Mino e Belluzzo: Como as multinacionais engordam graças aos juros brasileiros

Tempo de leitura: 4 min

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A vez da coragem

Há de se esperar que Dilma encontre a força necessária para agir

por Mino Carta e Luiz Gonzaga Belluzzo, na CartaCapital, via Conversa Afiada, sugerido pelo Elder Pacheco

Desde a vitória eleitoral de Dilma Rousseff em 2014, CartaCapital, nesta e em muitas outras das suas páginas, aponta a única saída possível para a crise econômica que humilha o Brasil: crescer e crescer.

O grande exemplo é o New Deal rooseveltiano, inspirado por lord Keynes, mas vale reconhecer que o presidente dos EUA contava com instituições sólidas e com uma base popular politizada. Mais ou menos o contrário da situação atual no Brasil.

Temos Executivo, Legislativo, Judiciário? Cabem ponderáveis, desoladoras dúvidas.

Um juiz da província, um punhado de delegados de polícia e de promotores assumem tranquilamente o poder diante da indiferença governista e do comando da PF, enquanto um presidente da Câmara inequivocamente corrupto até hoje comanda a manobra golpista do impeachment de Dilma Rousseff, legítima presidenta.

Está claro, porém, que ela somente, na qualidade de primeira mandatária, tem autoridade para reverter a rota, já a trafegar em pleno desastre.

O tempo que lhe sobra para agir é escasso, é bom sublinhar. O começo da ação tem de se dar antes do início do ano brasileiro, ou seja, depois do Carnaval, conforme nossa grotesca tradição. Caberia a Dilma partir de imediato para o mesmo gênero de investimento público que em 1933 colocou Roosevelt no caminho certo para estancar os efeitos do craque de 1929.

Ao se mover com esse norte, a presidenta teria de enfrentar as iras do chamado mercado, o onipresente Moloch, espantalho do tempo e do mundo, onde, debaixo da sua hegemonia, pouco mais de 270 famílias detêm o equivalente a 50% da riqueza do resto da humanidade.

Para decisões de tal porte, de tamanha ousadia, exigem-se coragem, bravura, desassombro além dos limites. A questão é saber se o governo tem estatura para chegar a tanto.

Por ora, é doloroso constatar que o Executivo se deixa acuar, em primeiro lugar pela mídia e por quem esta apoia e protege. Está provado que toda tentativa de mediar, compor, conciliar, fracassou.

Há tempo o governo exibe uma assustadora incapacidade de reação, a beirar a resignação. A quem mais, senão a Dilma, compete salvar o País? Creio não exagerar no emprego do verbo.

Pouco importa quanto o FMI propala a nosso respeito. O próprio Banco Central mostra-se agora mais atento às pressões do Planalto do que às do Fundo (leia, logo abaixo, as observações de Luiz Gonzaga Belluzzo).

O Brasil dispõe de recursos, a despeito do abandono a que foi relegada a indústria, maiores de quanto supõe a feroz filosofia oposicionista. Por exemplo, a chance de produzir petróleo a 8 dólares por barril, como se lê na reportagem de capa desta edição.

A tarefa que o destino atribui à presidenta é grandiosa e empolgante e lhe garantiria um lugar decisivo na nossa história. Os cidadãos de boa vontade, abertos a um diálogo centrado nos interesses nacionais, hão de esperar que Dilma encontre a força interior para agir.

Em luta contra o Monstro

Nos últimos meses, alguns membros do Copom assopraram um aumento de 50 pontos na já alentada taxa Selic.

Às vésperas da reunião do dito Conselho, escudado nas previsões do FMI sobre o PIB brasileiro, o presidente Tombini deu sinais de moderação. Na quarta-feira 20, o Copom manteve a Selic em 14,25%.

A franquia local dos Mestres do Universo manifestou seu aborrecimento. Os Senhores da Finança responderam às trapalhadas de comunicação do dr. Tombini & cia. com antecipações que preconizam elevações brutais da taxa de juros para 2016. A curva de juro longa empinou de forma nunca dantes observada.

