Adilson Filho: A lógica da guerra faz mais uma vítima inocente

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por Adilson Filho

A Páscoa é também sinônimo de renovação e eu procuro ser uma pessoa esperançosa sempre. Talvez pessimista na análise, mas sempre otimista na capacidade de transformação.

Essa triste sexta-feira da Paixão na cidade do Rio de Janeiro acabou mobilizando muita gente, e tenho certeza que irá contribuir para uma mudança de paradigma numa política de segurança pública fracassada na sua gênese.

Para tanto, a primeira coisa que precisa estar assimilada definitivamente é a lógica da “guerra” na qual ela se sustenta.

Há um inimigo eleito e declarado, mantido em confinamento em seus locais de moradia que se assemelham, hoje, a verdadeiros “campos de concentração”.

A segunda coisa, que está diretamente associada a primeira, é que momentos como esse nos ajudam a perceber que algumas instituições do Estado operam dentro de uma lógica particular para garantia dos interesses de uma parte da sociedade.

Vou elencar três fundamentais que se conectam harmonicamente para atuar nesse sentido: o Poder Judiciário, o poder midiático e a Polícia Militar.

As leis aqui são feitas para garantir a manutenção de privilégios e, na falta de delas, inventa-se, faz-se contorcionismo jurídico o diabo a quatro.

A mídia produz informações também para um segmento da sociedade, notícias entretenimento e produção de consensos, tudo para algumas pessoas consumirem e replicarem.

Por fim, a PM age para fazer a segurança dessa pequena parcela da sociedade. Essa distorção institucional, é que fatia o poder na nossa sociedade e orienta nosso percurso civilizatório desde sempre.

Posto isso, é fundamental perceber que a demonização da Polícia Militar por parte da esquerda, em nada colaborará para o problema gravíssimo da segurança pública no Rio de Janeiro.

Ora, se a polícia é treinada diariamente para fazer a segurança de uma parte da sociedade, o que mais se poderia esperar dela? Ela fará o que for preciso para isso, inclusive assassinar crianças, pois sabe que será aplaudida no final.

Ela está a serviço do “grupo” reeleito com quase a totalidade dos votos daqueles que aprovam essa política de extermínio endossada pelas organizações Globo — que hoje, muito mais que o próprio homem de apelido ridículo, é a maior representante política desse segmento social.

Quem explodiu o crânio do menino Eduardo Jesus ‘foram’ os que aplaudiram o espancamento daquele rapaz no protesto no centro da cidade, os que vibraram, a cada rodada de chope, nas mesas de bar, com a ocupação televisionada do Alemã e todos os que lucraram bastante com isso, como Luciano Huck e José Junior.

Eu espero que essa tragédia seja um bom momento para as pessoas que tiveram orgasmos na cadeira do cinema a cada tapa na cara, a cada prática requintada de tortura do Capitão Nascimento, refletirem se desejam continuar a deitar todos os dias suas cabeças no travesseiro sabendo que estão contribuindo, cada um a sua maneira, para todas essas mortes absurdas que ocorrem há décadas na nossa cidade.

Chega de culpar só o cozinheiro pela comida estragada sistematicamente servida. Está mais do que na hora dessa gente “de bem”, caridosa mas de coração pequeno, que ama a família mas se lixa para o povo, gente que se deleitaria se visse as favelas explodindo pelos ares, assumir o seu papel nisso tudo.

Assumir que são os principais financiadores ideológicos de uma guerra absurda lançando mão do poder, da voz e da influência que tem nas decisões do Estado.

Para todo infeliz treinado como um animal para “entrar na favela e deixar corpo no chão” tem um cidadão anuindo no conforto do seu lar, avalizando o sangue derramado nas ruas e nas redes sociais, sem sujar as suas mãos.

O menino Eduardo de Jesus foi condenado à morte e a sua família, hoje, não terá um feliz domingo de Páscoa, não haverá ovinhos de chocolate para procurar pela casa; enquanto isso, segue a ceia farta de piadas sem graça e de sorrisos cínicos na mesa de cada Pôncio Pilatos desse país.

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Comentários

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Sidnei Brito

Só sei que as UPPs, não há muito, foi apresentada, inclusive por gente de esquerda, como um passo civilizatório na questão da segurança pública.
Quando surgiram críticos, vi uma resposta de um nome que indesculpavelmente não lembro, mas cuja fala não saiu da memória: durante muito tempo, disse ele, criticou-se a falta da presença do Estado nas comunidades pobres, atribuindo a isso a violência e a exploração dos pobres por parte de forças do crime; pois bem, acrescentou ele, a UPP representa a entrada do Estado onde ele antes não estava, como se fosse uma tomada de território; no fundo, concluiu, é o que sempre defendemos.
Pois é. Houve mesmo erro de avaliação, inclusive por parte de forças progressistas?
Não é pergunta retórica. Tenho dúvidas mesmo.

    Sidnei Brito

    Corrigindo: “foram apresentadas”, claro. Discurpa!

Morvan

Bom dia.

Carissimi:

Escrevi, recentemente, sobre o novo mantra da direita mundial, a Redução da Maioridade Penal, sobre como a direita aproveita os fraquejos dos Governos de esquerda (no caso do Governo Dilma, não é nem fraquejo, é característica, mesmo) para fazer o povo ‘comprar’ suas teses e promessas de facilidades. Concordo com o autor; não adianta criticar a polícia. Mas civilizá-los (no sentido estrito de lhes tornar força civil, aqui) seria um bom começo. A lógica de guerrilha é retroalimentada pela militarização, sem dúvida. E esta polícia (a mesma que, em São Paulo, faz estimativas ‘generosas’ de golpistas, para seus comandantes em chefe) é a mesma do regime de exceção. Não foram civilizados, em qualquer sentido. Não à toa, o tópico sobre a licença para matar menores de 17 anos está bem pianinho, na nazipress. Por ora!
Impítim é “mes oeufs“.

Saudações “{★}¹³ Dilma, Vamos De Coração Valente; Enfrentar Os Golpistas E Defender A PetroBrás“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

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