Pão de Açúcar compra 15 toneladas de arroz orgânico do MST

Tempo de leitura: 3 min

por Daniel Santini, da Agência Repórter Brasil, via site do MST

O grupo Pão de Açúcar, principal rede varejista do Brasil, anunciou na tarde desta terça-feira, 19, a compra de 15 toneladas de arroz orgânico produzido pela Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.A transação foi divulgada durante o debate “Segurança e Soberania Alimentar”, evento que faz parte das atividades da Cúpula dos Povos, da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

A venda foi apresentada como a maior transação comercial do movimento de camponeses com um mercado feita com o apoio do programa Brasil Sem Miséria, que intermediou a negociação.

“Parece contraditório, mas sentimos a necessidade de expor e divulgar mais sobre o movimento para a classe média, mostrar que nossa produção é social e ambientalmente sustentável”, afirmou Milton Formazieri, da coordenação nacional do MST. O arroz produzido sem veneno no Rio Grande do Sul será encaminhado às lojas da rede no Centro-Oeste. Na embalagens haverá símbolos do MST. O movimento espera até o final do ano manter transações semanais de 10 toneladas.

O Pão de Açúcar diz ter interesse em manter negócios com cooperativas de camponeses ligados ao movimento. “Nossa intenção é ampliar ainda mais estas negociações. Temos a preocupação de pensar na questão ambiental e também na social”, afirmou Paulo Pompilio, das Relações Institucionais, que diz que o grupo tem inteção de ampliar as negociações com movimentos sociais e valorizar a produção sem agrotóxicos ou defensivos.

O anúncio foi feito na abertura do evento e foi discutido no debate sobre segurança e soberania alimentar, mediado pelo jornalista Leonardo Sakamoto, diretor da Repórter Brasil.

O representante do Governo Federal, Pepe Vargas, Ministro do Desenvolvimento Agrário, citou a transação como um exemplo da importância de se considerar segurança e soberania alimentar como conceitos que vão além da alimentação pura e simples. “É preciso considerar a dimensão da saúde, ambiental, cultura e social do processo de alimentação. São conceitos importantes e precisamos pensar políticas públicas e segurança alimentar”, afirmou. Ele listou o Programa Nacional de Alimentação Escolar como um exemplo de programa estatal semelhante.

O ministro foi questionado sobre o uso maciço de agrotóxicos pela agricultura brasileira, expansão de sementes transgênicos, o Código Florestal e reforma agrária por internautas e participantes, que enviaram perguntas por redes sociais. Admitiu que existem problemas a serem superados, mas defendeu que é preciso ter paciência para avanços. “O neoliberalismo encontra-se em uma profunda crise, mas, como todo sistema em crise, ele não muda de imediato. É um processo que às vezes é mais longo do que a gente imagina”. Alguns participantes da plateia vaiaram quando Pepe Vargas defendeu as decisões do Governo Federal relativas ao Código Florestal.

Comércio responsável

Para Renato Maluf, do Centro de Referência e Segurança Alimentar da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, é importante aproveitar o momento para repensar os modelos de produção e distribuição. “É uma crise estrutural do sistema. Temos que aproveitar para debater a maneira como ele se organiza. A lógica comercial pura e simples não funciona mais. Não há mais espaço para as mesmas referências que se vinha usando, para a liberalização radical do mercado”, defende. “O Brasil adquiriu muita proeminência internacional, em parte por boas razões, em parte por outras nem tão boas assim. Tem um Brasil que nós da sociedade civil não gostamos. É o que surfa na onda da crise, fatura nas exportações, a partir de um programa agrícola altamente vulnerável”, afirma.

“Não estou falando contra o comércio internacional, mas contra um tipo de comércio e produção. Nós temos insistido muito que a gente quer que o governo atue internacionalmente como queremos que atue aqui. E a população tem direito à informação. Somos permanentemente bombardeados por informações enviesadas. É importante o favelado saber o que é soberania alimentar, não só os camponeses. É preciso repensar esse modelo que distanciou produção do consumo e entregou nossa alimentação na mão de três ou quatro transnacionais que, de fato, determinam o que a gente come”, afirmou.

As duas participantes internacionais do debate, Karen H-Kuhn, diretora do programa internacional do Instituto para Política de Agricultura e Comércio, que participou por teleconferência, e Esther Penunia, secretária-geral da Associação Asiática de Agricultores, destacaram a importância de se considerar os processos produtivos ao se falar em segurança e soberania alimentar. “Muitas vezes, se fala somente no acesso à comida, sem pensar em como esta comida é produzida, em quem produz”, afirmou Karen. “Fazendeiros precisam de terra para produzir. Quando se fala de alimentação, estamos falando da maneira como a gente vive”, afirmou Esther.

