“Regimes ditatoriais são fundamentais para o equilíbrio dos EUA”

Tempo de leitura: 2 min

por Luciana Lima, repórter da Agência Brasil, via Vermelho

Embora ainda se considere cedo para analisar as relações entre as recentes revoltas populares, a combinação entre a rapidez da comunicação no mundo globalizado, o empobrecimento relativo de algumas regiões da Europa e até mesmo a resistência do mundo ocidental ao programa nuclear iraniano têm influenciado diretamente a “onda democratizante” nos países árabes.

Para o professor Carlos Eduardo Vidigal, doutor em Relações Internacionais e professor de História pela Universidade de Brasília (UnB), é certo que há um “efeito dominó” influenciado por esses e outros fatores, mas é incerto o futuro desses países e a nova configuração geopolítica do mundo árabe. “São anos de regimes autoritários, muitos deles contando com a simpatia norte-americana. Há um choque entre a manutenção desses regimes e o mundo globalizado, com tamanha velocidade de informações”, comentou.
O primeiro governo a ruir diante das manifestações populares foi o da Tunísia, que hoje está sob um governo de transição. As revoltas culminaram com a deposição do presidente Zine El Abidine Ben Ali, que foi obrigado a deixar o país após 23 anos no poder. No Egito, os protestos levaram à renúncia o presidente Hosni Mubarak, há 30 anos no poder.

Neste domingo (13), em mais um “Dia da Raiva”, manifestantes no Yemen exigiram a saída imediata do presidente Ali Abdullah Saleh, que está no poder há 32 anos. Abdullah Saleh já anunciou que não diputará as eleições presidenciais em 2013, mas os manifestantes querem sua renúncia imediata, como fez o presidente do Egito.

Na Argélia, mais de 3 mil argelinos se concentraram na Praça Primeiro de Maio, pela redemocratização do país, no entanto a polícia conseguiu impedir que os manifestantes percorressem as ruas da cidade contra o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, que governa o país desde 1999. O movimento de oposição argelino já está organizando uma marcha para o próximo sábado (19).

Para Vidigal, as redes sociais representam um fato novo com grande influência nesse processo. “O uso das redes sociais para as mobilizações, sem dúvida alguma, é um fato novo, como também é um fato novo o surgimento de democracias verdadeiramente populares”, destacou o professor.

“No Brasil, por exemplo, temos uma democracia que coexiste com a miséria, com muitos grupos empobrecidos. A princípio, vejo essas revoltas como algo positivo. A expectativa é que isso se transforme em uma melhor distribuição de renda. Mas é preciso ficar atento porque o povo nas ruas não agrada muito a qualquer governo, nem mesmo aos regimes democráticos”, criticou.

Nesse contexto, para o professor, os Estados Unidos têm muito a perder com uma reconfiguração do mundo árabe. “Os atuais regimes ditatoriais são fundamentais para o atual equilíbrio dos Estados Unidos. Um exemplo disso é o que ocorre na Arábia Saudita. Além da questão econômica, essas revoltas também podem despertar um sentimento de nacionalismo contrário aos Estados Unidos, o que seria contraproducente para os negócios norte-americanos.”

As sanções internacionais ao programa nuclear iraniano influenciaram as revoltas, na opinião de Vidigal, ao criarem a simpatia dos povos árabes ao programa do país persa. “Há o seguinte questionamento: Por que outros países puderam desenvolver seus programas nucleares, e até mesmo chegar ao artefato atômico, sem sofrerem pressão do Conselho de Segurança da ONU, liderado pelos Estados Unidos, França e Grã Bretanha?”, analisou. “Existe um sentimento de solidariedade com o Irã, mesmo não sendo um país árabe”, destacou.


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Comentários

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Colin Brayton

Há vozes dentro de nosso governo avisando do perigo desse fato, que fica universalmente percebido por elementos democraticos nos paises em questão. A repressão de Mubarak foi que tornou os Ikhwan as-Safai em radicais — produzindo o No. 2 de al-Qaeda, por exemplo. A história se repete na Árabia Saudita, cuja religião de estado foi invocada pelos criminosos de lesa-humanidade do 11 de setembro para justificar a guerra total contra inocentes. Fala-se de "blowbck" — saindo pela culatra. Ou estamos prontos a começar um novo ciclo de "blowback" ou, essa vez, aprendemos a lição e muda a estrategia …

Carlos

Considero graves as declarações desta senhora Clinton e outros americanos sobre a derrubada do governo iraniano eleito pelo povo. Fala-se em fraude eleitoral. Fraude houve, por exemplo, aqui no Brasil em 1989. Isto sem contar em Honduras, há pouco tempo atrás. E ainda nas eleições Bush/Al Gore. Estou sentindo que os ianques querem passar o trator no mundo. E as pessoas no mundo não estão atentando para isso. Estas "falas americanas" não são normais.

