Fátima Oliveira: É crime não punir crimes de quem exibe padrão sociopata?

Tempo de leitura: 3 min

Entre a intenção dos governos e a prática pode haver um fosso fatal. Foto: Feminismo

Fátima Oliveira, no Jornal OTEMPO
Médica – [email protected] @oliveirafatima_

No último Dia Internacional da Mulher, em cadeia nacional de rádio e TV, a presidente Dilma disse: “Faço um especial apelo e um alerta àqueles homens que, a despeito de tudo, ainda insistem em agredir suas mulheres… Se é por falta de amor e compaixão que agem assim, peço que pensem no amor, no sacrifício e na dedicação que receberam de suas queridas mães. Mas, se agem assim por falta de respeito ou por falta de temor, não esqueçam jamais que a maior autoridade deste país é uma mulher, uma mulher que não tem medo de enfrentar os injustos nem a injustiça, estejam onde estiverem”.

Na data, foi veiculada “Nota pública da ministra Eleonora Menicucci sobre o caso Eliza Samudio”, na qual declara que “é estarrecedora a declaração do acusado de que Eliza foi assassinada, esquartejada e teve seu corpo jogado aos cães… Como ministra da secretaria da Mulher, reafirmo que o Estado brasileiro é mais forte que a violência. A Lei Maria da Penha é o marco legal que nos une, os Três Poderes da República e a sociedade, para retirar as mulheres do ciclo perverso da violência de gênero”.

É um conforto ouvir e ler tais declarações; todavia, as palavras da presidente e as da ministra em muitas ocasiões podem ser meras figuras de retórica, infelizmente. É que, entre a intenção e o gesto, pode haver um fosso: “Se Eliza Samudio está morta, o Estado brasileiro deve ser responsabilizado, pois se omitiu quando instado por ela a proteger a sua vida! A lei, quando chamada, não compareceu para dar limites ao agressor. Ao contrário, acariciou sua onipotência”. A condenação do mandante do crime foi uma vitória, mas é voz geral que foi branda.

Não temos de trastejar: “Se a vítima denuncia e, assim mesmo, perde a vida, cabe à sua família acionar o Estado por omissão na proteção da vida das mulheres”. Talvez só depois de meter a mão no bolso, por descaso pelas nossas vidas, o Estado brasileiro encontre um caminho seguro para nos proteger.

E é dever dos três níveis de governo esforço máximo para abolir o fosso do patriarcado, do machismo e do racismo, impedimentos concretos à cidadania feminina, como escrevi em “A personalidades delinquentes só a lei é que pode impor limites”:

“Urge que a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) encontre meios de blindar a Lei Maria da Penha, ao máximo, contra interpretações ao bel-prazer do juízo de valor conservador e machista de magistrados (as) e incluir elementos novos, científicos e consensuais, pertinentes às personalidades criminosas ou bandidas, já que ‘os transtornos de personalidade são intratáveis, incuráveis e irreversíveis’, mas há prevenção: ‘Investir em educação, em atendimento à primeira infância, na aplicação das leis e em contenção’. A Lei Maria da Penha e a magistratura não podem se omitir diante de agressores. É estímulo homicida não punir delitos de quem exibe padrão sociopata!” (O TEMPO, 13.7.2010).

Tais reflexões estão na totalidade na sentença da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que condenou Bruno Fernandes das Dores de Souza a 22 anos e três meses de prisão: “A conduta social é igualmente desfavorável, considerando o comprovado envolvimento do réu Bruno Fernandes na face obscura do mundo do futebol. No tocante à personalidade, tal circunstância, igualmente, não favorece o acusado, uma vez que demonstrou ser pessoa fria, violenta e dissimulada. Sua personalidade é desvirtuada e foge dos padrões mínimos de normalidade”.

Com a palavra, o Estado brasileiro!

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Nota de pesar da Ministra Eleonora pelo falecimento de Márcia Santana

Manifesto minha profunda tristeza pelo falecimento de Márcia Santana, secretária estadual de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul. Ativista pelos direitos humanos das mulheres, ela pautou sua atuação política pela busca da igualdade e da inclusão social cidadã.

