Rogério Tomaz Jr: O que é isso, Jean? Chamar a candidatura de Jandira de quase “laranja” vai além da crítica

O ERRO DO JEAN EM 13 PONTOS

Rogério Tomaz Jr. no Facebook

1. Conheci o Jean Wyllys em 2002, num encontro de estudantes de comunicação que ajudei a organizar em Salvador e no qual ele deu uma passada e lá fomos apresentados por uma amiga em comum.

2. Em 2004 assisti ao ÚNICO reality show da minha vida, única e exclusivamente para torcer por ele e para

ver como um intelectual se sairia no meio de um bando de trogloditas e subcelebridades fabricadas. O resultado todos sabem.

3. Quando ele se elegeu em 2010, quebrei o pau com muita gente de esquerda e direita – inclusive amigos/as queridos/as com 10, 15 anos de militância – que o atacavam basicamente por dois motivos: 1. teria usado a fama do BBB para se eleger (acusação leviana e hipócrita!) e 2. entrou pelo voto de legenda (obteve apenas 13 mil votos e assumiu vaga na Câmara graças à expressiva votação do Chico Alencar e do voto de legenda), portanto não teria “legitimidade” suficiente (outra acusação ESTÚPIDA, pois o nosso sistema eleitoral, apesar de todas as bizarrices, tem o mérito de valorizar minimamente os partidos).

4. Tão logo ele chegou à Câmara, empunhando as bandeiras dos direitos humanos (meu tema ontem, hoje e sempre!), me identifiquei imediatamente e combinamos de fazer uma grande entrevista para mostrar quem ele era de verdade, muito além do “vencedor do BBB”, mas a entrevista acabou nunca acontecendo.

5. Em compensação, ele só precisou de alguns poucos meses para mostrar o quão inteligente, determinado, corajoso e qualificado era enquanto parlamentar. Mesmo os seus mais odiosos adversários sabem disso e não conseguem esconder a admiração, travestida de inveja.

6. Nas eleições de 2014 e a partir da abertura do processo de impeachment, NENHUM PARLAMENTAR – nem mesmo os do PT, pois fizeram nada menos do que era esperado deles – defendeu tanto a presidenta Dilma Rousseff quanto Jean.

7. Agora, é um dos maiores defensores de Lula na perseguição NAZISTA que o canalha do Sérgio Moro e os escroques dos procuradores-estrelas da Lava-Jato executam contra o maior símbolo na história da esquerda brasileira.

8. Mais do que um valioso combatente do tempo presente, o Jean Wyllys é um MARCO HISTÓRICO na política do Brasil, na medida em que é O PRIMEIRO parlamentar ASSUMIDAMENTE GAY e MILITANTE LGBT que já existiu no Brasil. Ele é, portanto, um verdadeiro PATRIMÔNIO da porção progressista da sociedade brasileira.

9. Dito isso, o ATAQUE (pois “crítica” é um termo muito leve e impreciso, veja PS1 ) que ele fez à Jandira Feghali para defender a ótima candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio é algo triste, lamentável, desnecessário e, chego ao ponto que quero, IMATURO politicamente.

10. O Jean sabe, como intelectual que é, que o momento atual é uma etapa que será uma longa disputa contra a direita golpista e fascista que nunca perdeu a hegemonia no Brasil, mas que passou 13 anos fora do comando do Executivo federal, algo inaceitável e intolerável para eles.

11. Daí que a sua franqueza ao expressar uma opinião (que muitos consideram equivocada) sobre a “função” da candidatura da Jandira não apenas atrapalha a candidatura do Freixo, como vai criar arestas que podem demorar a ser aparadas. E isso é justamente algo que não precisamos neste momento.

12. O ponto ao qual eu queria chegar é esse: em que pese a inteligência brilhante, a coragem inabalável, a firmeza inoxidável de princípios (sobretudo em relação aos direitos humanos), o Jean parece ter dificuldades quando o assunto é debater tática e estratégia de ação no âmbito da esquerda. Isso parece se confirmar, ademais, com os inúmeros “blocks” sofridos por pessoas que, mesmo apoiando suas posições em 99% das vezes, fizeram comentários em suas redes criticando ou questionando o ataque à Jandira.

13. Reiterando o que disse, o Jean Wyllys é um patrimônio da esquerda brasileira e merece todo o respeito pela sua atuação no parlamento e fora dele. Entretanto, seus erros precisam ser apontados e o debate sobre o contexto disso é importantíssimo para todos aqueles que não aceitam a República Neoliberal Fundamentalista pretendida por Temer, Cunhas, Aécios e Malafaisas da vida.

PS1: O erro maior de Jean foi dizer que a campanha da Jandira tinha a função principal de tirar votos de Freixo e facilitar a ida do golpista-agressor-de-mulheres Pedro Paulo (PMDB) ao 2º turno.

PS2: Criticar as alianças históricas do PCdoB ou do PT é algo absolutamente legítimo e necessário. No Maranhão, o PCdoB foi base do governo Roseana Sarney entre 1995 e 2001. A aliança do PT com o PMDB foi em muitos estados (Rio de Janeiro, entre eles) mais sinônimo de submissão do que de parceria. Daí a praticamente chamar uma candidatura como a da Jandira de “laranja” é ultrapassar o limite da crítica.

Rogério Tomaz Jr. é jornalista e militante do PT.

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