Fátima Oliveira: A fé bandida da eugenia é racismo em busca de disfarce de ciência

Tempo de leitura: 3 min

BessaA abstração do genoma estável e a fé bandida da eugenia

Fátima Oliveira, em OTEMPO

[email protected] @oliveirafatima_

Sou do tempo em que filho de rico era criança, filho de pobre era “menor”, e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) era entendido como uma lei para “o menor”, e não para todas as crianças e adolescentes do país!

E, infelizmente, assim ficou. Tão tacanha visão de mundo é o cenário sobre o qual foi debatida a PEC 171/1993, que reduz a maioridade penal, tendo como pano de fundo o determinismo genético rasteiro, anticientífico e vulgar de que há úteros que carregam “trombadinhas”!

Não fiquei espantada com o publicado pelo jornal inglês “The Guardian” (29.6.2015), que atribuiu ao deputado federal Laerte Bessa (PR-DF), relator da PEC de diminuição da maioridade penal, convicto de que ela é “uma boa lei que acabará com o senso de impunidade em nosso país”, a seguinte declaração: “Um dia, chegaremos a um estágio em que será possível determinar se um bebê, ainda no útero, tem tendências à criminalidade, e, se sim, a mãe não terá permissão para dar à luz”.

No rastro das repercussões negativas, a assessoria do referido parlamentar emitiu uma nota argumentando que a matéria escrita em inglês ganhou interpretações erradas e que “em entrevista ao ‘The Guardian’, o deputado defendeu a redução da maioridade penal para os 16 anos e apenas disse que não via impedimento em reduzi-la futuramente para 14 anos, caso os índices de criminalidade entre menores continuassem altos e estudos apontassem que esse fosse o caminho. Em nenhum momento, Bessa falou em aborto. O deputado, inclusive, já se manifestou diversas vezes em entrevistas contrariamente ao aborto, crime previsto no Código Penal brasileiro”.

Apesar do desmentido, uma declaração eugenista como a citada merece ser esmiuçada, notadamente em seu aspecto de velhacaria desde Francis Galton (1822-1911), que tinha a crença de que os negros eram biologicamente inferiores e burros; e que “os miseráveis deste mundo deveriam ser proibidos de se reproduzir”.

Quer dizer, não é de hoje que eugenistas correm em vão atrás de cientificidade para seus desejos inegavelmente racistas! O que só evidencia cada vez mais que a eugenia em si é uma crença de índole bandida do mesmo naipe do darwinismo social e da sociobiologia, pois jamais foi descoberto algo na genética que corrobore tais fés. A eugenia e ideologias similares são racismos em busca de um disfarce de ciência.

O conteúdo anticientífico da declaração merece ser desmascarado, já que está embalado na ignorância do desvio ideológico de que “nada escapa aos genes” – eixo da ideologia do fatalismo genético, que existe unicamente para a espécie e nada mais: ratos geram ratos, cobras geram cobras, gatos geram gatos, porcos geram porcos, e seres humanos geram seres humanos! Ou alguém já viu uma mulher parir um rinoceronte?

A ideia do fatalismo genético sem ser para a espécie e a crença da estabilidade dos genes e dos genomas formam um bloco monolítico jamais respaldado pela genética e é filosoficamente idealista, materialmente insustentável; paulatinamente, está ruindo. Como têm reconhecido inúmeros cientistas, corroborando Mae Wan Ho, “genoma estável é uma abstração”. É norma geral da natureza viva que meio ambiente e genes são visceralmente interdependentes, e é impossível dizer qual é o mais importante.

É uma canseira sem limites ter de enfrentar a ignorância secular de eugenistas, sobretudo quando falam do lugar de autoridade e do poder de legislar sobre suas crenças com o intuito de torná-las leis, na recusa de se render à realidade: somos Homo pela nossa condição biológica e sapiens pelas nossas culturas.

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Comentários

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FrancoAtirador

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O MAU EXEMPLO VEM DE FORA
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Para Primeiro-Ministro Britânico
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Imigrantes são ‘Pragas Humanas’
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(http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Para-primeiro-ministro-britanico-imigrantes-sao-pragas-humanas-/6/34164)
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Ivo Milanez Gloeden

Prezada Fátima Oliveira

Veja uma notícia interessante. ” ISTO É Brasil. N° Edição: 1770 | 03.Set.03 – 10:00 | Atualizado em 04.Ago.15 – 19:27
Raposa no galinheiro
Procurador Santos Lima, casado com ex-funcionária do Banestado, tentou barrar quebra de sigilo de contas suspeitas
Osmar Freitas Jr. ? Nova York