Como gestora, Márcia atuou no desenvolvimento de uma série de projetos conveniados entre a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República e o governo do Rio Grande do Sul. Além disso, teve papel central na criação da Patrulha Maria da Penha.

Aos familiares e a todas pessoas próximas dela, meu abraço de conforto.

Eleonora Menicucci
Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

(http://www.sepm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2013/03/13-03-nota-de-pesar-da-ministra-eleonora-pelo-falecimento-de-marcia-santana)
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Secretária de Políticas para Mulheres do RS, Márcia Santana morre aos 35 anos

Da Redação Sul21

A secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Márcia Santana, 35 anos, morreu na madrugada desta quarta-feira (13), em casa, no bairro Jardim do Salso, em Porto Alegre. De acordo com a Polícia Civil, ela estava com familiares quando teria passado mal e desmaiado.

As informações preliminares dão conta de que ela teria sofrido um infarto fulminante. O corpo de Márcia teria sido encontrado pelo companheiro dela no banheiro da residência. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi ao local, tentou reanimá-la, mas não obteve sucesso.

Assistente social e ligada ao movimento feminista, Márcia foi chefe de gabinete da secretária de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, quando deputada federal.
Trabalhou pela defesa da infância e fim da exploração sexual de crianças e adolescentes no Rio Grande do Sul e no Brasil, bem como no combate à violência doméstica.
O governador, que estava em Brasília onde participaria de um encontro de governadores, decretou luto de três dias no Estado.
Ele antecipou o retorno ao saber da morte, e vem acompanhado das ministras da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, e da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Sepir), Luiza Bairros.
A deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) e os deputados Henrique Fontana (PT) e Dionilso Marcon (PT) também devem comparecer ao velório.

Márcia entrou no governo Tarso Genro em 2011.
A morte de Márcia ocorre no dia em que o Palácio do Planalto irá lançar o programa “Mulher: Viver sem Violência” e que tem apoio da Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres.

Líder do governo na Assembleia lamenta falecimento da secretária Márcia Santana

O líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado estadual Valdeci Oliveira (PT), prestou solidariedade, na manhã desta quarta (13) aos familiares, amigos e a equipe da Secretária Estadual de Políticas para as Mulheres, Márcia Santana, 35 anos, falecida nesta madrugada em Porto Alegre de infarto fulminante, segundo as informações preliminares.

Valdeci afirmou que a perda prematura e inesperada causa tristeza e perplexidade. O deputado enalteceu à disposição e a dedicação que Márcia carregava sempre consigo.

“Era uma pessoa abnegada, sempre motivada e empolgada. Estava muito feliz com o trabalho na Secretaria das Mulheres e desempenhava lá um belo trabalho junto com sua equipe. O PT e a política gaúcha perdem uma grande militante”, afirmou Valdeci.

Valdeci também manifestou apoio à ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, amiga pessoal da secretária.
Durante muitos anos, Márcia foi chefe de gabinete de Rosário no período que ela exerceu mandato de deputada federal.

(http://www.sul21.com.br/jornal/2013/03/secretaria-de-politicas-para-mulheres-marcia-santana-morre-aos-35-anos)
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Há Tempos
(Renato Russo)

Parece cocaína
Mas é só tristeza
Talvez tua cidade
Muitos temores nascem
Do cansaço e da solidão
Descompasso, desperdício
Herdeiros são agora
Da virtude que perdemos…

Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro…

Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso…

Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito…

Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira…

E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção…

Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa…

(http://letras.mus.br/legiao-urbana/22493)

    FrancoAtirador

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    CUT lamenta morte de Márcia Santana, secretária de Políticas para as Mulheres do RS

    Enquanto secretária colocou o enfrentamento da violência e todos os tipos de abusos cometidos contra as mulheres como uma das prioridades de sua gestão

    CUT Nacional

    Companheiros e Companheiras,

    É com tristeza e pesar que a Central Única dos Trabalhadores comunica o falecimento de Márcia Santana na madrugada desta quarta-feira (13).

