Mauro Santayana: Não é boa ideia ir a Curitiba acompanhar Lula

Tempo de leitura: 4 min

ALGUMAS RAZÕES PARA NÃO IR A CURITIBA AO ENCONTRO DE LULA

por Mauro Santayana, em seu blog

A oposição pode estar se equivocando com a ideia das pessoas irem para Curitiba no dia 3 de maio para se solidarizar com Lula.

Em primeiro lugar porque, quando começou-se a falar nas redes sociais e nos comentários dos portais de notícias, de partir para a capital paranaense para impedir, “na marra”, a prisão do ex-presidente, caso ela viesse a ser decretada no dia do depoimento, pelo estilo das intervenções e a própria hipótese, descabida, era evidente que essas mensagens estavam vindo do campo adversário para montar uma esparrela, uma arapuca – como se vê no “meme” acima – na qual qualquer pessoa de bom senso dificilmente acreditaria que se viesse a cair com a facilidade e rapidez com que isso ocorreu.

Se a ideia é demonstrar apoio, por que razão não fazer exatamente o contrário do que os adversários estão esperando, e em vez de se manifestar em Curitiba, estabelecer vigílias simbólicas, em todas as capitais do país, durante a tomada do depoimento, com exceção, exatamente, da capital paranaense?

Em segundo lugar, porque um depoimento não pode se transformar em um cavalo de batalha.

Que os calvos nos desculpem a expressão, mas todo mundo está careca de saber que quem está se dando bem com a politização da justiça, com a decisiva ajuda da parte mais venal e hipócrita da mídia – é a direita.

Se Lula for abertamente hostilizado, ou alguma coisa injusta acontecer com ele, em Curitiba, o fato de ele estar enfrentando, sozinho, a situação, representará um tiro pela culatra para aqueles que querem enfraquecê-lo, fortalecendo, institucionalmente o seu papel, e ressaltando a injustiça e o arbítrio contra ele, não apenas junto à opinião pública nacional, mas aos olhos do mundo.

Em terceiro lugar, porque vai se dar ao Sr. Sérgio Moro mais importância ainda do que ele já pensa que tem, o que o discreto — e modesto — magistrado, ao ver as pessoas se digladiando, na rua, em sua defesa — poderá acabar achando uma maravilha.

Em quarto lugar, porque os fascistas estão desesperados com a consolidação de Lula nas pesquisas, apesar do massacre midiático cotidiano, e precisam de um fato novo, chocante e contundente, aos olhos da maioria da população, para tentar mudar esse quadro.

Quando tem gente que está louca para produzir um confronto, pode até se armar um atentado, para acusar o adversário de estar por trás dele.

Ou, no mínimo, existe o risco de que se tente infiltrar sabotadores e vândalos no lado pró Lula, para atacar, vestidos de vermelho — quando é que esse pessoal vai entender que o uso do verde e amarelo não é prerrogativa oficial da direita? — as forças de segurança presentes e desaparecer logo depois na multidão, justificando todo o tipo de violência que venha a ocorrer em seguida.

Essa é a tática que foi usada pra engrossar as estúpidas manifestações de 2013 e 2014, no Brasil, que está sendo usada na Venezuela, e que foi adotada na Ucrânia e na maioria dos países árabes, no início da tal “primavera” que os mergulhou no inferno de destruição, miséria e guerra em que se encontram agora.

Ou alguém duvida que, em caso de confronto, com a mentalidade predominante atualmente na polícia, na justiça, no ministério público, as vítimas vão ficar todas de um lado e as simpatias — e as armas – todas do outro?

A recente condecoração, no Dia do Exército, com a máxima condecoração da Força Terrestre, de um jornalista que se deu ao trabalho de escrever um livro diminuindo o papel da FEB na Itália — publicamente criticado, quando de seu lançamento, pelo Comandante do Segundo Exército, General Sebastião Ramos de Castro — e de um magistrado que, com a sua atuação, está colocando em risco projetos estratégicos de material de defesa que levaram décadas para voltar a ser executados em nosso país, são significativos dos estranhos tempos que estamos vivendo.

Se, no lugar de aceitar provocação — a começar a do próprio juiz que pretende obrigar Lula a assistir ao depoimento de todas as suas dezenas de testemunhas de defesa — e ir para as ruas em Curitiba, as pessoas que estão se preparando para viajar para lá tivessem defendido a governabilidade e a democracia nas redes sociais, desde o início desse processo nefasto, em 2013, com o mesmo denodo e empenho, o fascismo jurídico-midiático não teria chegado ao ponto que chegou, a — suposta — luta contra a corrupção não teria se transformado em um amplo movimento pela antipolítica,

Dilma não teria caído e Lula não estaria depondo nas condições em que irá depor no início do mês que vem em Curitiba.

