Tom Pina: Cidade não é vitrine, é para ser vivenciada

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A quem interessa uma cidade-vitrine?

por Tom Pina*, enviado por e-mail por Roney Rodrigues

Carta aberta a Roberto Duailibi, em resposta ao artigo “Queremos ser a capital do grafite?” publicado em 4 de Março de 2015 no site do d’O Estado de São Paulo.

A presença do graffiti na cidade de São Paulo deveria ser vista com um pouco mais de entusiasmo por parte da população.

Esse tipo de voz presente em seu artigo apenas nos mostra a ignorância e o preconceito por parte das classes mais conservadoras da cidade. Por exemplo: o que seria a “coerência estética da cidade de São Paulo”? Gostaria que o senhor me explicasse melhor esse termo, porque como Arquiteto e Urbanista e artista de rua, eu realmente não o compreendi.

A cidade de São Paulo é cosmopolita e extremamente heterogênea; querer uma cidade monótona e cinza é querer uma cidade morta. As cidades são vivas, Roberto! São organismos vivos e como tal devem ser tratados. Planejar o graffiti para que este melhore a imagem da cidade não é falar de graffiti ou de arte, é falar de publicidade.

De fato, o senhor não é crítico de arte, mas como cidadão de São Paulo, eu respeito sua opinião e, assim sendo, gostaria que, por favor, o senhor respeitasse nossos artistas.

Não chame nossa arte de lixo ou sujeira e nem muito menos a julgue como fascista. Afinal, não me lembro da população ter sido consultada ao menos uma vez para a instalação de qualquer tipo de publicidade na cidade.

Publicidade essa que, por muitas vezes, incita a violência entre classes, enraíza o machismo, a misoginia e o preconceito dentro de nossa sociedade. Por favor, nos respeite.

A nossa arte traz alegria e reflexão para muitos que não teriam a chance de entrar em qualquer galeria de bairros limpos e organizados ou “esteticamente coerentes”.

Em seu texto você citou, de forma infeliz, a morte de pessoas que tinham relação com a pichação e com o graffiti, justificando dessa forma que graffiti incita a violência.

Volto a lembrá-lo das mensagens preconceituosas, machistas e prejudiciais que existem na publicidade, eu também me preocupo com isso.

Em relação aos arcos da Avenida 23 de Maio, gostaria que as pessoas tivessem focado sua atenção neles antes dos grafites serem feitos.

Gostaria que soubessem que os arcos são, sim, um patrimônio histórico, construído talvez no século XIX, e que estão hoje envoltos por uma cerca que é, sim, de gosto discutível e uma agressão ao patrimônio e à cidade como ambiente de vivência, bem como a tinta salmão que tenta imitar de alguma forma a cor dos tijolos originais.

Gostaria que os arcos como patrimônio histórico tivessem um projeto paisagístico melhorado.

Talvez não tenha andado por lá, mas a calçada é minúscula. Gostaria que não fundasse sua “crítica arquitetônica” nas ações dos artistas que foram os únicos que se mostraram verdadeiramente interessados em melhorar a cidade a ponto de fazê-lo com as próprias mãos. E não somente porque se incomodaram com a visual ao passar por ali, mas porque vivenciam a cidade de perto e fazem o que podem para contribuir.

Repito que a cidade é para ser vivenciada, não é uma vitrine.

Não vejo fundamento na sua preocupação em relação à imagem de São Paulo perante o mundo. Quem sabe programas ambientais e sociais não a diminuam?

Particularmente, considero as canaletas de esgotos a céu aberto e o lixo mais prejudiciais à imagem da cidade do que o graffiti de São Paulo, que é reconhecido em alto nível no mundo todo e que atrai diversos artistas e colecionadores em busca de novas peças e novos artistas.

Como publicitário, o senhor deveria saber que o que o senhor chamou de ‘lixo’ vêm ganhando cada vez mais novos adeptos e apreciadores no mercado, o que me parece exatamente o contrário do que está sendo afirmado em seu texto.

Se realmente queremos que São Paulo se torne a capital do graffiti? Talvez essa não seja essa nossa pretensão, mas a realidade é que São Paulo já é uma das grandes capitais do graffiti internacional e ganhamos muito com isso, principalmente nossa população.

