Estrella lamenta partilha da picanha em Libra e relembra Majnoon

Tempo de leitura: 19 min

O gigantesco campo de Majnoon, que a Petrobras descobriu no Iraque, hoje é explorado pela Shell (45%) em parceria com a Petronas (30%), da Indonesia, além de 25% da estatal iraquiana, segundo o Wall Street Journal.

28 OUTUBRO, 2013

Guilherme Estrella: O Estado deveria ter contratado a Petrobras

Sugerido pelo FrancoAtirador, do blog da Tecedora, na Folha de SP

[Nota do Viomundo: A entrevista foi por escrito. Notem como Estrella foi escapando das chamadas “leading questions”, cascas de bananas lançadas pelo entrevistador]

As reservas de Libra são estratégicas e o Estado deveria ter contratado a Petrobras (que as descobriu) para operá-las em 100%. A opinião é de Guilherme Estrella, 71, considerado o “pai do Pré-Sal” (ele não gosta dessa denominação, pois diz que o mérito é de uma equipe).

Ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, o geólogo que mapeou a megareserva faz críticas ao leilão realizado há uma semana e alerta para problemas no interior do consórcio que vai extrair o petróleo (Petrobras, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e duas estatais chinesas).

Para ele, as grandes empresas petrolíferas mundiais, inclusive a Petrobras, representam e defendem os interesses de seus países. “Energia é fator crítico da soberania e do desenvolvimento de qualquer país. Há, portanto, um potencial conflito de interesses geopolíticos absolutamente inerente à presença de estrangeiros numa gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei. Mas que está lá, está”, afirma.

Nessa entrevista, concedida por e-mail, ele fala da descoberta do Pré-Sal, de desafios tecnológicos e expõe suas dúvidas sobre a exploração do xisto nos EUA.

Por que o sr. foi contrário ao leilão de Libra?

Guilherme Estrella – As minhas críticas concentraram-se no aspecto estratégico para o Brasil. Trata-se de gigantesco volume de petróleo, agora compartilhado com sócios que representam interesses estrangeiros — de potências estrangeiras –, sobre cujo alinhamento com o posicionamento geopolítico de um país emergente da importância do Brasil não temos a menor garantia.

A Petrobras, que mapeou a estrutura de Libra e perfurou o poço descobridor, como empresa controlada pelo Estado brasileiro, deveria ter sido contratada diretamente, como permite o marco do Pré-Sal. Aliás, a inclusão desta alternativa teve como causa a eventualidade de se tratar com reservas cujas dimensões tivessem valor estratégico para o Brasil, e este é inquestionavelmente o caso de Libra.

O leilão foi um erro estratégico? Foi lesivo ao país?

Não afirmo que tenha sido um erro estratégico, tampouco que tenha lesado os interesses do país. O que defendo é que a decisão do governo em fazer o leilão de Libra, em vez de contratar diretamente a Petrobrás, como prevê o marco justamente para situações excepcionais — como é Libra –, deveria ter sido discutida com a sociedade e também com a base de apoio do governo no Congresso Nacional.

Nesta discussão, todos os motivos que suportam a decisão do governo seriam conhecidos e a discussão poderia levar a um consenso ou não, caso em que o governo tomaria sua decisão, conforme lhe garante a lei.

Como isto não aconteceu, com os dados e informações que estão disponíveis, construo minha opinião, que é a mesma de muitos outros cidadãos brasileiros: de que, concretamente, a contratação direta da Petrobrás para desenvolver e produzir Libra seria a melhor estratégia brasileira, diante do papel destinado ao Brasil no cenário geopolítico e energético mundial ao longo, no mínimo, desta primeira metade do século 21.

A Petrobras poderia operar sozinha?

A própria presidente da companhia afirmou que a Petrobras tinha o maior interesse em operar Libra sozinha, mas que só poderia iniciar os trabalhos em 2015. 2015 é amanhã. Não subsiste, portanto, o argumento de que leiloar Libra agora seria para antecipar a produção.Não aflora qualquer razão para que esta não tenha sido a decisão do governo, pelo menos que tenha sido explicada publicamente ao povo brasileiro.

Sobre o percentual mínimo estabelecido no edital para a parte do Estado brasileiro — menos que 42% — não posso me pronunciar, pois o governo, também aqui, não deu qualquer informação sobre a racionalidade econômica que existiu por trás deste número.

Acusar de xenofobia aqueles que defendem esta opinião é injusto, equivocado e apequenador da dimensão estratégica do assunto em debate.

Seria equivalente a acusar este governo de centralizador e arrogante, disposto a exercer um direito político — ainda que legal — de decidir questões desta magnitude de forma monocrática, sem ouvir, no mínimo, suas bases de apoio organizadas na sociedade. O que, certamente, não é o caso do atual governo, como todos sabemos.

Por que o governo tirou da Petrobras a possibilidade de operar sozinha no Pré-Sal? Só a questão do superávit primário explica esse movimento?

Será que podemos priorizar exigências financeiras momentâneas com aspectos econômicos e políticos da estratégia geopolítica brasileira ao longo deste século 21? Esse é o ponto e acho que deveria ter sido discutido com a sociedade.

A revista alemã “Der Spiegel” disse que o Brasil leiloou um tesouro por uma pechincha. O sr. concorda?

Não conheço a racionalidade econômico-financeira que levou aos 41,65%. Fantástico. Como geólogo não consigo entender como chegaram a esta precisão! Não posso opinar. Como disse, não tenho informações sobre a racionalidade econômica que desaguou neste super preciso percentual de 41,65%. Não é 41,64 nem 41,66, é 41,65 cravados!

O sr. considera inapropriado ter sócios estrangeiros na exploração do Pré-Sal?

Em momento algum sugeri que ter sócios estrangeiros no Pré-Sal é “inapropriado”. O que argumento é que, em se tratando de uma imensa riqueza estratégica concentrada (em Libra) de um produto de tal forma fundamental e sensível para o mundo –e principalmente para as nações hegemônicas mundiais dele dependentes — a sociedade brasileira tem o dever de discutir a conveniência de tê-las como sócios.

Ninguém desconhece que as grandes empresas petrolíferas mundiais, inclusive a Petrobras, representam e defendem os interesses de seus países-sedes, nos países onde atuam. E neste ponto não se diferenciam empresas estatais ou privadas.

O sr. acha que essa decisão sobre Libra é danosa à soberania brasileira?

Não acho que a soberania brasileira tenha sido afetada.

