Bancários de São Paulo querem mais saúde, menos metas abusivas

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Sindicato dos Bancários de São Paulo lança campanha “Menos Metas, Mais Saúde”

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região organizou e lança no próximo dia 07 de abril (Dia Mundial da Saúde) mais uma campanha que visa, sobretudo, trazer para a ordem do dia a questão do elevado grau de adoecimento da categoria bancária e a relação desse adoecimento com a cobrança e pressão pelo cumprimento de metas abusivas.

Trata-se da campanha “Menos Metas, Mais Saúde”.

A preocupação do Sindicato dos Bancários com a saúde dos trabalhadores tem sido uma política constante em sua atuação cotidiana nos locais de trabalho, seja organizando campanhas específicas – por exemplo, a Campanha de Combate ao Assédio Moral “Saia do Isolamento” lançada em 2009 -, seja pautando as questões de saúde e trabalho na Campanha Nacional dos Bancários a cada ano, nos coletivos sindicais mantidos pela entidade como o Grupo de Ação Solidária em Saúde – GASS, Coletivo de Cipeiros, bem como a atuação nos espaços públicos institucionais (SUS, INSS, Conselhos, ANS, Parlamento, Ministérios, etc.)[1], sempre em conjunto com a nossa Central Única dos Trabalhadores – CUT.

Quando afirmamos que a categoria bancária adoece por conta das condições de trabalho a que são submetidas e pelas novas formas de se gerenciar o trabalho – em agências, departamentos, postos de atendimento, matrizes, terceirizados, – afirmamos com muita propriedade, com amparo estatístico e acadêmico, por conta do atendimento diário que o Sindicato oferece para os trabalhadores, cursos de formação político-sindical, reuniões nos locais de trabalho e também por intenso contato do Sindicato com a sua base social, por intermédio do que chamamos de “trabalho de base”.

A título de ilustração da gravidade que envolve os acidentes e adoecimentos relacionados com o trabalho, segundo dados da Previdência Social, no período de 1999 a 2003, foram registrados 1.875.190 acidentes do trabalho, sendo 15.293 com óbitos e 72.020 com incapacidade permanente. Neste período, o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) registrou 105.514 casos de doenças relacionadas ao trabalho, concedeu 854.147 benefícios por incapacidade temporária ou permanente provocada por acidentes de trabalho, totalizando uma média de 3.235 auxílios-doença e aposentadoria por dia útil (BRASIL, 2004, 2005)[2].

Em 2008, foram registrados 747,7 mil acidentes do trabalho. Na distribuição por setor de atividade econômica, o setor de indústrias respondeu por 46,1% do total de acidentes do trabalho, o setor agrícola com 3,9% e o setor de serviços com 50%. No setor de serviços estão incluídos os bancários. Ainda, de acordo com a informação da Previdência Social, os subsetores “atividades financeiras e de seguros” responderam por 12,8% do total das doenças relacionadas com o trabalho.

Como podemos detectar pelas estatísticas do INSS, o setor financeiro, além de gerar lucros bilionários, também “produz” milhares de trabalhadores acidentados e adoecidos por conta do trabalho.

E por quais razões bancários e bancárias adoecem a cada dia?

Detectamos que o mal está no ambiente de trabalho. Nos anos 80, o foco do sindicato para o combate à LER (lesão por esforço repetitivo) , por exemplo, era a melhoria das instalações físicas dos bancos, como a adequação ergonométrica do mobiliário. Alguma coisa até mudou neste sentido. No entanto, a epidemia de LER não diminuiu e até se aprofundou. Verificamos que a questão passou a ser a gestão e a organização do trabalho, com sobrecarga de tarefas, extrapolação da jornada de trabalho, ritmo acelerado, num mundo de metas, pressões, assédio moral e muitos produtos a serem vendidos.

Além dos casos de LER que ainda persistem entre os bancários, gerando afastamentos, restrições laborais e impactos na vida cotidiana dos trabalhadores (exemplo: problemas afetivos, de relacionamento, retorno ao trabalho, discriminações, etc.), a categoria passa a sofrer com os transtornos mentais – TM relacionados com o trabalho, como depressão, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, transtorno bipolar, entre outros males.

