Fernanda Otero e Rodrigo Frateschi: Diferenças claras entre o 13 e o 15

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Manifestação reforma política

O PT, seus militantes, o PSDB e as manifestações dos dias 13 e 15 de março

por Fernanda Otero e Rodrigo Frateschi*

Muita expectativa e pouca comunicação é o que vemos hoje sobre as manifestações dos dias 13 e 15 de março próximos. Sabe-se, no entanto, que há associações indutivas acerca das mesmas.

Sabe-se que as manifestações do dia 13 contam com a simpatia da militância do PT, do ex-presidente Lula e que as do dia 15 contam com o apoio do PSDB e da imprensa/empresa.

Sabe-se também, que as manifestações do dia 13 são contra o impeachment da Presidenta, mas que as do dia 15 clamam pelo impeachment como solução dos problemas.

Mas cabe a nós fazermos algumas ponderações, sob pena de cairmos em generalismos e não identificarmos os atores envolvidos, as responsabilidades e também dificultar a solidez de um posicionamento político mais responsável e produtivo.

Em primeiro lugar, não se pode dizer que as manifestações do dia 13 de março são favoráveis ao governo. Embora claramente contra o impeachment e em defesa da PETROBRAS, essas manifestações contam ainda com críticas fundamentadas ao tão falado ajuste fiscal.

A UNE, protagonista importantíssima das manifestações do dia 13, conta com críticas também às novas regras do FIES que tem dificultado a matrícula dos estudantes e a consequente continuidade dos cursos universitários.

As manifestações do dia 13 são manifestações sociais a favor da defesa nacional, das riquezas nacionais e dos princípios e direitos sociais dos brasileiros, com sólida legitimidade social; com base real de reivindicação e com pauta transparente, pública, legítima e defensável sob argumentos legítimos, sem vinculação ao governo ou ao PT, mas simpática aos princípios formadores do partido.

Analisemos então as manifestações do dia 15 pelo impeachment da Presidenta, e poderemos obter outras ponderações.

Em primeiro lugar, erra quem do PT identifica que se trata de manifestação burguesa ou outras blasfêmias. Essa avaliação em nada ajuda a entender e a se posicionar politicamente.

As manifestações do dia 15 não se baseiam em reivindicações sociais, não há pontualidade, não há base social definida e organizada. Defende apenas e tão somente o impeachment. Não faz análise geopolítica acerca da solidez democrática, das consequências e interesses estrangeiros envolvidos na PETROBRAS, nem da postura e isenção do comportamento das instituições.

É contra a corrupção que os manifestantes do dia 15 (que não sejam os mal-intencionados) enxergam no governo, em especial, onde esteja ocupado pelo PT, poderão sair à rua. Essa associação é consequência de uma política de comunicação massacrante promovida pela mídia reacionária. Por isso, não devemos aceitar o ódio nem sentir raiva das pessoas que foram levadas a acreditar que o PT é um partido corrupto apesar de ser o que mais combateu a corrupção em seus governos.

Isso vale para lembrar que da massa que se forma nas manifestações, podemos extrair uma grande maioria com honestidade de propósitos, seja no dia 13, seja no dia 15.

Essa constatação nos impede de pronto de adjetivá-los (os do dia 15) de burgueses, coxinhas ou outra “qualidade” que tem buscado caracterizar uma dicotomia de classes nas duas manifestações e que tem por resultado a ofensa de muitos, sem identificar os obscuros manipuladores, merecedores desses e outros adjetivos piores.

O PSDB e a imprensa/empresa são os responsáveis pelas manifestações do dia 15. Eles têm intenções inconfessáveis por trás dessa articulação já conhecida como o terceiro turno de quem não se conformou em ter perdido as eleições e se esconde no beco escuro das informações manipuladas.

Querem a entrega da PETROBRAS e da espinha dorsal da construção civil do país a governos e empresas estrangeiras e não precisamos provar essa afirmação, bastando ver os editoriais da Globo, assinados inclusive por seus proprietários, bem como as declarações dos líderes do PSDB sempre nesse sentido.

Eles querem a chave do cofre e se utilizam de todo tipo de subterfúgio para isso, inclusive, de apontar incoerências muitas das quais nós mesmos concordamos, de braços dados ao movimento do dia 13.

Não seria exagero dizer que a maioria, nos dois dias de movimento, tem em seus corações os mesmos cristalinos sentimentos pelo país, sendo demasiada triste a possibilidade de um confronto onde os mesmos sentimentos honrados possam levar a querer dilacerar as vísceras do próximo, que se assemelhe a uma luta de classes que só aparece pela ocorrência de surtos fascistas de uma minoria racista sem educação e excludente das varandas gourmet; que aparecem de vez em quando nas redes sociais muito mais por uma verborragia chocante a todos, que causa mais repúdio do que a possibilidade de formar maiorias, aparecendo como os maiores protagonistas, contrariando a lógica de um país onde a maioria da população se identifica como de “esquerda” e votou contra eles.

Então, identificar os motivos, os envolvidos, os interesses é passo anterior à paixão e ao ódio.