Apenas levanto a possibilidade de enfrentarmos dificuldades, no futuro, caso haja qualquer divergência — ou até mesmo conflito — entre interesses geopolíticos brasileiros e aqueles dos países representados no consórcio de Libra — todos protagonistas importantes no cenário mundial hoje e ao longo deste século 21 — por suas respectivas empresas.

Estas dificuldades — ainda que no campo das possibilidades — estariam inteiramente evitadas, não ocorreriam de maneira alguma se Libra estivesse sob gestão exclusiva — 100% do petróleo produzido — do Estado brasileiro através da contratação direta da Petrobras para desenvolver e produzir Libra.

Por que Libra é estratégico?

O caráter estratégico das reservas petrolíferas é inquestionável, como todos sabem. Não se invadem e ocupam militarmente países soberanos para apropriação de refinarias. É possível construir uma refinaria em qualquer lugar do planeta, mas as grandes reservas de óleo e gás estão onde as condições geológicas assim o determinaram. O pessoal da Argélia, do Iraque, da Nigéria, da Líbia, do Egito sabe disto na pele.

O Sudão do Sul foi “fundado” por causa disto. As monarquias medievais, absolutistas e repressoras da Península Arábica são mantidas pelo mesmo motivo: assegurar reservas de petróleo e gás natural às grandes potências hegemônicas ocidentais.

Não se está a ver fantasmas! Esta é a realidade fática da geopolítica mundial, escancarada e desavergonhadamente exibida nas últimas três décadas por meio de ações políticas e militares por parte dos países centrais ocidentais. Não há como desconhecer esses fatos.

Seu alerta está relacionado aos interesses divergentes entre produtores e consumidores de petróleo presentes no consórcio? Produzir mais rápido e deprimir preços ou produzir de acordo com visão estratégica, sem derrubar preços? O que seria melhor para o Brasil?

A turma de topo da Opep controla o preço, mas não tem soberania, autonomia, independência para sustar o suprimento. Simplesmente porque interesses divergentes entre grandes produtores e grandes consumidores não conflitam por causa do preço do barril, mas pelo compromisso dos produtores em suprir incondicionalmente os volumes exigidos pelas economias hegemônicas representadas pelos grandes consumidores.

Gente que estudou o assunto afirma que o barril de petróleo do Oriente Médio sai a mais de US$ 300 para a UE e para os EUA, na condição “all in” dos custos de manutenção militar do status quo daquela região para barrar, pelas armas, qualquer iniciativa que tenda a mudar o quadro atual.

O Brasil é um país diferenciado. De dimensões continentais, privilegiado em riquezas naturais, único em integridade nacional (uma só língua, cultura diversa, mas coesa etc.).

Temos reservado um papel de protagonista geopolítico mundial igualmente diferenciado e socialmente muito positivo neste século 21.

De uma hora para outra, este país aparece como uma potência energética, cujas reservas potenciais, em processo acelerado de comprovação, de petróleo e gás natural impactam o quadro energético mundial. Tudo indica que irão contrabalançar, junto com a costa oeste africana o peso do Oriente Médio, a médio e longo prazos, para suprir EUA e UE.

Isso nos obriga, como país soberano, a nos prepararmos para assumir esse papel — de não mais coadjuvante, mas de protagonismo mundial diante desta muitíssimo sensível realidade. A quarta frota [dos EUA] está aí, ressuscitada não por outro motivo.

Este é o quadro já presente, materializado. E se tornará mais agudo ao longo deste século 21.

Dentro deste contexto, não seria mais conveniente que um imensa acumulação de petróleo, como Libra, ficasse 100% nas mãos do Estado brasileiro, com o poder de gerenciar tudo o que lhe concerne sem qualquer ingerência de interesses estrangeiros, quaisquer que os sejam?

Isso é permitido no marco do Pré-Sal, quando abre a possibilidade de contratação direta da Petrobras, cláusula aprovada exatamente para situações, como essa de Libra, absolutamente diferenciadas sob o ponto de vista geopolítico mundial. Ainda mais a 300 quilômetros da costa, nas proximidades dos limites territoriais marítimos nacionais, ainda em processo de aceitação pela ONU.

Quando o sr. fala dos custos reais para os EUA e UE do petróleo saudita, de quanto seria o custo no pré-sal comparativamente?

Os custos totais de produção do pré-sal — que chamamos de CTPP — estão muito abaixo dos atuais valores internacionais do barril, mas trabalhamos duro e ininterruptamente para reduzí-los. Não só por melhoria contínua nos processos de produção, mas fazendo esforço de desenvolver inovações tecnológicas que visem este objetivo.

O que cada um dos sócios da Petrobras busca nessa associação?

Os sócios se interessam, essencialmente, por assegurar suas respectivas partes em óleo produzido. No caso dos chineses para suprir prioritariamente seu mercado nacional, ávido de energia para sustentar o crescimento extraordinário da economia chinesa ao longo da primeira metade deste século, pelo menos. Shell e Total também, mas são já globalizadas e com mercados muito distribuídos além do europeu.

Sobre esses possíveis conflitos de interesses dentro do consórcio, o sr. diria que o Brasil (e a Petrobras) caíram em uma espécie de armadilha?

A participação da PPSA [Pré-Sal Petróleo SA] nos consórcios, com poder de veto, consta do texto do marco justamente para que todo o processo, desde a construção do Acordo de Operação Conjunta até as atividades operacionais propriamente ditas, seja controlado pelo governo brasileiro.

Portanto, não há “armadilhas” no modelo de partilha adotado pelo Brasil. O governo brasileiro tem total controle de tudo.

Como seriam essas divisões internas? França e China do lado de consumidores, querendo acelerar a produção? Como elas se podem contrapor à Petrobras e ao interesse brasileiro?

A simples presença de interesses estrangeiros — por meio da participação de suas empresas petrolíferas no consórcio de Libra — pode, em tese, gerar conflitos. Se estivéssemos tratando de um processo industrial de uma commodity comum, periférica, qualquer problema poderia ser facilmente resolvido.

Esse é o ponto central de minha opinião. Energia, especialmente petróleo e gás natural, é fator crítico da soberania e do desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico de qualquer país. Mormente daqueles que são protagonistas hegemônicos da cena mundial e daqueles outros que, por sua magnitude e seu potencial de riquezas naturais, de todos os tipos, como o Brasil, se candidatam para igualmente atuar como protagonistas mundiais e não mais como simples coadjuvantes, periféricos.

