Franklin Martins: É preciso refundar o Ministério das Comunicações

Tempo de leitura: 5 min

25 de Novembro de 2010 – 12h42

do Vermelho

O ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, Franklin Martins, afirmou nesta quarta-feira que o Ministério das Comunicações precisa ser refundado e abarcar as discussões sobre o marco regulatório da mídia e todos os temas de convergência digital que deverão ser discutidos no governo de Dilma Rousseff.

Martins participou nesta manhã de um seminário sobre liberdade de imprensa no Brasil, promovido pela TV Cultura de São Paulo, e disse que o governo Lula “ficou devendo muito” na área de Comunicação Social, não avançando nas discussões pertinentes ao setor. O ministro afirmou que o Ministério das Comunicações, que até o ano passado foi gerido pelo peemedebista Hélio Costa, precisa de “transformações sérias” que modernizem as discussões sobre futuro do setor.

“O Ministério das Comunicações precisa passar pelo mesmo processo do Ministério das Minas e Energia no primeiro mandato do presidente Lula. Se o governo não tivesse refundado o Ministério das Minas e Energia, dando condições de planejar, acompanhar, estudar e elaborar políticas públicas, nós teríamos tido uma sucessão de apagões no País. E não haveria tranquilidade jurídica, não haveria segurança jurídica para que tivesse investimentos do porte das hidrelétricas que estamos tendo hoje no País”, disse o ministro.

Legislação da mídia

Para Martins, o Brasil passa por um momento delicado sobre a legislação midiática e precisa discutir a incorporação das empresas de telecomunicações no mercado de TV, a abertura de capital midiático para empresas estrangeiras, além da propriedade cruzada de mídia e a concentração dos meios de comunicação. “O Ministério das Comunicações tem que voltar ou passar a ser o centro formulador das políticas nacionais de comunicação, que entra nesses assuntos que nós estamos discutindo aqui no seminário. Se nós não tivermos um centro de referência que formule e comande esse processo, nós desperdiçaremos essa oportunidade (de discutir a mídia), que não voltará”, analisou o ministro. “O Brasil está há quarenta anos sem discutir a mídia”, disse Martins.

O ministro também defendeu a regulação dos meios eletrônicos. “Ao regular, você estará aumentando o que existe. Nós temos uma grande pulverização de grupos de comunicação no Brasil? É altamente concentrado. Não é bom para o País”, disse. Para ele, é preciso criar um ambiente que abra espaço para mais competidores entrarem em cena, além de garantir princípios que diversos países já estabelecem.

“Não entendo porque a Constituição nesses artigos não precisa ser objeto de lei e ser aplicada. Por que não temos que ter produção regional, nacional, independente? Por que não temos que observar princípios de equilíbrio, de proteção ao menor, de não permitir estímulo à discriminação, coisas gerais que existem em todos o países democráticos no mundo?”, questionou.

Martins citou ainda o processo de convergência de mídias como justificativa para fazer a regulação, bem como a diferença de faturamento entre o setor de radiodifusão – R$ 13 bilhões no ano passado — e de telecomunicações — R$ 180 bilhões.

O ministro criticou ainda interpretação dada a declaração sua sobre a necessidade de se discutir a regulação. “Eu disse que preferia fazer a regulação num clima de entendimento que num clima de enfrentamento. E isso foi tomado como agressão, não entendo”, afirmou.

Fim de mandato

Ele afirmou que prepara um anteprojeto de lei junto com a equipe para regulamentar os meios de comunicação e, principalmente, modernizar a legislação midiática atual. Segundo Martins, a intenção é que o governo Dilma já assuma com este tema em debate no Legislativo.

O anteprojeto de lei preparado pela equipe de comunicação do atual governo pretende apenas nortear os trabalhados da futura equipe de governo, segundo Franklin Martins. O ministro afirmou que o documento não vai mudar o atual modelo de participação do capital estrangeiro nas empresas de comunicação, que é limitado a 30% do valor total da companhia.

Franklin Martins também admitiu pela primeira vez em público que deixará o governo federal assim que terminar o mandato do presidente Lula. Alegando razões pessoais, o ministro afirmou que não fará parte da equipe da presidenta eleita Dilma Rousseff.

Liberdade de imprensa

Sobre liberdade de imprensa, o ministro da Secom voltou a afirmar que não há nenhuma tentativa de cerceamento do trabalho da imprensa no Brasil.

“Não consigo ver nenhum problema do presidente Lula criticar tal ou qual revista”, disse Franklin Martins durante sua palestra. “A imprensa não está acima da crítica. Aliás, nem o presidente Lula, nem eu, nem a Dilma. É normal ser criticado. Isso não afeta em nada a liberdade de imprensa. Há pessoas que diante da crítica acham que a liberdade de imprensa está ameaçada. Eu não acredito nisso. A crítica ajuda a crescer”, completou.