Dia 13, movimentos conhecidos dos brasileiros, movimentos tradicionais e historicamente pacíficos e democráticos irão desfilar. CUT, UNE, MST, MTST, CMP tem todos mais de meio século de organização, ao passo que os movimentos do dia 15, os que aparecem, quem são? Que confiança podem os brasileiros depositar nos Black Blocs, Anonymous, Vem Pra Rua, etc.?

Quem são eles na organização da sociedade brasileira? Na vida cotidiana do país? A que direitos constitucionais são ligados e legítimos defensores? Quais são brasileiros? Que responsabilidade eles tem?

O Brasil, como qualquer país, é formado de Constituição, Território e População, senão não poderia existir como país, então quem chega a aventar a hipótese de separá-lo?

Vale lembrar que muitos desses que convocam o dia 15 tem saído às ruas justamente contra qualquer direito, a favor da ruptura da democracia.

Então, nessa miscelânea toda, o que devemos fazer? Como deve participar o PT e sua militância para servir ao país?

Como diz o velejador, “firme no leme e de olho na vela mestra”.

A militância do PT é formada por professores, advogados, médicos, estudantes, trabalhadores de chão de fábrica, sem terras e sem tetos, pequenos e grandes empresários e produtores que tem interesses e direitos no estrato da sociedade brasileira e que são legítimos em suas origens para defender uma ou outra questão.

Ou seja, a militância do PT hoje é formada por pessoas que acreditam numa forma inclusiva de organização da sociedade e de distribuição das ações governamentais.

O médico ligado ao PT é a favor do mais médicos e da inclusão social, da saúde pública e universal. Os estudantes ligados ao PT são favoráveis à manutenção do FIES, do PRONATEC e de outras medidas inclusivas, portanto, esses são militantes que tem legítimo e originário interesse de participar de reivindicações sociais, levando e difundindo os princípios formadores do partido e absorvendo as questões sociais para dentro do partido, para que o mesmo esteja sintonizado com as necessidades da população.

Com a última eleição que elegeu um congresso mais conservador, os movimentos sociais serão os únicos e possíveis protagonistas a contrapor medidas como a das passagens aéreas das esposas dos parlamentares e como força de pressão sobre o Congresso e o Governo. E a militância deverá andar lado a lado com os movimentos sociais.

Divulgar e valorizar os princípios formadores do PT, irmanar-se aos movimentos legítimos e não ceder ao ódio e ao preconceito e a análise curta, acreditamos, será o melhor caminho não só para defender o PT, mas também para mantê-lo atual, eficiente, legítimo e útil ao Brasil.

Até dia 13!

*Fernanda Otero é jornalista e militante do PT; Rodrigo Frateschi é advogado e militante do PT.


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Comentários

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pedro

Por Antonio Prata

Da Folha de S. Paulo

No dia 25/8/1999, primeiro ano do segundo mandato do FHC, meu pai, Mario Prata, que tinha votado no Lula, publicou no “Estadão” a crônica “UNE ou desune”. Cito abaixo alguns trechos.

“Eu, a princípio, achei que tinha lido errado. Mas li de novo. O erro não era meu. Era de um moleque de 22 anos. (…) Ele é o novo presidente da União Nacional dos Estudantes. Sabe qual é a meta dele? Derrubar o Fernando Henrique Cardoso. (…) Ir pra rua e derrubar o presidente. (…) Será que esse moleque (…) sabe o que a UNE fez durante anos contra a ditadura para agora, finalmente, a gente colocar lá o Fernando Henrique? (…) Eu posso até não concordar com o nosso presidente. Mas vivemos numa democracia. (…) Você não viveu a ditadura, menino. Dê graças a Deus por termos o Fernando Henrique como nosso presidente. É um homem digno, íntegro, honesto e não mata estudante. (…) Se está errando aqui ou ali não é de propósito. (…) Foram muitos mortos, moleque, para conseguirmos a democracia.”

No mesmo dia 25, na coluna Joyce Pascowitch, na Folha: “Pode haver nos próximos dias uma revoada de políticos que apoiam o governo para partidos de oposição (…).” “A pedido do próprio Palácio do Planalto, o mago das pesquisas do PSDB [Antonio Lavareda] tem dado várias entrevistas. Tudo para explicar que existe um outro lado das pesquisas de opinião -a população não estaria assim tão insatisfeita com a performance do presidente.”

No dia seguinte, 26 de agosto de 1999, a oposição faria em Brasília a Marcha dos 100 mil, gritando “Fora, FHC!”. Brizola pregaria a renúncia do presidente e do vice e a convocação de novas eleições. MST e CUT exigiriam impeachment. “O líder do maior partido da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse no Rio que o objetivo do movimento é pedir a abertura de uma CPI para apurar suposto crime de responsabilidade de FHC na privatização das teles. ‘Pode-se até chegar ao impeachment, a partir do que for apurado pela CPI'”, publicou a Folha.

