Paulo Sergio Passarinho polemiza sobre a “narrativa” da soberania brasileira

Tempo de leitura: 4 min

por Paulo Sergio Passarinho, no Facebook, recomendado por Milton Temer no twitter

Nessa era da chamada pós-verdade, não é gratuito, me chama atenção a frequência com que se passou a utilizar o termo “narrativa”, para a caracterização do que sempre foram as versões para fatos históricos e políticos.

De qualquer forma, sendo a “narrativa” um termo oriundo da literatura, incluindo a ficcional, nada mais lógico ou corrente nesses tempos de “pós-verdade”.

Um dos exemplos de “narrativa” que mais me impressiona é aquela que procura apresentar a operação lava-jato como uma mera conspiração do imperialismo estadunidense contra a “política externa progressista” dos governos pós 2002 e os interesses nacionais.

A propósito, reproduzo abaixo ponderações feitas por mim, aqui mesmo no face, a um amigo que postou matéria de um grupo autodenominado “jornalistas livres”, onde essa “narrativa” lulista é difundida.

Minha resposta:

“não deixa de ser salutar setores ainda iludidos com o lulismo passarem a denunciar e alertar as ações do imperialismo estadunidense. Mas, a crítica deve ser mais aprofundada e evitar simplismos que mais confundem do que esclarecem. Não há dúvidas do faccionismo da turma do Sérgio Moro e dos procuradores de Curitiba. É mais do que plausível o “apoio” que essa turma tenha tido dos states.

Mas, cá pra nós, querer colocar os governos de Lula e Dilma como meras vítimas de um complô internacional, reforçando imposturas como a tal “política externa soberana” não resiste a fatos bem objetivos.

Inicialmente, somente a ciência política instrumentalizada pelo oportunismo político pode desvincular as opções de política econômica adotadas por um país, dos contornos e objetivos de sua política externa.

Desse modo, considerando que os governos pós 2002 mantiveram a política de liberalização financeira e de integração subalterna do país no jogo global, como defender a tal soberania da política externa?

Mas, muito além de considerações conceituais, temos exemplos: a nomeação de Meireles como presidente do Bacen, em Washington, logo após uma reunião da cúpula do PT com o secretário de tesouro norte-americano; o envio de tropas brasileiras ao Haiti; o boicote do governo brasileiro à moratória argentina; a oposição do governo brasileiro às propostas mais avançadas da Unasul, em especial ao projeto do Banco do Sul e à Telesur; o impedimento à própria veiculação da Telesur em canais abertos, no nosso país; o restabelecimento de um acordo militar com os EUA, pelo governo de Lula; as posições do Brasil — sustentadas pelos ministérios da agricultura e da indústria, comércio e desenvolvimento — no âmbito das negociações da OMC, extremamente flexíveis frente às exigências dos paises centrais de abertura dos mercados industrial, de comércio, de serviços e de compras governamentais, e na contramão das posições da maioria dos países do chamado grupo 77, reunindo os países em desenvolvimento.

Esses são exemplos cristalinos que colocam em xeque a tal soberania da política externa lulista.

Isso não significa que a política DIPLOMÁTICA brasileira não tenha tido contornos próprios e progressistas.

Mas, com quais objetivos? Fundamentalmente, ampliar nossos saldos comerciais, através de “players” com a cor verdeamarela, os mal designados “campeões nacionais”.

Uma politica de apoio a multinacionais brasileiras que, no âmbito da América Latina, por exemplo, atropelou a proposta de integração defendida pelos bolivarianos, além de deixar um passivo negativo nos nossos países vizinhos, em termos financeiros, políticos e ambientais.

A própria superestimacao da proposta dos BRICS e do papel exercido pelo Brasil nessa aliança estratégica deve ser entendida de forma cuidadosa e crítica.

Afinal, é somente examinar os números, que veremos o quanto a China e seus “negócios” têm evoluído na África e na América Latina, a partir das “cabeças de ponte” fincadas na África do Sul e no Brasil.

Por fim, quero lembrar que — muito além das decisões de Moro e cia — os responsáveis pela paralisação dos investimentos da Petrobrás no complexo petróleo/gás/construção pesada foram a antiga CGU e a administração de Aldemir Bendine, na Petrobrás, incluindo o irresponsável programa de venda de ativos da empresa. Ambos, o chefe da CGU e o presidente da Petrobrás, subordinados a Dilma Rousseff.

Perdão por me alongar. Mas, em nada nos ajuda alimentar imposturas que nos dificulta enfrentar a nossa grave crise.”