Só esta realidade, em sua essência geopolítica, já é conflituosa. Lembremo-nos do [Henry] Kissinger, que disse mais ou menos isso : “Os EUA têm que se preocupar é com aquele gigante lá no Sul que, quando se levantar, vai dar um trabalhão danado para ser controlado”.

Há, portanto, um potencial conflito de interesses geopolíticos absolutamente inerente à presença de estrangeiros numa gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei. Mas que está lá, está. Esse é o ponto!

A China quer aprender a operar em águas profundas?

Pode ser que haja interesse na obtenção de conhecimento de engenharia de projeto e operacional para produzir em águas ultraprofundas. É muito importante, mas não é o essencial.

O Brasil não deveria proteger essa tecnologia?

Proteger tecnologia no mundo atual não é o foco das grandes empresas petrolíferas. O esforço maior, concretamente falando, é assegurar a condução das operações — serem operadoras. Porque é na operação, no dia-a-dia, na vivência com as broncas e dificuldades que ocorrem na frente operacional que consiste o real valor do aprendizado contínuo — de engenharia e pragmático (isto é que é, no final das contas, tecnologia) — que vai permitir a permanente e contínua inovação, advinda de novos conhecimentos e, em decorrência, de novos projetos e novos processos.

Operar, principalmente numa ambiência de certa forma nova, onde o conhecimento científico e de engenharia e a competência operacional concentram-se em muito poucas empresas — como no Pré-Sal brasileiro — materializa-se numa inexcedível vantagem competitiva para as empresas petrolíferas. E não foi por outro motivo que a exclusividade da operação pela Petrobras, estabelecida no texto do marco do Pré-Sal, foi — e é! — tão combatida por aqueles que, de certa forma, refletem os interesses das empresas estrangeiras, contrariados em aspecto essencialmente estratégico sob o ponto de vista da indústria.

No caso específico do Pré-Sal, este trabalho ininterrupto de obtenção/geração de novos conhecimentos e de inovação permanente foca, principalmente em dois pontos centrais: diminuição de custos e contínuo atendimento aos pressupostos da segurança operacional. Quer dizer, no geral, não há qualquer salto tecnológico necessário para produzir o Pré-Sal, como aliás é comprovado pela já significativa produção da Petrobras.

Por que as norte-americanas saltaram fora?

Com meus quase 50 anos “sujando” as mãos de óleo, fico desconcertado quando não consigo construir uma convicção sobre qualquer assunto relacionado ao setor petrolífero, tão rico em suas características, as mais variadas possíveis — políticas, econômicas, científicas, tecnológicas, sociais, militares e outras mais. Pois bem, sinto-me desconcertado com a ausência da Exxon e da Chevron. O que penso são ainda especulações.

Por exemplo. Correu há algum tempo, por volta de 2010, 2011, no setor petrolífero mundial, que a Exxon conseguiu do governo angolano mais do que a Petrobras com o novo marco, com respeito à exclusividade das operações.

Obteve um acordo de “preferência” com os angolanos, tendo o direito de decidir se vai ou não operar qualquer descoberta no pré-sal daquele país, independentemente de que empresa que a tenha realizado. Sua ausência no leilão de Libra poderia ter algo a ver com isto? Ou não seria ao contrário, fazer parte da produção no Brasil não poderia ser um grande aprendizado para ajudar no exercício do privilégio de aceitar ou não a operação em certas descobertas em Angola?

Acho que a Chevron está na base do “gato escaldado tem medo de água fria”. A pancada que tomaram em Frade [vazamento de 3,7 mil barris de óleo em 2011] repercutiu com extrema dramaticidade na companhia, que é muito séria e competente — sou testemunha pessoal disso.

Talvez tenham erroneamente superestimado os riscos operacionais, todos inteiramente mapeados e neutralizados pela Petrobras com a participação, naturalmente, dos parceiros que com ela produzem do Pré-Sal há mais de dois anos. E isto é, a cada dia que passa, mais concreto e consistente.

Alguns ligam a ausência das norte-americanas aos investimentos no xisto. Qual sua visão sobre o xisto? É uma revolução energética?

Coloco “xisto” entre aspas. A tradução de “shale” é folhelho, termo geológico que é até difícil de falar já que encadeia dois fonemas “lh”. Folhelho é uma rocha composta por grãos infinitamente pequenos de argila e, por isso, com permeabilidade quase zero. No caso, o gás está nos microporos, entre os grãos de argila e não sai de lá. Para sair tem que quebrar o pacote rochoso de folhelho, fraturar em gigantescas operações de injeção de água, utilizada como fluído de fraturamento.

Este assunto dá um livro. Mas há fatos inquestionáveis.

1. As reservas potenciais são, realmente, muito grandes.

2. Os poços exaurem-se muito rapidamente, não duram meses.

3. Perfuram-se milhares de poços, em áreas rurais e nas cercanias de cidades do meio-oeste americano. Como os poços duram muito pouco, a atividade de perfuração é frenética, descontrolada. Exige infraestrutura de suprimento de grandes dimensões, com grandes impactos sociais nas comunidades antes bucólicas e ultraconservadoras do interior americano.

4. O uso de água é gigantesco; já há casos de esgotamento de lençóis freáticos e falta de água nas cidades. Alguns Estados já proibiram as atividades.

5. O fluído de fraturamento contém produtos químicos altamente agressivos e tem sido comum a poluição de aquíferos potáveis por estes agentes químicos, interrompendo sua utilização para o homem e para a pecuária.

6. As reservas de gás, como sempre acontece, esgotam-se rapidamente e existem, também como sempre, as incertezas geológicas coladas às atividades de exploração e produção. Especialmente quanto às reservas de gás não provadas, como é o caso, os níveis de imprevisibilidade são elevados e surpresas negativas são prováveis de acontecer. É preciso ter cuidado nas extrapolações.

7. Em razão do baixo preço do gás, e do colapso causado pela enorme oferta em pouquíssimo tempo, milhares de sondas já se mobilizam para perfurar para óleo, cujo preço, ainda nos US$ 100 por barril, garante lucros muito mais significativos.

O governo norte-americano, com a prudência necessária, mantém a proibição de exportação de petróleo por empresas que supriam mercados com líquidos que agora foram inteiramente substituídos pelo gás. Micaram com o óleo e apelaram ao governo para que suspendesse a proibição. Sem sucesso. Resumo da ópera do “shale gas”: tem que dar tempo ao tempo.

