Petroleiros denunciam: Diretor da Petrobrás, ex-Shell, usa informações enganosas para privatizar US$ 21 bi até o fim de 2018

Tempo de leitura: 9 min

Nelson Silva, diretor de Estratégia da Petrobras

Tolice supor que os petroleiros são tolos

por Cláudio Oliveira e Felipe Coutinho

O Diretor de Estratégia da Petrobras, Nelson Silva, tenta convencer os funcionários de que é preciso privatizar US$ 21 bilhões até o fim de 2018.

Para isso apresentou informações incompletas sobre as multinacionais privadas, esqueceu mais uma vez da Shell e repetiu falácias sobre a Petrobras.

Os petroleiros já sabem que o verdadeiro objetivo da atual gestão é a privatização, por partes, dos ativos rentáveis da Petrobras.

Sabemos que a escolha do indicador de alavancagem, da meta de 2,5 e do prazo de 2018 são arbitrários.

São as consequências da meta de privatização e não o contrário.

Trata-se de uma falácia, de inversão de causa e efeito, que é repetida muitas vezes.

O termo falácia deriva do verbo latino fallere que significa enganar.

Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro.

Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega.

Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso.

Inversão de causa e efeito

O Diretor Nelson Silva apresenta o efeito como se fosse a causa.

Tenta nos iludir que a redução da alavancagem de 3,2 para 2,5 até o fim de 2018 – seguida de redução maior até 2022 — é adequada, e por isso seria preciso privatizar US$ 21 bilhões em ativos da Petrobrás até o fim do ano.

Na verdade, é exatamente o contrário.

A meta de se privatizar os US$ 21 bilhões até o fim de 2018 é que causa a escolha do indicador de alavancagem como estratégico e da sua redução para 2,5 neste prazo.

Meta financeira do PNG 2018-2022 da Petrobras

(Petrobras, Plano de Negócios e Gestão 2018-2022, 2018)

Argumentos do Diretor Nelson Silva

O Diretor de Estratégia da Petrobras, Nelson Silva, deu entrevista para divulgação na rede interna (intranet) e tentar justificar a privatização dos US$ 21 bilhões prevista no plano de negócios 2018-2022.

Usou os seguintes argumentos:

1 — A Petrobras precisa reduzir a alavancagem (razão Dívida líquida/Geração de caixa) para o mesmo patamar das multinacionais integradas que, segundo ele, varia entre 1,4 e 1,6.

2 — A Petrobras precisa reduzir o pagamento de juros anuais para o mesmo patamar das multinacionais privadas que, segundo ele, varia entre 1,0 a 1,5 bi US$ anuais.

Vamos analisar os argumentos.

Alavancagem da Petrobras e das multinacionais privadas “majors”

Segundo o Diretor, a alavancagem das multinacionais varia entre 1,4 e 1,6.

Ele afirma ainda que a Petrobras deve buscar essa mesma condição.

O endividamento é resultado do uso de capital de terceiros para implantação de projetos.

É preciso ter bons projetos, além das reservas de petróleo, para que esse capital seja usado para o crescimento da produção e da geração de caixa.

Quando a alavancagem resulta em aumento da receita, o pagamento da dívida é mais fácil.

Entre as “majors” destacamos a Shell que fez investimentos relevantes nos últimos anos.

A Shell comprou a BG, cujo CEO era o próprio Nelson Silva, em 2016.

A Shell declarou que o objetivo era acessar as reservas do pré-sal.

Isto provocou um crescimento de sua dívida com consequente aumento de gastos com juros.

Não é a primeira vez que o Diretor Nelson Silva “esquece” da Shell ao apresentar os dados dos concorrentes da Petrobras.

O diretor disse que a alavancagem das multinacionais integradas varia entre 1,4 e 1,6, mas a Shell apresenta 1,92 em 2017, vindo de 3,64 em 2016, condição similar à da Petrobras naquele exercício.

Disse também que pagam entre US$ 1,0 e 1,5 bilhões de juros por ano, enquanto a Shell pagou US$ 4,0 bilhões em 2017.

Trata-se de argumentação ideológica, aquela que age por meio de convencimento mascarando a realidade.

