Antonio David: Folha errou muito no título de reportagem sobre Moro

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Da Redação, com Antônio David

Quem lê o título da matéria publicada pela Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (12/05) acha que trata da performance do ex-presidente Lula no depoimento ao juiz Sérgio Moro.

O assunto, porém, é outro: a não imparcialidade de Moro.

Flagrante da falta de imparcialidade também da Folha quando o assunto envolve petistas.

Confira.

Lula errou pouco no depoimento a Moro, avaliam advogados

por Mario Cesar Carvalho, na Folha de S. Paulo, em 12/05/2017

O ex-presidente Lula não deu o show que gostaria, mas conseguiu evitar que o interrogatório conduzido pelo juiz Sergio Moro gerasse contradições que pudessem incriminá-lo no caso do apartamento tríplex, segundo três advogados e professores de direito ouvidos pela Folha.

As perguntas de Moro que não tinham relação com a ação penal, o apartamento do Guarujá que teria sido ofertado pela empreiteira OAS ao ex-presidente como propina disfarçada, foram criticadas pelo trio.

“Lula não se saiu mal no interrogatório”, diz Gustavo Badaró, advogado e professor de direito penal da USP. “Ele confirmou encontros e situações que os investigadores conheciam, mas negou a prática de atos ilícitos. Foi uma boa estratégia”.

Para Badaró, o fato de o juiz ter extrapolado a acusação do Ministério Público é preocupante. “Juiz que extrapola a denúncia é um indício de perda de imparcialidade. No caso do Moro, acho que isso não compromete o seu trabalho, mas acende uma luz amarela”.

Alberto Toron, criminalista e professor na Faap, diz que a insistência do juiz em repetir certas perguntas mostra um alinhamento com a acusação que não deveria existir. “Não posso dizer que o juiz foi parcial. Ele foi respeitoso com o acusado, mas certas perguntas revelam que ele está buscando provas para condenar”, afirma.

Toron inclui nesse rol as perguntas do juiz em torno da indicação de diretores da Petrobras e a insistência em questionar o ex-presidente se ele sabia da corrupção na estatal.

Toron diz que o interrogatório longo também faz parte de uma estratégia para “dobrar o réu”, como se fazia na ditadura militar (1964-1985).

Thiago Bottini, professor do curso de direito da FGV do Rio, também classifica como bom o depoimento de Lula com um senão: “Se alguém esperava que o Lula fosse se auto-incriminar, errou feio. Ele poderia ter ido melhor se não perdesse tempo em responder perguntas que não tinham nada a ver com o caso do apartamento”.

Foi nas perguntas que não tinham relação direta com o tríplex que Lula e Moro tiveram algumas discussões, na avaliação de Bottini. “A pior parte do depoimento de Lula foram nos momentos de antagonismo com o juiz. Isso não é bom para o Lula”.

Segundo Bottini, o juiz tem revelado um comportamento parcial não só no caso do ex-presidente. “O Moro faz muito mais perguntas do que o Ministério Público, o que o torna um sujeito não ideal para julgar. Ele não cumpriu inteiramente o papel de juiz imparcial no interrogatório de Lula”.

Uma das evidências da perda da parcialidade, de acordo com Bottini, apareceu nas perguntas sobre o mensalão. Na ação em questão, Lula é acusado de receber propina da empreiteira OAS.

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