Os transtornos mentais na categoria bancária possuem estreita relação com o processo, organização e execução do trabalho bancário na atualidade. A pressão, o aumento da produção, da automação, a ameaça constante do desemprego, inseguranças, metas que são estabelecidas de “cima para baixo”, ambiente de trabalho pautado pela competição em detrimento de valores como solidariedade e companheirismo, assédio moral, assaltos e sequestros, são alguns dos ingredientes propícios para o adoecimento mental entre os trabalhadores do ramo financeiro.

O panorama do adoecimento na categoria bancária já está dado e é algo conhecido por muita gente, pelos sindicalistas, por especialistas, por órgãos de governo, e o mais importante: pelos próprios trabalhadores vitimados por acidentes e adoecimentos relacionados com o trabalho.

O desafio está colocado: como interferir no processo de trabalho bancário atual no sentido de transformar ambientes de trabalho doentes em ambientes saudáveis, com a possibilidade de controle, pelo trabalhador, do modo operatório, conteúdo e ritmo no sentido de tornar a atividade laboral mais prazerosa, além de permitir melhor defesa e estruturação física e psíquica? (Dejours – 1992) [3]

Walcir Previtale – bancário do Bradesco – Secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região – CUT

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[1] SUS: Sistema Único de Saúde.

INSS: Instituto Nacional do Seguro Social

Conselhos: Conselho Municipal de Saúde/Estadual/Nacional

ANS: Agência Nacional de Saúde Suplementar

[2] BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério do Trabalho e Emprego. Ministério da Previdência e

Assistência social. In: ______. CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR, 3.

2005. Trabalhar sim! Adoecer não!: Coletânea de textos. Brasília, 2005.

[3] Dejours, C. A loucura do Trabalho. São Paulo: Cortez, 1992.


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Comentários

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Paulo

O banco onde trabalho estah gastando milhões para melhorar o atendimento ! Mas esqueceram de melhorar também o salário !

Metas abusivas e baixissimo salário na ponta ! Eh uma maquina de concentração terrivel de renda e uma maquina de adoecer as pessoas !

Ana

Para Ubaldo:
O governo estadual já está minado.
Assim como os funcionalismo público estadual.
Quanto à sua crítica à "premiação por mérito", pesquise um pouquinho mais, vá até as escolas, leia, conheça. E depois julgue, com consciência.

Ubaldo

Sindicato dos Professores, Sindicato dos Bancários, Sindicato dos Policiais Civis e por aí vai……parece até que essas greves são orquestradas e incitadas pela CUT para tentar minar o governo estadual.
Interessante que não há greves na iniciativa privada.
No caso da greve dos professores eles não querem a premiação por mérito. Estranho, não?

    Mário

    Por que deixam passar os comentários cretinos de canalhas do naipe desse Ubaldo? Como ex-bancário eu posso afirmar que o ambiente de trabalho no setor financeiro hoje é pior do que nunca. Parece até os primórdios do capitalismo, quando os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho desumanas.

    Atualmente, os bancários são submetidos a um ambiente de trabalho estressante que lhes mina a saúde. No Banco do Brasil, onde trabalhei, quase 1/3 dos bancários da ativa apresentam problemas, dos quais os mais comuns são problemas psicológicos como depressão (devido às cobranças implacáveis), Lesões por Esforço Repetitivo, Diabetes e Hipertensão.

    Os salários estão deprimidos, exceto, é claro, para a cúpula que percebe salários dignos de dirigentes de multinacionais. E o número de trabalhadores, que hoje pouco mais de metade do que havia cerca de dez ou quinze anos atrás, tem de arcar com uma jornada de trabalho muitíssimo mais intensa.

    E diante desse quadro, um patife como esse tal Ubaldo faz esse tipo de acusação. Certamente é um desses vagabundos filhinhos de papai que não trabalha.

    VAI TRABALHAR, SEU PALHAÇO!

    Christian Schulz

    Eis um notório cagão.

    Não tem escrúpulos de cuspir no semelhante para ganhar um troco. Agradar o patrão, pisar no empregado, que mal tem, né?

    Deve ser o primeiro na genuflexão ao chefe, se é que trabalha.

    Graças ao acúmulo de gente como você, "Ubaldo", a iniciativa privada não pode mais fazer greve: é demitida no ato. Lembre-se que as grandes greves no fim da sua querida "ditabranda" surgiram nas grandes empresas privadas, metalúrgicos à frente. Os funcionários públicos eram proibidos de reivindicar qualquer coisa. Hoje a ditadura está instalada no capitalismo-barbárie, com o apoio do lumpesinato.