Ele atribuiu o suposto “clima de censura” apregoado por alguns veículos de imprensa a “fantasmas que querem atrapalhar o debate legítimo da atual legislação”.

“Não há no Brasil nenhum obstáculo para a liberdade de imprensa. Se nós colocarmos os fantasmas na frente das discussões, não dá para debater os problemas reais do setor (…) A regulamentação é necessária para que novos ‘players’ sejam introduzidos no mercado. Quanto mais veículos atuando, mais liberdade de imprensa nós teremos”, argumentou Martins sobre a atuação de operadoras de telecomunicações no setor de radiodifusão.

Martins se declarou ainda “inteiramente contra a expressão controle social da mídia”. “Essa expressão é confusa. Se estão querendo debater, discutir a mídia, tudo bem. Se estão querendo dizer controle de conteúdo, o governo é inteiramente contra. O governo não votará a favor de nenhuma proposta que inclua o termo controle social da mídia, porque é ambígua”, setenciou.

“Nós estamos formando um mercado de massa gigantesco, que antes não tinha opinião, não tinha voz. Tudo isso está nos colocando um desafio e nós temos que sentar para discutir. O governo tem procurado chamar todos os atores. O Antônio Carlos Magalhães dizia o seguinte: ‘Almoço do PFL que eu não for não existe’. Isso não existe mais. O que existe é o tempo da classe C”, opinou.

Internet, novas mídias e o novo jornalismo

Para Martins, o momento vivido pela imprensa é de transição de modelo. Segundo ele, as novas mídias permitem que se formem grupos de consumidores que questionam a informação.

“Há uns seis, sete meses o deputado Roberto Jefferson escreveu um artigo na Folha de S.Paulo, nem lembro sobre o que. No dia seguinte, ele foi obrigado a reconhecer que era um plágio, afirmou que o assessor se confundiu. Um leitor lembrou que já tinha lido isso em algum lugar, buscou no Google e em pouco tempo isso circulava em toda a rede”, conta.

Martins citou ainda o episódio da bolinha de papel como exemplo. “A TV Globo coloca no ar uma reportagem de sete minutos que anos atrás seria incontestável. No dia seguinte, outras pessoas já haviam decomposto quadro a quadro e viram que não havia a trajetória do segundo objeto. Quer dizer, a informação foi questionada.”

Segundo ele, essa alteração na forma de produzir a informação gera desconforto. “Vamos ter de nos adaptar a fazer um novo jornalismo. O leitor terá mais filtros, mais questionamentos”, disse.

“Teremos muito mais imprensa do que temos hoje. A digitalização e a internet significam mais e não menos. A produção em internet vai reduzir os custos de produção para um terço. Existe a possibilidade de que os tempos heroicos do jornalismo possam voltar, está acontecendo em outros países. É um processo de extraordinária riqueza. Custos de produção caem brutalmente também na TV”, avaliou.

O seminário Cultura sobre Liberdade de Imprensa acontece nesta quarta e quinta-feira, com participação de representantes de vários veículos de comunicação, como jornais, revistas e portais de internet, como o iG. O evento acontece na sede da TV Cultura, no bairro da Lapa, em São Paulo.

Com agências


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Comentários

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Alice

Alguém sabe porque mataram o vereador do PT, prof Luís Carlos Romazzini, hoje?

Jota Ricardo

Poderia começar fazendo um jornalismo independente de verdade na tv brasil,devolvendo o rebutalho de o globo(no diminutivo mesmo). Esta farsa de público x estatal e´para beócios. tem que ter debates diários sobre os temas de real importância da realidade brasileira,e agora,com esta ''guerra '' no Rio, deveriam estar de plantão nem que fosse num estúdio à lenha(falta de verba é desculpa para omissão),Vamos parar de achar que a blogosfera sozinha já tem poder pra fazer a cabeça do povão. as pessoas hoje tem tv em qualquer esquina,vão se consultar na upa,está sintonizado na Globo.Se Dilma demorar um pouco a perceber a premencia desta questão,vai sofrer um arrastão.

Daniel Pires

Qualquer um que colocar como meta o combate essa mídia inverossímil merece um lugar especial.
O pódio. Franklin já demonstrou responsabilidade, moral e ética, portanto merece a cadeira de ministro das comunicações.

Daniel Pires, Feira de Santana Bahia.

patricio

A menos que seja por razão muito grave, como saúde por exemplo, o Franklin devia reconsiderar sua decisão.
Há momentos que as razões particulares devem se submeter às razões maiores, da nação, para impedir que a soberania do país e de seu povo sejam mais arranhadas do que já estão. Ainda que seja um assessor do futuro ministro, é imprescindível que um homem possuidor da visão política como ele, coloque sua inteligência a favor da democracia midiática.
As cinco famílias tem suas armas apontadas contra qualquer abertura dos meios.

