Stiglitz: Socorro aos bancos da Espanha não vai funcionar

Tempo de leitura: 4 min

por Tiziana Barghini, Reuters, via Huffington Post

O plano europeu de emprestar dinheiro à Espanha para salvar alguns de seus bancos talvez não funcione porque o governo e os credores do país estarão, na verdade, escorando uns aos outros, disse o prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz.

“O sistema… é, o governo da Espanha socorre os bancos espanhóis e os bancos espanhóis socorrem o governo da Espanha”, disse Stiglitz em uma entrevista.

O plano de emprestar 100 bilhões de e/uros (US$ 125 bilhões) à Espanha, acordado no sábado pelos ministros de finanças da zona do euro, foi maior do que muitas estimativas a respeito das necessidades dos bancos espanhóis que foram atingidos pelo estouro da bolha imobiliária, pela recessão e pelo desemprego em massa.

Se for requisitado em sua totalidade por Madrid, o socorro vai somar outros 10% à relação dívida-PIB da Espanha, o que já se esperava que chegasse a quase 80% no fim de 2012, um aumento com relação aos 68,5% do fim de 2011. Isso pode tornar mais difícil, e mais caro para o governo vender títulos a investidores estrangeiros.

Como os bancos espanhóis, inclusive do Banco da Espanha, são os principais compradores da nova dívida  – de acordo com  relatório do Banco Central da Espanha – o risco é que o governo tenha que pedir socorro às mesmas instituições que está planejando ajudar agora.

“É a economia vodu”, disse Stiglitz em entrevista na sexta-feira, antes do fechamento do acordo do fim de semana para ajudar a Espanha e os bancos do país. “Não vai funcionar e não está funcionando”.

Ao contrário, a Europa deve acelerar a discussão a respeito de um sistema bancário comum, disse ele. “Quando uma economia entra em queda, não existe meio de sustentar políticas que restaurem o crescimento sem algum tipo de sistema europeu”.

Stiglitz, ex-conselheiro econômico do presidente americano Bill Clinton, é um velho crítico dos pacotes de austeridade. Ele também escreveu um livro atacando o Fundo Monetário Internacional pelas políticas que impôs aos países em desenvolvimento como pré-condição para aprovar empréstimos de emergência.

O que a União Europeia fez até o momento foi mínimo e errado em sua direção política porque medidas de austeridade para restaurar o risco têm como efeito a redução do crescimento e o aumento do endividamento, disse ele.

“Ter barreiras contra o fogo quando você está jogando querosene no incêndio não vai dar certo. Você tem que enfrentar o problema subjacente e no caso, você precisa promover o crescimento”, disse Stiglitz.

Pelo contrário, reformas de grande alcance para transformar a Europa em uma união fiscal são necessárias para resolver a crise da dívida, reforçar a moeda única e em última análise, ajudar a Alemanha que como país rico da união, terá que pagar o preço mais caro para garantir qualquer dívida emitida em conjunto e prover mais recursos para estimular o gasto público.

“A Alemanha continua dizendo que o fortalecimento está na disciplina fiscal, mas este é um diagnóstico totalmente errado”, afirmou Stiglitz.

A Alemanha deve propor, no fim de junho, um mapa do caminho em direção a uma união fiscal europeia, mas Berlin prefere título europeus conjuntos, garantidos por todos os governos da área, apenas como objetivo de médio prazo, somente quando outros países tenham resolvido o problema do alto endividamento e reduzido os déficits orçamentários com medidas de austeridade e, portanto, não estejam mais contando com o apoio dos bolsos profundos de Berlin.

“Os eurobônus são apenas um arranjo institucional que poderia funcionar, mas existem outros: um tesouro comum”, disse Stiglitz, acrescentando que, em última instância, “terá que haver uma maneira de aumentar a receita em toda a Europa, para sustentar os países mais fracos em caso de queda da economia”.

Enquanto as economias da Espanha, da Grécia, da Itália e de Portugal estão contraindo, a Alemanha cresceu 0,5% no primeiro trimestre. A divisão na zona do euro muitas vezes reflete programas de austeridade para combater dívidas e déficits.

Críticos já disseram que o foco no corte de gastos está agravando a crise da Europa e colocando em risco o futuro da moeda comum. As eleições na Grécia, na semana que vem, podem levar ao poder partidos que são contra as duras condições dos programas de socorro da União Europeia e do FMI e criam a possibilidade da Grécia deixar a zona do Euro.

