Leandro Fortes: Para atacar concorrente da Delta, Cachoeira irrigou outra revista

Tempo de leitura: 3 min

Escutas da PF

25.05.2012 15:13

Cachoeira plantou notícias na revista Época

 por Leandro Fortes, na CartaCapital 

Reportagem da edição desta semana de CartaCapital, nas bancas a partir de sexta-feira 25, revela como o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira plantou notícias também em veículos das Organizações Globo para fragilizar adversários. É um exemplo de como a quadrilha abastecia jornalistas investigativos por meio de arapongas para sedimentar seus interesses. Assinada por Leandro Fortes, a reportagem mostra também como o vice-presidente Michel Temer se tornou, desde o início da crise, interlocutor do Planalto com cúpula das Organizações Globo.

CartaCapital mostra como Idalberto Matias Araújo, o Dadá, considerado o braço direito de Cachoeira, negociou com o diretor da sucursal da revistaÉpoca em Brasília, Eumano Silva, a publicação de informações contra a empresa Warre Engenharia, uma concorrente da empreiteira Delta em Goiás. Por causa da reportagem plantada pelo grupo (“O ministro entrou na festa”), a Warre figurou na lista de suspeitas da Operação Voucher da Polícia Federal, que mais tarde resultou na queda do então ministro Pedro Novais (Turismo). A Warre acabou sendo inocentada.

Cachoeira era uma espécie de sócio oculto da construtora Delta, empresa para a qual seu grupo fazia lobby.

A revelação sobre as relações entre o grupo do bicheiro e a revista acontece na mesma semana em que Leonardo Gagno, advogado de Dadá, informou à CPI do Cachoeira que o trabalho do araponga (e de seu colega Jairo Martins de Souza) consistia em “abastecer veículos de comunicação”, e que “é notório que o interesse de Cachoeira era usar essas informações no mundo dos negócios”.

A negociação entre Dadá e o jornalista da Época para a publicação de textos de interesse da Delta foi flagrada em interceptações telefônicas da Polícia Federal. CartaCapital teve acesso a cinco ligações telefônicas entre os dois.

Na primeira delas, Eumano Silva diz para Dadá “muito boa, aquela história”, se referindo às informações sobre a Warre. Pertencente ao empresário Paulo Daher, a Warre atropelou os interesses da Delta em Goiânia (GO). Silva adianta, naquele dia, que o Jornal Nacional iria falar dos grampos da Operação Voucher. Ele estava com medo que a história da Warre, passada com exclusividade para a Época, vazasse no telejornal da TV Globo, o que não ocorreu. No quarto áudio, Eumano Silva liga para Dadá avisando-o da possibilidade de a Delta aparecer no escândalo do Ministério do Turismo, o que comprova que o jornalista sabia exatamente a quem interessava a divulgação das denúncias contra a Warre.

Procurada, a direção da revista Época disse não saber que os emissários integravam a quadrilha de Cachoeira. A PF interceptou também conversas do grupo com o repórter Eduardo Faustini, da TV Globo, para uma reportagem sobre compra de votos para prefeito numa cidade do interior. A reportagem não foi ao ar, segundo Faustini.

Confira as gravações abaixo:

Na primeira gravação, Eumano Silva diz para Dadá “muito boa, aquela história”, se referindo às informações sobre a Warre Engenharia, do empresário Paulo Daher, que atropelou os interesses da Delta, em Goiânia (GO). Silva adianta, naquele dia, que o Jornal Nacional vai falar dos grampos da Operação Voucher, no Ministério do Turismo. Ele estava com medo de a história da Warre, passada com exclusividade para a Época, vazasse no telejornal da TV Globo, o que não ocorreu:

liga1

Na segunda gravação, Eumano Silva fala com Dadá sobre o que saiu no Jornal Nacional, comenta do grampo de Frederico da Silva Costa, ex-secretário-executivo do Ministério do Turismo e comemora que não “apareceu o nosso assunto”, justamente a parte da Warre. “Tamo (sic) indo bem, até agora não se falou naquela firma (Warre)”. Aí, Dadá especula que “devem falar depois que vocês (revista Época) fizerem (a matéria)”. Silva diz que já foi tudo mapeado da Warre, e que foi tudo “encaminhado”. E se despede de Dadá: “Tamo (sic) junto, amigão. O que tiver aí a gente chuta para você”:

liga2

Na terceira gravação, Dadá diz a Eumano Silva que “aquele povo lá”, referindo-se à Warre, construiu um aeroporto subfaturado (?) no Ceará. Mais um esforço de Dadá para plantar novas informações contra a Warre em favor da Delta:

liga3

Na quarta gravação, Eumano Silva avisa a Dadá que um post no Twitter do jornalista Ronaldo Brasiliense avisava da possibilidade de a Delta aparecer no escândalo do Ministério do Turismo. Isso demonstra que ele sabia do interesse do araponga em proteger a Delta. Esse é o único áudio em que Silva liga para Dadá, e não o contrário:

liga4

No quinto áudio, Dadá parece estar com a matéria da Época contra a Warre na mão e comenta que “o nosso contato”, provavelmente Cláudio Abreu, da Delta, disse que eles (a matéria é assinada por quatro repórteres) “foram na ferida certinha”. Silva, contudo, se ressente por conta da falta de repercussão da matéria da Época, porque naquele mesmo fim de semana a revista Veja tinha publicado uma reportagem de capa contra o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi:

liga5

No sexto áudio, Dadá fala que vai encontrar “com a pessoa” mais tarde, provavelmente, Cláudio Abreu, da Delta:

liga6

PS do Viomundo: Por que o jornalista toma a iniciativa de ligar para o araponga e avisar sobre o tweet referente à Delta? Ele sabia que Dadá representava a Delta?


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Comentários

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The New World Lusophone Sousaphone

[…] and black bag operator Dadá, told the congressional commission that Dadá and his colleague were tasked with “feeding stories to the news media,” and that “Cachoeira’s interest in using [information warfare] as a part of doing business […]

não concordo

Rindo aqui, a casa caindo e faltam mãos pra segurar, a chuva caindo e faltam mãos pra tampar as goteiras, DÍO MIÍO quanto será que leva de $$$$ um cara que fatura vinte paus verdes por més de politicos, pra angariar inimigos politicos tão fortes como os está ajuntando,? heim heim? brincadeira,…ha sim brincadeira foi mostrar o demostenes torres falando(em diversos trechos) no congresso pela tv. Pelo que aponta, os torres vão mudar de sobrenome depois de amanhâ.

Roberto Weber

E o jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, coloca manchete interna dizendo: “Jobim se contradiz e nega diálogo”.
Bota deturpação e má intenção nisso! Você lê o texto completo e verifica que, na realidade, Jobim contradiz o Gilmar e a Veja!

Fabio Passos

Agora que a lama já chegou na #GloboBandida, prevejo que o joão roberto marinho vai intensificar as chantagens e ameaças que já vem fazendo contra políticos para tentar blindar a #VejaBandida e todo o PIG nas investigações da CPI.

E aposto que a #GloboBandida vai divulgar bastante a reporcagem inventada por rupert civita & gilmar dantas… o problema é que, fazendo isso, só vai mostrar que também está de conluio com o crime organizado.

Ricardo

Essa materia está sob licença cc ?

Fabio Passos

É por isso que a globo está tão desesperada que está até ameaçando políticos para tentar impedir as investigações.

Os marinho também trabalharam em sociedade com carlinhos cachoeira.

A #GloboBandida não apenas defende a #VejaBandida. Também cometeu as mesmas práticas criminosas.

Francisco Hugo

Por que Viomundo insiste em denominar “jornalistas” alguns dos membros da quadrilha Cachoeira?
O texto jornalístico exige precisão nos substantivos.
Segundo o Aurélio, aquele que praticou crime é criminoso (substantivo).
Na expressão “criminoso jornalista”, a palavra jornalista é adjetivo restritivo. Faz-se necessária no texto jornalístico face à diversidade profissional dos quadrilheiros.
Abdelmassih é um tarado médico. Médico é restritivo e não explicativo, pois taras não são inerentes à prática da medicina: há tarados nas mais diversas profissões.

    HelberAraujo

    Boa pergunta, meu caro.
    Da mesma forma que a mídia trata o Cachoeira como um contraventor.
    Contraventor???? Quantos crimes ele terá que fazer pra ser, pelo menos, um “suposto” criminoso?

