Dr. Rosinha: Permitir que deputados e senadores andem armados é barbaridade

Tempo de leitura: 3 min

Kairala 1

Algum problema?

Dr. Rosinha, especial para o Viomundo

Em 1990​,​ fui eleito deputado estadual no estado do Paraná. Diplomado, alegre e feliz​,​ apresento-me na Assembleia Legislativa do Paraná para saber sobre os preparativos da posse. Quem presidia a ​Assembleia, naquela ocasião e em tantas outras ocasiões anteriores e posteriores​,​era o deputado Aníbal Khury.

Não lembro se foi antes da posse, com a apresentação do diploma​,​ou se logo em seguida, entreg​aram-me​ dois documentos: a carteira de deputado estadual e uma autorização para andar armado, ou seja, um porte de arma​,​ ou de armas. Os dois documentos foram entregues no mesmo dia, ​ou ​melhor​,​ no mesmo momento, só não lembro qual foi o primeiro. Conhecendo a época e o pensamento da maioria dos deputados daquela época, e pode-se dizer até hoje, acredito que o porte de armas foi entregue, simbolicamente, antes da carteira de deputado.

É is​s​o mesmo, assim que fui eleito recebi de imediato a autorização para andar armado. De imediato, antes que qualquer pessoa me fizesse qualquer pergunta​,​ eu mesmo me perguntei: por que a necessidade de andar armado? Estar deputado significa correr mais risco do que o cidadão comum? Se não sei atirar​,​ o que vou fazer com uma arma?

Bem, tive por oito anos, período em que exerci o mandato de deputado estadual, porte de armas, mas nunca tive uma arma.

Na ocasião​,​ ninguém me perguntou se queria usar arma, se gostava de armas e ninguém me analisou se eu tinha condições psicológicas ​para tê-las . No fim e ao cabo, estava autorizado a andar armado e​,​ claro​,​ a usar a arma “em legitima defesa”. Mas o que é legítima defesa?

Legitima defesa, no geral, é matar alguém e depois contratar um bom advogado para ​se defender. Se a vítima for negra e/ou pobre de periferia​,​ é mais fácil de provar que agiu em legítima defesa.

Eu não tinha, nunca tive e não tenho armas, mas havia deputados que portavam armas, inclusive nas reuniões de comissões e em sessão plenária. Imagine como me sentia num debate político, quando o debatedor ou​,​ se quiser amainar o termo, o interlocutor, tinha uma arma na cint​ura. O debate não ocorria ou​,​ se ocorria​,​ eu estava sempre em franca desvantagem. Desvantagem porque nunca se sabe a reação de um homem armado. Por qualquer razão​,​ pode se sentir ameaçado e​,​ em “leg​í​tima defesa”,​ atirar.

​L​embro​ que, como deputado estadual, ​em uma das férias, viajei de carro para o ​N​ordeste brasileiro. No estado do Maranhão​,​ fomos parados pela ​pol​ícia daquele Estado. Após o diálogo formal e educado​,​ apresentei os documentos solicitados pelo policial. Num dado momento​,​ foi-me solicitado, educadamente, pelo policial, que abrisse o porta-malas do carro.

Sério, mas só para sentir a reação do policial, educadamente pergunto por que abri-lo. Ele responde​:​“é rotina, para verificar se transporta armas”. Para testá​-lo respondi: “eu tenho porte de armas, portanto​,​posso transportá-las”.

O policial analisou o documento que me autorizava a andar armado e me liberou a seguir viagem, sem sequer vistoriar o porta-malas. O documento me deu a condição, caso desejasse, não só de transportar arma​s​, mas de transportar o que quisesse. Afinal, uma autoridade (o deputado) com porte de armas​,​
na visão daquele policial e provavelmente de muitos outros, mesmo hoje, não pode ser questionada.

Nestes casos​,​ o porte de arma pode ter mais de uma utilidade. Não é só o documento que te autoriza a andar com o instrumento que te permite matar alguém, mas também é o passaporte para traficar, contrabandear e outras coisas mais.

Faço estas reminiscências porque ​dias atrás uma ​c​omissão ​e​special da Câmara dos Deputados aprovou, entre outras barbaridades, ​um texto ​que ​permite que d​eputados e ​senadores ​andem armados.

Mas​,​para não ficar nas reminiscências pessoais​,​vou recorrer à nossa história. São muitos os casos em a arma foi usada por alguma autoridade. Um dos mais conhecidos é o que envolveu o senador Arnon de Mello, pai de Fernando Collor de Mello, senador pelo PTB de Alagoas. Arnon de Mello era um dos
​s​enadores que andava armado e que​,​ em 1963​,​ assassinou em plenário o senador José Kairala.

