Patrick Mariano: Do portão de Auschwitz para o golpe de Temer

Tempo de leitura: 3 min

 Auschwitz

“O trabalho liberta” é um dos símbolos do campo de concentração Auschwitz I, na Polônia

Apenas trabalhe

por Patrick Mariano, especial para o Viomundo

A frase síntese do governo interino de Michel Temer revela a travessia pela qual quer levar o Brasil nos próximos anos: “Não fale em crise, apenas trabalhe”.

Foi Raduan Nassar, no inigualável Lavoura Arcaica, quem disse que a “palavra é uma semente: traz vida, energia, pode trazer inclusive uma carga explosiva no seu bojo: corremos graves riscos quando falamos”.

Temer não recorreu a eufemismos linguísticos, disse logo em alto e bom tom a sua fidelidade ao pensamento neoliberal.

Fidelidade que o levou, juntamente com Eduardo Cunha, FIESP e Rede Globo, a ascender mediante um golpe à presidência da república. Apenas trabalhe. Não fale, não pense, apenas trabalhe. O lema do seu governo guarda relação com o portal de entrada de Auschwitz que diz “O trabalho liberta”. A ideia da alienação do trabalho é necessária para impor o que se anuncia pelos novos ministros e já compunha o roteiro de desmonte dos direitos sociais no documento “Ponte para o Futuro”.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, diz hoje na Folha que é preciso fazer como na Grécia e repactuar os direitos sociais previstos na Constituição. O SUS, conquista histórica que atende a milhões de brasileiros, está, portanto, com os dias contados.

Outro ministro, o da Educação, diz que o MEC apoiará Universidades que queiram cobrar pelos cursos de extensão e pós graduação. Nessa toada, o acesso ao ensino público vai pelo ralo.

O atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em 2013, defendeu que para conter a inflação é necessário “desaquecer temporariamente o mercado de trabalho”. Para o economista, o combate a inflação é um valor maior que o emprego. Há aqui, portanto, uma contradição com o lema “apenas trabalhe” na medida em que o projeto neoliberal na Espanha, Portugal e Grécia levou esses países à ruína social com índices alarmantes de desemprego, principalmente entre a população mais jovem.

O documento “Ponte para o Futuro” já elencava os rumos dessa trágica travessia preceituando a desvinculação dos gastos obrigatórios com saúde e educação, a prevalência do negociado sobre o legislado e, claro, o fim da política de valorização do salário mínimo, talvez uma das grandes conquistas do governo Lula/Dilma.

Para impor a agenda de desmonte da CLT e da Constituição da República será preciso uma forte e intensa repressão às lutas sociais para que elas não quebrem o letárgico lema do “apenas trabalhe” ou do “trabalho liberta”, tão ao gosto de Michel Temer e seus asseclas e, porque não, do nacional socialismo alemão.

Bem por isso, o líder da bancada ruralista no congresso foi pedir a Temer o uso do exército contra ocupações de terra e o atual ministro da justiça, comparou as ações de protesto contra o golpe com “ações de guerrilha”. Dói dizer, infelizmente, que o governo Dilma forneceu instrumentos normativos que criminalizam as lutas sociais de bandeja ao projeto de Temer, basta ver a lei das organizações criminosas, do terrorismo e outras leis que, por inocência ou afinidade ideológica, ficaram de estúpido legado e servirão como luva para reprimir o protesto social.

Daí, também, a logomarca escolhida por seu filho, “Michelzinho”, que ressalta o termo “ordem” e resgata o pensamento positivista do início do século passado. Retirar direitos ou conquistas históricas pressupõe alienação ou aceitação silenciosa de milhões de brasileiros, como um gatuno noturno. E, para aqueles que ousarem não apenas falar, como protestar contra a crise e o desmonte do estado, sobrarão leis penais e repressão.

A cultura e a educação de um povo são antídotos históricos face à dominação violenta. Foi José Martí quem disse que o “o conhecimento liberta”. O conhecimento, não o trabalho! Por isso, Michel Temer não titubeou ao cometer crime de lesa-pátria abolindo o Ministério da Cultura e cometerá outros tantos para subjugar o Brasil ao projeto neoliberal.

Para este pensamento, cultura, a arte e a educação são devaneios perigosos, porque possibilitam à pessoa humana inquietações, questionamentos e o desassossego no pensamento. Apenas trabalhe!

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Comentários

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João Luiz Brandão Costa

O Ilustre comentarista esqueceu um detalhe a mais do fundamento ideológico do neo governo – nos sentidos lato e figurativo do termo. Além de tudo há que o processo seja com ORDEM. OU seja, escreveu, não leu, pau na moleira. O time já está escalado: No gol – Ministério de Justiça, o Mussolini do Geraldo Merendão; Na zaga – Toffoli, Gilmar, Celso Mello e Weber; no meio do campo, distribuindo o jogo, PGR; alas – República de Curitiba, Moro e Dellagnol; dupla de ataque – PF e Imprensa PIG.

Serjão

NOAM CHOMSKY: Um grupo de bandidos derrubou uma presidente honesta:
http://www.ocafezinho.com/2016/05/17/chomsky-houve-um-golpe-no-brasil-um-grupo-de-bandidos-derrubou-uma-presidenta-honesta/

Regina Fe

Querem mesmo quebrar o Brasil, desemprego e quem tiver o seu, não vai consumir, o comércio vai quebrar, aumenta o desemprego em todas as cadeias da economia. E aí, o que os empresários vão fazer quando falirem? Reclamar com o governo que eles ajudaram a usurpar o Brasil?