    Mas não se preocupe com a greve dos bancários: ela será, como sempre, em fins de Setembro, começo de Outubro. A data-base do setor é 1º de Setembro, logo…

    Dentro de meio ano, portanto, você poderá fazer algum contorcionismo de "raciocínio" para dizer que a greve dos bancários é orquestrada para prejudicar o perdedor Serra. Como se as gengivas dele (e o que sai delas) não fossem o suficiente para tanto…

    A propósito, "Os Cagões" era como o velho Adolpho Bloch se referia aos Civita, em razão da renúncia destes ao judaísmo, em New York, por medo da perseguição de Hitler ao Povo Escolhido… na Europa! Ou seja, a 10000Km de distância, os fundadores da Abril resolveram seu "pequeno" problema de adaptação ao Nacional-Socialismo abdicando, a um só tempo, de suas origens, religião e tradições, em favor do que aparentava ser a Nova Ordem Mundial (só não me pergunte de que mundo!). Que medão, hein?

    Nessa mesma época, o ateu Sigmund Freud passou a reforçar, em seus escritos e suas falas, a sua própria origem judaica. Não como religião, mas como forma de rejeitar claramente o desastre do nazismo.

    Vê aí com quem você se identifica mais, os Civita ou Freud. Eu já fiz minha escolha…

vitor hugo

Eu, como cliente do banco, vejo as coisas de fora. ultimamente tenho percebido a redução do pessoal que faz o atendimento.
Tenha como exemplo os caixas de atendimento, em que se fazem saques de maiores dígitos, pagamento de contas. Antigamente nas agências havia muito mais pessoal nesse setor, por exemplo o antigo BESC na minha cidade tinha 10 caixas, que em dias de pagamento eram todos ocupados. Hoje, infelizmente em muitas agências, o número desses não passa de três, sendo que quase sempre um ou dois não fazem atendimento, ou realizam outra função, criando imensas filas e muito estresse para quem atende e para quem é atendido.

em muitas agências com prédios imensos, como aqui em joaçaba, santa catarina, o espaço de fato utilizado se reduziu bastante,criando um imenso vazio atrás dos caixas. Dá a impressão que o banco está encerrando as atividades, mas muito pelo contrário, há cada vez mais o acúmulo de tarefas.

    laura

    O resultado da diminução de trabalhadores nos bancos é menos gente nos caixas e filas enormes para os clientes. Que trabalham pelos bancários, digitando em caixas e em casa.
    O cliente fica uma hora na fila( uma hora marcada no relógio) e as taxas cada vez mais caras. O problema é o monopóçlio e o acordo entre bancos. estes ganham cada vez mais. E vem a Dona Milú Vilella, os Bracher, falar em amor às criancinhas e à educação. tenho mais o que fazer.

Otávio

O Banco em que trabalho tem cerca de 25% das pessoas com algum problema de saúde ligada ao trabalho como a depressão ! Metas abusivas e assédio moral ! E também , baixíssimos salários ( na ponta é claro ).

O problema maior é que este procedimento descrito no texto acima é cultural do banco onde trabalho ! Mesmo que aconteça algo para melhorar a saúde as condições de trabalho do bancário a cultura organizacional impedirá ! São procedimentos nefastos enraizados e que demorarão muito tempo para serem mudados !

A única preocupação é com o lucro, o banco toma soluções pontuais e de baixíssimo custo que não melhora em nada !

Imagina no lugar onde vc trabalha lucrando algumas centenas de milhares de reais com o trabalho da equipe da agência e no final do mês o bancário ganha 2 salário mínimos ( 2 salários mínimos ) ! Nem no "Minha Casa, Minha Vida" poderemos comprar um imóvel se continuar desta forma ! É imoral !

Juarez Marques

Eu sou bancário e em 2009 tive um "Ataque Isquemico Transitório" que me deixou quatro dias hospitalizado fazendo todo tipo de exames, nos quais nada foi encontrado para explicar o ocorrido. Exceto pelo fato de na agência onde eu trabalhava mais da metade dos funcionários terem apresentado algum tipo de doença originária da maneira como atuam dois gerentes desta agência, um que está a mais tempo lá, todos sabem o mau que faz para o ambiente como um todo e nada é feito, pois quem deveria tomar alguma atitude é negligente, porque o tal gerente é o maior puxa saco que existe, agravando a cada dia mais a situação da saúde da agência, além das metas que não são alcançadas e aumenta-se a cobrança em função disto.

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