A guerra pela Democracia, a Constituição e o Estado de Direito, para males do debate livre e benefício do pensamento único imperante, foi perdida na internet, que continua praticamente vazia de comentários, nos espaços ditos “neutros”, de gente que está incomodada com o que está ocorrendo com o país.

E ela — infelizmente para aqueles que desprezam a persistência e o planejamento — só poderá ser vencida se for travada no mesmo espaço, com garra, paciência, serenidade, informação e coragem.

Isso, se as pessoas entenderem que é preciso se mobilizar — inteligentemente — tanto do ponto de vista dialético como do jurídico — como mostrou a indenização que Chico Buarque recebeu recentemente por ter sido caluniado.

E não esquecerem que é preciso correr contra o tempo para se evitar a ascensão de um governo radical e fascista no Brasil, já que resta menos de um ano para se tentar vencer a batalha da opinião pública, na defesa da democracia, da liberdade, do voto, da República e das instituições, até que seja dada, oficialmente, em meados de 2018, a decisiva largada da campanha para as próximas eleições presidenciais.

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Comentários

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Fausto soares silveira

A proposta esta fora da curva do momento atual, pensa no exemplo dado pelo articulista, o das vigílias, que canal de tv vai mostrar? Nenhum. A mídia toda esta envolvida neste golpe e sua continuação, o que vai gerar noticia é a mobilização, basta ver o exemplo de um programa como o BBB tem audiência enorme. Não reforço e não apoio o enfrentamento a violência mas a pressão das ruas, sim.

Vixe

Muito lúcido o artigo de Mauro Santayana.
Antes eu defendia a ida a Curitiba e o enfrentamento físico com os coxinhas.
Hoje, vejo que isso só lhes daria munição para enterrar a democracia mais rapidamente.

roberto andrade

Pelo amor de Deus ! Na Venezuela a polícia e o exército estão com a esquerda, aqui é exatamente o contrário! Você já comprou seu AK-47 no Paraguai? Se não comprou., velho, cala a boca. A hora que o pau quebrar, a esquerda vai brigar com o quê? Com o c… ? Em 1964 era a mesma coisa, uma falação de m……. de todo tamanho, tinha os grupos dos 11 do brizola, tinha as LIgas Camponesas do Francisco Julião, o Golpe foi no dia primeiro de abril e no dia 3 estava todo mundo preso, tomando cacete, o “povo” lavou as mãos, Jango não resistiu, e ficamos uma geração debaixo de ditadura. Alguém já viu os milhões de likes nos sites de direita e extrema-direita? O Bolsonaro sendo ovacionado por formando da MP no Brasil inteiro? Os milhares de grupos que eloe já tem? O que o autor propõe é que a esquerda se organize, e pare de agir como um monte de babacas adoslecentes e deslumrados, que só olham para o próprio umbigo, e não para a real situação do país.

    Nelia

    Queria só curtir sua postagem!

Bovino

Eleitores do Doria e Bolsonaro encontram-se no Facebook, não tenho certeza se os esquerdistas do Twitter estão lá também, talvez os algoritmos de bolha não permitam muita confrontação com o diferente.

Não adianta, eles têm 9 TVs, 3 rádios, 2.75 jornais e 3 revistas propagando 24/7 o mesmo ponto de vista sobre uma mesma agenda. A esperança é que em 2026, após terem vivenciado 8 anos de presidente Doria, o PCO assuma o poder para rasgar as privatarias e nacionalizar nossas riquezas novamente.

RG

Concordo plenamente com Santayana. Evitar o confronto não é covardia. É estratégia. Estamos ganhando de lavada nas pesquisas eleitorais. O governo gopista trabalha a favor de sua própria derrota em 2018. Lula não será preso. A ideia dos gopistas é torná-lo inelegível. O confronto e possíveis vítimas (à moda de Caracas) só interessam à midia golpista e aos fascistas sem voto para criminalizar a esquerda. Tragédias decorrentes de um enfrentamento serviriam pra justificar um estado policialesco de exceção e até mesmo o cancelamento das eleições, já que não vencem no voto.

