Tentativas de apagar a tocha olímpica refletem cansaço com evento das corporações

Tempo de leitura: 4 min

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Em Cascavel foi com extintor; em Jundiaí com Coca-Cola litro

Sem Clima para os Jogos: a Pálida Chama Olímpica da Rio 2016

Adriano de Freixo e Thiago Rodrigues*

Nas últimas semanas, a tocha olímpica tem percorrido inúmeras cidades brasileiras sob o patrocínio do principal grupo de mídia do país, do maior banco privado nacional, de uma montadora de automóveis japonesa e da mais famosa multinacional de refrigerantes.

Neste percurso por terras brasileiras do símbolo que pretensamente representaria o espírito olímpico, o que tem chamado atenção – mais até do que própria tocha – são as inúmeras tentativas de apagá-lo em diversos pontos do Brasil.

Longe de ser algo inédito – pois atos similares já ocorreram anteriormente em outros países-sede – ou de ser uma demonstração da proverbial iconoclastia brasileira, tais protestos têm que ser entendidos no contexto da crescente reação global à forma como os megaventos esportivos são organizados, assim como às entidades que os organizam, como o COI e a FIFA.

Esses organismos esportivos traduzem seu imenso poderio econômico – visto que o esporte é um negócio cada vez mais lucrativo que se configura em milionárias verbas publicitárias e/ou decorrentes das vendas dos direitos de transmissão dos eventos – em grande influência política, possibilitando, inclusive, sua ingerência em questões internas dos países e/ou cidades que sediam os eventos por eles organizados, conseguindo, por exemplo, alterar legislações nacionais para remover entraves legais à realização dessas competições.

Em 2013 e 2014, tal reação já se manifestou como um dos pontos da agenda dos diversos protestos de rua ocorridos no Brasil, em que apareceram com destaque as críticas aos altos gastos para a realização dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas) e o descontentamento com a ingerência da FIFA e do COI visando o atendimento de suas exigências pelo governo brasileiro.

Questionamentos similares também aconteceram em outras partes do mundo. Recentemente, os cidadãos de Viena, na Áustria, se opuseram através de um referendo a que a cidade se candidatasse a sediar os jogos olímpicos de 2028, por avaliarem que os altos custos do evento, por conta das exigências do COI, não compensariam os eventuais benefícios gerados por ele.

Na mesma direção, o parlamento sueco recusou a possibilidade de que Estocolmo se candidatasse a sediar os jogos de 2022, por avaliar que a cidade tem questões mais importantes a cuidar, uma vez que eventuais prejuízos teriam que ser cobertos com dinheiro público.

Tais reações negativas da cidadania dos países democráticos têm levado as duas grandes organizações esportivas internacionais a preferirem que seus grandes eventos aconteçam em países com regimes mais fechados, como a China, a Rússia ou Catar, onde o controle estatal restringe as manifestações contrárias por parte da opinião pública, e as mudanças legais enfrentam menos resistência parlamentar; ou em países chamados “emergentes” como o Brasil, ansiosos por maior projeção internacional e com instituições “democráticas” significativamente permissíveis ao poder corruptor dos interesses econômicos mobilizados pelos “megaeventos”.

No Brasil de 2016, as Olimpíadas, até agora, parecem ter empolgado somente os jornalistas e comentaristas esportivos dos canais abertos e fechados pertencentes ao principal oligopólio midiático nacional. Em meio a uma intensa crise política e econômica, a população, de modo geral, não tem demonstrado muito entusiasmo pelos jogos, apesar dos esforços de seus patrocinadores em promovê-los.

No Rio de Janeiro, a cidade-sede, a crise nacional se mistura com a crise local e o prometido “legado olímpico” é questionado e visto com desconfiança por amplos setores da sociedade. Anos de obras públicas, transtornos no já caótico trânsito carioca e promessas de novas alternativas no transporte público, redundaram em construções mal-acabadas ou entregues parcialmente.

Além disso, a edificação de unidades desportivas e da infraestrutura para as delegações esportivas levou ao truculento despejo de centenas de famílias vivendo no entorno do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca e à gentrificação do centro do Rio de Janeiro travestida de “revitalização urbana”.

As denúncias de superfaturamento e do envolvimento entre empreiteiras e políticos, soma-se à insatisfação geral causada pela falência financeira do estado do Rio de Janeiro. A ajuda financeira emergencial enviada pelo governo interino federal foi condicionada às obras tidas como “fundamentais” para a realização das Olimpíadas – e não aos projetos completos – e à segurança dos Jogos, enquanto os serviços fundamentais aos cidadãos estão comprometidos – a agonia de uma das maiores e mais tradicionais universidades públicas do país, a UERJ, é um bom exemplo disto – e os salários dos servidores estaduais atrasados.

No campo da segurança pública, a chegada de tropas da Força Nacional, do Exército da Marinha mudou a rotina da Zona Oeste, cercou favelas e expôs exercícios militares voltados à contenção de manifestações e eventuais “ataques terroristas”.

