Luana Tolentino: Tchau, Marielle; sua voz permanecerá viva em nós

Tempo de leitura: 3 min

por Luana Tolentino, via e-mail

Há alguns dias li uma entrevista concedida por Jurema Werneck, médica, feminista negra e diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil.

Ao ser perguntada sobre qual o maior desafio enfrentado pelas mulheres afro-brasileiras, Jurema foi categórica: Ficar viva.

Na noite de quarta-feira, Marielle Franco se juntou a uma triste estatística: segundo o Mapa da Violência, em 10 anos, o número de homicídios entre as mulheres negras aumentou 54%.

Nove tiros, sendo quatro na cabeça, ceifaram a vida de Marielle: vereadora, cientista social, filha da favela da Maré.

Não houve pudor. Somente covardia. Tanto o(s) mandante(s) quanto o(s) executor(es) não fizeram qualquer esforço para esconder as motivações do crime.

Executar, ceifar, silenciar Marielle e sua carreira política promissora. Nada além disso.

Marielle Franco morreu por lutar em favor daqueles que historicamente têm o direito à vida negado.

Marielle Franco morreu por denunciar com coragem e bravura o genocídio que está em curso nesse país.

A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado com os mesmos requintes de crueldade a que Marielle foi submetida.

Mariella Franco morreu por denunciar sem medo policiais militares que torturam, violentam, estupram e matam.

Policiais que invadem a casa dos moradores e amedrontam, roubam o direito à cidadania.

Alguns deles roubam até a comida que os moradores têm na geladeira.

Marielle Franco morreu por exigir o meu direito de falar e de ser ouvida.

Morreu por lutar para que nenhuma mulher fosse humilhada, silenciada, violentada.

Até o momento não se sabe quem foi o autor dos disparos, mas uma coisa é certa: o sangue de Marielle está nas mãos do Temer, que tal qual um ditador determinou a intervenção militar no Rio, medida populista utilizada para garantir o apreço e o apoio dos setores mais conservadores da sociedade.

Marielle Franco era responsável pela Comissão da Intervenção Militar na Câmara Municipal, que tem como função acompanhar as denúncias de abusos cometidos pelo Exército contra os moradores.

O sangue de Marielle está nas mãos do prefeito Marcello Crivella, que com sua política autoritária e conservadora nada faz para a diminuição das desigualdades na cidade do Rio de Janeiro, a grande responsável pelo crescimento desenfreado da violência.

O sangue de Marielle está nas mãos do governador Luiz Fernando Pezão, responsável pelo aparato policial e grande apoiador da intervenção militar.

O sangue de Marielle está nas mãos dos Datenas espalhados pelos programas policialescos da tv e do rádio, que destilam ódio e vociferam contra os movimentos sociais e os direitos humanos, uma das bandeiras de luta da vereadora carioca.

O sangue de Marielle também está nas mãos daqueles e daquelas que defendem uma sociedade alicerçada na manutenção de privilégios, e não na concessão de direitos.

Aqui em Minas, entre as famílias pobres, quando um velório se aproxima do fim as mulheres mais velhas costumam entoar cânticos.

Enquanto elas cantam, o que se ouve são soluços e gritos desesperados. É possível ouvir também um silêncio que dói na alma.

Nesse momento, temos a certeza de que nada mais pode ser feito. Sabemos que a presença física daqueles que amamos não será mais possível.

A letra de uma das músicas diz assim: “Não tema. Segue adiante. Não olhe para trás…”

Que essas palavras nos fortaleçam. Que a luta e o exemplo de Marielle Franco nos deem forças e coragem. Alimentem a nossa sede de justiça.

Tchau, Marielle.

Sua voz permanecerá viva em nós.

Até um dia.

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