“A Alemanha terá que enfrentar a questão, eles querem pagar o preço que virá da dissolução do euro ou eles querem pagar o preço de manter o euro vivo?” disse Stiglitz. “Eu acho que o preço que eles pagarão se o euro ruir será maior do que o preço que eles pagarão para preservar o euro. Espero que eles se deem conta disso, mas talvez eles não percebam”.

O último livro de Stiglitz, “O Preço da Desigualdade: Como a Sociedade Dividida de Hoje Ameaça nosso Futuro”, será publicado na segunda-feira. Ele desafia a ideia de que a desigualdade é um mau inevitável e necessário para sustentar a expansão econômica. “Nós poderíamos ter mais crescimento e menos desigualdade”, disse Stiglitz, “então, poderíamos ir melhor nas duas dimensões, simultaneamente”.


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Comentários

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Jotace

FALÊNCIA (DISFARÇADA) DA ESPANHA (2)

propósito, lembro um notável artigo do Mauro Santayana, republicado pelo Viomundo em 18 de março passado sob o título ‘Telefónica recebe recursos do BNDES, demite milhares, e ainda pede à ANATEL para alienar o patrimônio do povo’. Ou será que, no elenco da pirataria espanhola, seria a Telefónica caso único? Assim, me parece que a grande solução para a crise da nação poderia independer de maiores estudos das ciências econômicas: seria a ação do tão decantado patriotismo do povo espanhol sobre os seus grandes empresários. Dependendo de como fosse tal ação ela poderia evitar que el-rey viajasse manco, a pedir ajuda, a beijar a mão de plebéias e impedido o pobre coitado, de retornar às suas grandes aventuras como um novo e impagável Tartarin de Tarascon… Jotace

Jotace

FALÊNCIA DA ESPANHA?

Pessoalmente não acredito que aconteça, pois a nação colonialista da Espanha vai aumentar ainda mais sua tradicional e centenária pirataria na América Latina e Caribe. A pilhagem dos bancos, editoras, telefônicas, mineradoras etc. etc vem se ampliando nos países dessas regiões, inclusive Brasil e numa escala cada vez mais crescente. Como sempre, conta com todo apoio dos vendepátrias e oligarcas, apoiados pela grande mídia. Jotace

Mardones Ferreira

É preciso dar nomes aos bois, pois quem está por trás da Alemanha? A sra Merkel é um fantoche de grupos que apoiaram a sua eleição. Isso é norma para toda representação política.

Os bancos seguem inflexíveis, pois têm os cofres públicos para socorrê-los sempre que suas apostas dão erradas, como no caso da bolha imobiliária.

Recusar a receita de austeridade do FMI e do BCE é fundamental para superar a crise e criar mecanismo mais eficientes para a UE. A eleição na Grécia precisa dar mais força a essa via.

Roberto Locatelli

A solução é simples: estatização de todos os bancos. Mas, voltando ao mundo real… a Espanha comerá o pão que o deus mercado amassou.

    Antônio Lange

    Resposta muito simplista. Bancos estatais são fonte de corrupção de todo tipo. Certa vez me candidatei a trabalhar no BNB e o gerente que me atendeu perguntou-me se eu tinha carta de apresentação de algum deputado ou outro político. Eu disse que não, então ele respondeu que eu não teria chance.

    flavio jose

    Simplorio demais para ser real. Se não fosse a solidez do Banco do Brasil e da Caixa Economica Federal, nos estariamos em situação bem proxima da europa.

    Roberto Locatelli

    Como disse o Flavio José, O Banco do Brasil e a Caixa é que forçaram a abertura do crédito em 2008, e agora também. Sem esquecer do BNDES, que teve o mesmo papel em outro nível.

    José Ruiz

    Estado corrupto é um problema de gestão, não de modelo..

    Stenio

    O Locatelli está certo, lembrando que a legislação penal deve conter penas severas contra as fraudes e desvios. Gostaria de lembrar que a estatização está nos planos de governo do Partido SYRIZA.
    Conforme é do conhecimento dos Srs, os Bancos Espanhóis receberam das autoridades monetárias 100 bilhões de Euros. Mais detalhes no link abaixo.
    http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-06-09/governo-espanhol-anuncia-ajuda-de-ate-100-bilhoes-de-euros-para-saneamento-do-setor-financeiro
    Pois bem, acredite se quiser, a situação da Espanha piorou depois que recebeu esse dinheiro… sabe porque ??? Eles trancaram o dinheiro no cofre do BANCO !!! Dá pra acreditar ???? Só existe uma maneira de acabar com essa “crise” fabricada pelos bancos particulares: Pegar de volta esses 100 bilhões de Euros e abrir um Banco Estatal, ai sim, eu quero ver esse dinheiro não circular !!!!!!!!!!