Herbert

De fato é impressionante como os lideres do ocidente 'desenvolvido' silenciaram frente à ditadura no Égito e em outros países arabes. Por conveniências politicas e econômicas – e descaso mesmo – acobertaram esses regimes em defesa da 'ordem' econômica mundial. O Tabuleiro político faz com que esses lideres sejam cinícos e tão despotas quanto aqueles ditadores de plantão. O desdobramento do que vem por ai no mundo arabe em ebulição é uma incognita. No vácuo de poder tudo pode surgir: forças democráticas em processo de engatinhamento ou sentimentos nacionalistas extremados incorporado em lideres com discursos messiânicos. É torcer para que o jogo democrático prevaleça.

Rodrigo Prado

O texto é bom em levantar as revoltas que ocorrem no Oriente Médio. Porém, querer ligar isso ao fato das sanções que o Irã recebeu do Conselho de Segurança parece forçar a barra.
Não há nada no texto que fortalece essa conclusão, é apenas opinião do Prof. Vidigal.

Antonio Alves

Os artigos postados aqui no blog normalmente nos passam a impressão que DEMOCRACIA se reduz apenas à ELEIÇÕES. Por conta dessa idéia, a direita tem apresentado pesquisas onde boa parte do povão quer a volta da ditadura. Democracia não se reduz à eleições. Temos que democratizar a propriedade rural, urbana, democratizar a informação, etc.
O que atrapalha os interesses estado-unidense não são exatamente as DITADURAS e sim os governos INDEPENDENTES, não importa o regime. No entanto, a mídia regional e mundial, nos passam a idéia de que os Estados Unidos são os guardiões da democracia e da liberdade no mundo e assim, a partir dessas "informações", nós, impuros e INCIRCUNCISOS formamos "NOSSAS" opiniões. Estamos agora aqui nessa TRINCHEIRA do Azenha buscando desconstruir essas falsidades e construirmos um país verdadeiramente INDEPENDENTE E DEMOCRÁTICO.
A mídia agora, coloca a secretária de Estado norte americana, AMIGA DO DITADOR MUBARACK, para falar em democracia para o INDEPENDENTE Irã. Assim

Pedro

O declínio das ditaduras tem muito a ver com a crise do império.

Marat

Para o império do IV Reich prosperar dentro de suas fronteiras, eles precisam de ditaduras, de escaramuças, de guerras e de muito derramamento de sangue. Esse império, o mais sórdido que o mundo já viu, não consegue conviver pacificamente com os demais países, nem consegue respeitar soberanias alheias.

Pedro Luiz Paredes

Eu acho que isso não é mais fundamental como era antes e a tendência é de cada vez ser menos.
O Obama só esta antecipando a tendencia.
Bomba atômica?
Que bomba?

ZePovinho

Depois não acreditaram quando dissemos que a CIA é um dos maiores traficantes de drogas do planeta.Alem disso,o objetivo da CIA na Colômbia é controlar o negócio do tráfico de cocaína para,com os lucros,financiar golpes de estado,movimentos secessionistas(como o do Sudão do Sul) e as famosas operações encobertas(covert actions):
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=7

Argentina confisca armas e drogas em avião militar dos EUA

A alfândega argentina confiscou armamentos pesados, drogas e equipamentos de logística norte-americanos, não declarados, que chegaram na última quinta-feira (10/2) ao país, em um carregamento oficial da Força Aérea dos Estados Unidos.
De acordo com a chancelaria argentina, o país formulará uma queixa e investigará os motivos pelos quais o Departamento de Estado norte-americano tentou violar as leis do país com o envio de material não declarado. Por sua vez, o Departamento de Estado norte-americano nega irregularidades.

Segundo o Ministério de Relações Exteriores da Argentina, o avião cargueiro C-17 Globemaster III norte-americano trazia materiais que seriam utilizados em um treinamento para o resgate de reféns oferecido pelo governo dos Estados Unidos ao Grupo Especial de Operações Especiais da Polícia Federal Argentina (GEOF).

Os itens apreendidos, no entanto, não foram declarados pela embaixada americana na especificação do material que seria utilizado no curso. “Uma vez que a alfândega realizou a verificação da carga” com os devidos critérios que se exige para um “material classificado como de guerra”, “foi descoberto que boa parte da carga não figurava na lista de ‘boa fé’ fornecida pela embaixada”, informou a chancelaria…………………..

Gustavo Pamplona

“Os atuais regimes ditatoriais são fundamentais para o atual equilíbrio dos Estados Unidos. Um exemplo disso é o que ocorre na Arábia Saudita. Além da questão econômica, essas revoltas também podem despertar um sentimento de nacionalismo contrário aos Estados Unidos, o que seria contraproducente para os negócios norte-americanos.”