*Arquiteto, Urbanista e Artista de Rua

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Comentários

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Ralph de Souza Filho

Absolutamente pertinente a resposta ao reacionário aristocrata Duailibi, que opera no campo da prestidigitação, do escamoteamento e do ilusionismo, alicerçados na publicidade e na propaganda, danosas, pois, para além de seus efeitos subjetivos a incentivar práticas sociais de cunho excludente, preconceitos e, até, a banalização da coisificação da mulher, tratada como objeto em muitas peças, ademais, estimulando o consumo pelo consumo, compulsivo e obsessivamente perdulário, quando não inútil. Sem contar com a paisagem privilegiada do RIO, São Paulo, foi desde sempre de uma infelicidade atroz e perversa, ao eleger seus mandatários administradores, insensíveis e relapsos, com relação a ” Alma da Cidade ” e sua necessária e impositiva construção urbanística equilibrada e sensata. O Gaffite, sem dúvida, vem para quebrar um intenso clima de trevas, salientado por uma gigantesca armação de concreto e asfalto, asfixiante, e, que em nada colaboram a sofisticar, a panorâmica da Megalópole. O excesso de arrogância e prepotência de Duailibi, revelam e desnudam um traço bem característico da Casa Grande da Paulicéia desvairada e de sua elite descompromissada e desconectada por completo com os mais prementes anseios da população. É prova inconteste deste fato, a água cristalina, na provável Sauna a vapor, a que Duailibi deve recorrer com frequência, em oposição ao racionamento e barro nas torneiras nem tão periféricas dos paulistanos fragilizados…Saudações Cordiais, do Planta do Deserto, a quem, basta, tão somente, o orvalho do alvorecer…

Tadeu Silva

O arquiteto Aldo Rossi lascou: “o facto urbano e a sua arquitectura, que são um todo, constituem uma obra de arte. , porque nesta última concretiza a intencionalidade estética dos factos urbanos.” (sic) Não gosto de painéis, outdoors, sujeira, lixo nas vias. Não gosto da maneira como são disponibilizados os grafites. Gosto da provocação da pichação e aqui lembro o fechamento da aula magna do filósofo Moacir Gadotti na (C)Usp: “ninguém deixa ou abandona aquilo que é seu e que gosta” (de falta de memória). A intervenção obrigatória do grafite esconde a cidade enquanto “construção coletiva” e impõe sua tradução, cobra a mesma reverência de uma obra de arte, tornando a cidade galeria. Salvai-me Paul Valery. A pichação me parece sem a pretensão de irreversibilidade, quero dizer, é uma denúncia, uma provocação, exige resposta. Ficamos entre a pretensão definitiva (autoral, inclusive) e a provisória. O vernacular é uma expressão tanto quanto a projetação. Não acho correto interferir num painel do Portinari ou na fachada de uma casa comum. Tanto a pichação quanto o grafite, os painéis, os outdoors, a sujeira, o lixo, refletem, no entanto, o descaso tradicional com o urbanismo, no caso paulistano desde, pelo menos, a abertura da Av. Higienópolis, que deve ser revertido pela população através da discussão coletiva, pois, voltando em Rossi, a cidade é um fato coletivo, uma obra de arte coletiva, pois acumula em seu desenho tanto uma fadiga quanto uma intencionalidade estética. Em Brasília, sempre uma polêmica aberta, os equipamentos urbanos estão recebendo intervenções que presumem melhorar o cotidiano das pessoas. Enquanto isso o sistema de transporte coletivo é, continua, um caos. Em Juiz de Fora algumas iniciativas vão no mesmo sentido, sem atentar para a baixa qualidade e eficiência, além da falta de manutenção, dos equipamentos. Por exemplo, a via principal, Av. Rio Branco, sofreu (sic) intervenção, mais uma, em 2010, mas os abrigos não abrigam nem da chuva nem do sol, apenas arremedam, de arremedo, com seu novo, novíssimo, desenho (design?), policarboneto (acrílico?), brilho, etc. As praças públicas tornaram-se privativas de bares. Numa delas, uma área de recreação infantil, com um círculo de areia, foi suprimida com a justificativa esfarrapada de que era perigosa para a saúde das crianças. E não vamos esquecer da arquitetura defensiva e antimendigos, que como as DCE’s, bombaram no urbanismo pátrio. Nem das grades, que já são uma inapelável poluição até nos sacrossantos territórios religiosos, quando não no próprio prédio. Enfim: “A alma encantadora das ruas” (apud João do Rio) merece respeito.