A Lei sobre Terrorismo, aprovada em tempo recorde em dezembro de 2015, e sancionada em março de 2016, é ambígua o suficiente para afirmar que não visa criminalizar movimentos sociais enquanto define como “atos de terrorismo”, além das ações contra infraestrutura estatal, “sabotar o funcionamento (…) de instituições bancárias e sua rede de atendimento” (Lei 13.260/16, Art. 2, § 2º, IV).

Lembrando das Jornadas de Junho de 2013, e de como bancos foram alvo das manifestações, fica aberto o espaço nebuloso para que protestos possam ser, não apenas “criminalizados”, mas efetivamente securitizados em tempos de golpe conservador.

Além disso, a penúria estadual somada às reiteradas denúncias do fracasso do programa das UPPs, num contexto de volta dos confrontos entre traficantes e policiais nas “comunidades pacificadas”, pode deixar uma brecha para que o “estado de calamidade” de hoje no Rio, se transforme, em “estado de emergência” e as tropas fiquem.

Assim, nesse quadro, a tocha, longe de representar o espírito olímpico, passou a ser vista, por parte de setores expressivos da nossa sociedade, de forma explícita ou não, como o símbolo de um conjunto de frustrações e de expectativas não atendidas. Ela parece muito mais associada aos interesses das grandes corporações e a uma entidade perdulária, invasiva e envolvida em transações nebulosas, do que aos chamados “ideais olímpicos” preconizados pelo Barão de Coubertin.

Desse modo, a personagem principal que prepara o clima para cada Olimpíada percorre o Brasil sem clima nenhum para recebê-la. A alegria forçada dos apresentadores de TV não é suficiente para dar fôlego à brasa morna dos Jogos no Rio de Janeiro. E coroando tudo isso, segue o odor fétido e o lixo flutuante de uma Baía de Guanabara que seria despoluída para a Olimpíada, mas não foi.

*Professores do Departamento de Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense – UFF e Coordenadores do Laboratório de Estudos sobre a Política Externa Brasileira – LEPEB/UFF.

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Procurador questiona competência de Moro na Lava Jato


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Comentários

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Alexandre

Olimpíadas no Brasil é culpa do pt e do franco atirador que recebe bolsa salsicha do lula!

FrancoAtirador

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MOMENTO OLÍMPICO DE VERGONHA ALHEIA

Depois que o Prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB),
falou em pôr Cangurus na frente dos Alojamentos
destinados a Acomodar a Equipe Olímpica Australiana
– que reclamava de problemas com infiltrações,
vazamentos de gás e alagamentos nas instalações –
a Chefe da Delegação da Austrália respondeu
que precisava mesmo era de Encanadores.

Então, a Itália resolveu contratar por conta própria
eletricistas, encanadores e pedreiros, para assim
finalizar as Obras da Vila Olímpica do Rio de Janeiro.

https://t.co/E5TORbKLEG
https://twitter.com/ebcnarede/status/757623217611603968

http://agenciabrasil.ebc.com.br/rio-2016/noticia/2016-07/italia-contrata-pedreiros-e-encanadores-para-reparos-na-vila-olimpica
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FrancoAtirador

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Lideranças de Esquerda abrem Dissidência do PSTU

e Decidem se Engajar na Luta Contra o Golpe de Estado.

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/07/racha-do-pstu-lanca-nova-organizacao.html
http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2016/07/politica/508623-grupo-de-militantes-do-pstu-formalizam-saida-do-partido.html
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Lukas

Olimpíadas no Brasil é culpa do Lula.

    FrancoAtirador

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    Culpa do Lula foi ter colocado

    o MiShell de Vice da Dilma.
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FrancoAtirador

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Democracia? No Brasil? E Você Ainda Acredita Nisso?

http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/redacao/2016/07/23/advogados-sao-impedidos-de-ver-presos-suspeitos-de-preparar-atos-de-terror.htm
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FrancoAtirador

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Segurança da Olimpíada Está Sendo Reforçada

Ministro SkinHead Mandou Esquadrão Anti-Bombas

Abrir Todas as Bolas, pra ver se Continham Explosivos.
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FrancoAtirador

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24/07/2016

Drama do Desemprego vai Piorar no País

Além do Índice que está em 11,2% e deve Aumentar,

começam a valer Restrições no Seguro-Desemprego
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http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/pernambuco/noticia/2016/07/24/drama-do-desemprego-vai-piorar-no-pais-245815.php
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FrancoAtirador

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05/6/2016

Estudo da Serasa estima em 60 Milhões o Número de Inadimplentes no País,
totalizando dívidas em atraso no montante de R$ 256 bilhões.

É a maior marca já registrada desde que a Serasa iniciou a medição, em 2012.

São Paulo responde por 30% de toda a inadimplência nacional
e por 60% a 70% da região Sudeste, segundo dados da Serasa Experian.
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http://economia.ig.com.br/2016-06-05/situacao-real-da-inadimplencia-no-pais-e-pior-do-que-mostram-os-indicadores.html
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