Mario Lobato: Qual a diferença entre o auditor e o terrorista?

Tempo de leitura: 2 min

Mário Lobato, no seu blog 

Nestes últimos dias tenho ouvido (e lido) muitas referências ao papel dos “especialistas”.

Em encontro no qual foram prestar solidariedade a uma colega acusada de assassinatos em série, as entidades médicas (Federação Nacional dos Médicos e Sindicato dos Médicos do Paraná) destacaram a falta de informação científica de muitos meios de comunicação no trato do tema, recomendando prudência e respeito aos médicos especialistas em medicina intensiva, legal e anestesiologia”.

Não deixam de ter sua dose de razão, afinal, o parecer de especialistas – mesmo que não signifique o dogma supremo – deve ser sempre considerado…

Investigar crimes, fraudes e outros ilícitos é também tarefa de especialistas.

A auditoria médica é uma especialidade.

As primeiras menções ao trabalhos de auditoria remontam ao início do século XX, quando o médico George G. Ward, nos Estados Unidos, descreveu a importância da verificação da qualidade da assistência prestada ao paciente através dos registros em seu prontuário. Naquele tempo não haviam UTIs nem especialistas em medicina intensiva.

Estranhamente (ou não…), até hoje a auditoria ainda não foi reconhecida como especialidade  pelo Conselho de Medicina (mas esta é outra conversa)…

A matéria prima do trabalho do auditor é a informação.  Ele é um especialista no trato da informação.

O auditor é profissional com formação técnica necessária para – diante da necessidade de uma investigação –  identificar as fontes de informação que serão analisadas, da análise destas fontes destacar evidências (evidência é diferente de ilação) que consubstanciarão CONSTATAÇÕES (constatação é um dado OBJETIVO, que veio de evidências consistentes obtidas de fontes fidedignas). Trata-se de processos de trabalho que requerem conhecimento técnico, executados mediante técnicas científicas de amostragem e investigação e que obedecem normas de atuação muito bem definidas.

Dentre estas normas, consta a possibilidade de valer-se da opinião de especialistas nos casos em que esta seja necessária, manter a autonomia profissional durante a investigação, e agir com isenção.

Por “agir com isenção” subentende-se (entre outros) despir-se de todos os cacoetes de corporativismo.

Um mega-especialista em terapia intensiva poderá ter algum grau de dificuldade em conduzir uma investigação dentro destes parâmetros, pois, afinal “não é especialista na área”, embora o seu parecer técnico possa ser utilizado na instrução.

No caso que tem sido divulgado pelos meios de comunicação e que foi objeto do”apoio” de entidade médicas, a investigação está sendo realizada por uma equipe numerosa composta por especialistas em terapia intensiva (todos eles titulados na área), médicos peritos de carreira do Ministério Público e auditores da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba e Ministério da Saúde com ‘expertise’ em terapia intensiva.

Eu faço parte da equipe. Sou pediatra, tenho mestrado pela UFPR em cardiologia, atuei por algumas décadas em terapia intensiva pediátrica (embora, assim como a colega que está sendo acusada eu não possua o titulo de especialista em terapia intensiva) e sou médico auditor há pouco mais de 32 anos.

Ou seja: meu trabalho há mais de trinta anos é o de investigar crimes, fraudes e ilícitos praticados contra a sociedade na área da saúde.

O interesse da sociedade deve prevalecer sobre o espírito das corporações. Por mais “especializadas” que sejam.

Em tempo, respondendo a perguntinha do título: O terrorista tem simpatizantes. 

Leia também:

Lobato: “Perito comparou UTI do Evangélico a campo de concentração”


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Comentários

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Malvina Cruela

o médido É o monstro…com muita frequência ultimamente..

Laís Almada Cordeiro

O caso da UTI de Curitiba é tenebroso. Tem de ser apurado. Há muita lama. O povo não pode ficar na dúvida. Aquele hospital abriga uma disputa de poder muito grande. Tudo está interligado

Flavio Lima

Com o terrorista voce consegue negociar…

FrancoAtirador

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A CULPA É DO TOMATE…
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Parem de pisar no tomate!

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

De uns dias para cá, o tomate – bem como quem o planta – tornou-se o inimigo público número um. E os valentes da pátria levantaram-se para enfrentar o vilão escarlate.

Definitivamente, pois, há que conhecer a nova ameaça.

De origem latino-americana, primo das berinjelas, das pimentas e dos pimentões, rubro como convém à demonização, o tomate conquistou a humanidade há séculos e hoje é plantado e consumido nos quatro cantos da Terra.

Quem poderia imaginar que um dia se tornaria o arauto da desgraça nacional…

Aumentou uma vez e meia de preço, no Brasil. Estamos ou não estamos perdidos?

O tomate é um perigo. Não se sabe, até hoje, se é fruta ou legume. Logo aparecerá algum radical de ultradireita acusando-o de ser gay.

Esse perigo vermelho é o grande desafio à humanidade. Derrotado, implantar-se-á a paz mundial.

Se o que escrevi até o parágrafo anterior lhe parece ridículo, saiba que em ridicularia não chega nem perto do noticiário

Elevar o tomate à categoria de indicador econômico é deixar da cor dele qualquer um que tenha sido abençoado pela natureza com mais de dois neurônios.

Mas, pensando bem, se os neoliberais criaram um índice “Big Mac”, por que o tomate não poderia se tornar mais um parâmetro do estado das economias?

Ver o espetáculo circense que se tornou a alta sazonal de preço de um vegetal deve ter sido a verdadeira causa-mortis de Margareth Tatcher. Morreu de vergonha do ponto a que chegou a doutrina que vendeu ao mundo um dia.