Franklin, em nome de seu passado que nos honra, repense.

Orellano Paz

Preparem-se pra guerra! Alguém aí lembra da "Operação Mãos Limpas" na Itália? Haverá sangue e ranger de dentes! Mas a democracia tem que seguir adiante! Temos que armar a sustentação popular do governo Dilma. O PIG vai testar a sustentação do governo logo no inicio, em janeiro/fevereiro. Estejamos atentos!

Maxwell B. Medeiros

Por falar em Franklin Martins, olhem só o que disse esse colunista do UOL:

Ora aqui, ora acolá, lá está o "ministro da Informação" do governo Lula, Franklin Martins, defendendo algum tipo de controle (ou mordaça) contra a imprensa livre, seu grande inimigo.

Como militante político, Martins só deixa a memória de uma sanha ideológica que, se tivesse tomado o poder, implantaria um governo tão asqueroso e despótico quanto o foi o da ditadura militar –só que de esquerda.

Como comentarista da Globo, não deixou saudade alguma ao telespectador, com sua voz moderrenta e seus comentários e análises insossos e desinteressantes.

Como ministro, deixa de legado o que realmente é: um político perdulário, corporativista, prepotente, dado à megalomania, com ideais retrógrados e ideias totalitárias. Foi esse senhor quem criou um enorme cabide de empregos, chamado TV Brasil, cujo custo astronômico e programação e audiência ridículos são motivos justos de chacota.

Pois estamos aqui hoje para dizer ao sr. Martins que queremos, sim, o que ele chama de "enfrentamento". Que tente, se for capaz, controlar a nossa voz, e impedir a nossa pena jornalística e isenta de se erguer todos os dias contra gente déspota e totalitária; de enfrentar gente como o senhor.

O recado é o seguinte, sr. Franklin Martins, e aceite-o aqui de bom grado: o sr. vai controlar coisa nenhuma!

Este programa vai passar. O senhor vai passar. Mas a imprensa livre brasileira vai ficar e se perpetuar, enquanto existirem jornalistas que se dedicarem a publicar a verdade, e a jamais se dobrarem aos fascistas e asseclas de mesmo jaez.
http://noticias.uol.com.br/ooops/ultimas-noticias

Ps: Não me lembro se foi ele, mas há anos atrás assisti à palestra de dois jornalistas da Folha, e um deles disse que achava que aqui na cidade não se vendia algumas revistas de circulação nacional. Acho que ele não teve sequer o trabalho de sair do hotel.

easonnascimento

Apesar de ter afirmado que não quer mais trabalhar no governo, Franklin Martins seria o melhor nome para o Ministério das Comunicações. Ele é do ramo. Dilma deveria convencê-lo a mudar de idéia. O Brasil agradeceria.
http://easonfn.wordpress.com

Daniel

Se for pra refundar, que o Franklin seja o ministro! H. Costa nunca mais!

    Jairo_Beraldo

    Ele sabe que não é a vez dele. Tem que se afirmar a parte tecnica. E aqui torcendo para a Dilma mandar o Malocci cuidar da limpeza publica da california brasileira, a sua ribeirão preto! E mandar o cardozo assumir de vez um dos escritorios de advocacia de defesa do Daniel Dantas!

iza

Queremos gente com coragem na pasta da Comunicao

Esse cara.

Franklin Martins.

valter

Tenho certeza de a Presidente Dilma não irá escolher este morengueira fraco. Além dele não entender nada de mídia em geral será novo ministro da globo. Pelo amor de Deus Sra. Dilma não dê ouvidos a este lobby. Escolha um jornalista como Paulo Henrique Amorim, Nassif, Azenha, etc. Acho que para o Ministério da Comunicações tem que ser escolhido alguém do ramo, não ligado à Globo.

a barbosa filho

Por conhecer demais a máquina Globo e a mídia cartelizada em geral, Franklin Martins prestou enorme serviço ao Brasil. Seria ótimo se continuasse, mas poderá ser substituído, por exemplo, por Luíza Erundina, que também domina os problemas do setor e, igualmente, tem moral inatacável.
Seja quem fo o ministro, a presidenta Dilma terá ao seu lado a sociedade organizada e a blogosfera, para enfrentar esta guerra que será tirar das sete famiglias o domínio total sobre a Informação no Brasil. É direito do povo, é constitucional, é exigência da Democracia.