Urbano

Mesmo se sabendo de antemão que com essa ideia não haveria um bandido da oposição ao Brasil, mas mesmo assim esse pensamento, diante da Criação, além de dantesco é burro. Essa gente(?) pra construir, não; mas para destruir…

    Urbano

    Por questão humanitária é de bom alvitre se avisar aos bandidos da oposição ao Brasil para não embarcarem nessa canoa furada, até porque na justiça sem ser a terrena o suicídio vem a ser mais gravoso do que o homicídio…

FrancoAtirador

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Observe-se que entre Especialistas em Segurança Pública
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a Ideia do ‘Gene do Crime’ é, se não bem aceita, tolerada.
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(https://www.ufpe.br/agencia/clipping/index.php?option=com_content&view=article&id=12530:complexidade-criminal&catid=69&Itemid=122)
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Edgar Rocha

Utilizando-se dos parâmetros da eugenia e do lombrosianismo, fico pensando se a criatura de Deus que fez tal declaração passaria nos testes e medições implementados pelos “doutores” do Reich, como Mengele. Talvez ele se disponha a oferecer seus genes como objeto de análise e futura referência idealista de ser humano civilizado. Dou um braço se não ficar provado sua alta porcentagem de herança neandertal. Vale lembrar que os europeus cruzaram com esta outra espécie, tendo maior porcentagem de herança genética dos mesmos na península ibérica (falo tranquilamente, sou descendente de português). Uma das principais características comportamentais de nossos antepassados extintos era a incapacidade de relacionar-se com outros além de seu grupo, tendo o canibalismo e a guerra fratricida como um dos principais causadores de sua extinção. Neandertais eram exclusivistas culturalmente, incapazes de transmitir seu conhecimento ou absorver conhecimento alheio, desenvolvendo assim, uma cultura fragmentada, quase inerte e com dificuldades de adaptação ao meio. Em geral, se encontravam outra tribo da mesma espécie, a matavam a comiam sua carne. Seu territorialismo era fruto do determinismo de seus genes, ao que tudo indica. As regiões cerebrais onde se processavam sentimentos eram pouco desenvolvidas em benefício das regiões de coordenação psicomotora e controle muscular, necessárias para sobreviver ao meio violento que a própria espécie construiu. Mesmo assim, como hoje sabemos, houve interação com a espécie sapiens, acasalamentos e, um ou outro indivíduo conseguiu passar seus genes adiante, mantendo sua essência dentro de nós em certo grau. Enfim, mesmo um troglodita podia romper com as regras naturais.
Brancos em geral são híbridos, carregam genes de uma espécie que fracassou tendo, vez por outra, de lidar com certos atavismos incômodos que invariavelmente nos mostram o único destino plausível aos que os têm manifestado em si: a extinção.
Por mais democrático que seja o meio em que vivemos, sempre aparece uma figura com alguma predisposição genética ao extermínio. Seria o caso de demarcar-se estes genes, assegurar-se que não estão completamente ativos e não permitir em hipótese alguma que um indivíduo com tais características possa ocupar um cargo público.
Ironias à parte (é bom avisar), pau que dá em chico…

FrancoAtirador

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Os Muares Fascistas descobriram o Gene Diabólico
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do Petismo Bolivariano que criou o Foro de São Paulo.
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Porém, como são contra o Aborto sob todas as formas,
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vão exterminar os ComunoPetistas após o Nascimento.
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Morvan

Boa noite.

Excelente texto. À guisa de contribuição, vale lembrar também Cesare Lombroso, autor da “antropologia criminal”. Como sempre, a pseudociência a serviço da segregação. Laerte Bessa, o homem do “Minority Report” à brasileira.

Saudações “O Pré-Sal É Do Povo Brasileiro; Vamos Enfrentar Os Golpistas E Defender A PetroBrás; sem Controle do Judiciário, o Brasil será eternamente uma Fábrica de Golpes“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

    Morvan

    Boa noite.

    FrancoAtirador (04/08/2015 – 17:12):

    Elo de Ligação para artigo sobre o tópico, no Blogue do Sakamoto”.

    Camarada FrancoAtirador, não tinha lido este tópico (sim, conheço o Blogue do Sakamoto). Fantástica, a citação [idem] ao “Minority Report“. Outra coisa. Pena que não há como comentar, no cito blogue. Só há botões para seguir.