Na época​,​ creio​,​ não existia a ​expressão bala perdida”​. Pois bem​,​ José Kairala foi vítima de uma bala perdida. Arnon de Mello atirou no senador Silvestre Péricles, mas errou e acertou José Kairala, que não tinha nada a ver com a briga.

Arnon e Péricles, os dois briguentos, foram presos, mas logo soltos e absolvidos. Afinal​,​ o assassinato foi em “legítima defesa”.

No tempo em que deputados e senadores andavam armado​s,​ quem criou fama foi a “Lurdinha”. ​Este era o nome da metralhadora que Tenório Cavalcanti, o famoso “homem da capa preta”, carregava. Andava de capa porque debaixo dela levava ​um​a metralhadora​, a​ “Lurdinha”.

Se ​a excrescência ​desse projeto aprovado ​virar lei​,​vai ser um tal de deputado e senador andar armado e de mão na cintura, mostrando o cabo da arma,
​a ​perguntar ao eleitor que por ventura ​lhe ​faça qualquer questionamento: “​A​lgum problema?”

Dr. Rosinha, médico pediatra e servidor público, ex-deputado federal (PT-PR).

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Comentários

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L@!r M@r+35

Somos cidadãos de terceira classe. Simples assim. Esse povo não nos serve. Somos ralé pra servir de tiro ao alvo. Nojento.

Antonio Tadeu Meneses

Pelo visto os autores do projeto não confiam nos aparelhos de Estado responsável pela segurança e combate à criminalidade e/ou representam o Lobby dos poderosos fabricantes de armas.
Segundo dados de 2013 o mundo gasta mais de U$1,17 trilhões em armas, só os EUA U$620 bilhões, o Brasil U$33,1 bilhões.
Já pensou se o mundo não gastasse tanto dinheiro assim com armas?

    Yule Cristina

    É a grana dos poderosos fabricantes de armas falando mais alto, como sempre não é, no Congresso o dinheiro sempre falou mais alto, imaginem agora com essa avacalhação que virou essa legislatura.

Urbano

A ideia é fascista em toda a sua essência…

Mauricio Gomes

Imaginem o BolsoASNO e seus filhotinhos armados dentro do congresso, junto com os pastores fundamentalistas. Melhor chamar algum diretor de western para filmar, pois vai voar bala pra tudo que é lado…

FrancoAtirador

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! Revelado o Segredo Divino de Santo Cunha !
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Cunha não tem Contas Bancárias no Exterior,
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ele é apenas “Usufrutuário em vida de Ativos”
.
doados por Off-Shores e Bancos Estrangeiros.
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(http://www.candeiasmix.com.br/politica/24105/cunha-admite-contas-exterior.html)
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FrancoAtirador

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Só andam Armados os Homens de Bens,
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como o ex-Prefeito Municipal de Unaí-MG,.
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O ex-prefeito de Unaí (MG) Antério Mânica, foi condenado,
nesta quinta-feira (5), a 100 anos de prisão
como mandante do assassinato de quatro servidores
do Ministério do Trabalho, em 28 de janeiro de 2004.
O irmão do ex-prefeito, Norberto Mânica,
também foi condenado como mandante.
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O Fazendeiro Antério Mânica elegeu-se
prefeito da cidade mineira, pelo PSDB,
no ano de 2004 e foi reeleito em 2012 .
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As mortes ocorreram na manhã de 28 de janeiro de 2004, na zona rural de Unaí.
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Os auditores fiscais Nélson José da Silva, João Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves
e o motorista do Ministério do Trabalho e Emprego Ailton Pereira de Oliveira
foram assassinados a tiros em uma estrada vicinal enquanto fiscalizavam
denúncias de trabalho escravo em fazendas da região.
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(https://www.sinait.org.br/site/noticiaView/12010/chacina-de-unaianterio-manica-condenado-a-100-anos-de-prisao)
(http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/11/05/ex-prefeito-e-condenado-a-100-anos-por-chacina-de-unai-mg.htm)
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FrancoAtirador

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Lista Atualizada do Comando de Caça aos Comunistas (CCC):
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(http://imgur.com/XdCPv23)
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http://cloacanews.blogspot.com.br/2010/01/extra-surge-nova-versao-da-reportagem.html
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Marcos Pinto Basto

Os parlamentares querem andar armados? Poderia concordar com a idéia se os”nobres” parlamentares estendessem essa medida a todos os cidadãos honestos do País, criando um fundo federal de incentivo ao armamento e escolas de treinamento para o uso correto das armas, aprovando na oportunidade a lei da legítima defesa que permita ao cidadão comum atirar em quem ameaça sua vida de modo direto ou indireto. Os parlamentares que se cuidem porque o Povo improvisa bastante e bem!

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