A presidente nega que tenha havido uma “privatização”. Houve? Por quê?

Privatização. Não houve, no sentido estrito do termo. Mas, de qualquer maneira, seria muito menor se a Petrobras fosse contratada diretamente para desenvolver o campo.

A Petrobras precisa de um reajuste logo no combustível para viabilizar os seus investimentos? O que de exato existe nessa discussão sobre preços?

A Presidente da Companhia afirma e reafirma que não haverá a necessidade de reajuste de preços para enfrentar os gastos com o bônus de Libra. Esse assunto de reajuste de combustíveis é hilário.

A Petrobras fez 60 anos. Desde então, a Petrobras é além de uma empresa “do” governo, uma empresa “de” governo de qualquer governo e não poderia ser diferente tal a importância econômica que a empresa exerce no ambiente brasileiro. E isso parece um verdadeiro “tabu”. Todo mundo sabe o que acontece na vida real e faz tremendo esforço em afirmar que “não!”.

A diretoria da Petrobras é independente, tem total autonomia para definir os preços dos combustíveis…

E a turma da oposição, qualquer oposição, a todos os governos, fica a acusar incansavelmente o governo de “utilizar a gestão da Petrobrás na condução de sua política econômica”.

Também se fala que a Petrobras deveria reduzir a exigência de nacionalização. Isso não seria ruim para o país?

Conteúdo nacional. Aqui você toca num tema decididamente crítico para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do Brasil.

Começo com uma história.

Descia eu pela Rua Aperana, aqui no Leblon, onde morava quando exerci a maior parte do período de diretor da Petrobras, quando encontrei um antigo colega de superintendência da companhia, quando eu era o superintendente do Cenpes [Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello]. Era o engenheiro Carlos Aguiar, então superintendente da Área de Materiais da Petrobrás, homem ligado ao desenvolvimento de fornecedores brasileiros para substituir material importado.

O tempo era o da construção no Brasil das plataformas de produção, extraordinário programa do governo Lula para não só abrir milhares de empregos no país como para ressuscitar a indústria naval brasileira apoiada nos projetos de produção da Petrobras.

O Aguiar me disse uma frase que me acompanhou por todo o longo — 9 anos — tempo em que exerci a diretoria de Exploração e Produção da companhia: “Estrella, vamos construir no Brasil, tudo bem. Mas não podemos deixar que o “conteúdo nacional” seja acéfalo!”.

Esta foi uma luta que o grupo de profissionais e gerentes da Petrobras, com o qual tive a honra de trabalhar, empreendeu no sentido de criar condições para que empresas genuinamente brasileiras se incorporassem ao esforço nacional de “construir no Brasil tudo o que puder ser construído no Brasil”.

O processo de desenvolvimento tecnológico começa com saber operar as máquinas importadas. Meu pai contava que o Roberto Marinho, na década de 1930, importou rotativas alemãs para modernizar o parque impressor de O Globo. Instalou as máquinas e chamou o Getúlio [Vargas] para o momento solene de acioná-las pela primeira vez.

O Getúlio “pam” empurrou a alavanca e… nada aconteceu. Estabeleceu-se um clima de desconforto com o presidente da República, que foi solicitado a repetir o gesto, objeto das inúmeras lâmpadas de “flash” dos repórteres presentes. “Pam” novamente e… nada novamente.

Mui polidamente, Roberto Marinho pediu desculpas e transferiu a solenidade. Após isso, reuniu-se com a equipe técnica de O Globo para saber o que ocorrera. Ninguém sabia. Disseram apenas que tinham montado a engenhoca “by the book”, como dizem os engenheiros, de acordo com o manual. Não houve jeito.

Chamaram um alemão, que veio de Zeppelin, numa milionária viagem de uma semana, pois de navio demoraria três meses. O alemão chegou, olhou, pensou não mais que um minuto e disse algo naquela língua centro-européia bárbara, de fora das longínquas fronteiras do Império Romano, que o intérprete balbuciou : “Uma chave-de-fenda, por favor”.

Rapidamente atendido, colocou a chave num pequeno parafuso, girou meia volta e ordenou, segundo o intérprete : “Liguem a rotativa”. Um engenheiro brasileiro pegou a alavanca antes inservível e “pam”: a rotativa ronronou e começou a trabalhar, sem qualquer problema. Lição: não sabíamos sequer operar uma máquina de primeira geração tecnológica.

O final do ciclo é saber projetar as máquinas que operam no sistema industrial em que se atua. No meio, está a etapa da construção dessas máquinas. Se ainda não construímos no Brasil, temos que fazê-lo.

Mas — isso é indispensável — gerenciar o processo de modo que, no mais curto prazo de tempo, adquiramos a competência em engenharia, nas empresas e na academia brasileiras para projetar máquinas ainda mais avançadas, inovações em relação ao que hoje se considera o limite da tecnologia. Se esta etapa não acontecer, muito pouco foi conseguido em termos de autonomia de decisão quanto à escolha e aplicação da tecnologia que melhor nos servirá para resolvermos nossos próprios problemas.

Continuaremos a ser o “chão de fábrica” — muitíssimo importante, mas não suficiente para um Brasil efetivamente soberano e autônomo no concerto mundial das nações desenvolvidas. A verdadeira inteligência, a competência técnico-científica continuará a vir de fora. Não precisamos chamar o “alemão” para botar a máquina em funcionamento ou até repará-la em caso de pane. Mas se quisermos substituí-la por uma mais moderna, será o “alemão” quem a projetará e nos venderá o projeto se assim o governo de seu país autorizar a empresa da máquina a fazê-lo.

A traduzir este desafio, temos a definição do século 21 como o século da “economia do conhecimento” e a imagem de desenvolvimento tecnológico: “É como subir uma escada rolante pela faixa de descida: se parar, desce”.

Esse foi o recado do Aguiar. Tenho a plena consciência de que a equipe em que trabalhei fez o possível para avançarmos neste sentido. É importante que se registre a grande ajuda que tivemos do BNDES, da Finep, da Coppe no trabalho que desenvolvemos na Exploração e Produção e na Petrobrás como um todo. Criamos exigências contratuais para que as empresas estrangeiras que se instalassem no Brasil para construir máquinas e equipamentos, até então importados, a serem utilizados pela Petrobras, montassem equipes de engenharia de projetos na filial brasileira, para não ficarem na dependência de seus centros de tecnologia no exterior.