lulipe

As forças de segurança do PR devem estar ansiosas aguardando os “visitantes”…

Mineiro

Vai pra Maceió, Fortaleza, Vitória e Salvador então. Vão protestar nessas capitais e deixa a República de curitiba vazia para os golpistas deitar e rolar e saírem dizendo que a esquerda é covarde e medrosa. E no fundo não deixa de ser mesmo. Vai ser covarde lá na China.

marco

Senhor Mauro.Entendo que PRUDÊNCIA E CALDO DE GALINHA,ajudam os que estão frágeis.Contudo quero arrazoar-lhe que talvez, se deixarmos o POVÃO,decidir o que fazer,não seria mais prudente? Instigar no POVÃO,a tese da INÉRCIA IDEOLÓGICA , fruto muitas vezes,da SENILIDADE EXISTENCIAL,não lhe parece uma forma de dar lugar,as opiniões que muitos tem,da força do POVÃO? Confesso,por ser um cidadão de idade,que riscos muitas vezes temos que correr.Mas quero afirmar-lhe que ,a SABEDORIA DO POVÃO,vai muito além de nossas experiências de vida. Somente a LUTA,pode DECANTAR VITÓRIAS OU DERROTAS,mas SOMENTE A LUTA NOS DECANTARÁ.

dino

Apoiado Miguel Silva,sem confronto não haverá vitória.Conheço o Mauro Santayana-um cara de bem,porém nessa derrapou feio.É o mal da nossa classe Merdia.
Temos como exemplo o Guevara: Hay que endurecer se,pero sin perder la ternura jamas.
Nossa esquerdas dizem: hay que amolecer se,pero sin confrontar la burguesia jamas.
O Equador,Argentina e Venezuela aprenderam a lição.Nós continuamos um CURRAL Estadunidense
com Gado Português dentro.
Falta-nos um Simon Bolivar para nos inspirarmos.No momento,só temos Fracotes!!!

eduardo

Desde o golpe está claro que não possibilidades de volta a democracia sem confronto social. Aliás o povo já é confrontado violentamente todos os dias. Por que não reagir?

tiao

Não havia pensado nisso.Mas realmente faz sentido.

Joaquim

Realmente e preciso Ter inteligência para não cair na armadilha do Nazifascista Moro e cia mas que da vontade de acabar com a raça desses vermes Vagabundos Lesa-pátria isso da e muito

Joao Maria

A possibilidade de um golpista se infiltrar no movimento e matar um participante é real. Na Venezuela esta acontecendo exatamente isso da materia. Tivemos o caso do capitão do exercito, infiltrado nos protestos. Tudo que a direita quer, é um acontecimento, pra culpar o PT. E as pessoas acreditam, basta aparecer alguem de vermelho pra jogarem a culpa nos ” petralhas”, “mortadelas”.

Tomaz Elias Robinson

Parabens!!!! Está mudando a tática passando a acusar os outros como autores daquilo que sempre fizeram, esta ficando cada vez mais dificil manter a imagem de honestidade diante de tantas denúncias.

Valdeci Elias

Lula deu um tiro no pé, quando assinou a lei da Ficha Limpa. Tava na cara, que ela ia ser usada contra ele. Um delegado , um promotor e um juiz tem mais poder do que o voto popular. O sonho da ditadura militar.

    Sidnei Brito

    Perfeito.
    Não só a da Ficha Limpa, por Lula.
    Essas de delação premiada, de combate ao terrorismo, por Dilma.
    Tudo usada contra as esquerdas.
    Petistas vivem na “Colônia Penal”, de Kafka.

Henrique

Concordo com a avaliação, mas a ponderação é sempre um artifício da esquerda. Enquanto isso…

Miguel Silva

De que planeta o escriba veio? A população brasileira sofre e sofreu todas as mazelas impostas pela elite porque nunca foi articulada. Nossa história está recheada de movimentos populares isolados, regionalizados, que pouco ou nada mudaram o status quo da nação. O que prevaleceu sempre foram os golpes promovidos por uma pequena e poderosa classe. Ficar com o traseiro no sofá, reclamando da situação nas redes sociais, pouco importa para esse governo, odiado pelo povo mas apoiado pela mídia, por empresários e pelo judiciário. Ir a Curitiba será uma demonstração de força e de verdadeiro apoio do povo a Lula. Quanto à Venezuela, vemos que vão às ruas gente pró e contra o governo e os embates são consequências naturais da polarização. Não há luta sem sacrifício. Não se faz omelete sem quebrar os ovos. Quem vai à luta está sujeito a sair ferido ou mesmo morto.

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