Inclusive os negócios militares… falo de vendas de armas, equipamentos e toda parafernáila bélica ou vocês se esqueceram que para os EUA, não importa… eles vendem para os dois lados de uma guerra.

Ou vocês acham que dá para sustentar um exército que torra 400 bilhões de dólares por ano apenas com o orçamento?

ZePovinho

Terrorismo de Estado sempre foi coisa dos Estados Unidos,país não democrático porque governado pelo Capital que precisa de ditaduras para manter os interesses das empresas sempre em primeiro lugar:
http://pedroayres.blogspot.com/2011/02/documentos

Documentos de EE.UU vinculan a general Ramírez con paramilitares

[youtube VQl9rHpOwxg http://www.youtube.com/watch?v=VQl9rHpOwxg youtube]

Cables y otros documentos del Departamento de Estado de Estados Unidos dan cuenta de que el general Iván Ramírez, hoy en juicio por la desaparición de una guerrillera del Palacio de Justicia, colaboraba con paramilitares, recogía información para desprestigiar a la oposición y aplicaba lo que los documentos llaman “métodos de terror”. No obstante que esa información era compartida con los organismos de seguridad colombiana, él trabajó para el DAS hasta el día de su captura.
Documentos recientemente desclasificados del Gobierno de los Estados Unidos revelaron que desde 1996, las autoridades de ese país seguían de cerca los movimientos del hoy detenido general Iván Ramírez.
Documentos de los Archivos de Seguridad Nacional vinculan en 1997 a Ramírez con un paramilitar de apellido Mancuso.
“Ha indicado que el general Iván Ramírez, comandante de la Primera División del Ejército con sede en la Costa Atlántica tiene nexos directos con paramilitares que operan en la Península de La Guajira y el departamento del Cesar. Una de las cabezas de estos paramilitares es Giovanni Mancuso".
Dos años después, a raíz de ese informe, los documentos desclasificados revelaron que el embajador Myles Frechette hizo serios reparos sobre la conducta del oficial, al entonces ministro de la Defensa, Gilberto Echeverry.
“El Embajador fue más allá y le dijo que si a Ramírez se le otorgaba un mayor rango o posición, esto comprometería seriamente la capacidad del Gobierno de E. U. para cooperar militarmente con el colombiano”.
El mismo documento que contiene señalamientos contra Ramírez por presunta apropiación de recursos públicos también muestra un titular, dos fotografías y un pie de foto. El título es "Retrato de un general corrupto", el pie de foto dice "General del Ejército Iván Ramírez" y las fotos corresponden a él y a una operación de narcotráfico de los paramilitares.
Pese a las denuncias del gobierno estadounidense en Colombia no se conoce ninguna investigación por estos hechos. El oficial terminó su carrera en las fuerzas militares y recientemente fue asesor del DAS en el gobierno anterior y después colaborador pagado con cargo a los gastos reservados.
Hoy día está detenido en una guarnición militar por el caso del Palacio de Justicia. Por esa época el general Iván Ramírez estaba al frente del Comando de Inteligencia y Contrainteligencia (Coici), que se encargó de interrogar a varios de los rescatados después del asalto terrorista y la irracional retoma.
************************************** http://www.noticiasuno.com/noticias/documentos-de

Paulo Villas

"Regimes ditatoriais são fundamentais para o equilíbrio dos EUA". Chega a dar mêdo ouvir essa frase. Ao sul do Equador nós conhecemos a prática dessa frase sinistra por mais de 20 anos.

Jean

Boa análise, ainda que não tenha havido tempo pra se dizer no que isso dará. Acho, no entanto, que também é complicado identificar uma razão que explique a eclosão desse movimento popular neste exato momento e não em outro. Porém, acho que isso é o menos relevante. Por duas razões bem simples.

Primeiro, por libertar a vontade popular e possibilitar que a mesma galgue novos caminhos que de fato representem sua expressão mais fielmente, ainda que não plenamente, o que é apenas um ideal.

E, por último, como colocado, evidencia critérios no mínimo diferenciados no relacionamento dos EUA com demais países: aos amigos, tudo; aos diferentes, a imposição de uma ordem. Nesta mesma lógica: ao Iraque, a democracia era fundamental; ao Egito, nem tanto. Esse tipo de dualismo não é novo, mas nesse momento torna-se mais claro. Resta saber o que será da China. E do Brasil. E da India. Etc. Afinal, ja se viu que não são as alianças ou a bajulação que ditarão os rumos, muito menos dirão o que é louvável e o que não é, vide ressentimentos norte-americanos à nova democracia egípcia.

Jean Spritzer
Rio de Janeiro – RJ

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