Pochmann: De volta a 1872, elite que apoia Temer empurra os pobres de novo para o serviço doméstico

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Os pobres novamente sob suspeita

Em pleno início do século 21, a atual elite dirigente oferece cada vez mais ao conjunto da sociedade o passado como a verdadeira ponte para o futuro. Quem diria…

por Marcio Pochmann, Rede Brasil Atual

Entre o último trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2017, o número de desempregados passou de 6,4 milhões para 14,2 milhões.

É traço característico da classe (dos criados) o pouco amor ao trabalho. Sempre que podem, furtam-se ao cumprimento de suas obrigações.

Hoje em dia, porém, não valem eles nem o que comem nas casas dos patrões. (GIL, 1893) […] Cozinheiras e cozinheiros são bêbados e ladrões, copeiros são gatunos, denunciadores, criminosos vulgares, a criadagem feminina participa de todos os vícios e de todos os desequilíbrios. As queixas à polícia são constantes. (RIO, 1911).

O condomínio de interesses dominantes que viabiliza o governo Temer desde o ano de 2016 parte do princípio de que o atraso brasileiro se deve à insistência do povo em participar do orçamento público.

Repete, nesse sentido, a cantilena da elite do final do século 19, que produziu o projeto de branqueamento nacional para excluir do mercado de trabalho, a população pobre conformada por negros e ex-escravos e que, junta com os índios, representava cerca de 2/3 dos brasileiros em 1872.

Com isso, a inserção dos pobres ficou reduzida ao rendimento gerado nas ocupações mais simples.

Entre elas o serviço doméstico, que no ano de 1872 representava a segunda ocupação mais importante do país, com o abrigo de mais de 1 milhão de trabalhadores.

A primeira ocupação era a de lavrador, com 3,3 milhões de ocupados. Para cada um trabalhador na construção civil, por exemplo, havia mais de 12 ocupados nos serviços domésticos.

Ao mesmo tempo em que as poucas possibilidades de reprodução da vida pelos pobres encontravam-se nos postos de trabalho mais simples, emergia a preocupação com a ordem e a segurança.

No final do século 19, inúmeros são os registros de ação policial e da elevação de seguranças contratados, o que não deixava de apontar a visão dominante de suspeita sobre os pobres.

Nos dias de hoje, as “reformas” do governo Temer para as despesas públicas (emenda do teto sobre os gastos não financeiros), a seguridade social e o trabalho visam abater quase 10 pontos percentuais do orçamento governamental com os pobres.

Com isso, a pressão das pessoas ativas tende a ser crescente e dependente da obtenção de algum rendimento pelo exercício do trabalho existente.

Entre o último trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2017, a quantidade de desempregados aumentou 7,8 milhões, pois passou de 6,4 milhões para 14,2 milhões pessoas.

Neste mesmo período de tempo, o número de empregados no setor privado foi reduzido em 3,1 milhões de postos de trabalho.

Mas o trabalho doméstico cresceu em mais de 200 mil vagas, assim como o de segurança privada aumentou em quase 30%.

Nesse caso, percebe-se que em 2017, a quantidade de trabalhadores envolvida na ocupação de segurança pública e privada, formal e informal, deve se aproximar dos 2 milhões de ocupados.

Com isso, a segurança pública ameaça comparar-se ao número de postos formais atualmente existentes no setor da construção civil, tão fortemente abatido nesses últimos anos de avanço na recessão e de atuação da chamada operação Lava a Jato.

Além disso, o perfil urbano das cidades modifica-se gradualmente com a consolidação da arquitetura das fortalezas civis voltada à segurança.

Na habitação, verdadeiros “fortes apaches” disseminam-se na forma de condomínios residenciais, seguidos de quase “cidades proibidas” para o exercício do trabalho e de “templos do consumismo” aos segmentos privilegiados.

Todos crivados pelo que há de mais avançado em termos de segurança e tecnologias de proteção.

Na contramão da expansão da atividade econômica e ocupacional da segurança, emergem maiores informações sobre a barbárie da violência praticada no país, que registra mais assassinatos do que atingidos por ataques terroristas e em países no estado de guerra.

Segundo o Atlas da Violência de 2017, de responsabilidade do Ipea, e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a população negra, jovem e de baixa escolaridade continua totalizando a maior parte das vítimas dos quase 60 mil homicídios contabilizados no país.

Em pleno início do século 21, a atual elite dirigente oferece cada vez mais ao conjunto da sociedade, o passado como a verdadeira ponte para o futuro. Quem diria…

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Comentários

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PEDRO SANCHES

ISTO É SIMPLESMENTE VERGONHOSO PARA TODOS NÓS BRASILEIROS O QUE O PODER ECONOMICO ESTÁ FAZENDO COM BRASIL. PARABENS PELA MATÉRIA.

Sérgio

Azenha, precisamos com urgência dar ênfase no processo vergonhoso que está para condenar o LULA. Isto sim é muito importante.

As denuncias sobre as informações de cidadãos brasileiros passadas pelo Moro ao FBI, tem que ser explorada e gerar um processo de Lesa-Pátria e Alta Traição deste juizdequinta. As palestras dele e do xarope dallagnol também precisam ser investigadas, que com certeza mostrarão irregularidades diversas. Estes farsantes precisam ser desconstruídos rapidamente, antes que ponham tudo a perder. SOS LULA-DEMOCRACIA-BRASIL

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Sérgio

Presidente do PT do Rio prega ‘luta aberta’ nas ruas se Lula for condenado

Dentro da estratégia de blindagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, divulgou nesta segunda-feira (26), uma nota em que prega “confronto popular aberto nas ruas” caso o petista seja condenado pelo juiz Sergio Moro.