Para as empresas genuinamente brasileiras, trabalhamos para criar condições de financiamento e de assistência técnico-científica para que, não só adquirissem condições de competitividade, como consolidassem suas respectivas competências para a inovação e melhoria contínuas de seus processos produtivos, de modo a atender especificamente as exigências e necessidades das atividades operacionais da Petrobras.

Chegamos a iniciar um trabalho de tentar quebrar oligopólios tecnológicos mundiais para fabricar itens de tecnologias “sensíveis”– como turbinas — no Brasil.

Ainda com respeito à construção das plataformas no Brasil, fomos sempre muito criticados pelo fato de o custo brasileiro ser maior do que os de Cingapura, do Golfo Arábico e da China. E têm que ser. Sou pessoalmente testemunha das diferenças qualitativas entre as condições de trabalho oferecidas, por lei, aos trabalhadores. Não há comparação.

Aqui no Brasil praticamos uma relação capital X trabalho muito mais avançada, muito mais ética e justa que em muitos lugares no exterior, onde é comum se construir em condições absolutamente inaceitáveis para o trabalhador brasileiro.

Se há exigência, muito saudável, de competitividade, vamos enfrentá-las. Mas em condições de igualdade de patamar na qualidade das relações capital X trabalho. E não competir com mão de obra quase escrava.

O que o sr. achou da criação da empresa que vai administrar o Pré-Sal?

A PPSA entra como uma parte imprescindível nos consórcios para contribuir na definição dos Acordos de Operações Conjuntas (sigla “JOA” em inglês), que é o documento básico que vai orientar as operações do consórcio e aprovar e auditar tecnicamente os custos destas operações para efeito de definir o que se chama de “óleo custo”, parcela de que os consórcios serão reembolsados.

Como fica a Petrobras depois desse leilão?

A Petrobras se desempenhará em patamares de excelência de sua função de operadora da cumulação de Libra. Foram as equipes de exploracionistas da Petrobras que mapearam a estrutura da gigantesca acumulação. Foi a Petrobras que construiu o primeiro poço descobridor de Libra.

É a Petrobrás que detém, no mundo, as mais extensas competência e experiência para operar em águas ultraprofundas. É a Petrobrás, dentre todas as empresas petrolíferas mundiais que tratam do assunto, que possui o mais avançado conhecimento geocientífico das rochas-reservatórios do pré-sal (aspecto tecnicamente crítico e economicamente decisivo para o desenvolvimento da acumulação).

Enfim, como é reconhecido por todo o setor petrolífero mundial, é a empresa que detém as melhores condições para ser a operadora de Libra e do restante das acumulações que ainda serão descobertas na chamada “picanha azul” — designação que, pessoalmente, não gostei, mas isso é “ranzinzice” de minha parte.

O que é a “picanha azul”?

O mapa de contorno da área em que os exploracionistas da Petrobras circunscreveram a provável ocorrência dos reservatórios produtores do pré-sal, que vai de Vitória (ES) até Florianópolis (SC), no mar territorial brasileiro, tem grosseiramente o formato de uma picanha, peça de carne bovina por nós tão apreciada.

Coloriram o interior deste perímetro com a cor azul.

Daí surgiu o nome de “picanha azul”. Não foi escolha minha. Considero de gosto discutível esta analogia. Mas “pegou”, já estava consagrado e assim ficou.

A presidente traiu seu compromisso de campanha ao leiloar Libra, conforme muitos têm afirmado?

Não acho que a presidente Dilma esteja descumprindo seus compromissos de campanha. Os grandes e mais importantes itens sociais e econômicos das políticas inauguradas pelo presidente Lula em 2003, a ter como principais beneficiários as camadas mais carentes do povo brasileiro, têm sido perseguidos, com sucesso pelo governo Dilma e as pesquisas de opinião estão ai para não me desmentir.

Como petista, o sr. está frustrado?

Não estou frustrado como petista. Tenho consciência, vejo isto no dia-a-dia da vida dos brasileiros, de que os governos do Partido dos Trabalhadores desde 2003 transformaram o Brasil, tiraram da pobreza e da miséria dezenas de milhões de irmãos nossos e mudaram diametralmente a lógica de governar o país, tendo o povo como objeto central das ações de governo. E ninguém pode negar isto.

Isto não quer dizer que, como cidadão, tenha que concordar e defender todas as medidas e decisões que o governo do partido ao qual sou filiado venha a tomar.

Por que o sr. é tido como o “pai do Pré-Sal”?

Foi coisa da imprensa. Eu sempre rejeitei esta “alcunha”, que na verdade, para os que conhecem a atividade exploratória, é mesmo depreciativo, na medida em que exploração de petróleo e gás natural é trabalho de equipe, não tem essa de “eu descobri”.

A descoberta do pré-sal brasileiro resulta da competência das equipes de exploracionistas da Petrobras. São geólogos, geofísicos e outros profissionais que, desde a fundação da companhia e por ela intensamente treinados, tanto internamente quanto nas melhores universidades brasileiras e no exterior, trabalham na interpretação geológica das bacias sedimentares brasileiras.

Explorar petróleo e gás natural é, essencialmente, uma atividade de pesquisa científica que envolve custos altíssimos, mas que, tendo sucesso, garante um retorno ainda mais significativo.

Mas houve também um fator de política energética, igualmente importante.

Em 2003, por determinação do governo Lula, a Petrobras retomou os esforços para avançar pesadamente nas atividades de exploração e produção, de certa forma contidas no governo anterior, quando o monopólio foi quebrado. A companhia concentrava estas atividades na Bacia de Campos, grande produtora, já que outras bacias deveriam ser objeto de leilões de concessão.

A Petrobras detinha blocos em outras bacias, alguns na vizinha e gigantesca Bacia de Santos, de onde se produzia menos de 1 milhão de m3 de gás por dia no Campo de Merluza, antigo dos contratos de risco, descoberto pela Shell e operado pela Petrobras.

Atendendo à determinação do governo de expandir nossas atividades, deslocamos sondas da Bacia de Campos para a de Santos e as descobertas se sucederam: Mexilhão (descoberta importantíssima de gás natural na medida que enfrentávamos a dependência da importação da Bolívia) e os campos de óleo de Uruguá e Tambaú. Estas descobertas exibiram logo a grande potencialidade da Bacia de Santos, até então não materializada. Mas que existia, teoricamente, nas interpretações dos exploracionistas da companhia. Continuaram os investimentos exploratórios e, em 2006, descobrimos o pré-sal.