Os próximos capítulos da novela “Manda Quem Pode, Obedece que tem Prejuízo” serão certamente dramáticos. Os mandões não arrefecem seu apetites travestidos de sabedoria científica.

As taxas de juros de agiota desempenham a honrosa função de tesouraria das empresas transnacionais sediadas no País, travestindo o investimento em renda fixa com a fantasia do investimento direto.

Trata-se, na verdade, de arbitragem com taxas de juros: as subsidiárias agraciadas com os juros do dr. Tombini contraem dívidas junto às matrizes, aborrecidas com os juros da senhora Janet Yellen ou do senhor Draghi.

Essa arbitragem altamente rentável e relativamente segura conta com a participação dos nativos “desanimados”.

Juntos, engordam o extraordinário volume de “operações compromissadas” – o giro de curtíssimo prazo dos recursos líquidos de empresas e famílias abastadas.

Aprisionada no rentismo herdado da indexação inflacionária, a grana nervosa “aplaca suas inquietações”, diria lord Keynes, no aluguel diário dos títulos públicos remunerados à taxa Selic.

A eutanásia do empreendedor é perpetrada pelos esculápios do rentismo. A indústria e a industriosidade vergam ao peso dos juros elevados, outrora em contubérnio com câmbio sobrevalorizado.

A inflação dos preços administrados e a desvalorização cambial sustentam a indexação. O espectro do passado assombra o futuro.

A irreversibilidade do tempo histórico aflige os que acreditam num futuro sem passado.

A economia global governada pela finança é um monstrum vel prodigium, fruto do cruzamento da mula sem cabeça com o bicho-preguiça.

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62 pessoas controlam mais riqueza que metade da população mundial


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Comentários

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Urbano

Alguém em algum tempo inventou essa sinuca de bico chamada economia, tão somente para a total locupletação da casa grande; e o que é pior, mais das vezes com a ajuda dos quintas colunas da senzala… A ciência pode nem ser assim, mas o modus operandi é e ainda por cima mais antiga.

Vitor Chekov

Ridículo! Até o último dia de mandato os governistas continuarão com a mesma ladainja: a Dilma ainda vai reverter o quadro! Quando, na realidade, o quadro é também pintado pela própria Dilma. Parece mulher de malandro, aquela que gosta de tomar tapa na cara!

wendel

“Ao se mover com esse norte, a presidenta teria de enfrentar as iras do chamado mercado, o onipresente Moloch, espantalho do tempo e do mundo, onde, debaixo da sua hegemonia, pouco mais de 270 famílias detêm o equivalente a 50% da riqueza do resto da humanidade.”
Os governos nada mais são que gerentes da Banca, e os que se rebelam em não quererem cumprir os acordos antes de eleitos, são sumariamente acidentados ou teem suas reputações assassinadas a tão ponto que desaparecem da vida pública!
Na história da humanidade, os que não honram seus acordos com a Banca, lamentavelmente, estão fracasso, e em pouco tempo a plebe que os elegeu, lhes jogarão pedras!!!
Ser nacionalista, patriota, neste tempos, não são atitudes louváveis para os donos dos cassinos, sanguessugas e mercenários. Que o diga os gregos !!!!
” 62 pessoas controlam mais riquezas que metade da população mundial” !!!!!!!!!!!!!!!!1
Querem mais ou precisa desenhar ?

Edivaldo

O mercado encurrala a todos,menos o psdb que e coligado, e os empresários que são abutres dos trabalhadores.

Marcio Ramos

… a militância é rica…

Lukas

Infelizmente, Dilma não os ouvirá e não ficaremos livres do PT.

    Mauricio Gomes

    Mas podemos ficar livres de malas e golpistas como você, já seria um avanço e tanto.

FrancoAtirador

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E além do Dinheiro, do Minério, do Petróleo, das Florestas,
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estão furtando nossa Água Doce, em forma de Eucalipto,
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de Cana-de-Açúcar e de Cervejas, Refrigerantes e Energéticos.
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