“Queremos, a partir do Rio de Janeiro, dizer em alto e bom som: condenar Lula sem provas é acabar de vez com a democracia! Se fizerem isso, se preparem! Não haverá mais respeito a nenhuma instituição e esse será o caminho para o confronto popular aberto nas ruas do Rio e do Brasil!”, afirmou Quaquá.

“Nós queremos repactuar o Brasil em torno da democracia e dos direitos e reformas que melhorem, de fato, a vida do povo, com emprego, desenvolvimento econômico e soberania nacional. Mas quem dirá se será pacto democrático ou luta aberta será a burguesia que deu o golpe!”.

No texto, o presidente estadual do PT diz ainda que a possibilidade de Lula concorrer é a última trincheira dentro das normas democráticas. E, “caso ultrapassada, não haverá mais compromisso democrático no Brasil”, a exemplo do que já aconteceu com o golpe militar de 1964.

“Vamos nos preparar pra luta da forma como ela vier. O judiciário brasileiro precisa dizer se vai aprofundar o golpe ou vai ajudar a restituir a democracia roubada. A garantia de eleições e do direito do Lula concorrer às eleições limpas (já que está mais do que evidente que não há crime por ele cometido e nenhuma prova produzida, depois de anos de investigação e de pressões e benefícios absurdos concedidos para quem se dispusesse a delatá-lo) é a última trincheira, que caso ultrapassada, não restará mais nenhum compromisso democrático no Brasil”, completa a nota.

    Eu

    “There’s class warfare, all right, but it’s my class, the rich class, that’s making war, and we’re winning” (em tradução livre: “claro que há luta de classes, mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está a fazer a guerra e estamos a ganhá-la”). Warren Buffet, megainvestidor estadunidense.

    Beira o ridículo a posição de Quáquá de propor enfrentamento. É tudo o que a direita xucra mais deseja no momento, pois estão perdendo em todos os fronts onde achavam que venceriam com facilidade: a posição de domínio político está em aberto, com a guerra entre as duplas Executivo-Legislativo X Judiciário-Mídia; as reformas não passaram suavemente e correm o risco de nem passarem mais da forma como se imaginava; o custo de manutenção da cadeia produtiva de corrupção desandou e ficou caro demais, graças à ganância deslavada da quadrilha temerária empossada; o deus ex-machina mercado não ajuda, a crise mundial não melhora; e a esquerda não foi dizimada dos corações e mentes do povão, se Lula for preso (injustamente, concordo), terá o condão de indicar um poste que, automaticamente, já estaria em posição competitiva forte em 2018. O PSDB está varrido do cenário eleitoral e as opções individualistas da direita (o garoto-propaganda paulistano e o porta-voz da truculência carioca) não decolam.

    Neste cenário, se não houver na economia um novo milagre do jeito que a gente sabe (salve Vitor Martins!), o cenário é ruim para todos em 2018. Partir para o enfrentamento de rua é dar ao adversário a chance de lutar em seu próprio campo, pois a direita brasileira é adepta desde sempre da violência física, e seria a única chance de vitória garantida pros caras, já que todos os outros cenários estão mais turvos do que gostariam. Seria o passaporte para a real extinção física das esquerdas nacionais, pois desta vez não haveria repetição do “engano” da ditadura, que deixou-as sobreviver por acreditá-las inviáveis para vê-las retomarem o poder em pouco mais de dez anos de direito ao voto. E poderia ter sido ainda mais cedo, não houvesse a vergonhosa atuação da mídia em 1989.

    Não, isso pode soar romântico como discurso, mas não tem nenhuma razão prática. Quem deseja se ver obrigado a agir de uma forma que sua consciência condena, tal como seria o caso em uma nova e mais sangrenta guerrilha urbana? Francamente, não me interessa matar concidadãos ou ser morto por um deles, em nome de uma ação política. Por mais justa que seja ela, perderia a razão imediatamente. Não se quer morrer pela Pátria, mas lutar por ela. A quem interessa receber elogios fúnebres?

Mineiro

Não adianta, contra eles ,é guerra mesmo ,deles não precisa esperar nada e pior ainda a maioria do povo sem vergonha, também é do lado deles é contra eles próprios, por incrível que pareça. Como disse o benvindo Siqueira, cadê a maldita massa que não está nem aí. Esse é o problema ,nos não está nem aí.

Mineiro

Esperavam o que dessa elite quando o Pt teve a chance de pelo menos tirar um pouco do poder deles ? Foi fazer pactos com eles achando que eles são seres humanos ,e pior ainda se acorvardou e tirou os sapatos e se ajoelhou. O que essa elite desgraçada, facista, nazista ganhou nos governos do Pt era pra eles se tivessem caráter, agradecer o Pt pelo resto da vida. Mas não, como são desgraçado, dado por natureza ,não estão satisfeitos, querem é ver o povo sofrer. O prazer desses ratos de esgotos é esse ,o resto não tem tanta importância.

gN

Ele ainda ta indignado pq perdeu a eleição…

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