Resumo da ópera. Não há essa de “pai do pré-sal”, tampouco de pai de descoberta alguma nas atividades exploratórias de qualquer empresa petrolífera, resultante sempre do trabalho e da competência desta que costumo chamar de “estranha e complicada tribo dos geólogos”.

Aproveito para reforçar minha opinião sobre a decisão de leiloar Libra e não contratar diretamente a Petrobrás.

São fatos: a) Local: Bagdá, Iraque; b) Data: segundo semestre de 1977; c) Ocorrência: o gerente-geral e o gerente de exploração da Braspetro Iraque são convocados à sede da INOC (companhia estatal iraquiana de petróleo). Somos recebidos pelo diretor da INOC responsável pelos contratos de Exploração e Produção que o Iraque tinha com a Petrobras e com a Elf francesa.

O homem nos comunica, com certa solenidade: “O governo do Iraque determinou que lhes fosse comunicado que o contrato que temos com a Petrobras deverá ser cancelado. As negociações sobre isto devem iniciar-se tão logo quanto possível. Os senhores devem comunicar imediatamente essa decisão do governo do Iraque aos seus superiores no Brasil e solicitar que um representante do mais alto escalão de sua empresa, com poderes de negociar em nome dela, compareça a Bagdá para que se iniciem os trabalhos”.

Estupefatos, perguntamos a razão desta decisão, já que cumpríamos integralmente o contrato, sempre com as melhores relações com a INOC e com o governo iraquiano.

E o homem nos respondeu : “Senhores, a Petrobras descobriu um campo gigantesco (Majnoon), com dezenas de bilhões de barris de reserva, e que vai produzir mais de 1 milhão de barris por dia, a metade que o Iraque produz hoje. No momento, o Brasil e a Petrobras têm interesses estratégicos no setor petrolífero internacional que não conflitam com os interesses nacionais da república do Iraque. Mas isto é ‘no momento’. O cenário internacional, principalmente o da energia, se transforma constantemente. Não há como assegurar que no futuro, mesmo não tão distante, os interesses de Iraque e Brasil não venham a se distanciar. Em vista disso, e o governo de meu país adianta que é com certo desconforto, pelo que nos desculpamos, considera que a manutenção desse contrato fere a estratégia nacional quanto à gestão de seus recursos petrolíferos. Por isso devemos nos sentar à mesa para negociar a extinção do contrato e garantir à Petrobras e ao Brasil que seus investimentos sejam devidamente ressarcidos, sem qualquer prejuízo para vocês”.

Anos depois, por causa inclusive de Majnoon, o Iraque foi invadido e ocupado por tropas estrangeiras. Perdeu sua soberania como nação e atravessa décadas de terrorismo total com o genocídio que todos conhecemos.

Claro que não podemos comparar o Brasil com o Iraque, e aqui não vai qualquer desmerecimento àquele país e ao seu povo, do qual conheço alguma coisa. Mas estes fatos são uma inegável lição que temos sempre que levar em consideração.

Leia também:

MST ouve especialistas: Nem paraíso, nem inferno


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Jayme Vasconcellos Soares

Na minha opinião, as respostas dadas pelo geólogo Estrela são claramente contrárias ao leilão do campo de Libra, em todos os aspectos da racionalidade, tanto do ponto de vista técnico/científico, econômico, e estratégico geopolítico. Foi uma privatização de um bem econômico do País, e representou uma traição do governo Dilma ao povo brasileiro, que não foi consultado quanto a este ato de lesa a Pátria.

Hildermes José Medeiros

Não deixa de ser um privilégio melhor informar-se sobre o problema do pré-sal, e do campo de Libra em particular através do que pensa o lúcido e preparado geólogo Guilherme Estrela. Não se trata de um adversário do governo, mas um petista, na verdade um ex-comunista ao que se sabe. Esse ilustre profissional que esteve por quase uma década como diretor à frente das das atividades exploratórias e de desenvolvimento da produção de hidrocarbonetos da Petrobras, tendo liderado as equipes cujos trabalhos resultaram nas descobertas das reservas do pré-sal, particularmente de Libra, que foi recentemente leiloada. De tudo que foi feito, nada critica, inclusive o arcabouço legal. Apenas, e tão somente argumenta a questão estratégica de admitir parceiros estrangeiros para participar das atividades de aproveitamento da jazida gigante de Libra, que registra ter implicações estratégicas e na geopolítica, resumida quando diz: “Energia é fator crítico da soberania e do desenvolvimento de qualquer país. Há, portanto, um potencial conflito de interesses geopolíticos absolutamente inerente à presença de estrangeiros numa gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei. Mas que está lá, está.” Não é uma questão qualquer. Entretanto as razões que dá estão presentes desde a criação da Petrobras, esteve presente na Bacia de Campos e continua no pré-sal. Claro que são ameaças latentes, mas certamente não desconhece que o Governo está preocupado com o problema, e está reaparelhando nossas Forças Armadas, e implantando novo Plano de Defesa. Não vejo por que desapareceriam as ameças que aponta, caso a Petrobras operasse cem por cento do campo de Libra dentro mesmo marco legal. Não dá para perceber as razões. Nem reza braba resolve o problema, afastando esse fantasma de ameças do imperialismo. Adiar, mesmo que seja por mais um ano, dois na realidade porque 2014 é ano eleitoral, para permitir que a Petrobras seja a única responsável por Libra, seria um caminho que criaria difíceis problemas, inclusive políticos, também para a própria Petrobras e influiria nos planos e programas governamentais, inclusive na obtenção de recursos. Os verdadeiros adversários do Governo, adorariam. A proposta só seria mais vantajosa para os acionistas estrangeiros da Petrobras, que passariam a participar dos lucros de mais sessenta por cento de Libra por trinta e cinco anos, de início, em qualquer cenário, as ações da Petrobras explodindo na bolsa. É uma tese que não se sustenta, pelo que envolve e pelos problemas que cria.

Lafaiete de Souza Spínola

Excelente a entrevista do Estrella!

A minha opinião sempre foi:

O petróleo é nosso!

Contratar a Petrobrás para efetuar 100% a exploração de Libra!

O petróleo é um produto estratégico!

Recordo-me que um país pequeno, a Suécia; territorial e populacional; nacionalizou a indústria do aço, quando as empresas privadas do país começaram a ter dificuldades em competir com o aço produzido na Coreia do Sul.

