Globalização se volta para economias centrais e deixa o Brasil com a brocha na mão

Tempo de leitura: 5 min

Os dois querem se eleger com base na “recuperação”, que só acontece no Jornal Nacional

‘Prévia’ do PIB do Banco Central registra queda de 0,56% em janeiro. Manchete do G1

Tem Alguma Coisa Errada Com A Economia Brasileira

Fernando Grossmann, no Diário do Capital

As projeções mais recentes da Organização para o Comércio e o Desenvolvimento (OCDE) para o Produto Interno Bruto (PIB) global são bastante generosas para os capitalistas.

Se depender dos técnicos da OCDE a economia mundial vai surfar em altas ondas nos próximos anos.

Afinal, um crescimento acima de 3,6% nos próximos anos é para ninguém que deseja longa vida para o capital botar defeito.

São projeções tipicamente burocráticas. Uma inexplicada e monótona repetição da mesma taxa global durante quatro anos.

É como se o capital fosse uma máquina que os técnicos da OCDE colocam no piloto automático e pronto, o eterno presente plainando em céu de brigadeiro.

Pode-se assim especular impunemente sobre o crescimento esperado para cada uma das grandes economias dentro deste burocrático quadro de projeções.

Revela-se, então, que o crescimento não se reparte de maneira igual entre todas as economias. Existem as amaldiçoadas do sistema. Brasil e Rússia, por exemplo.

Observemos o que se reserva para a primeira, mais próxima para a maioria dos nossos leitores.

Ao contrário do crescimento da economia mundial a OCDE está mais pessimista com o Brasil do que os economistas nacionais. Veja o resultado do ano passado.

O IBGE já divulgou a estimativa fechada em 1% e a OCDE ainda continuava com 0,7%. Para 2018 a média do Banco Central do Brasil (boletim Focus) é de 2,87% e a OCDE fala em 1,9%.

A diferença é grande. O problema aqui, para o governo e seus capitalistas, é que as temíveis agências de classificação de risco confiam mais nas projeções da OCDE, FMI, Banco Mundial e outras instituições imperialistas.

Vejamos mais de perto alguns problemas da economia brasileira difíceis de serem superados.

É claro que haverá algum crescimento esse ano, como é apontado na tabela acima.

Afinal, se forem confirmadas as projeções da OCDE para a economia mundial não há nenhuma razão para que isso não aconteça.

Mas o problema não é a taxa do crescimento tomada isoladamente, mas o altíssimo grau de ociosidade da economia.

Muitos economistas argumentam que, diante de um nível de utilização da capacidade tão baixo, seria mais fácil haver recuperação porque não haveria necessidade de investimentos novos, quer dizer, ampliação da capacidade instalada.

Visão vulgar de quem acredita que não há nenhuma diferença entre crescimento do produto (sem acumulação) e crescimento com acumulação de capital.

Como se a produção capitalista tivesse como objetivo produzir apenas “massas de mercadorias” ou “bens”, na linguagem dos liberais neoclássicos e dos burocratas keynesianos, neomarxistas, etc.

É por isso que essa gente não enxerga muito bem por que desta vez temos uma crise diferente das que sempre ocorreram nos últimos setenta anos no Brasil.

Como essa confraria da economia vulgar poderia explicar a razão da abrupta queda da taxa geral de lucro da economia?

Como não dispõem de instrumentos teóricos adequados para isso, os mais afoitos preferem culpar a política anticíclica de Guido Mantega.

Mas essa era rigorosamente a única que poderia se contrapor a essa forte queda da pressão arterial do capital.

O problema de Mantega, como já analisamos em inúmeros boletins anteriores, é que uma coisa é aplicar política anticíclica em economias dominantes, outra em economias dominadas.

Com o agravante de que a natureza da queda da taxa geral de lucro na economia brasileira assume uma forma muito diferente do que ocorria nas outras crises do período pós-guerra.

Uma crise absolutamente endógena acompanhada de queda também abrupta da competitividade industrial nacional no comércio internacional.

Crise endógena, em primeiro lugar, encavalada, em segundo lugar, com fortes sintomas de enfraquecimento dos ventos da globalização na periferia dominada do sistema.