    Desde 2008 que os bancos recebem dinheiro do governo e deixam guardados no cofre.

    Os Bancos Americanos já receberam do Governo Federal 11 trilhões de Dólares e estão sentados em cima dele; da mesma forma os Banco Europeus já receberam 6 trilhões de Euros e estão sentados em cima dele.

    A crise financeira na Grécia, Espanha, Portugal, Itália será facilmente debelada, mel na chupeta, se os governos desses países, abrirem Bancos Estatais com as verbas que receberem.

    Uma boa noticia é que o plano de governo do partido grego SYRIZA, prevê no item (D), sub-item (x), (conforme link abaixo) a Estatização dos bancos que forem recapitalizados com dinheiro público. Estou torcendo que eles ganhem as eleições domingo 17/06/2012. Vai ser um paradigma para o mundo.

    http://www.globalresearch.org/index.php?context=va&aid=31378

    Roberto Locatelli

    Caramba, essa informação eu não tinha!! Bem típico de banqueiro, que só pensa em salvar seus bilhões, e dane-se a população.

    abolicionista

    Stênio, suas informações são excelentes! Obrigado. Contudo, mesmo que o Syriza ganha a eleição, será que eles cumprirão o que dizem? Quer dizer, o Papandreu era do partido socialista… De todo modo, está claro que os Gregos não aguentam mais serem saqueados em nome de “políticas de austeridade”.

    Fabio Passos

    Falou e disse, Locatelli.

    A estatização completa do sistema financeiro é a solução.

    A realidade é que não há verdadeiros representantes da sociedade no poder.
    Esta “democracia ocidental” é uma completa fraude.

    A banca vai continuar sugando até arrasar completamente o hospedeiro.

    Roberto Locatelli

    Verdade, Fabio.

    Quando a presidenta orientou que o BB e a Caixa baixassem seus juros, eu estava torcendo para que os bancos privados NÃO acompanhassem e muitos clientes migrassem para os dois bancos estatais. Mas os banqueiros não são bobos. Escolheram o prejuízo menor, ou seja, baixaram seus juros também.

    Atualmente, 43% a 44% dos depósitos bancários brasileiros estão em bancos estatais. O ideal é chegarmos a, pelo menos, 60%. Aí estaremos mais protegidos contra esses salafrários que são os banqueiros. Mas repito, o certo mesmo seria estatizar 100% dos bancos.

    Paciente

    As conseqüências politicas é que preocupam. De um modo geral, as pessoas sabem que a roubalheira come solta, que a democracia é um “me engana que eu gosto” e que o patrão burguês esta sugando a alma dele, mas se conforma. “Ele me deixa viver” – pensa.

    O problema é quando ele se dá conta que é roubado, é sugado, democracia é uma porcaria que não funciona (nunca funcionou…) e que… não lhe deixam mais viver!

    Em tempos de internet, fica difícil aceitar que mandatos políticos sejam de mais que dois anos, que plebiscitos não aconteçam todo mês e que pelo menos um terço do Congresso não seja eleito por sorteio. Congresso é pouco mais que uma reunião de acionistas…

    Roberto Locatelli

    Prezado Paciente.

    Por isso é que na Venezuela existe o referendo revocatório. É assim: depois de dois anos de mandato, o povo vota para dizer se o presidente está ou não fazendo um bom governo. Se ganhar o NÃO, o mandato do presidente é imediatamente extinto e convocam-se novas eleições. Até agora, o SIM sempre venceu.

ZePovinho

‎”…As apostas derivativas de US$230 TRILHÕES dos bancos estado-unidenses, concentradas em cinco bancos, são 15,3 vezes maiores do que o PIB dos EUA. Um sistema político fracassado que permitiu bancos desregulamentados colocarem apostas descobertas 15 vezes maiores do que a economia dos EUA é um sistema que está destinado ao fracasso catastrófico. Quando se divulgar a fantástica falta de juízo dos sistemas político e financeiro americanos, a catástrofe estará pronta a tornar-se realidade”. ..(PAUL CRAIG ROBERTS)

Colapso financeiro à vista:Quando é o “mais cedo ou mais tarde”?

http://resistir.info/crise/colapso_05jun12.html

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