Dessa apresentação parcial da realidade, desconsiderando a Shell, o diretor tenta nos induzir que seria lógico que a Petrobras precisa reduzir a dívida e o pagamento de juros anuais para os patamares apresentados como gerais, apesar de parciais.

Não é preciso vender ativos para reduzir a dívida da Petrobras

A Petrobras não precisa vender ativos para reduzir seu nível de endividamento.

Ao contrário, na medida em que vende ativos ela reduz sua capacidade de pagamento da dívida no médio prazo e desestrutura sua cadeia produtiva, em prejuízo à geração futura de caixa, além de assumir riscos empresariais desnecessários.

A meta de alavancagem de 2,5 poderia ser atingido em 2020-21, sem vender ativos, mas a atual administração antecipou a meta de 2020 para 2018.

Acreditamos que a verdadeira meta é privatizar os US$ 21 bilhões até 2018.

Para atingir tal objetivo se define o indicador, a meta e o prazo arbitrariamente, ou seja, a alavancagem de 2,5 até 2018.

O fracasso da gestão das multinacionais do petróleo e as lições para a Petrobras

As maiores multinacionais de capital privado do setor do petróleo não repõem suas reservas na taxa que são esgotadas, têm produção declinante, apresentam resultados financeiros fracos, e perderam boa parte de sua capacidade tecnológica, ao terceirizar suas atividades às empresas prestadoras de serviço.

Em uma palavra, definham.

Entre as principais causas, a adoção de modelo de negócios baseado em premissas falsas, com objetivo de maximizar o valor para o acionista no curto prazo, com precária visão estratégica ao não compreender o ambiente de negócios, seguindo bovina e consensualmente planos similares baseados em informações de “consultorias independentes”, ao negar restrições socioeconômicas, além de ignorar limites naturais.

Caso a Petrobras adote modelo parecido terá o mesmo destino, em breve.

Os gastos anuais com juros são proporcionais ao endividamento das empresas, enquanto o endividamento é proporcional à quantidade de projetos e reservas a desenvolver.

A Petrobras encontrou as maiores acumulações de petróleo das últimas décadas, as “majors” as cobiçam.

Se as “majors” têm menores dívidas isso é resultado do fato de que não têm muitos projetos viáveis para investir.

Isto é preocupante pois temos assistido à queda na produção e nas reservas destas empresas há vários anos.

Produção histórica das “majors”

(WILLMARTIN.COM, 2017)

Agências de risco e custo de capital

O segundo fator que faz com que os gastos com juros da Petrobras sejam maiores são as taxas cobradas.

Enquanto a Petrobras paga juros entre 6 a 7 % ao ano, a ExxonMobil, por exemplo, paga de 0,9%aa para títulos de curto prazo até 4,1%aa no longo prazo (2046).

As agências de “rating” atribuem graus de risco às empresas de acordo com os interesses dos agentes do sistema financeiro, trata-se de um número cada vez mais restrito de corporações que também controlam as “majors”.

Recomendamos o documentário Trabalho Interno, em inglês “Inside Job”.

Vencedor do Oscar de 2011, trata da crise financeira global de 2007-2012 e foi dirigido por Charles H. Ferguson.

O filme é descrito por Ferguson como sendo sobre “a corrupção sistêmica dos Estados Unidos pela indústria de serviços financeiros e as consequências da corrupção sistêmica.”

Uma empresa como a ExxonMobil que tem Geração Operacional de Caixa e Liquidez Corrente muito inferior à da Petrobras tem classificação AAA (máxima), enquanto a Petrobras fica 12 níveis abaixo.

Recentemente a Fitch rebaixou a classificação do Brasil para BB-, que é o mesmo grau que foi atribuído à Argentina logo após o calote da dívida.

De qualquer forma, a Petrobras hoje consegue captar empréstimos com juros mais baixos do que no período em que era grau de investimento (2007/2015) diante da reconhecida importância do pré-sal brasileiro, o mesmo que Pedro Parente chegou a afirmar que tinha sido “endeusado”, mas que hoje responde por mais de 50% da produção da empresa.

Os organismos financeiros internacionais reconhecem a importância e os direitos da Petrobras no pré-sal brasileiro.

Por isto todas as vezes em que a Petrobras vai ao mercado em busca de recursos as ofertas são muito superiores à sua demanda e os juros decrescentes.