FrancoAtirador

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GRUPO ABRIL ACONSELHA O USO DO GRAFFITI
EM BANCAS DE VENDAS DE JORNAIS E REVISTAS
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Interessante é que quando é pra vender mais revistas
a grafitagem é recomendada até pela FamíGlia Civita.
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A Treelog, empresa da DGB, holding de logística e distribuição
do Grupo Abril, indica o uso do Graffiti a donos de bancas:
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“Banca Grafitada Vira Point de Selfies e Aumenta Faturamento em 35%
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A estratégia do jornaleiro, além de agradar os consumidores, fez com que sua banca
virasse hit da internet: ‘Várias pessoas passam e fazer selfies em frente a pintura’.
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Ações como essa deixam uma marca positiva,
além de servirem de inspiração para outros profissionais do ramo.
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Você também pode mudar a ‘cara’ da sua banca
e aumentar a visibilidade dela em seu bairro.
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Invista em pinturas em grafite, coloque cores chamativas,
anúncios de revistas e decoração especial para datas comemorativas.
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Lembre-se de checar com a Prefeitura da sua cidade quais as restrições para bancas”.
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Íntegra da reportagem em: (http://www.treelog.com.br/noticias/conteudo_403139.shtml)
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(http://www.dgb.com.br/dgb)
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Mark Twain

A gente já vê na hora que o publiciOtário é reaça quando ele usa qualquer outra palavra diferente pra Pixo.

FrancoAtirador

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Gente Diferenciada acha que Graffiti é coisa de Vândalo.
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    FrancoAtirador

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    Mas esses mesmos diferenciados não consideram Vandalismo,
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    com a Cultura do BraSil, os áutidórs Mercantilistas Anglo-Saxões
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    estampados pelas esquinas das grandes cidades brasileiras.
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    FrancoAtirador

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    Que turista estrangeiro vai querer visitar uma cidade
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    que é cópia carbonada e suja de um país alienígena?
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    FrancoAtirador

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    Sim, porque os xópins cênters, por exemplo,
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    têm um padrão arquitetônico internacional
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    importado de países colonizadores do Norte.
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    FrancoAtirador

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    De repente, a Gente Diferenciada Paulistana do Tea Party braZil
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    quer aplicar à Capital Paulista os procedimentos policiais adotados
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    na cidade de Ferguson, no estado norte-americano do Missouri.
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    .
    Investigação do Departamento de Justiça dos United States
    .
    Concluiu que o Racismo Faz Parte da Rotina da Polícia Local,
    .
    em Particular Contra a Comunidade Negra no Missouri/U.S.A.
    .
    04/3/2015
    Agence France Presse (AFP)
    .
    Investigação Federal nos EUA confirma Racismo na Polícia de Ferguson,
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    Em Agosto, Polícial Branco Matou Jovem Negro que Estava Desarmado.
    .
    Relatório disse que Preconceito dos Policiais é ‘Rotina’ na Cidade
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    A investigação da Secretaria de Justiça dos Estados Unidos da América (EUA)
    deflagrada após a morte de um jovem negro por um policial em Ferguson (Missouri)
    concluiu que o racismo faz parte da rotina da polícia local, em particular contra
    a comunidade negra, revela nesta terça-feira (3) a imprensa norte-americana.
    .
    De acordo com o Relatório do Departamento de Justiça dos EUA publicado na quarta-feira,
    a Polícia de Ferguson Violou Regularmente os Direitos Constitucionais dos Cidadãos.
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    Após a morte do jovem negro Michael Brown, no dia 9 de agosto, que deflagrou uma onda de protestos, o governo federal determinou uma investigação paralela à realizada pelas autoridades locais.
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    Segundo “CNN” e “Washington Post”, o relatório concluiu que a polícia de Ferguson e a justiça local participavam de uma “rotina” de discriminação contra a população negra.
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    O documento destaca que entre 2012 e 2014, enquanto os negros respondiam por 67% da população, 85% dos automóveis parados pela polícia eram conduzidos por negros e 90% das pessoas convocadas ao tribunal eram negras, do mesmo modo que 93% dos detidos.
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    Em 88% dos casos de uso da força policial os suspeitos eram afro-americanos.
    O relatório afirma ainda que entre 2011 e 2013 os negros responderam por 95% das infrações nas ruas e por 92% das acusações por violação da ordem pública, revela Washington Post.
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    Em agosto passado, um policial branco matou Michael Brown, um jovem negro de 18 anos que estava desarmado. Um grande juri decidiu em 24 de novembro não processar o agente.
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    (http://www.letrasecifras.com.br/news/pt_br/investigacao_federal_confirma_racismo_na_policia_de_ferguson_nos_globo_com/redirect_21137186.html)
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