Marcelo Zero: Marielle foi assassinada pelo golpe que abriu a porteira para o fascismo e a criminalização dos movimentos populares

Tempo de leitura: 3 min

Foto: Resistência Sempre no Facebook

Marielle Foi Assassinada pelo Golpe

por Marcelo Zero, via e-mail

Alguns dirão que Marielle Franco foi provavelmente assassinada por milicianos ligados à PM do Rio de Janeiro, já que a combativa vereadora, mulher negra da favela da Maré, vinha denunciando os crimes desses grupos contra a população favelada da “cidade maravilhosa” e a intervenção militar imposta pelo governo federal.

Engano. Esses grupos foram, no máximo, os executores de Marielle. Foram apenas aqueles que dispararam 9 vezes contra a sua cabeça, numa execução bárbara, que demonstra ousadia e certeza de impunidade.

Mas o verdadeiro assassino é aquele que criou o clima político propício a essa execução premeditada.

É aquele que realiza uma absurda intervenção militar no Rio de Janeiro, a qual naturaliza a “guetificação” da população favelada e que se dedica, entre outras coisas, a identificar com fotos essa população, reproduzindo o estigma escravocrata que pesa historicamente sobre ela.

É aquele que catapultou o fascismo tupiniquim a segundo favorito nas pesquisas eleitorais. É aquele que permitiu que o ódio político, social e racial se propagasse como uma peste em nossa sociedade.

É aquele que vem disparando tiros no coração da nossa democracia e nos direitos humanos, desde que assumiu o poder. É aquele que, todos os dias, dispara contra a Constituição de 1988 e seu pacto democrático e social.

Marielle foi assassinada pelo golpe.

Foi o golpe que chocou o “ovo da serpente” dos preconceitos e da intolerância.

Foi o golpe que abriu a porteira para o fascismo brasileiro e para a crescente criminalização dos movimentos populares, dos negros, dos trabalhadores e de todos aqueles que assumem posições em favor dos direitos humanos dos excluídos.

Foi o golpe que cassou a soberania popular, tornando o Brasil, de novo, uma república bananeira, na qual os direitos e garantias individuais valem pouco. Foi o golpe que criou um Estado de exceção, que “relativiza” direitos políticos e sociais. Foi o golpe, combinado com a Lava Jato, que criminalizou todo o sistema de representação política. Marielle, lembre-se, era parlamentar. Era política. Política de um partido de esquerda, representante autêntica das populações historicamente marginalizadas.

Alguém aí acha que Marielle teria sido assassinada se fosse homem branco, morado do Leblon e político de algum partido conservador?

Claro que não, mesmo que fizesse críticas ao sistema de segurança do Rio de Janeiro.

O assassinato de Marielle, embora trágico e chocante, é crônica de uma morte anunciada.

Desde que os golpistas tomaram o poder, massacres e assassinatos de lideranças populares, camponesas e indígenas voltaram a se tornar rotina no Brasil.

Desde 2016, foram 25 lideranças populares assassinadas. Marielle é apenas a vigésima sexta. O genocídio de jovens negros voltou a se agravar.

A solução autoritária para os nossos graves problemas sociais voltou a se impor. A eliminação política ou física daqueles que lutam por igualdade e pela afirmação de direitos voltou a ser crescentemente naturalizada.

No mesmo dia em que mataram Marielle, no Rio, em São Paulo a polícia agredia barbaramente professores que protestavam contra a cassação de seus direitos. E tudo isso acontece com a complacência de uma justiça grosseiramente partidarizada.

Com o golpe, o Brasil virou uma terra de ninguém, um faroeste político. Com o golpe, era apenas uma questão de tempo até que surgissem executores para disparar tiros contra a cabeça de nossas “marielles”. Parafraseando Dostoiévski, se a democracia não existe mais, ou foi “flexibilizada”, tudo é permitido. Até matar. Se for mulher, negra e pobre é fácil. Com o golpe, os executores de “marielles” foram empoderados.

Mataram fisicamente Marielle. Tentam matar politicamente Lula. Tudo faz parte do mesmo processo fascistoide de eliminação das diferenças, de execução das divergências, de marginalização das classes populares e daqueles que se batem por elas.