Em recente artigo, Mathew Smith, analista do site especializado OilPrice.com escreveu sob o seguinte título “Quando o boom do petróleo do Brasil começar ele pesará sobre o preço do petróleo”.

De fato, a história do pré-sal está apenas no seu começo.

Os resultados dos investimentos feitos pela companhia no período 2010/2014 vão atingir seu ápice muitos anos à frente.

Falar neste momento em reduzir a razão dívida líquida/geração de caixa é a principal forma que a gestão da empresa encontrou para iludir a população brasileira e justificar a aceleração dos leilões do pré-sal e a venda de ativos lucrativos.

Um país que descobre reservas como a do pré-sal tem de se preocupar em investir na adequada taxa do desenvolvimento da sua produção e não em índices de alavancagem.

Como disse o presidente da Shell: “Todos querem estar no pré-sal”.

A rigor, toda grande petroleira do mundo poderia, e até gostaria, de ter a dívida que a Petrobras tem, desde que garantidos os mesmos direitos no pré-sal, o conhecimento da bacia sedimentar brasileira e as tecnologias que a estatal brasileira desenvolveu e aplicou.

A Shell segue nessa direção, comprou a BG, priorizou o pré-sal e assumiu maior endividamento para desenvolver suas participações nas reservas brasileiras.

Privatização para fazer caixa

O novo PNG 2018/2022 é uma evidência do “Entreguismo” e da atitude lesiva à pátria da atual administração da Petrobras.

Prevê a venda de US$ 21 bilhões de ativos, enquanto não prioriza a rolagem da dívida para evitar a privatização.

Pelo contrário, foi criado um novo uso chamado “formação de caixa” no montante de US$ 8,1 bilhões.

Fonte e Usos – PNG 2018-2022

(Petrobras, Plano de Negócios e Gestão 2018-2022, 2018)

Ou seja, o PNG 2018/2022 prevê um aumento do caixa da empresa de US$ 8,1 bilhões.

Mas para que a Petrobras precisa aumentar seu caixa?

No final de 2016 o caixa da Petrobras era de US$ 21,2 bilhões e o da ExxonMobil, maior petroleira do mundo e com receita 2,5 vezes maior que a da Petrobras, de apenas US$ 3,65 bilhões.

Isto é má administração ou um disfarce para justificar venda de ativos?

O quadro de Usos e Fontes registra a movimentação de recursos exclusiva no período 2018/2022.

Não considera compromissos anteriores.

O balancete fechado em Set/2017 mostra a Petrobras com um caixa de US$ 23 bilhões.

Além disto temos de enfatizar o seguinte:

1) dos US$ 13 bilhões de ativos vendidos em 2016, somente US$ 3 bilhões foram recebidos naquele exercício, e de janeiro a setembro de 2017 mais US$ 3 bilhões foram recebidos. Portanto restam US$ 8 bilhões para receber.

2) a Petrobras tem um crédito com a Eletrobrás cujo valor está em torno de US$ 6 bilhões.

3) a recente abertura do capital da BR Distribuidora gerou US$ 1,5 bilhões.

4) a também recente venda de Roncador para a Statoil gerou adicionais US$ 2,9 bilhões.

Não foi apresentado um cronograma para recebimento destes valores que somam US$ 18,4 bilhões (8+6+1,5+2,9), mas sua realização não deve demorar muito.

É bom lembrar que o recebimento destes valores não compõe a Geração Operacional de Caixa da empresa.

Considerando o saldo de caixa de US$ 23,5 bilhões em 30/09/2017 e a formação de caixa de US$ 8,1 bilhões, podemos concluir que o PNG 2018/2022 da Petrobras prevê que o caixa da companhia pode atingir o valor fantástico de US$ 50 bilhões (23,5+18,4+8,1).

Notem que não incluímos os créditos que a companhia tem com a União pela revisão do contrato da Cessão Onerosa.

Mas é preciso lembrar que a companhia constitui provisões em montante suficiente para cobrir as perdas consideradas prováveis e confiavelmente estimáveis para cobrir processos judiciais em andamento.

Em setembro de 2017 a provisão estava assim constituída:


Existem outros processos judiciais para os quais a Petrobras considera que não é provável a saída de recursos.