    Orivaldo Guimarães de Paula Filho

    No ordenamento jurídico brasileiro, até o julgamento final do processo todo réu é suspeito, desse modo entendo que o Viomundo age corretamente não imputando nenhum crime a pessoas que não foram ainda julgadas. Se queremos a democracia precisamos respeitar o contraditório e o processo legal. Por um Brasil verdadeiramente democrático!

    Francisco Hugo

    Jornalistas objetivam a verdade factual: conformidade com a realidade!
    Já presenciei tantos tribunais de júri e não tenho lembrança de promotores se referindo ao réu como “supostos” criminosos. Quando o ministério público não encontra provas/indícios suficientes pede mais investigação ou determina arquivamento.
    Quando da intimação, levada pelo oficial de justiça, ao réu (sinônimo de criminoso conforme o Aurélio) para oitivas ou audiências, réu não é “suposto” réu. E o contraditório resta garantido.
    Imputar é atribuir responsabilidade de, neste caso, crime: a quadrilha já está presa quase toda.
    O que não deveria poder é a mídia safada espalhar, como neste instante está espalhando, a versão do Gilmar Mendes sobre conversa com o Lula. Por um Brasil verdadeiramente democrático, é claro.

lulipe

A realidade é que o número de leitores da carta capital continuam a caber em uma kombi.Ô inveja da Veja e da Época…

PS:A carta ainda oferece desconto para filiados do PT???

erivaldosilva

Agora eu entendi, porque a Globo e a Veja passaram a defender-se mútua e abertamente. Agora o que eu não entendo é por que o Governo tanto TEMER essa Gente!

Francy Granjeiro

Estava vasculhando esse grampo: Na terceira gravação, Dadá diz a Eumano Silva que “aquele povo lá”, referindo-se à Warre, construiu um aeroporto subfaturado (?) no Ceará…..se foi de fato no Ceará na era do Tasso Jereissat, mais o ponto de interrogação me dificultou.

Paulo Afonso

Gostei desta matéria Azenha.Talvez seria ideal uma participaçao dos clássicos da Blogosera tais como Azenha e outros serem convidados a CPMI para elucidar de verdade o que a Blogosfera e o jornalismo verdadeiramente ivestigativo está encontrando nas escutas da PF ja disponibilizada

    Gil Rocha

    Elucidar o que?
    Não entendi, as gravações não
    bastam?
    Me diz o que irão elucidar mesmo
    que não entendi.

Roberto Locatelli

E é essa turma da Veja e da Globo que fala em “liberdade de imprensa”… O que querem é liberdade para o crime organizado, do qual participam.

Roberto M Almeida

Caro Azenha, sua observação no final do post é completamente desnecessária, esta corja não pratica jornalismo, é banditismo puro.

Formiga Solitaria

Eu sempre disse que o premio Esso de jornalismo deste ano deveria ir para o Cachoeira…

francisco niterói

O PS do Viomundo é o X da questão sobre a desculpa provável da Epoca de que estaria fazendo jornalismo investigativo. Eles estavam fazendo aliança com o crime organizado no intuito de obter armas pra luta politica em que a midia se encontra. Simples assim. O partido de oposição chamado mídia executando a sua agenda.

Gil Rocha

É, parece que a coisa aí é
séria hein.
É disso que falo quando vivem
falando da Veja.
Porque será que o jornalista chamaria
a atenção do Dadá, quanto a Delta?
Aí é que a coisa aperta, porque se não
passaria por mais um informante.

Paciente

A grande consequência dessa CPMI será que, daqui para a frente, cada reportagem sobre algo, particularmente denuncias, será seguido de um “é verdade, eu juro!”.

Impressiona que quem fez essa lambança com a credibilidade da imprensa não foi o regime militar, nem os “stalinistas” da esquerda: foram jornalistas, formados e experientes.

Qual será a relevância da palavra da imprensa depois disso tudo?

    lulipe

    Isso serve para os blogs “progressistas”, e o que isso signifique ser, caro paciente???

Rubensk

Pelo visto, mais uma vez, vamos ter um Domingo Espetacular!

    lulipe

    Já estão em terceiro lugar na audiência!!!

    marcosomag

    Perguntinha incômoda: teria a senhorita Maria das Graças dado aquelas declarações bombásticas apenas para desviar a atenção do telespectador das revelações da Record sobre a imprensa como porta-voz do contraventor?

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