Alexandra Mello: Mais do que nunca as crianças precisam de um mínimo de coerência nossa

Tempo de leitura: 3 min

crianças

Domingo 13

Alexandra Mello, no Facebook

Não quero falar da Angélica. Já foi falado tudo. De um lado, que é uma relação profissional, com salário justo, registro em carteira, impostos pagos, etc,etc,etc.

Do outro, que a imagem com a babá preta vestida de branco empurrando os dois filhos do casal branco vestido de verde e amarelo está carregada de simbolismos.

Tem sido assim: você precisa escolher um e, ao escolher, certamente será classificado e julgado pelo outro (ou coxinha ou petralha comunista). Mas quero falar é das crianças. Não só daquelas duas, no carrinho, pra quem viver ainda é uma experiência basicamente sensorial e aquilo era mais um passeio cheio de estímulos.

Mas também de outras que estavam lá no domingo 13, repetindo competente e alegremente o que os pais gritavam. Das que estão em processo de alfabetização e tentam ler tudo que encontram pelo caminho. Das que imitam os pais e ainda acham que o que eles dizem é a lei mais absoluta. Era uma multidão de verde e amarelo, protestando pacificamente pelo fim do governo e de sua corrupção.

Ouvi depois elogios e mais elogios ao civismo da manifestação. Provavelmente, atribuído ao fato de não ter havido nenhuma grande ocorrência que pudesse perturbar a ordem.

Neste caso, a atitude cívica teria sido de todos os brasileiros. Dos que estavam lá e dos ausentes que souberam respeitar o direito daqueles, de se manifestarem.

Fiquei pensando no significado da palavra civismo. Tentei lembrar das aulas de Educação Moral e Cívica que eu tinha no colégio de freiras. Particular. Também tentei lembrar das aulas de Estudos Sociais, sobre a ditadura no Brasil. Das de português, quando aprendi os Pronomes de Tratamento. Da professora Ceriza, de Religião. Essa me deixou de recuperação bimestral. Nunca me esqueço. Fui para o Guarujá (sim, meu avô alugava apartamento lá e nas férias eu encontrava a turma da escola, particular) e precisei levar a Bíblia para resumir um trecho dela e, quem sabe, me recuperar. Consegui.

Também me lembrei das aulas de Geografia. Nesta, eu tive uma vez que escrever 100 vezes a palavra Brasil. Com s. Eu tinha escrito com Z. Bem na prova. Essa, até que não foi mal. Aprendi que o Brasil é nosso.

Isso tudo me levou a pensar nas crianças de hoje, que escutam tantas palavras bonitas na escola (felizmente, não mais em aulas compartimentadas de Moral e Cívica e Religião) e nas ruas, num domingo 13, encontram cartazes onde o que está escrito é TÃO diferente. Tem também os desenhos. De uma mão com 4 dedos, por exemplo.

Mas eu não tinha que respeitar o amiguinho da classe que tem uma deficiência? E a Presidenta? Não é Vossa excelência? Posso chamar de vaca então? Achei que a ditadura tivesse sido ruim para o Brasil. Meus pais querem de volta? Quanta confusão! E na família então? Quanta animosidade! Quanto rancor! Fico me perguntando: será que não temos ressentimentos que saem enviesados, via discussão sobre a política? O que é democracia afinal? É sair às ruas e chegar em casa, chamando o parente de petralha comunista?

Quantas coisas nossos filhos têm escutado e a gente nem se preocupa que efeito isso pode ter. Eles é que poderão mudar nossa sociedade lá na frente. A gente sabe disso. Mas se continuarem escutando, lendo, vendo tudo que a gente têm mostrado a eles, não sei não. E o Bolsonaro que, explicitamente, discrimina a mulher, os negros, os homossexuais e foi aplaudido quando falou na manifestação que defende a democracia e a liberdade? Que liberdade? De quem? Para quê? Tá difícil!

E eu não sei como algumas pessoas conseguem comemorar cada nova prisão. Cada nova delação. Que haja sim punição para todos que merecerem. TODOS.

Mas não há o que comemorar, minha gente. Talvez seja um momento importante sim, mas de muita tristeza. E as crianças precisam mais do que nunca de nós e de um mínimo de coerência, entre discurso e prática.

Alexandra Mello é psicóloga e psicopedagoga 

Leia também:

É assustador ver crianças reproduzindo o fascismo dos pais


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

maria do carmo

Alexandra Mello, concordo, numa dessas ultimas manifestacoes fascistas estava perto da av paulista, quando vi um casal, duas criancas e baba descendo do carro, o homem pegou uma crianca de uns dois anos ao colo e falava repetidamente Dilma p…, ate que a crianca passou a repetir, nesse momento, lembrei de quando crianca eu, meus pais e meus cinco irmaos, estavamos passendo de carro pela av. santo amaro na esquina da av morumbi do lado do Brooklim velho, quando nos deparamos com a comitiva do presidente Getulio Vargas que fora visitar uma fabrica, Getulio acenava e as pessoas tambem e batiam palmas, algumas pessoas mais afastadas faziam apupos, ao sairmos papai disse, que Getulio era o supremo mandatario do paiz que fora eleito pela maioria dos brasileiros e que portanto, mesmo os que nao votaram nele deveriam respeita-lo, nao precisavam aplaudi-lo, mas nao poderiam ofende-lo, e que era necessario que se respeitasse a maioria, que fazia parte da democracia.Papai nos ensinou fosse no futebol ou na vida, lutamos para ganhar, mas precisamos saber que um ganha outro perde e quem ganhou foi melhor, devemos nos preparar melhor, sempre tera um vencedor e um perdedor faz parte da vida!

FrancoAtirador

.
.
Completando o Verso de Cazuza:
.
“A Burguesia Féde” a Hipocrisia.
.
.

Deixe seu comentário

Leia também