Heloisa Villela: Medo do sexo oposto faz americano segregar o happy hour

Tempo de leitura: 3 min

por Heloisa Villela, de Nova York

Surreal a capa do New York Times deste domingo 2 de julho.

No centro da metade superior da página, a foto de uma cidade da Síria totalmente arrasada pela guerra e o relato dos moradores de Tabqa apavorados com a possibilidade de retorno dos militantes do grupo Estado Islâmico.

Ao lado da foto, o resultado de uma pesquisa feita pelo jornal mostra o que realmente tira o sono da grande maioria dos trabalhadores americanos: ter que interagir com um colega de trabalho do sexo oposto. Sério!

Aparentemente, o país está mais para Mike Pence, o atual vice-presidente, do que para Donald Trump, conhecido pelas variadas investidas sexuais impróprias.

Pence diz que nunca almoça ou janta sozinho com uma mulher que não seja a dele. E essa parece ser a regra que baliza a conduta de muitos funcionários de empresas do país.

Nada de jantar, tomar um drink ou andar sozinho de carro com um colega de outro sexo.

Para uns, o medo de ser vítima de uma acusação falsa de abuso. Para outros, o pavor de ser vítima de um ataque.

Pelo visto a saída, aqui, é abrir uma fábrica de burcas. Com o marketing certo, é bem possível que dê uma bela grana.

Para o país que liderou o movimento feminista, a queima de sutiãs, a briga por salários iguais para a mesma função, olhando de longe parece outro lugar. Mas não é. O país é extremamente puritano.

Esse grito de liberdade e igualdade entre os sexos era a voz de uma minoria limitada aos grandes centros urbanos de estados da costa leste e oeste.

Essas mulheres que brigaram tanto nos anos sessenta estavam lá, firmes, na fileira pró-Hillary Clinton convictas de que colocar uma mulher na Casa Branca seria mais um degrau importante a galgar no movimento. Discordo profundamente.

Uma mulher belicista e neoliberal como Hillary avança pouco ou quase nada a não ser nessa aparência de ter chegado lá.

É como Obama, o primeiro presidente afro-americano.

Mudou algo para os afro-americanos do país? Reduziu o encarceramento exacerbado dos negros? As escolas dos bairros pobres, de maioria afro-americana, melhoraram, passaram a ter mais recursos?

Não sei no que a vida melhorou para os negros do país a não ser na alegria de ver um afro-americano dando as cartas na Casa Branca.

Mas voltando à pesquisa do Times, o jornal conclui que esse medo da interação com o sexo oposto está criando dificuldades para o avanço profissional das mulheres.

Quem é que vai contratar uma pessoa com a qual vai ter medo de se reunir a sós para tratar de assuntos de trabalho? Se o chefe é um homem, ele vai preferir contratar outro homem para evitar problemas futuros. E com o a maior parte dos chefes ainda é do sexo masculino, as mulheres saem perdendo.

O mesmo raciocínio funciona para quem já está empregado. Se a empresa tem mil, dois mil, três mil funcionários, quem não tem oportunidade de mostrar do que é capaz, participar daquela reunião de emergência para resolver um problema a sós com o chefe, perde muito espaço para subir na empresa.

Olhando os detalhes da pesquisa a gente constata que as mulheres condenam mais os jantares e drinks com colegas do sexo oposto do que os homens. E a certeza de que eles não devem acontecer jamais cresce se a pessoa for republicana, morar em zonas rurais, no Sul ou no Meio-Oeste, não tiver um diploma universitário e for religiosa, especialmente evangélica.

Mas não se limita a esses grupos. Não dá para discriminar. O jornal dá exemplos de cientistas formados nas melhores universidades do país que simplesmente não se permitem aquele chopinho depois do trabalho com um colega do sexo oposto.

Uma delas diz o seguinte: “Enquanto as mulheres estão crescendo elas aprendem que somos todos iguais mas essa não é uma mensagem boa. Nós temos que fazer muito esforço para nos defendermos”.

Esse é um retrato dos Estados Unidos que muita gente se recusa a ver. E apesar das denúncias contra Donald Trump, explica parte do sucesso dele.

Uma população assustada com tudo, com medo até dos colegas de trabalho, com medo de viver, que quer um livro de autoajuda com as regras para se comportar no escritório, o que fazer quando sai de lá, se pode parar no caminho para conversar com alguém num café ou em um bar.