    Márcia Santana era Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul.
    Formada em Serviço Social dedicou toda a sua atuação na luta pelos direitos humanos em conjunto com o movimento de mulheres.

    Márcia era uma jovem feminista que bravamente assumiu a Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres com apenas 32 anos, logo no início do mandato do atual governador Tarso Genro (PT).

    Enquanto secretária colocou o enfrentamento da violência e todos os tipos de abusos cometidos contra as mulheres como uma das prioridades de sua gestão.

    Nesta mensagem prestamos nossa solidariedade à família de Márcia. Uma mulher guerreira a ser lembrada.

    Que sua dedicação e luta pelo fim das desigualdades nos inspire cotidianamente.

    Vagner Freitas
    Presidente

    Rosane Silva
    Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora

    (http://www.cut.org.br/destaque-central/51539/cut-lamenta-morte-de-marcia-santana-secretaria-de-politicas-para-as-mulheres-do-rs)

angelo

Estado se acionado recorre até a última. Depois perde e não paga, esperando morte do credor.

Marcelo de Matos

(parte 2) A esposa do empresário da Yoki deverá receber pena severa, não por ser mulher, mas, porque matou alguém que tinha dinheiro para contratar bons advogados. Espero que as feministas, num repentino ataque de machismo, não venham dizer que ela merecia mesmo uma pena severa. Já estão dizendo por aí que ela é “fria”, “calculista” e o escambau. No crime da mala que eu citei um alfaiate que morava em uma pensão levou uma prostituta para seu quarto. A mulher começou a gritar e ele, com medo da dona da pensão, tapou a boca da mulher que, alcoolizada, foi a óbito. A Justiça entendeu que ele matou por um motivo justificável. Poderia fazer o mesmo no caso da esposa do empresário da Yoki. Não vai fazê-lo por razões óbvias. Essa estória de “frieza” e “calculismo” é conversa para boi dormir.

Marcelo de Matos

(parte 1) A Justiça tem de se ater a critérios objetivos. Gil Rugai, goleiro Bruno, Suzane Richtofen, Misael Bispo, ou seja lá quem for que matou, tem de pagar por isso, a menos que seja inimputável, isto é, mentalmente incapaz de responder por seus atos. Nos casos citados nenhum deles é inimputável. Suzane já cumpriu o mesmo tempo de pena que os irmãos Cravinhos e deveria ter sido posta em liberdade juntamente com eles. O que dizem disso as feministas? Aí começa aquele nhenhenhém: a Suzane é fria, calculista, dissimulada e não sei mais o quê. Vamos largar de estória. É preciso um critério objetivo: seja homem ou mulher, bonzinho ou “dissimulado”, cumpriu “x” da pena vai para a rua. No caso do Bruno a Justiça foi muito branda, mas, isso não tem nada a ver com machismo. Em alguns casos é branda; em outros, severa. No caso Champinha foi severa: o delinquente já deveria estar na rua, mas, por um casuísmo qualquer, continua preso. Antigamente houve um crime da mala em que o sujeito matou a mulher e foi absolvido.

Iraneide Soares

A pergunta é boa e é pertinente. A resposta é sim. É crime. Há muito tempo acho que toda morte materna e assassinato de mulheres decorrente de violência familiar, a responsabilidade é dos governos.
Acredito que as famílias deveriam entrar com ação contra os governos, responsabilizando-os. Concordo que enquanto não doer no bolso de governantes, as providência necessárias não serão tomadas, apesar de a presidenta Dilma ter liberado verbas vultuosas esta semana para a violência.
………..
Quarta-feira, 13 de março de 2013 às 12:59
Governo investirá R$ 265 milhões para combater violência contra a mulher

O governo federal investirá R$ 265 milhões para combater a violência contra a mulher. Os recursos fazem parte do programa Mulher: Viver sem Violência, lançado nesta quarta-feira (13) pela presidenta Dilma Rousseff. A iniciativa prevê a criação de centros integrados de serviços especializados, humanização do atendimento em saúde, cooperação técnica com o sistema de justiça e campanhas educativas de prevenção e enfrentamento à violência de gênero.