Neste domingo, a mesma história será reencenada, mas com os atores invertendo-se nos personagens. Manifestantes do centro à direita (Dez mil? Cem mil? Dois milhões?) vão às ruas pedir a cabeça da petista. Eu venho ao jornal repetir as palavras do meu pai: “Posso até não concordar com o [a] nosso [a] presidente. Mas vivemos numa democracia”.

É inegável que há muita coisa podre em Brasília -e em São Paulo, no Rio, em Birigui e em Santa Rita do Passa Quatro. Somos um país corrupto, da quitanda ao agrobusiness. O petrolão, contudo, está sendo investigado. O Ministério Público é independente. A imprensa é livre -livre, inclusive, para ter o rabo preso com quem bem entende.

Veja: após o mensalão, o presidente do PT, o tesoureiro e o ministro da Casa Civil foram julgados pelo STF (um colegiado cuja maioria foi indicada durante os anos petistas) e mandados pra cadeia. Se isso é a “venezuelização” do Brasil, não precisamos mais nos preocupar com a Venezuela.

Protestos contra o governo são justos e não só dor de cotovelo da “elite branca”, mas enquanto não houver provas que envolvam a presidente com a corrupção, qualquer um que falar em impeachment não passará, como disse há 16 anos nosso grande cronista, de um “moleque”.

Sidney

Nossa que texto esquizofrênico!!
Ao mesmo tempo que ele diz que o dia 15 é patrocinado pelos tucanos e mídia partidária ele diz que tem muita gente “honrada” na passeata de domingo.

Me poupe.

Mário SF Alves

Até onde li, último parágrafo, destaco dois e incluo 1:

1) É contra a corrupção que os manifestantes do dia 15 (que não sejam os mal-intencionados) enxergam no governo, em especial, onde esteja ocupado pelo PT, poderão sair à rua. Essa associação é consequência de uma política de comunicação massacrante promovida pela mídia reacionária. Por isso, não devemos aceitar o ódio nem sentir raiva das pessoas que foram levadas a acreditar que o PT é um partido corrupto apesar de ser o que mais combateu a corrupção em seus governos.

2) Como diz o velejador, “firme no leme e de olho na vela mestra”.

__________________________

3) O leme é a antevisão do país que queremos construir; e a vela é a EDUCAÇÃO política, ampla, geral e irrestrita.

Felipe

Bom texto.

PSDB vai entrar para história, como sempre, por sua covardia e falta de ética ao apoiar as manifestações mas não participar.

São tão culpados quanto o Charles Manson, que incentivou a morte de meia dúzia de pessoas “mas não sujou as mãos”. Deviam ter o mesmo fim que ele.

    guilherme

    PSDB não participar, mas incentivar, é sempre normal. COMO SEMPRE EM CIMA DO MURO.

Donizeti – SP

Artigo muito bom Rodrigo, mas acredito que as pessoas que vão comparecer no ato do próximo domingo dia 15 é formada por extratos da classe A e B alta, oposição de direita (tucanos e dem) insuflados pela mídia partidarizada e declaradamente golpista, desde sempre.

Não acredito em grande número de participantes, pois esse pessoal é mais de fazer barulho pelo facebook e redes sociais do que se dispor a sair de casa, ainda mais num domingo a tarde, o perfil dessa gente é mais de bater panelas do conforto e do alto de suas sacadas gourmet.

Mas o PT e o governo federal tem que ser mais ágeis em detectar movimentos políticos nas redes, e não pode continuar apanhando dia e noite sem ter alguém que bata de frente com as versões sempre negativas do PIG – Partido da Imprensa Golpista e da oposição podre, que não tem moral para cobrar nada no plano ético do PT e dos petistas, pois são mais sujos que pau de galinheiro, vide o Aécio (2 aeroportos em áreas da sua família com dinheiro público; o helicóptero com 500 kgs de cocaína de seu aliado Perrela; seu nome na lista de furnas, o trensalão tucano paulista, cheio de provas mas que ninguém investiga e fica por isso mesmo, etc…)

No mais, vamos hoje para a Av. Paulista defender a Petrobrás e as conquistas sociais dos últimos 12 anos, mostrar ao golpistas de plantão que ” não passarão “.

    Gerson

    Pode-se perceber que o seu poder de análise é muito ruim, assim como a deste governo. Ficam repetindo as mesmas coisas o tempo todo como um disco riscado, mais de um milhão de pessoas foram às ruas. Não existe golpe, existe sim a constatação de um governo ruim e envolvido em todas as esferas da corrupção. Se coloque na seguinte situação, você é pai e responsável pelo seu filho, ele numa certa idade passa a consumir drogas, passa a ter uma saúde debilitada, começa a ir mal nos estudos, ou seja, caminha indubitavelmente ao fundo do poço, por doze anos isso acontece e você nada fez , quando ele é pego traficando, acaba preso. Qual a sua resposabilidade? Você foi conivente ou foi negligente? Como vc não percebeu o que estava acontecendo? Pois é, em qualquer uma das alternativas vc é responsável por culpa ou dolo e, por muito menos outro presidente foi retirado do poder.

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