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Comentários

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Sagarana

Noosssaaaa, é quase um caminhão cheio. Para quem só produzia queixas, até que é um avanço.

Roberto Locatelli

Bem que eu desconfiava que o Abilio Diniz era comunista.

Aliás, suspeito que o Eike Batista e o Emílio Odebrecht também sejam. A Odebrecht executa obras em Cuba. Em Cuba!! E o Eike vive elogiando o Brasil. Bando de comunas…

Razumikhin

O P.de Açúcar tem hoje um controlador francês, que expulsou Abílio Diniz, e que tem interesse na venda dos Rafalle.

Felipe Guerra

Parabéns ao Azenha!

Ele é, de longe, o maior entre os blogueiros progressistas a tratar com afinco o assunto dos agrotóxicos!

Grande abraço.

    Cibele

    Verdade.

Cunha

Vamos compartilhar essa excelente notícia. A mídia da Casa Grande jamais divulgaria boas novas com a sigla MST. Realmente precisou o Abílio sair para algo ser olhado adiante. Bela iniciativa para todos. Palmas !!!

Luís

Existe arroz inorgânico?

    augusto2

    sim e nao.
    Porque entre um e outro (um é a negaçao do outro) existe toda uma gama de
    arroz toxico, ali onde se situam Monsanto, pesticidas e GMs.

    Roberto Locatelli

    Neste caso, a palavra “orgânico” significa sem agrotóxicos.

    O oposto de “orgânico” é “Monsanto”.

Elton

Parabéns. Ótima noticia! Arroz sem agrotóxico, significa beneficiar o povo com comida e não veneno. Quem dera toda produção agrícola estivesse livre dos defensivos. Teríamos assim alimentos que ajudariam a evitar doenças e não causa las. Mas enquanto seguirmos o caminho neoliberal conduziremo nos pelo caminho das trevas.

Paciente

Governos socialistas fomentam a criação de cooperativas, pois cooperativas são modelos socialistas compatíveis com distribuição de renda, de poder e com boa parte da lógica do capitalismo. Impregnam o sistema sem choques. Uma via, portanto, para lá de moderada.

Mas quem faz isso são governos socialistas, pelo menos moderados. O PT não faz porque, porque…

Bom, eu não vou pagar mico no meio da rua protestando contra golpe, quem faz a cama que durma nela!

xacal

A tomada pelo Casino ainda não se confirmou…embora esteja na porta!

Quem leu a “reportagem-apelo” da Carta Capital pode especular que o Peter Pan dos Supermercados não está morto.

Mandou sinal de fumaça ao BNDES, em tom de vítima (ingênuo), enquanto Gianni Carta pintou o Naouri como “espertalhão”.

Agora, o arroz do MST…nada sutil…nada sutil.

Deixaram passar aquela grita inicial, e agora retornaram a carga…

cesar

Eu comprarei com certeza .Gostaria de comprar outros produtos de assentados e de pequenos produtores claro sem agrotoxicos.

Cibele

Quanto vai custar para o consumidor?

    Antonio

    É arroz orgânico, sem agrotóxicos, portanto será mais caro do que o arroz comum envenenado. Mas o preço dos produtos do MST, comprados na feirinha do Bom Fim aqui em Porto alegre, não costuma ser muito mais caro do que o dos concorrentes. O arroz cateto integral deles é nota dez.

    Cibele

    Claro que tem que ser mais caro, Antonio. Na feirinha é uma coisa. O MST, legal. O problema é o Pão de Açúcar. Aí é que está minha crítica. Lembro-me do próprio Stedile contando um caso de um produtor de tomates, acho, que vendia orgânico para o referido mercado por dois ou três reais, mas o preço final ficava em torno de dezessete reais. É por aí. Acredito que os produtos devem ser muito bons mesmo, gostaria de poder comprá-los e parar de comer veneno. Mas aí entra a decepção com os preços, pois uma família que já se aperta não pode triplicar, quadruplicar ou mais os gastos, não adianta, não é factível e não rola. Essa é minha preocupação, que nós possamos realmente consumir em larga escala, sem perder a qualidade. Mas, adivinhe? Vão jogar (as grandes redes varejistas) e manter os preços lá em cima, pois há mercado e que se dane quem (a maioria) não puder pagar. Ilusão já foi o tempo, amigo.