Para estes processos não são feitas provisões.

De qualquer forma o que fica patente é a falta de transparência da empresa na divulgação de seus números.

Os petroleiros e os brasileiros não são tolos

A atual administração da Petrobras e sua retórica ideológica e falaciosa, tanto pela inversão entre causa e efeito da meta de privatização e do indicador de alavancagem, quanto pela repetição nauseante dos argumentos, não são capazes de enganar muitas pessoas durante muito tempo.

Com relação a percepção dos petroleiros podemos recorrer à pesquisa de ambiência realizada pela Petrobrás.

A última pesquisa foi feita em janeiro/17.

Apenas 31%, dos 64% que responderam, confiavam nas decisões tomadas pela “Direção Superior”.

Ou seja, menos de 20%, um em cada cinco, responderam favoravelmente e confiantes nas decisões do presidente, conselheiros e diretores da Petrobrás.

Veja bem, a pesquisa foi realizada em janeiro de 2017.

Ao longo do ano, a confiança certamente piorou diante do resultado das privatizações da malha de gasodutos (NTS), do campo de Carcará etc. etc. e etc.

Em dezembro de 2017, a “Direção Superior” anunciou que não haveria pesquisa de ambiência em janeiro de 2018.

Para um bom entendedor… essa decisão basta para afirmar que a verdade sobre a Petrobrás foi revelada e já é auto evidente para os petroleiros.

Entre os brasileiros também, pesquisa recente apontou que 70% são contra a privatização da Petrobrás e 78% contra o capital estrangeiro na companhia.

A maioria dos brasileiros tem consciência da construção da ignorância sobre o petróleo brasileiro e a Petrobras.

Ter consciência é necessário, mas ainda insuficiente para preservar a companhia e usar nossos recursos naturais em favor da maioria.

É necessário que haja união e organização em defesa do maior patrimônio dos brasileiros.

Cláudio Oliveira é economista aposentado da Petrobras e Felipe Coutinho é engenheiro químico e presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

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Comentários

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Julio Silveira

Está na hora do povo ex brasileiro exigir do governo dos states que assumam definitivamente sua provincia chamada Brazil, e substituam os seus prepostos de nacionalidade duvidosa por seus nacionais autenticos nas instituições desse pseudo estado. Que tambem substituam a moeda corrente pelo dolar, assim como a lingua oficial, para que o povo possa ter finalmente alguem a quem possa cobrar e recorrerem para alcançar sua cidadania de primeira classe.
Os states precisam parar de deixar seus intermediarios laranjas fazerem seu serviço sujo para evitar pagarem suas contas com seus povos de segunda e terceira classes.

Nelson

Infelizmente, amigo, eles nos aplicaram um golpe. E a entrega do patrimônio e riquezas pertencentes ao povo brasileiro a mega corporações privadas multinacionais, notadamente as estadunidenses, é a principal tarefa dos golpistas.

Se eles conseguirem concretizar essa entrega, estarão “matando dois coelhos com uma paulada só”.

Primeiro, terão encaminhado a consumação do grande objetivo do golpe: a transformação do nosso país em uma mera colônia dos países ricos – EUA à frente -, leia-se, mega corporações privadas que são quem realmente governam esses países mui democráticos.

Segundo, terão inviabilizado qualquer governo com projeto nacional e popular que venha a ser eleito no futuro. Isto porque, um governo que tenha essa proposta vai necessitar das empresas públicas/estatais e das riquezas do país para implementar seu projeto.

Sem esses instrumentos, cruciais para a ancoragem do caminho escolhido, esse governo nada, absolutamente nada fará. Até porque a dívida pública, a sonegação de impostos e a remessa de lucros para o exterior, que continuarão altas ou mesmo aumentarão, o sufocarão de tal forma que ficará imobilizado.

Paulo Nogueira

As multinacionais do petróleo estão lambendo os beiços com o entreguismo da quadrilha de plantão no pobre brasil. Existem inúmeros executivos ex-Petrobrás ganhando rios de dólares e euros em bônus dos novos patrões (Shell, BP, Estatoil, etc…). Dá pra imaginar o tamanho das comissões pagas aos “vendedores”

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