E frente ainda a argumentações sobre o papel de órgãos de espionagem dos Estados Unidos na Petrobras e suas ligações com Moro e cia, ponderei:

” os órgãos de inteligência dos states não inocularam nenhum novo instrumento em nossa institucionalidade. Podem ter, no máximo, reforçado mecanismos de controle no nosso país. Empresas norte-americanas, por exemplo, há muitos anos dominam setores estratégicos dentro da ANP e da Petrobrás. Afora a ampla liberdade com que o escritório da CIA no Brasil e os serviços do FBI, dentro da Polícia Federal, desenvolvem os seus “trabalhos” no país. Isto se dá há muitos anos e durante os governos pós-2002 apenas se aprofundaram. Não precisamos recorrer ao Snowden, ao WikiLeaks ou ao Moniz Bandeira. O DOU — o Diário Oficial da União — nos informa.”

PS do Viomundo: O texto vale um bom debate, para além do ataque gratuito e mesquinho aos Jornalistas Livres

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Comentários

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Márcio

Se o General Geisel disse que o Coronel Jarbas Passarinho não tinha asas para voar além do Estado do Pará, esse passarinho aí não consegue voar Belém. Como disseram acima, pegou pequenos problemas pontuais e estendeu-os a toda política brasileira. Mas como todo americanalhado, não vê interferência do Matriz. Cego é aquele que vê mas não quer enxergar.

Lukas

Até que o Passarinho levou pouca pedrada.

Patrícia de Oliveira Cardoso

Boa sorte, com os PISÓIS da vida, àqueles incentivadores dos protestos de 2013, que incendiaram o país! Que eles construam uma história de luta junto aos trabalhadores, que não fiquem apenas nas cirandas criticando políticos que já faziam piquetes em porta de fábrica, quando estes cirandeiros nem imaginavam nascer, criticando em suas barbas e nas barbas de seus admiradores, eu que não vou em ato de seus políticos, para vilipendiá-los; que façam seus estadistas! Boa sorte…

JOSE BATISTA NETO

Como diria o Paulo Maluf, em festa de Macuco, Nhambu não pia. Mas o Passarinho pia e, ainda por cima, pia bobagens. Ele diz, por exemplo, que a saudade da recente e breve “política externa soberana” justa e reconhecidamente atribuída aos mandatos recentes do ex-presidente mais popular da história desse país, é coisa de militância fanática, ou de incautos iludidos. Diz mais. Que as análises que levam a esse entendimento incorreto sobre a politica de soberania projetada nos governos depostos baseiam-se em análises simplistas que deveriam ser aprofundadas. Fala, portanto, em aprofundar análises mas, ele mesmo, tece considerações para tentar sustentar a sua tese, baseada em citações de fatos pontuais sem nenhum cuidado de análise de contextualização. Se fizesse um mínimo de esforço intelectual e pesquisasse sobre o que pia, talvez entendesse que eventuais concessões aos inimigos poder fazer parte de negociações mais amplas onde se avança no caminho e no rumo estabelecido. A prova disso é que avançou tanto que foi preciso derrubá-lo enquanto era possível fazê-lo. Em 2016/17 o Pré-Sal estaria operando com força máxima, produzindo riqueza, estabilidade, recursos para educação e saúde e a cadeia produtiva associada a esse gigante seria uma mola propulsora para a economia do país que tornaria o partido do governo imbatível em 2018. O que aconteceu? Deram o GOLPE para evitar isso. E o partido é imbatível para 2018 do mesmo jeito. Por que será, hein Passarinho?

Carlos Monteiro

Conclusão : INTERVENÇÃO MILITAR JÁ!

Paulo Passarinho

Insisto que meus comentários não foram nem gratuitos e nem mesquinhos.
É uma pena vocês não pubicarem os comentários dos leitores. Ao menos, os meus.

Paulo Sergio Passarinho

Na lata

Votar PCO 29.

Paulo Passarinho

Caros amigos,
Minha crítica – e não ataque – aos “jornalistas livres” – perdoem -me, novamente – não foi gratuito ou mesquinho. Não foi gratuito, pois amparado no que procurei contraargumentar. Muito menos mesquinho. Esse foi um adjetivo gratuitamente utilizado por vocês, apenas. E –
me parece – extremamente injusto.

    Paulo Vasconcellos

    com o devido respeito,cosidero sua análise leviana,superficial em levar conta fundamentos históricos ,visto que o uso apenas das consequências da linguagem gera desvios não aconselháveis….

    sem retórica,indo direto ao contexto do seu artigo,tomei a liberdade de anexar o link ,mais que sincrônico,portanto,oportuno,do jornalista Nassif,que dispensa consideracões.

    https://www.conversaafiada.com.br/pig/nassif-globo-ameaca-a-soberania

    geopolítica,como sempre,desde que o poder singular,imperial,absoluto e a hipocrisia se manifestaram,como forcas binárias.

    bom proveito!

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