Aqui, muitos, desejam entregar o petróleo para as empresas estrangeiras, como são favoráveis à importação de tudo que seja necessário para a pesquisa e a produção.

ZePovinho

Atualmente me atualizando com um MBA em gerenciamento de projetos pela FGV,Azenha,conheci engenheiros mecânicos que trabalham para térmicas aqui no nordeste.Eles estiveram na Coréia do Sul e me contaram a mesma história que o Estrella conta neste trecho:

…..”Ainda com respeito à construção das plataformas no Brasil, fomos sempre muito criticados pelo fato de o custo brasileiro ser maior do que os de Cingapura, do Golfo Arábico e da China. E têm que ser. Sou pessoalmente testemunha das diferenças qualitativas entre as condições de trabalho oferecidas, por lei, aos trabalhadores. Não há comparação.

Aqui no Brasil praticamos uma relação capital X trabalho muito mais avançada, muito mais ética e justa que em muitos lugares no exterior, onde é comum se construir em condições absolutamente inaceitáveis para o trabalhador brasileiro.

Se há exigência, muito saudável, de competitividade, vamos enfrentá-las. Mas em condições de igualdade de patamar na qualidade das relações capital X trabalho. E não competir com mão de obra quase escrava”……

A idiotia conservadora brasileira critica porque os coreanos constroem uma plataforma em 36 meses enquanto os brasileiros constroem em 42 meses.Ora….com mão de obra semi-escrava como na Coréia e China isso é vantagem?????Que país queremos????Um país onde o fim da escravidão seja considerado com um ataque à propriedade privada????
Salve Estrella!!!Estive no IMA/UFRJ,na COPPE(no laboratório do Professor Fernando Bastian,porque tinha um amigo se doutorando por lá em mecânica da fratura) e no CENPES.Esses lugares dão orgulho de ser brasileiro.Graças a brasileiros como você o Brasil seguirá adiante.

José Souza

Geopoliticamente foi bom a China ter entrado na exploração do pré-sal. É um “freio de arrumação” nas intenções dos países centrais e um aval aos objetivos do governo brasileiro. Parecem claros os objetivos da China: aumentar suas fontes de suprimento de petróleo; financiar a Petrobrás na sua busca por novos poços, se necessário; tentar, com o aumento da produção, baixar os preços internacionais dessa riqueza; e, por último, informar ao mundo que investirá em toda a cadeia produtiva e onde permitirem. Quanto à Petrobras, observa-se que a garantia de abastecimento, aumento das reservas, desenvolvimento do país e lucro foram os objetivos. Com a China ao lado do Brasil a 4ª Frota irá respeitar as 200 milhas da fronteira marítima brasileira. Mesmo assim o país precisa de investimentos em suas forças de defesa.

    ZePovinho

    É isso aí,José Souza.A China deslocou milhares de soldados para a Síria e os americanos correram depois que a Rússia interceptou os dois mísseis que os EUA lançaram contra o país.

    silveira

    Zépovinho. Logo depois você acordou

augusto2

Majnoon é mais antiga.
A lei do petroleo foi mudada no Iraque depois, pelo congresso fantoche, após 2005. Em nov.2002 matilhas de executivos da shell,BP e outras se reuniam varias vezes, na Downing St., 10 o alto escalão do premier tory Blair. Claro, combinavam o q fazer no camarote em que iram torcer pelo chelsea, Man Utd no fim de semana.
É assim nessa divisão q está valendo lá hoje?

roberto almeida

Guardar uma riqueza dessa para daqui a alguns anos é brincadeira. É pura discussão acadêmica. O Brasil precisando urgentemente de petróleo, de investimentos, e deixar tudo no fundo do mar, porque alguns teóricos acreditam que estarão assegurando a soberania nacional. Vamos explorar Libra e investir no Brasil para diminuir a desigualdade social.

Mário SF Alves

1) “Não conheço a racionalidade econômico-financeira que levou aos 41,65%. Fantástico. Como geólogo não consigo entender como chegaram a esta precisão! Não posso opinar. Como disse, não tenho informações sobre a racionalidade econômica que desaguou neste super preciso percentual de 41,65%. Não é 41,64 nem 41,66, é 41,65 cravados!”

Obs. I) Tá. Isso eu entendi. É coisa de geólogo, mesmo. Coisa de sujeito que sabe o quanto é difícil quantificar com precisão o tamanho de uma mega-entidade dessas.
____________________________

2) “Isso nos obriga, como país soberano, a nos prepararmos para assumir esse papel — de não mais coadjuvante, mas de protagonismo mundial diante desta muitíssimo sensível realidade. A quarta frota [dos EUA] está aí, ressuscitada não por outro motivo.

Obs. II) Não entendi. Será que ele quis dizer que a IVª Frota taí para proteger o Brasil contra outras potências? Esto, yo no lo creo; no ne possible. E outra: país soberano?!! Somos? Já somos? Será que a Venezuela também é?
____________________________________

3) “De uma hora para outra, este país aparece como uma potência energética, cujas reservas potenciais, em processo acelerado de comprovação, de petróleo e gás natural impactam o quadro energético mundial. Tudo indica que irão contrabalançar, junto com a costa oeste africana o peso do Oriente Médio, a médio e longo prazos, para suprir EUA e UE.”

Obs. III) Potência energética ou país potencialmente rico em recursos energéticos? Tem ou não tem diferença nisso aí?

_______________________________
Seja como for, com dúvida ou sem dúvida, e ainda que na firme crença de que o mundo seria mais humano sem as engrenagens só possíveis de serem engendradas por conta da existência desse maldito petróleo, manifesto aqui meu respeito ao técnico Estrella e minha grande satisfação em ser igualmente filho deste imenso, riquíssimo e infelizmente tão vilipendiado Brasil.

FrancoAtirador

.
.
Além de ser bastante esclarecedor, nos aspectos técnicos, sempre muito bem fundamentado em sua larga experiência internacional em prospecção de petróleo, sobretudo porque por longo período serviu à Petrobrás onde se destacou como membro da equipe de pesquisadores que descobriu o Pré-Sal no Brasil,
o geólogo Guilherme Estrella expõe um dos mais sensatos posicionamentos a respeito da licitação do petróleo do Campo de Libra,
inclusive abordando as conseqüências geopolíticas que poderão advir do Consórcio formado pela Petrobrás com as Petrolíferas chinesas e européias.
.
.
Sobre a Nota do Viomundo:

O Frias sempre com as ‘perguntinhas’

afirmativas conclusivas emplumadas…
.
.

