às “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein, à “violência contra populações civis” que levou à destruição da Líbia, e a acusações parecidas feitas contra o regime sírio. Que tanto Saddam quanto Gaddafi e Bashar al Assad não eram/são santos ninguém tem dúvida, mas se (por exemplo) eu fosse iraquiano eu com certeza iria preferir mil vezes viver no Iraque de Saddam Hussein do que no Iraque “liberado” e “democrático” de hoje. Thanks America, but no thanks.

Luís Carlos

A mídia empresarial não se importa com mortes que podem provocar. Querem apenas deixar registros para posteridade sobre culpados, fazendo de suas versões A verdade. Prova disso, é a posição de Veja apoiando o assassinato de crianças palestinas por Israel.

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