Rogério Alcoforado: A greve é apenas por salários atrasados e governador nos tratou como bandidos

Tempo de leitura: 3 min

UERN: entre o sofrimento e a resistência

por Rogério Alcoforado*, especial para o Viomundo

24 de novembro de 2017, 20h. Eu tinha acabado de chegar em casa após vivenciar talvez a experiência mais revoltante da minha vida.

Estávamos em greve há 14 dias por salários atrasados — agora  já 45 dias! — e  o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD) tratou-nos como bandidos.

Além de solicitar à  PM para desocupar o  prédio da Secretaria de Planejamento (Seplan), onde nos encontrávamos, Robinson Faria ainda endossou a ação violenta contra pessoas que protestavam pacificacamente.

Foi terrível!

Ali presentes trabalhadores da saúde e da educação associados em um único pleito:  o recebimento de salários vencidos.

Contávamos com o apoio de representes da OAB, da AJD (Associação juízes pela Democracia), de movimentos sociais, uma vereadora de Natal e um deputado estadual do RN, alunos.

Fomos expulsos por policiais,  utilizando bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, cassetetes…

Os mesmos policiais que há cerca de 15 dias lutavam pelo recebimento de seus salários  e que agora também estão em greve.

Tudo aconteceu dentro de uma repartição pública, à noite, com cidadãos acuados.

A repartição fica suspensa e tem uma rampa de acesso frontal de pouca proteção… Houve pânico…O pior, certamente, poderia ter acontecido.

Os policiais vieram de dentro do prédio (acesso por portas internas).

Lá dentro,  senhores, senhoras, jovens, todos acuados. Fomos varridos, subjugados e expulsos pela PM, a serviço de um governo que se negava e ainda se nega a dizer quando os nossos salários serão pagos.  Somos milhares de pessoas nessa situação.

Sou professor do curso de Direito do campus de Natal, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN – desde 2008.

Vivemos uma verdadeira desconstrução, que fere brutalmente a nossa dignidade.

O que nos atinge agora vai dos salários atrasados à nossa dimininuição enquanto indivíduos violados em suas condições de vida (através de cinismo, violência e desprezo lançados por um governo intransigente, que não oferece soluções práticas e concretas).

Não é só. Passa pela desvalia da força real do trabalho. Nós, professores, estamos sem sequer reposição salarial há 6 anos!

É esse selo, como se disse acima, uma representação da condição dual que nos envolve: sofrimento e resistência – uma greve que busca o mínimo, apenas o direito de recebermos nossos salários em dia e que seja apresentado um cronograma sério, claro e bem estruturado dos pagamentos futuros.

Nossa greve é uma greve para receber salário, APENAS!!!

A UERN é um patrimônio do RN.

Está espalhada por todo o Estado. Tem seis campi  (o central e outros cinco) e vários núcleos de ensino.

Segundo a nossa página oficial na internet (dados de 2015),  a UERN tinha cerca de 2 mil servidores, entre professores e técnicos, mais de 12 mil alunos.

A nossa IES tem papel decisivo na formação de professores por todo o estado através do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR – consolidado.

Dentre outros dados importantes, apresenta o curso de Direito com classificação entre dez melhores cursos de Direito do País em aprovação na OAB.

Na contramão de uma instituição de educação superior pública tão relevante , é revoltante a forma como tudo vem sendo conduzido por parte do governo do RN.

Nós, servidores da UERN, acabamos de receber os salários de outubro no último dia 08/12. Os atrasos já se repetem por 23 meses.

Importante salientar que a Saúde do estado passa pelos mesmos problemas no tocante ao atraso dos pagamentos, e seus servidores também estão em greve.

São nossos parceiros na luta, desde o início.

O governo Robinson Faria, por sua vez, mantém-se irredutível e insensível.

O episódio de desocupação forçada da SEPLAN, na noite de 24 de novembro, ficará gravado em nossas memórias.

O nosso movimento grevista — dos servidores da UERN e os da Saúde do RN —  continua.

Não há expectativa concreta de recebimento de nossos salários.

Resistiremos!

*Rogério Alcoforado é professor do curso de Direito (Campus de Natal), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). 

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Comentários

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Rogerio

O Júlio César de Oliveira disse tudo. Bateu panela? Está aí o que vocês queriam. Tchau, queridos!

Jefferson

Lamentavelmete, o RN chega em um citução dos salarios dos pobres servidores do rn em cituação de miséria, fome, doênca, segurança e calamidade pública na saúde. Toda miséria que pode trazer fome e a guerra para eles pobres servidores, passando fome nos semaforos para poder ver se consegue sua subsistência.

JULIO CEZAR DE OLIVEIRA

pois é cara,parece que vi uma professora em um trem dizer exatamente isso.
_tiraram o emprego,mas eu não me importei,porque não era comigo.
-tiraram direitos,mas eu não me importei porque não era comigo.
-tomaram até a moradia,mas eu não me importei porque não era comigo,tenho minha casa.
Agora estão me destruindo,mas como não me importei pelo meus semelhantes ninguém se importa comigo.
Foi mais ou menos assim,mas é fácil peguem suas panelas amassadas e gritem,fora dilma.

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