    Saudações “O Pré-Sal É Do Povo Brasileiro; Vamos Enfrentar Os Golpistas E Defender A PetroBrás; sem Controle do Judiciário, o Brasil será eternamente uma Fábrica de Golpes“,
    Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

    FrancoAtirador

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    Valeu, Morvan! Grande Guerrilheiro Virtual!
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    Algum tempo atrás, o Sakamoto explicou
    por que suspendeu comentários no Blog:
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    17/03/2015 16:57
    Blog do Sakamoto
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    Por que fechei meu blog para comentários
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    Por Leonardo Sakamoto
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    A partir de hoje, este blog estará fechado para comentários por tempo indeterminado.
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    Comuniquei essa decisão ao UOL, que compreendeu as razões.
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    Cheguei à conclusão que não posso e não devo disseminar um espaço
    em que as pessoas se encontram não com o objetivo de dialogar e defender suas posições,
    mas para destilar ódio, difamar e ameaçar.
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    Durante mais de oito anos, acolhi diferentes posições e opiniões,
    garantindo um espaço de debates e construção coletiva de ideias.
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    Aprendi a amar os comentaristas,
    mesmo que eles não se amem.
    Ou me amem. Ou amem qualquer coisa.
    Porque – e tenho fé nisso – quando o debate é desarmado,
    ele é transformador. Para os dois lados que dele participam.
    .
    Os que por aqui passam sabem que sempre houve liberdade para discordar deste autor, apontar falhas e erros nas análises apresentadas e ficar abismado com o tamanho monumental de sua cabeça.
    E que os comentários não são um apanhado dos elogios recebidos, mas sempre trouxeram críticas contundentes e inteligentes não menos ácidas ou irônicas que os artigos e reportagens postados.
    .
    O murmurinho do debate, necessariamente racional ou deliciosamente irracional, foi responsável por boa parte da graça deste blog.
    Que, ao longo dos anos, deixou de ser uma apenas uma coluna diária sobre direitos humanos e o cotidiano para se tornar uma comunidades com centenas de milhares e, às vezes milhões, de leitores assíduos e participantes.
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    A incansável moderação sempre filtrou comentários que incorriam
    em crimes de ódio, incitação à violência e calúnia.
    Por isso, sou imensamente grato ao time do UOL que faz esse serviço.
    Aliás, acredito que todos nós temos que ser agradecidos a esses profissionais que impedem, em silêncio, que a barbárie prevaleça.
    .
    Contudo, de uns tempos para cá, a despeito da maioria dos leitores, que enriquece (e muito) o debate, e da moderação, que exclui o chorume, a caixa de comentários se tornou um lugar voltado à troca de ofensas – o que não contribui em nada com o livre debate de ideias.
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    Um lugar em que vários perfis reais ou falsos, pessoas de cara limpa ou anônimas, tentam se utilizar de um conceito distorcido de liberdade de expressão para desrespeitar outros direitos humanos.
    Um lugar em que todos gritam e poucos escutam.
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    Ou seja, a área de comentários deixou de acrescentar e passou a tirar.
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    E não acho que isso seja por conta da ação de radicais de direita e de esquerda.
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    Isso envolve a falta de entendimento do que é viver em sociedade.
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    É uma pena que um número considerável de leitores, que são a maioria, perca uma arena de discussão por conta de outros, que só querem soltar seus leões.
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    A eles e elas peço minhas humildes e sinceras desculpas.
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    Atravessamos a adolescência da internet, momento em que muitas pessoas estão descobrindo possibilidades da rede, mas sem compreender totalmente as consequências de seus atos.
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    Cultura política deveria ser algo melhor fomentado, desde cedo, não só via estrutura formal de educação, mas ao longo da vida através de espaços públicos e meios de comunicação, evitando simplificações onde há complexidade de matizes e zonas cinzentas.
    E respeitando as diferenças.
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    É claro que esta ação não resolve o problema.
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    Sou alvo constante de calúnia, difamação, agressões e ameaças não apenas por conta do blog, mas pelo fato de atuar há 15 anos no combate ao trabalho escravo.
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    Direitos humanos, infelizmente, ainda é questão de polícia no país.
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    Mas a suspensão é, em si, uma declaração, um aviso de que, do jeito que está, não vai dar.
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    Talvez, em um outro momento, quando a cultura política tiver sido largamente semeada,
    quiçá em uma proporção maior do que o ódio hoje, teremos uma sociedade melhor.
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    Espero reabrir em breve os posts para comentários.
    Até lá, fica a torcida para que o diálogo prevaleça sobre a intolerância.
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    (http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/03/17/porque-fechei-meu-blog-para-comentarios-2/)
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    Um Abraço Camarada, Socialista e Libertário, a Tod@s.
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FrancoAtirador

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NO SÉCULO 19, A EUGENIA FOI INTRODUZIDA NO DIREITO PENAL ITALIANO
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INFLUENCIANDO FORTEMENTE A INSTITUIÇÃO DO FASCISMO NA EUROPA
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(http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4361956)
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