Em dois anos, serão investidos R$ 265 milhões, sendo R$ 137,8 milhões, em 2013, e R$ 127,2 milhões, em 2014. O total será aplicado da seguinte forma: R$ 115,7 milhões na construção dos prédios e nos custos de equipagem e manutenção, R$ 25 milhões na ampliação da Central de Atendimento à Mulher- Ligue 180, R$ 13,1 milhões na humanização da atenção da saúde pública, R$ 6,9 milhões na humanização da perícia para aperfeiçoamento da coleta de provas de crimes sexuais e R$ 4,3 milhões em serviços de fronteira.

Paras combater a exploração e o tráfico de mulheres, o governo ampliará a presença de centros de atenção às mulheres em áreas de fronteira do Brasil com a Bolívia, Guiana Francesa, Guiana Inglesa, Paraguai, Uruguai e Venezuela. O programa prevê ainda a criação da Casa da Mulher Brasileira, que contará com delegacias especializadas de atendimento à mulher (DEAM), juizados e varas, defensoria, promotoria, equipe psicossocial (psicólogas, assistentes sociais, sociólogas e educadoras, para identificar perspectivas de vida da mulher e prestar acompanhamento permanente), e equipe para orientação ao emprego e renda. A estrutura física terá brinquedoteca e espaço de convivência para as mulheres.

    Berenice

    Faço coro com vocês, Fátima Oliveira e Iraneide. Doer no bolso parece ser a única forma de conscientização das autoridades. Elas não percebem que as vitimas, se não morrem, podem vir a se tornar as vitimizadoras de filhos e familiares, vide avó que amordaçava neta de 4 anos, criando um circulo vicioso.

    Marcelo de Matos

    “Há muito tempo acho que toda morte materna e assassinato de mulheres decorrente de violência familiar, a responsabilidade é dos governos”. Dizer que a responsabilidade é do governo significa que os contribuintes devem reparar o dano. O que tem o contribuinte a ver com o fato de uma penca de mulheres darem em cima do Bruno, pelo simples fato de que ele anda para lá e para cá com uma Range Rover? Muitas mulheres já sofreram estupro ou tentativa de estupro e outros atos similares por darem em cima de jogadores. Robinho foi acusado de estupro na Inglaterra; Marcelinho Paraíba, em Brasília. A lista é enorme. Livre a nós, contribuintes, desse ônus. É melhor ensinar as mulheres a ser menos interesseiras.

Julio Silveira

O Estado Brasileiro entregou de bandeja os Direitos Humanos (no lugar aonde deviam pensar Leis para mudar a atual conjuntura). Ou seja o Legislativo a um grupo que acredita, piamente, que devamos pensar a justiça dos homens atuais com base na biblia (pensada por Deus, e não quero negar isto, para uma sociedade de 2000 anos atrás). Quando, dentre outras coisas, mulheres tinham aposento separado para suas reuniãos, e sem direito formal a opiniões na familia. O homem, tinha direito a tantas mulheres quantas pudesse sustentá-las. Época em que a hanseniase era chamada de lepra, e quem a possuisse era por ter cometido algum delito que provoca a ira contra Deus, portanto um pecador, merecedor de toda a punição e adversidade. Epoca em que eram apedrejados “pecadores” e desprezados os(por eles considerados) gentios. Fora outras situações de um tempo em que eramos pouco mais que animais. Nosso governo permitiu que gente, cujo arbitrio está ligado diretamente a este livro, manuscrito para uma epoca ancestral, dite as normas para o século XXI. Século da informação, do conhecimento, que deveria ser da mudança de paradigma da humanidade. Permitiu, e permite, que continuemos sendo regidos pelo século III, quando alguns letrados desse tempo escreveram a “sua” biblia, com base no seu interesse, e utilizando alguns aspectos da tradição oral passada entre gerações, desde os apostulos.
É como em pleno período propício para reconhecimento da plena possibilidade de reconhecimento da capacidade humana e de sua humanidade, querer nos amarrar a caverna dessas mentes.

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