A globalização faz uma meia volta para o interior das economias dominantes (EUA, EU e Japão). China, México, Brasil, Rússia, ficam com a brocha na mão.

É por essa natureza particular da queda da taxa de lucro que a atual crise de valorização do capital no Brasil vem acompanhada, também, de inédito processo deflacionário.

Coisa absolutamente nova na economia brasileira do pós guerra.

Pela primeira vez uma crise econômica no Brasil se apresenta como uma estagdeflação. Não estagflação, como nas outras crises.

E nem como crise cambial, que era também uma característica marcante das crises anteriores com o setor externo, mas crise da globalização do capital.

A Crítica da Economia foi a primeira a diagnosticar e antecipar a forte deflação atual do IPCA, que fechou o ano de 2017 abaixo do piso da meta inflacionaria do Banco Central.

Os economistas ficam embasbacados com esse fenômeno deflacionário. É natural para quem não sabe como os preços se formam e, consequentemente, por que eles variam.

E se defrontam com o insolúvel mistério do Banco Central não estar conseguindo interromper a queda da taxa básica de juros (Selic).

E esse indecente governo aproveita o novo fenômeno para comemorar essa deflação e essa queda da taxa básica de juros como uma vitória da sua política monetária e fiscal, quando essa queda demonstra exatamente o fracasso e, principalmente a impotência dessa política dos tontos.

Estoura outro problema sério: a natureza particular da atual queda da taxa de lucro na economia brasileira aumentou descontroladamente o endividamento das empresas privadas.

A elevação geométrica da alavancagem financeira deixou a expansão da economia privada em banho-maria, ou num ritmo de quase estagnação.

Lembre-se que média histórica de crescimento do PIB brasileiro, de 1990 até agora, foi de 2,5% ao ano.

O que se verifica é que a queda dos preços e da taxa básica de juros, comemorada demagogicamente pelo governo e por sua mídia corrupta, não tem nenhum efeito na retomada dos investimentos.

A estagdeflação derrubou a Utilização da Capacidade Instalada da Indústria e a taxa de investimento em relação ao PIB.

Assim, o nível de desemprego da força de trabalho também continuará inabalável nos elevados níveis atuais se essa necessária retomada sincronizada dos investimentos e da reprodução ampliada não se efetivar.

Em resumo: o problema que deve ser avaliado neste momento para a elevação do nível de atividade e redução do não menos fantástico desemprego da força de trabalho na economia brasileira é mensurar o tamanho da recuperação da massa de lucros capaz de valorizar a imensa capacidade instalada ociosa.

Sem forte retomada dos lucros nunca ocorrerá recuperação e ampliação da capacidade instalada.

Com um problema adicional: a recuperação da massa de lucros tem que dar conta de ajustar os balanços financeiros das empresas.

Aparece então um elemento novo na crise da economia brasileira: ao invés de crise da dívida do setor público, como nas crises anteriores, uma crise da dívida do setor privado.

Esse é outro indicador do caráter endógeno da crise atual.

Voltaremos a esse assunto quando tivermos disponível a síntese dos balanços das empresas privadas do 4º trimestre de 2017, realizado pela empresa de consultoria Economatica.

Então, poderemos avançar, na análise da queda dos lucros antes dos juros, impostos, depreciação e amortização – sigla Ebdiba, em inglês, para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization.

E assim verificar melhor o impacto e a relação da profunda queda do Ebdiba desde o último choque global com o tenso endividamento das empresas privadas.

Leia também:

Mulheres ocupam Nestlé para protestar contra “roubo” da água


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Miriam Lopes

” … Ou a humanidade engendra um novo sistema econômico para viver ou então teremos no futuro um cenário do tipo retratado em filmes como Mad Max.” Ou seja, o capitalismo está na UTI e tem que morrer, pois dele não podemos esperar mais nada de útil é positivo para a humanidade. O capitalismo j deu o que tinha que dar e esse é o seu limite. Mas, como se transformou em uma religião, fica difícil aos seus clérigos e aos seus fiéis seguidores reconhecerem os erros de seus dogmas, pelo contrário vão, apesar das indicações contrárias, intensificá-los. Está cada dia mais difícil para a humanidade esperar que o capitalismo morra de causas naturais, pois já está sendo mantido por aparelhos há muito tempo. Para mantê-lo estamos fazendo transfusão de renda, de sangue e de vidas, da maioria da população mundial para meia dúzia de nababos idiotas que estão ficando cada vez maiores, tipo aqueles dinossauros gigantescos, e eles não se importam nem um pouco se por causa disso acabarem com a civilização, com o meio ambiente, com a vida no planeta terra. Não se importam de acaberem com nações e povos, de jogarem a humanidade em uma nova idade média ou em guerras mundiais intermináveis, pois esses idiotas pensam que com o dinheiro e poder que tem agora no momento poderão passar incólumes por tudo isso e que nada os atingirá. Assim também agiu o patriciado romano que empurrou o império romano ao seu fim.

Nelson

De outa parte, a “meia volta para o interior” de suas economias, dada pelos países citados, só reflete a monumental crise em que mergulhou o sistema capitalista. Uma crise insolúvel se se imagina que um sistema econômico deva ter, penso eu, como seu principal objetivo, a satisfação das necessidades mais básicas de todo e qualquer ser humano.

Crise insolúvel, porque o capitalismo não pode, não quer, sua lógica de acumulação de lucros infinita e sempre maiores em um número cada vez menor de mãos não permite, nem o atendimento dessas necessidades básicas a que todo ser humano tem direito.

Crise insolúvel, porque, ao exigir mais e mais lucros, o capitalismo pressiona pelo redução dos custos na outra ponta da produção, o que vai implicar em cortes de salários e de postos de trabalho. Isto vai redundar em redução da massa salarial e, por consequência, afundamento do mercado interno de que falei no início do primeiro comentário.

E isto que eu nem coloquei na discussão a monumental, horrorosa, crise ambiental em que estamos mergulhados. Outra vez, a lógica do
sistema capitalista não se coaduna, não tem como se compatibilizar com a necessária e inadiável preservação da nossa “Casa comum”, nos termos do Papa Francisco.

Assim, penso que o desafio já está lançado há bastante tempo. Ou a humanidade engendra um novo sistema econômico para viver ou então teremos no futuro um cenário do tipo retratado em filmes como Mad Max.

Nelson

“A globalização faz uma meia volta para o interior das economias dominantes (EUA, EU e Japão). China, México, Brasil, Rússia, ficam com a brocha na mão.”

E onde estão a mídia hegemônica e seus comentaristas, supostos especialistas em tudo, que fizeram e seguem fazendo de tudo para incutir na cabeça dos brasileiros que o Estado-nação se acabou, é coisa do passado?

E onde estão a mídia hegemônica e seus comentaristas, supostos especialistas em tudo, que fizeram e seguem fazendo de tudo para incutir na cabeça dos brasileiros que o chamado protecionismo não mais existe, que o livre comércio é tudo que podemos e devemos almejar para, um dia, chegarmos ao sonhado desenvolvimento?

Onde estão os que pregavam e seguem pregando a privatização de todas as empresas públicas/estatais, procurando nos convencer de que a iniciativa privada representa a cura para todos os males, que a iniciativa privada se transformou na pomada milagrosa, curando desde unha encravada até pigarro na garganta?

Sem um mercado interno encorpado, que possibilite a um país não sucumbir facilmente a crises internacionais, não há como resistir a elas sem danos bastante drásticos à economia local e ao tecido social, danos muitas vezes irreparáveis.

Pois, ainda que bastante incipiente, a formação de um mercado interno mais avantajado no Brasil – com o programa de renda mínima e a valorização do salário mínimo, entre outras medidas – era uma política correta implementada pelos governos do PT.

Mas, a mídia hegemônica e seus comentaristas, que não têm e nunca tiveram compromisso com as necessidades do povo brasileiro e do país, se subordinaram, uma vez mais, a interesses estrangeiros e, com estes, se acumpliciaram no golpe, contribuindo assim, sobremaneira, no recrudescimento da crise.

FrancoAtirador

O braZil passou de economia produtiva dominada pelo FED
à Economia Entregue ao Capital Especulativo Internacional

FrancoAtirador

https://twitter.com/ptbrasiI/status/976111269500604417

Deixe seu comentário

Leia também