Nas redes sociais plenas de ódio golpista, muitos vomitam sua aprovação ao assassinato de Marielle. Amanhã, serão os mesmos que aplaudirão uma eventual prisão de Lula.

Agora, o golpe que matou nossa democracia diz que vai investigar a fundo o assassinato de Marielle, que tende a se tornar um grande escândalo internacional. Provavelmente vão prender alguns “bagrinhos”, os suspeitos de sempre.

Mas, se quiserem procurar o responsável último pelo assassinato de Marielle, não precisa ir muito longe. Basta procurar o espelho mais próximo.

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Comentários

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Simone Moraes

Mesmo sendo um substituto eventual, que cobria a licença médica do motorista oficial, deveria ter um contrato ou registro de prestação de serviços na Câmara. Não era um motorista de aplicativo simplesmente, estava há dois meses com ela. Como era efetuado o pagamento, que direitos teria num eventual acidente??? A Câmara de Vereadores está cheia de prestadores de serviço sem carteira e sem contrato. A lei é só para alguns.

Luiz Antônio

Amigo que bateu panela e saiu com camisa amarela (vejo gotas de sangue escorrendo entre seus dedos…)

Nelson

“Desde 2016, foram 25 lideranças populares assassinadas.”

Eu recebi, pelo whats, uma relação de todos os militantes sociais assassinados nos últimos dois anos no Brasil. A primeira reação que tive, uma vez que não imagina que a coisa estava neste nível, foi acreditar que se tratava de uma lista vinda do país vizinho – não, não estou me referindo à Venezuela, senhores Lukas e Lulipe -, a Colômbia.

Lá, todo ano, são dezenas de militantes sociais assassinados. Mas, a mídia hegemônica nada divulga; prefere, seguindo as ordens do Sistema de Poder que domina os EUA, olhar só para a violência do país lindeiro da Colômbia.

lulipe

Que toda vítima da violência urbana tenha a mesma atenção dada a esta vereadora.

    Luiz Carlos Azenha

    Desculpe, mas ela não foi vítima de violência urbana, não foi uma tentativa de assalto. Foi execução política.

    leonardo-pe

    mas é um CINICO E IMBECIL PURO. onde você escutou violência urbana seu retardado? seu debiloide! trabalhas na grande imprensa para ser tão ou mais cínico do que certos políticos?

    lulipe

    Falei em violência urbana, Azenha, porque pelo que sei as investigações ainda não foram concluídas. Portanto tudo que se diz sobre execução, crime político, por mais que os fatos levem a isso, são meras suposições.

Fábio Lima

“numa execução bárbara, que demonstra ousadia e certeza de impunidade.”, Impunidade sempre cultuada pelos petistas quando os corruptos são de esquerda !

Carlos Augusto

Por que a defensora dos oprimidos não assinou a carteira do motorista BRANCO (para os padrões da AL) E HÉTERO??
“Negra” com sobrenome italiano

    Luiz CarlosCardoso

    Algumas correções: vc assina carteira de prestador de serviço ? Se era do UBER e era amigo dela. Prestava bom serviço. Não era motorista oficial… Ela era Vereadora e a casa dela não é AL … era Câmara. Branco não pode ? Hétero não pode ? Seus nomes não sao de origem indígena …. Tupinambá Japiassu etc… Vc só não expressou seus sentimentos pela perda para o Rio de uma mulher lutadora superadora de uma infância difícil… mas o Rio todo independentemente de cor partidária foi e está sendo solidário e quer ver tudo apurado. #MarielleVive #QuantoMaisEscuraANoiteMaiorACertezaDoAmanhecer

    Carlos Augusto Fiuzza

    Ou seja, tá admitindo que a virtude em forma de gente usava o serviço precarizado de um desempregado??

    Hahahahah

    É como dizem, a ELITE de esquerda é a coisa mais hipócrita que existe.

    Hudson

    A mentalidade homicida da direita nunca surpreende.

    (Pelo menos os Bolsonazi tiveram a “dignidade” de calar sua cumplicidade com a execução.)

Primo Alves

Este foi o melhor comentário sobre a morte de Mariele, que a globo/temer diz ser apenas mais um, só está repercutindo devido a imprensa internacional. Ou vamos para as ruas mudar o golpe-judicial ou varias famílias vão chorar as suas Marieles

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