Mas existe sempre uma “fresta na persiana”, como diz a escritor e jornalista Eliane Brum, no livro “Uma Duas”: quanto mais idosa a pessoa que respondeu à pesquisa, maior a tendência ao obscurantismo. Entre os mais jovens parece existir a disposição de mais encontros e menos burca.

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Comentários

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lucio

Sábios! Só retardado arriscaria ser caluniado pra ser preso e torturado durante anos ou assassinado no presídio. Antes do feminazismo já haviam caluniadoras, agora que todos creem nessas calúnias, isso deve ser regra e se for feminazista, evitem o máximo possível de qualquer interação.

No Canadá, os homens canadenses estão desistindo das canadenses, especialmente na British Columbia (Vancouver) são conhecidas como mulheres toxicas.

Resultado: as chinesas estão nadando de braçada e se vê aos montes canadenses casados com chinesas. Ah, e desde o ano passado, pela primeira vez o caucasiano não é a etnia dominante na província. 51% de asiáticos.
Estão certinhos. Melhor se preservar do que arrumar treta desnecessária com a justiça. Por uma feminazi caluniadora e mentirosa, A impressão que eu tenho é que nesses países já se chegou a um ponto em que não se pode nem mais olhar pra uma mulher que já é “estupro”.

Daqui a pouco essa moda vai ser “importada” pra cá também e tudo que os globalistas querem.

Giordano

Típico da hipocrisia da sociedade americana, de hoje e antanho. Acho é pouco que eles vivam assim mesmo, expiando seus pecados mundo afora.

Carlos Delgado

O material para o artigo é sem dúvida muito interessante, mas o artigo em si é superficial, impressionista, fica dando voltas em torno de aparências sensacionalistas e um certo pieguismo, sem chegar a alcançar o coração da paranoia politicamente-correta e o neopuritanismo que ela destila.

Faltou informação antropológica e sociológica à autora para ela ser capaz de dar conta da mistificação identitarista do multiculturalismo neoliberal, bem como do chauvinismo particularista que ela dissemina na micropolítica do quotidiano.

Mas, claro, a cabeça da nossa autora parece ser, ela mesma, americana demais, politicamente-correta demais, para sair do seu autocentramento obsessivo. É tanto autocentramento que a autora não consegue nem se distanciar do próprio texto para notar o quanto ele fica ambíguo quando escreve: “a certeza de que [jantares e drinks] não devem acontecer jamais cresce se a pessoa for republicana”. Como é que é? Se a pessoa for republicana essa certeza “jamais cresce”?… Erro meio banal de escrita jornalística, não?

Enfim, uma pena. Um pretexto bom demais acabou produzindo apenas um artigo para se jogar fora.

    Luiz Carlos Azenha

    Você entendeu. Cresce, se a pessoa for republicana. abs

Pedro Lima

A indústria dos processos nos EUA é em grande parte responsável por essa situação. O país parece não ter encontrado outros meios para coibir situações de assédio sexual no ambiente de trabalho que não passem pela via dos tribunais. Para os advogados é uma beleza: basta que uma mulher acuse um homem de tê-la assediado e milhares de dólares aparecem em suas contas-corrente – e nas de suas clientes também.

Quem já entrou em um prédio comercial nos EUA já deve ter visto a cena: a tensão começa no hall; quando entram nos elevadores, os homens encostam nas paredes com as mãos para trás das costas, e o fazem de modo a que todos vejam que eles estão escondendo e imobilizando suas mãos, como se estivessem se precavendo de qualquer acusação de ter tocado uma mulher naquele ambiente cheio de gente espremida.

O puritanismo americano explica em parte a tendência ao distanciamento entre homens e mulheres sem vínculos familiares. Mas quando o recorte é precisamente no ambiente profissional, acredito que a explicação seja menos de ordem religiosa, e mais econômica e jurídica.

fernando

isso não é novidade, os eua é uma teocracia fundamentalista evangélica!!!

Lukas

Meu chefe tem 50 anos. No fim de uma festa da empresa a estagiária pediu carona para ele. Fica bem ele de madrugada com a estagiária de 20 no carro?
Não, né.

Não dá, te pago um Uber, disse ele.

Ficaram todos felizes.

    Carlos Delgado

    Eu levaria a estagiária e diria a todos os demais:
    “Honi soit qui mal y pense!”
    O verdadeiro desprendimento ainda é aquele do tempo da jarreteira. A verdadeira honra não responde à ditadura do falatório. Outro mundo é possível! Abaixo a imbecilidade do mundo da predação narcísica!

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