Messias Macedo

… O senhor Franklin Martins deveria ser convidado pela presidente Dilma Rousseff a rever a sua posição de deixar o governo! Creio eu que poucas pessoas no Brasil têm a leitura tão bem elaborada e o discernimento tão refinado acerca das imperiosas transformações que o setor midiático deverá ser submetido, a bem do processo democrático e civilizatório. Franklin Martins, excelente nome para 'refundar' o Ministério das Comunicações! E mais: do ponto de vista ideológico e da integridade ética e intelectual, Franklin Martins é altamente confiável.

Brasil Nação
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Flavio Lima

O nosso ministro!
O ministro dO Cara!

emerson57

mas ministro,
se o ministério das comunicações for refundado,
é ai mesmo que o pig acaba…………

mello

Excelentes os comentários do competente ministro. A regulação tarda, mas virá.

eu mesmo

não tem imagens ou video do evento?

    valdir freire

    o ricardo kotscho tá participando do seminário.

    mas vc pode conseguir chegara ao seminario aqui http://www.tvcultura.com.br/seminario/sobre

    nesta página da cultura tem um icone do youtube..o seminário todo tá lá

Polengo

Chora, PIG. Esperneiem.

Aproveitem enquanto tem tempo, porque daqui a pouco não tem mais PIG.

Donizeti – SP

Estão falando em colocar o Deputado carioca Moreira Franco do PMDB no Ministério das Comunicações, no lugar do Ministro da rede Globo Helio Costa.

Se isso ocorrer, adeus leis de regulamentação do setor de mídia e democratização das comunicações.

Será colocar o "cabrito tomando conta da horta". Espero que isso não ocorra, senão toda a luta que a sociedade empreendeu até agora para democratizar as comunicações será colocada na geladeira.

Tem que colocar no Ministério das Comunicações alguém que conheça a área e queira fazer e apoiar as reformas necessárias no setor.

Senão serão mais 4 anos de guerra da mídia venal contra a Presidente Dilma e nós apanhando aqui na blogosfera.

    Antonio Silva

    Só acredito em avanço nesta área se a Presidenta Dilma nomeace para a pasta a Marilena Chaui ou o Roberto Requião, como não vai nomear… .
    Tomara que NÃO nomeie ninguem do PMDB nem os PTucanos Palloci ou Mercadante .

    Lucio Dias

    Donizeti, acho que voce dormiu mal e teve um pesadelo. O moreira Franco está mais pra papagaio de pirata do que pra ministro.

Donizeti – SP

Depois do desastre da atuação partidarizada da grande midia e da derrota dos seus candidatos em 2006 (Alckmin) e 2010 (Serra), a grande mídia se depara com oque nunca queria que acontecesse:

– a sociedade através da internet e organizações da sociedade civil trouxeram a questão da mídia e de sua forma de atuação para o centro dos debates e como pauta a ser discutida.

Isso é irreversível, ninguém, nem nenhum setor da sociedade pode interditar o debate, muito menos a mídia.

edson

Inclusive o CORREIO deveria sair da pasta de Comunicações e ir para a pasta de Planejamento, uma vez que trata-se de um serviço logístico essencial e não um "simples" meio de comunicação… Chega de amadorismo no Brasil e vamos profissionalizar os serviços públicos…

carmen silvia

Portadora de uma visão profundamente obscurantista, a velha mídia não percebe que deste debate depende a sua própria sobrevivência,ou então será atropelada pelos acontecimentos.Apesar de ainda manterem uma certa hegemonia é visível a sua perda de poder.

Marco Aurélio

Sempre gostei dos comentários de Franklin Martins, quando atuava na tv…depois do que li aqui..admiro-o ainda mais… Parabéns, ministro!!!

paulo chacon

É uma pena o Ministro Franklin não poder continuar no Governo Dilma. Ele é um quadro de 1ª grandeza.

Acácio F C Oliveira

Este cidadão, que conhece bem as diversas mídias, seria, de fato, um eficiente e eficaz Ministro das Comunicações.

Nivaldo

Este é o "meu" Ministro das Comunições!

    Leider_Lincoln

    É o "nosso"! Chega deste ministério ser ocupado por vassalos da Globo!

    Lucio Dias

    Nós temos outro Congresso, é bom não esquecer. Dilma é muito inteligente e Dilma não é Lula.

    Klaus

    Nivaldo, pode ser que vc durma com Franklin Martins e acorde com Moreira Franco.

    El Cid

    errado, "herr troll": ele vai acordar com a nomeação do Paulo Bernardo !! Patético !!

    alex

    Digo o mesmo. O PIG vai espernear. Está a meses em campanha contra o Franklin. Alguns colunistas de fofocas* espalham que a dilma e o franklin se odeiam,mas eles já me pareceram muito próximos e amigos num passado recente. Acho que é pra poder descrever a nomeação do franklin como imposição do PT Bolivariano. eles morrem de medo do F.. Porque o F. vai botar praF..
    E o Colunista de fofoca é o claudio humberto. Fofocas e plantações.

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