FrancoAtirador

.
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QUANDO A VIDA SE TORNA UM DIREITO RELATIVO

Com o Jaburu no Poder, o Brasil está atingindo aquele Ponto

do “Horror Econômico”(*), previsto que aconteceria na Europa,

no Fim do Século 20, pela Escritora Francesa Viviane Forrester:
.
“Qualquer que tenha sido a História da Barbárie ao Longo dos Séculos,
o Conjunto dos Seres Humanos sempre se Beneficiou de uma Garantia:
ele era tão Essencial ao Funcionamento do Planeta como à Produção,
à Exploração dos Instrumentos do Lucro, do qual Representava uma Parcela.

Elementos que o preservavam.

Pela Primeira Vez, a Massa Humana Não é Mais Necessária Materialmente,
e Menos Ainda Economicamente, para o Pequeno Número que Detém os Poderes”‎
.
E, portanto, se as Pessoas não são Rentáveis,

por não produzirem Lucro, são Elimináveis:
.
“Para obter a faculdade de viver, para ter os meios para isso,
as Pessoas precisariam responder às necessidades das redes
que regem o Planeta, as Redes dos Mercados.

Ora, elas não respondem – ou antes, são os Mercados
que não respondem mais à sua presença e não precisam delas.
Ou precisam muito pouco e cada vez menos.
Sua vida, portanto, não é mais ‘legítima’, mas tolerada.

Importuno, o lugar delas neste mundo lhes seria consentido
por pura indulgência, por sentimentalismo, por reflexos antigos,
por referência ao que por muito tempo foi considerado ‘sagrado’
(teoricamente, pelo menos). Pelo medo do ‘escândalo’.

Pelas vantagens que os mercados ainda poderiam tirar disso.

Pelos jogos políticos, pelas jogadas eleitorais
baseadas na impostura de ver em curso uma ‘crise provisória’
que cada campo pretende ser capaz de estancar.

E depois, determinado Bloqueio Atávico das Consciências
impede de aceitar de imediato uma tal Implosão.

É difícil admitir, impensável declarar que a presença
de uma multidão de humanos se torna precária,
não pelo fato inelutável da morte,
mas pelo fato de que, enquanto vivos,
sua presença não corresponde mais à lógica dominante,
uma vez que já não dá lucro,
mas, ao contrário, revela-se dispendiosa,
demasiado dispendiosa.

Ninguém ousará declarar,
numa Democracia,
que a Vida não é um Direito,
que uma Multidão de Vivos
está em Número Excedente.

Mas, num Regime Totalitário,
será que não se ousaria?
Já não se ousou?”
.
Íntegra do Livro “O Horror Econômico”. VIVIANE FORRESTER. UNESP. 1997.
.
Em Português: (http://abre.ai/livro_o-horror-economico_viviane-forrester)
.
Em Espanhol: (http://www.ddooss.org/libros/Viviane_Forrester.pdf)
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(http://www.viomundo.com.br/humor/o-mercado-tao-viciado-quanto-um-usuario-de-crack.html)
.
(http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/internet-ja-bate-tv-habito-dos-brasileiros.html)
.
(http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/flavio-lyra-davos-e-apenas-mais-um-instrumento-de-articulacao-dos-interesses-capitalistas.html)
.
(http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/jorge-souto-maior-terceirizacao-e-a-sociedade-dos-ilustres-desconhecidos.html)
.
(http://www.viomundo.com.br/denuncias/randolfe-imposto-sobre-grandes-fortunas-poderia-render-r-10-bi.html)
.
(https://books.google.com.br/books/about/O_horror_econ%C3%B4mico.html?id=53ZK_39PoVUC&redir_esc=y)
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    FrancoAtirador

    .
    .
    Realmente, o Brasil é uma BelÍndia:

    Desde 1500, Governada por Belgas.

    (http://anovademocracia.com.br/no-71/3139-entrevista-com-a-professora-indiana-radha-dsouza-india-miseria-opressao-e-resistencia-popular)
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    FrancoAtirador

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    Crescimento do PIB Nunca Foi Sinônimo
    de Igualdade Social e Qualidade de Vida

    O PIB NOMINAL DA ÍNDIA É DE CERCA DE 2 TRILHÕES DE DÓLARES

    A ECONOMIA INDIANA CRESCE A UMA TAXA MÉDIA DE 7% AO ANO

    A POPULAÇÃO DA ÍNDIA SE APROXIMA DE 1,3 BILHÃO DE PESSOAS

    A ÍNDIA TEM 1 BILHÃO DE MISERÁVEIS E 37% DE ANALFABETOS (2015)

    “Nos últimos 20 anos, o abismo entre ricos e pobres
    cresceu de forma dramática na Índia.

    10% das pessoas mais ricas do mundo estão lá
    e é de se espantar como em tão pouco tempo
    essas pessoas ficaram tão ricas.

    Como isso foi ocorrer?

    Há uma fração das classes dominantes na Índia pertencente à ala direita do Partido Popular Indiano ou Bharatiya Janata – BJP, que se vangloria a todo momento afirmando que a “Índia está brilhando”.

    Tentam vender que essa é a realidade de hoje.

    Mas como isso se dá?

    Um dos maiores exemplos de como o Estado indiano
    tem beneficiado as grandes empresas e grupos imperialistas
    se chama Reliance Industries Limited Group.

    Esse grupo conseguiu uma brutal expansão
    se valendo da máquina estatal.”…

    Dra. Radha D’Souza, Indiana, Professora de Direito
    na Universidade de Westminster, de Londres – UK,
    e Ativista dos Direitos Humanos dos Povos da Índia.

    Em Entrevista Exclusiva, Concedida à AND*
    durante a sua Passagem, aqui pelo Brasil,
    para a Realização de um Ciclo de Conferências.

    *(http://anovademocracia.com.br)

    (https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndia)
    (http://www.suapesquisa.com/paises/india)
    .
    .

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