Contudo, se a fruta-legume de coloração sanguínea for o grande inimigo da pátria, estamos bem.

Como por certo gastamos muito mais energia elétrica do que tomate, nosso problema é pequenininho. A redução de preço de uma compensou de monte a alta do outro.

A carne também andou caindo. Ontem comprei um quilo de filé mignon por R$ 23,69. Chegou a custar quase R$ 50, mas preços sazonais sobem e caem.

Aqui ou na Suíça.

Mas preço baixo não levanta cruzadas de donos de restaurante ou donas-de-casa ou põe âncoras de telejornal de olhos vermelhos para falar de si.

Tenho medo de explicar e ser xingado. Alguém pode achar que estou fazendo pouco de sua inteligência, mas não resisto a explicar que o nível de preço em que estão o tomate ou a carne decorre de um fenômeno chamado sazonalidade.

Sazonalidade = produtos sujeitos a imprevistos maiores na produção que caem muito ou sobem muito de preço de acordo com a época do ano.

Sim, claro, a inflação não está tão baixa. Mas tipificar a alta extraordinária – no sentido de fora dos padrões de altas de preço – do tomate como característica generalizada da economia não passa da mais legítima vigarice.

Margareth Tatcher deve ter morrido de vergonha de como os seguidores de seus ideais se transformaram em verdadeiros picaretas.

Pode-se não gostar de suas ideias, mas ela ao menos acreditava no que dizia. Ao contrário dos caluniadores do tomate.

Aposto que, se tivesse proferido últimas palavras, Margareth teria dito aos barulhentos mascates do neoliberalismo de hoje em dia:
“Parem de pisar no tomate, rapazes!”

(http://www.blogdacidadania.com.br/2013/04/parem-de-pisar-no-tomate)

Marcelo de Matos

Concordo plenamente, mas, tem um porém: a auditoria só tem valor se levar a algum resultado prático. O terrorismo também. Lembro-me do caso do Dr. Pagura que recebia de um hospital de Sorocaba sem trabalhar. O que foi feito nesse caso? Ele continua a faturar muitos reais com sua clínica? E aqueles moços de Franco da Rocha que usavam dedos de silicone para marcar o ponto? Vão ser processados?

Antonio Claudio de Jesus

Todo profissional, independente da aréa de atuação, tem que ter suas responsábilidades. O profissional Auditor Médico, têm que estar consciente de sua importância, na melhoria da qualidade dos serviços prestados. Diante da denúncia de morte de pacientes idosos,com objetivo desocupação de leitos. Isso é crime.
Cabe ao Auditor Médico, verificar se os procedimentos, atendem aos principios delimitados. Jamais poderá interferir na atuação do profissional. Ne caso acima citado concordo com quem disse. “Que isto é um caso de pericia” É acrescento “Perícia Policial”.

    Mario Lobato da Costa

    Bom dia Antônio Carlos! Perfeita a colocação. Devo ressaltar que os métodos, princípos éticos e legais e processos de trabalho de ambos são muito semelhantes. No caso em questão, os profissionais envolvidos foram designados peritos pelo MP. Questão de formalidade.

Ricardo Godinho

Oxalá os “especialistas” descubram que a mídia criou mais uma “Escola de Base”. Seria terrível descobrir que nossos médicos intensivistas estão tomando decisões sobre quanto alguém ainda viverá numa UTI…
Por outro lado, eu me pergunto: pra que ficar prolongando a vida de pessoas que, deixadas ao curso natural das coisas, não sobreviveriam mais do que algumas horas ou dias?

    Malvina Cruela

    Errado doutor – obviamente é médico – entre os marcados para morrer pela diaba de Curitiba tinha um rapaz de 27 anos, arrimo de família que tinha caído da moto e foi resgatado pelos parentes depois que ouviu, por distração dos vampiros, que seu fim seria no dia seguinte.
    O condenado está vivo e saudável cuidando de sua família hoje..

Alberto

Totalmente de acordo: “O interesse da sociedade deve prevalecer sobre o espírito das corporações. Por mais “especializadas” que sejam”. O ” espírito de corpo” não pode estar acima dos interesses da sociedade! Além do que já foi o tempo em que era fato: “O erro médico a terra enterra”. O MUNDO MUDOU SENHORES CORPORATIVISTAS DE ARAQUE. Corporativismo para encobrir negligências e até crimes é CRIME.

Luís Carlos

Entidades corporativas defendem seus interesses, nem sempre confessáveis. Conheço Lobato. Já tive o privilégio de trabalhar com ele. Tem mais do que competência técnica, tem compromisso com a cidadania, com a vida e com o SUS.
Parabéns pelo trabalho Lobato e a todos que tem trabalhado nesse caso.

    Mario Lobato da Costa

    Agradeço o seu comentário caro Luís Carlos!

Malvina Cruela

vendo um documentário sueco muito sóbrio e preciso sobre o lado, digamos, humano dos nazistas – Arquitetura da Destruição – aprendo umas coisas; por exemplo, de todas as categorias profissionais representadas entre os membros do partido NAZI Alemão qual era a hegemônica, com mais membros???
quem adivinhar ganha um exame de próstata grátis..(pq isso não me surpreende???)

Urbano

O terrorista é aquele serial killer que aponta o resto do mundo como terrorista e fundamentalista. Nos dias de hoje se vê isso, bem delineado, na dupla “golias” e “davi”. Na nova versão, eles só vêm a desentender-se depois…

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