    FrancoAtirador

    .
    .
    As Mudanças na Petrobrás e a Soberania do País

    Por Mauro Santayana

    (http://www.maurosantayana.com/2012/02/as-mudancas-na-petrobras-e-soberania.html)
    .
    .

    Mário SF Alves

    Prezado Franco,
    Agradeço a indicação do link. Formidável.
    ________________________________

    É a mais pura matemática do “com quantos paus se faz uma canoa”; é o Santayana mostrando o quão difícil e complexa é a superação do subdesenvolvimento no Brasil. Qualquer que seja o modelo. Qualquer que seja a via; especialmente, quando se tem o compromisso de construir um Brasil para os brasileiros.

    ___________________________________________
    Valeu.

francisco.latorre

é do ramo.

..

nanico

A direção tomada pelo governo brasileiro de adotar esse sistema de exploração com várias nações envolvidas, atrai uma segurança, talvez até militar, para o empreendimento,que o Brasil sozinho não teria como garantir, haja visto o que aconteceu no Iraque.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Desde que a Inglaterra, a Holanda e a França não se alinhem

    e que a China não ganhe nada com esse suposto alinhamento.
    .
    .

    Mário SF Alves

    Bingo! Frio e racional. Geopolítica mundial e ponto final. Tirou daí é dar chance pro azar.

    _____________________________________
    Juro que eu não tinha dúvidas quanto à China. Agora, tenho. Dúvida pouco incomodativa, a bem da verdade.

    Matheus

    Ah, sim, Brasil e Iraque, a mesma coisa!

    Exceto que a população brasileira é mais de 15x a iraquiana, não estamos desmantelados por 20 anos de embargo e temos vizinhos aliados.

    Desculpinha esfarrapada para o entreguismo: vamos entregar, para não entregar!

    JÊNIO

    RETAS DE VISTAS

    Pouco importa o tamanho da população para efeito de defesa militar de reservas em alto-mar. Para tanto, o que conta é o nosso poder naval que, ainda que seja infinitamente superior ao do Iraque, corresponde a uma “marinha de guerra brancoleone” quando comparada com a IV frota ianque e a força naval britânica já estacionada nas Malvinas ( não é difícil de supor que essas duas forças atuariam de forma combinada, dado o alinhamento quase que automático dos EUA com seu apêndice europeu). A menos que o companheiro imagine que possamos todos ir a nado até ó campo de Libra para, com nossas espingardas e estilingues, rechaçarmos a agressão imperialista.

Fernando Fidelis Vasconcelos

Ahmed Mousa Jiyad diz:
11 out 2013 às 12:17
Nem a Shell nem Petronas detém Mejnoon, Iraque sim!
O que é relatado sobre a propriedade Majnoon é totalmente errado. O campo é operado na base de contrato, onde tanto a Shell como a Petronas recebem taxa de remuneração de US $ 1,39 por barril. Depois de deduzida a participação de parceiros do Estado e do imposto de renda, a “taxa de remuneração líquida máxima” a pagar aos dois contratantes é $ 0,678 por barril. A partir desta taxa de remuneração líquida Shell terá $ 0,407 por barril, enquanto Petronas $ 0,271 por barril. Digo “máximo”, porque esta taxa de remuneração líquida pode ser reduzido ainda mais, devido ao efeito de “R-Factor”, a uma taxa de remuneração “mínimo” net de $ 0,0813 e 0,0542 dólares o barril para a Shell e a Petronas, respectivamente.
Ahmed Mousa Jiyad,
Iraque Consultoria / Desenvolvimento e Pesquisa,
Noruega. [email protected] 11 outubro 2013

Netuno

Incrível depoimento!
E se nossas grandes reservas estivessem em terra, no centro da país, ao invés de estarem em alto-mar, bem distantes do litoral onde não tem ninguém pra tomar conta e atrapalhar? Dá pra deduzir a resposta com base no depoimento do Sr. Estrella.

João Carlos

Tudo bem,é sempre bom ouvir uma opinião competente.Há uma certa obsessão com a Petrobrás explorar sozinha o petróleo de Libra,que se justifica pelo tempo e importância do trabalho realizado com pleno sucesso.Ele fala com o coração,acho bonito,e não culpa o Governo nem dá certeza de que de outra forma seria mais correto,a não ser,talvez,que houve precipitação em se fazer o leilão agora-poderia ficar para daqui há uns anos.No fim,é uma opinião sensata,mas acredito que em termos geopolíticos a presença da China é uma forma de dissuadir a 7ª Frota de agourar nossos mares…Não é?

Diogo Romero

Por que não ouviram o homem antes de fazerem a merda?

    Mário SF Alves

    Prezado Gustavo Gindre,

    Agradeço a indicação do link. Formidável.
    ________________________________

    É a mais pura matemática do “com quantos paus se faz uma canoa”; é o Santayana mostrando o quão difícil e complexa é a superação do subdesenvolvimento no Brasil. Qualquer que seja o modelo. Qualquer que seja a via; especialmente, quando se tem o compromisso de construir um Brasil para os brasileiros.

    ___________________________________________
    Valeu.

    Mário SF Alves

    Ô, Gustavo, me desculpe, o destino da resposta era outro.

    Mário SF Alves

    Mas, a propósito e com respeito a sua observação:

    “Pois, hoje, na Folha de São Paulo, o ex-diretor (durante 10 anos) de exploração da Petrobras, Guilherme Estrella, disse que “a própria presidente da companhia afirmou que a Petrobras tinha o maior interesse em operar Libra sozinha, mas que só poderia iniciar os trabalhos em 2015. 2015 é amanhã”.”

    _____________________________
    Fica a dúvida:
    1) Petrobras menos 40% de capital estrangeiro (resquícios do radicalismo neoliberal do tucanato feagaceano) é igual a 60% de Petrobras nacional. Portanto, E APENAS POR AÍ, já se verifica que de pouco nos adiantaria a hipótese de exploração 100% Petrobras.

    2) Faltou juntar na equação uma outra e imprescindível variável, ou seja, faltou incluir a questão da fragilidade brasileira frente ao poderio militar e ao histórico de práticas invasivas do governo cada vez mais corporativo norte-americano. Vide 1964, e mais recentemente, o escândalo denunciado pelo Snowden.

Deixe seu comentário

Leia também