    Marcelo de Matos

    Eu vim agora do Extra e comprei arroz integral. O Pão de Açúcar é uma loja do grupo que fica nos chamados bairros nobres. Aqui no bairro tem uma, mas, o Extra é muito mais perto. Como o arroz é orgânico, mais caro, só deverá ser vendido nas lojas do Pão de Açúcar. Vou até lá porque quero comprar esse arroz cateto. Se é do MST, melhor cozinhar com coloral para ficar vermelho. Brincadeira…

    Felipe Guerra

    Cibele, de onde vc é?

    Em São Paulo, por exemplo, é possível (e tranquilo!) comprar alimentos orgânicos através da Internet.
    Não é necessário comprar do Pão de Açúcar.
    Eu mesmo entrei nesse ramo…como a economia é segmentada, me preocupo em trabalhar com produtores de excelente qualidade, mas que não tem experiência em vendas, deixando a ponta com o consumidor comigo.

    Cibele

    Felipe, vi agora um comentário do feicibuqueiro Joel aí em cima que me deixou feliz. Ele disse que o arroz orgânico no Pão de Açúcar está SÓ 7,37 o kg. Mas não é ironia, achei que custaria bem mais mesmo. Vamos lá, vamos acreditar, agora vai!
    Já que você é do ramo, gostaria muito de saber uma coisa: é possível ter um arroz orgânico de ótima qualidade, como o do MST, ao custo de 5 reais ou menos o kg? Qual é o preço mínimo para o produtor ter um lucro justo e o consumidor não se apertar demais? Obrigada desde já. Quero, assim que possível, que minha família passe a consumir apenas alimentos orgânicos. Abraços.

Marisa

Willian (13H11) tendo a concordar com vc, pois com a saída traumática do A. Diniz, há que se mudar a imagem… E os franceses entendem de imagem mto bem! Sei não… sei não…

O_Brasileiro

Quem decidiu, o Naouri, que entra, ou o Diniz, que sai?

Horácio Santos Féres

uma ótima notícia…somos campeões no consumo de agrotóxicos, e isto é letal, gerador de enfermidades crônicas e pede uma reação cada vez maior… O próximo passo é lutar para que este arroz não seja o empobrecido ou desintegrado.. famigerado e macio, “arroz branco”… mas isto aí já será numa nova etapa de consciência alimentar, de alerta a população mais carente dos nutrientes e da eficacia dos alimentos que lhe são tirados em função do paladar & lucro…

Hans Bintje

Poderia ser uma fonte de renda para o Viomundo.

Eu gostaria de ver os produtos orgânicos do MST anunciados no site.

Por exemplo, clico em “açúcar mascavo” e compro algumas sacas para fazer “kandijsuiker” para as cervejas da colônia. Parte da renda ajuda a manter o Viomundo funcionando.

Aliás, o MST deveria produzir malte de cevada e malte de trigo. Já imaginaram a classe trabalhadora finalmente tendo acesso à cervejas de qualidade?

    Marcelo de Matos

    Por falar em cerveja, eu era fã da Brahma e agora só tomo Serramalte. Ela tem um gostinho amargo ao qual nos acostumamos. Se agora não estive chovendo e fazendo tanto frio, iria ao Alviverde, lá em frente da futura Arena Palestra Itália, assistir ao jogo do Palmeiras X Grêmio e tomar umas Serras.

Marat

Pôxa… finalmente vou falar bem de algum capitalista… Que eles prossigam com isso. Vaeu!!!

    Cibele

    Vai custar uns 4 reais o kg? Aí eu compro! Kkkkkkkkk….

    Marcelo de Matos

    Brincou… Deve custar um pouco mais. Por isso vai ser vendido no Pão de Açúcar que é a loja top do grupo. Vim agora do Extra e comprei um quilo de arroz integral por R$ 4,58. É da marca Taeg, do grupo.

Flavio

15 toneladas? Putz!!!!

Um caminhão truk. Que baita venda. O Rio Grande vai ficar rico com o dinheiro do ICMS.

Luiz

Eu compro.

marta

Lamento que aqui no sul, onde moro, não tenha Pão de Açucar, mas considerei genial a idéia. Eu sou adepta da alimentação orgâncica e admiro muito o trabalho dos MST.
Agora, não querendo ser negativista, a minha preocupação é a questão da marca do MST nas embalagens. Conhecço muita gente da classe média que odeia os MST e acredito que por isso são capazes de não comprar. Esses direitistas radicais são mauzinhos e egoístas também. Não gostam de ver os mais pobres tendo progresso.

    Elza

    Ué Marta, problema deles, se quiserem morrer de câncer.

    Felipe Guerra

    I. Não é necessário comprar do Pão de Açúcar;

    II. Se a marca MST afasta algumas pessoas, outras aproximam e outras tanto não se importam, desde que seja orgânico e com a devida certificação;

Willian

Marketing.

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