Paulo Teixeira, sobre a Lava Jato e Lula: “Cortem-lhe a cabeça!”

Tempo de leitura: 3 min

lula e moro alice“Cortem-lhe a cabeça!”

Embora sem o brilhantismo do livro de Lewis Carroll, a Lava Jato repete o modus operandi do tribunal de Alice ao condenar o ex-presidente Lula e só então oferecer as acusações

por Paulo Teixeira*

Na trama de “Alice no País das Maravilhas”, a Rainha de Copas, num de seus surtos de cólera, condena Alice à decapitação. É então constituído um improvável tribunal do júri, durante o qual testemunhos são descartados e nenhuma evidência é citada. Ainda assim, seu presidente conclama os jurados a proferir sua decisão. “Não!”, ordena a rainha. “Primeiro a sentença, depois o veredito.”

Embora sem o brilhantismo do livro de Lewis Carroll, a Operação Lava Jato repete o modus operandi do tribunal de Alice ao condenar o ex-presidente Lula e só então oferecer as acusações. E, atualizando os cânones do surrealismo literário, reproduz o caráter autoritário da Rainha de Copas ao desprezar a necessidade de provas. Nas acusações dirigidas a Lula, a falta de evidências é proporcional à abundância de convicções, como aferido em famosa apresentação promovida pela força-tarefa do Ministério Público. E essas convicções têm a densidade jurídica de um coelho que fala.

A primeira acusação contra Lula foi totalmente fundamentada na palavra de uma pessoa ressentida, o ex-senador Delcídio Amaral, que, para se livrar da prisão, acusou o ex-presidente de tentar obstruir a Justiça.

A segunda acusação atribui a Lula e Marisa a propriedade de um apartamento no Guarujá, imóvel que lhes foi oferecido na planta e reformado pela construtora, mas que jamais pertenceu a Lula ou sua família porque não foi feita a opção de compra. Ou seja: os potenciais compradores optaram por recusar o apartamento, que continuou em nome da OAS, como demonstra uma dívida de R$ 9 mil tornada pública no início de outubro.

A terceira acusação, mais recente, diz que o ex-presidente teria praticado tráfico de influência para beneficiar a Odebrecht na obtenção de empréstimo junto ao BNDES para a realização de obras em Angola. Em contrapartida, a empresa teria contratado um sobrinho de Lula como prestador de serviços. Essa versão não leva em conta dois detalhes essenciais: a Odebrecht obtém empréstimos similares desde o governo FHC, e o jovem em questão efetivamente prestou serviços à empresa, sem que nenhuma ilegalidade tenha sido cometida.

Desvendar os processos de corrupção na Petrobras e punir os responsáveis são tarefas que beneficiarão a sociedade brasileira. Porém, nenhum dos delatores afirmou que Lula participou de qualquer processo de corrupção.

“Lawfare” é um termo cunhado nos EUA para definir situações de uso abusivo do direito com o objetivo de destruir um inimigo ou retirar sua legitimidade. O abuso se dá no uso do direito e dos meios de comunicação para obter o clamor da opinião pública. John Gledhill, professor da Universidade de Manchester, chama de “lawfare” a aplicação seletiva da Lava Jato. Tal abuso, segundo ele, teve como objetivos destituir uma presidenta legítima e tirar de combate a maior liderança de seu aspectro político: Lula.

O que temos visto no país ofende a Constituição Federal. Os abusos multiplicam-se. O Ministro Teori Zavaski, por exemplo, considerou ilegal a quebra de sigilo telefônico de Dilma Rousseff , então presidenta da República, por um juiz de primeira instância, e considerou igualmente abusiva a divulgação da denúncia contra Lula. Em ambos os casos, não houve qualquer punição.

A esperança que, neste momento, nos coloca ao lado de Lula e de todos aqueles que defendem a democracia é a de que o Tribunal Regional da 4º Região, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal assumam para si a tarefa de impedir que prosperem tais situações de ofensa à Constituição. Para que toda Alice tenha direito a um julgamento que anteceda a sentença.

Paulo Teixeira é deputado federal (PT/SP), bacharel e mestre em Direito pela USP e vice-presidente nacional do PT.

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Beatriz Cerqueira: O golpe do arrocho


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Stan Neto

Depois da guerra fria, quando se estabeleceu um novo reagrupamento de forças no mundo, os países do Brics, pelo que representam seus inexplorados mercados internos e potencial de crescimento, ganharam importância estratégica e passaram a ser peças chaves nesse jumanji.
O Brasil, que por décadas manteve papel de submissão nas relações culturais, econômicas e militares, passou a buscar protagonismo nos acordos comerciais e em intermediações diplomáticas.
Além disso, a descoberta do pré-sal, nos colocou automaticamente entre os grandes produtores de petróleo do mundo.
Nesse novo contexto o Brasil se aproximou da China, Russia, países do Oriente Médio, África e América Latina que outrora eram desafetos declarados dos EUA.
Uma postura inaceitável aos americanos e aos conglomerados financeiros que exploram as economias do chamado terceiro mundo.
Era hora de interromper essa escalada.
O que era preciso para retirar do poder essas forças progressistas?
A receita americana:
– Políticos entreguistas que lhes garantissem a quebra da soberania sobre as riquezas naturais e a volta da submissão econômica ao FMI.
– Judiciário acovardado e todo o respaldo a um juiz treinado nos EUA para minar o governo, quebrar a economia e envolver figuras importantes do governo em corrupção através de informações obtidas por espionagem.
– Contatar velhos aliados, que já se mostravam incomodados os avanços sociais, para promoverem um massacre midiático sem trégua.
– Oferecer poder aos oportunistas que se prestassem a trair, usurpar e facilitar aquilo que foi acordado com o grupo entreguista.
O golpe foi certeiro, os progressistas foram destituídos e difamados, o pré-sal não é mais exclusividade da Petrobrás, o FMI já dá as cartas e a diplomacia está alinhada com os americanos.
Porém, há alguém que pode reverter tudo e jogar por terra toda essa manobra.
Um líder carismático que tirou milhões de pessoas da miséria, que é amado pelo povo e que não se dobra aos poderosos.
E ele está cada vez mais forte para se eleger me 2018.
Por isso o golpe não foi concluído. É primordial que essa ameaça seja eliminada.
Não será poupada munição.

FrancoAtirador

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https://youtu.be/9ppLs0QFSfI
https://youtu.be/iei3UK_sLNo?t=3060
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Vamos ,”incendiar” o Brasil! Dia 24de novembro se aproxima, o DIA NACIONAL DO HELICOCA! Tem bastante tempo para nos mobilizar e fazer um grande FARINHACO, em todo país,como foi em MINAS na época ! Vamos trazer os fatos atona, para escrachar TODAS as instituições envolvidas no caso, que por “mera coincidência” está envolvida também no golpe parlamentar midiadico jurídico policial que o BRASIL e o povo brasileiro sofreram a poucos meses! FARINHACO em todos os estados,nas capitais, nos tribunais, na sede da Pulissa, na frente da Grobo, ABrir Felha ,fiesp na fede do PSDB…podemos mudar o Brasil, depende de nós, repressão haverá, certeza, mas com uma enorme mobilização popular podemos quebar as pernas desses porcos! A mídia mudial ficar de olho ,será a nossa “proteção”…se conseguimos mobilizar artistas, intelectuais ,políticos ficará mais difícil deles nos abater! Mobilização sem violência,sem vandalismo, na paz ! Pensem nisso! Grato!

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